Autores

Fernandes, L.H.D. (UFRJ) ; Pereira, B.L. (UFRJ) ; Gonçalves, C.L. (UFRJ) ; Araujo, G.M. (UFRJ) ; Vital, N.A.A. (UFRJ) ; da Silva, J.F.M. (UFRJ) ; Guerra, A.C.O. (UFRJ)

Resumo

O projeto extensionista "A Química em Tudo", realizado pelo Laboratório Didático da Química do Instituto de Química da UFRJ, desenvolve atividades voltadas para a Educação Básica que envolvem experimentos que objetivam despertar o pensamento científico, aprimorando o senso crítico por meio do enfoque CTS e do ensino investigativo. Com alunos do Ensino Fundamental I foram abordados experimentos que relacionados à qualidade da água e ao meio ambiente, mediados por licenciandos e onde os alunos utilizaram roteiros em forma de história em quadrinhos dialógicas, ou seja, em que a “quarta parede” foi derrubada. As respostas dos alunos indicam que o ensino de química nessa faixa etária é possível e efetivo quando a abordagem é feita de maneira diferente do ensino tradicional.

Palavras chaves

Ensino investigativo; Experimentação; Ensino Fundamental

Introdução

O Laboratório Didático de Química - LaDQuim, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua como um espaço não formal voltado para a promoção de atividades específicas de Educação Científica. Desenvolve projetos voltados para escolas públicas do estado do Rio de Janeiro, atendendo alunos do Ensino Fundamental e Médio. O projeto "A Química em Tudo" tem como um de seus objetivos a difusão da experimentação no ensino de Química e promove, em algumas de suas atividades, a química para o Ensino Fundamental, buscando estimular a instrução cidadã dos estudantes, a oralidade, a aproximação entre teoria e prática e a dinâmica de compartilhamento do que foi aprendido com a sociedade por meio do enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade (Chrispino et al., 2013). Durante o ano de 2017 foram desenvolvidas atividades no Instituto ISAI, uma instituição de caráter filantrópico que oferece ensino integral gratuito às famílias de comunidades da região e entorno de Laranjeiras. Foram atendidas pelo projeto "A Química em Tudo" em torno de 70 alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com objetivo de,, através dessas atividades, envolver os alunos nas práticas propostas de forma a estimular o pensamento científico, o pensamento crítico e o descobrimento do seu próprio conhecimento, apresentando noções básicas sobre práticas laboratoriais. Dessa forma, busca-se propor e realizar um ensino investigativo, onde o educador atua como mediador do caminho percorrido pelo aluno para construção do seu conhecimento. As atividades, em sua maior parte, contam com a experimentação, que, segundo Izquierdo e cols. (1999), pode ter diversas funções, como a de ilustrar um princípio, desenvolver atividades práticas, testar hipóteses ou como investigação.

Material e métodos

As atividades destinadas a alunos de 8 a 10 anos foram formuladas tendo como base o livro didático utilizado pela escola, a partir dos tópicos previamente trabalhados pelas professoras em sala de aula. Para cada uma das atividades foi construída uma história em quadrinhos dialogada. A HQ é dada aos alunos incompleta, e no decorrer do experimento os alunos a completam, podendo-se assim avaliar as impressões dos alunos sobre o tema, a compreensão durante os experimentos e as conclusões. Nos experimentos são utilizados materiais alternativos como copos descartáveis, seringas, colheres plásticas, filtros de café e garrafas PET, para que professores possam reproduzi-los sem grandes dificuldades. Os temas abordados foram a atuação da água como solvente e o tratamento da água para torna-la potável. Ao iniciar-se a discussão sobre a água, discutimos seu papel como solvente, e em seguida, os alunos fazem testes de solubilidade de diversas substâncias em água para que, no final, pudessem avaliar se a água pode ser realmente considerada como um solvente universal. Em um segundo momento, os alunos simulam etapas do tratamento de água, reproduzindo a floculação, a filtração e a absorção de cloro por carvão ativo e são levados a avaliar a qualidade da água que bebemos. Todos os experimentos são realizados com a mediação dos bolsistas que trabalham no projeto, que procuram conduzir os experimentos de forma investigativa, fazendo com que os alunos tirem suas próprias conclusões sobre o tema abordado. As professoras responsáveis por cada turma acompanham as atividades.

Resultado e discussão

No experimento de solubilidade, os alunos chegam, na maior parte das vezes, com a ideia de que água é um solvente universal, como trabalhado em alguns livros didático. Durante o experimento, os alunos observam que a água não é capaz de dissolver o óleo, assim como apresenta capacidades diferentes de solubilização de outras substâncias. Ao final do experimento os alunos são questionados novamente quanto à capacidade da água em atuar como um solvente, e observa-se a mudança na opinião dos mesmos após a experimentação: na análise das respostas dadas nas HQ´s, 80% dos alunos entenderam que a água não dissolve todas as substâncias, e apenas 10% dos alunos não compreenderam o conceito de dissolução, mostrando que é possível ensinar o conceito de solubilidade de forma correta nesse nível de escolaridade. No experimento do tratamento de água, exibe-se duas etapas comuns nas estações de tratamento, a floculação e a filtração. Ao final do experimento, os alunos são levados a refletir sobre a importância do tratamento da água e as consequências do uso de água sem o tratamento adequado. A análise das respostas evidenciou a dificuldade dos alunos em entenderem o conceito de floculação antes da experimentação, mesmo sendo um tema previamente abordado em sala de aula. Os alunos assimilaram melhor o conceito após a experimentação, e conseguiram formular explicações para o mesmo. Segundo Hoering & Pereira (2004), ao observar o objeto de seu estudo, o aluno entende melhor o assunto, o que está sendo observado pode ser manipulado, tocado, permitindo que da observação concreta possa se construir o conceito e não apenas imaginá-lo.

Conclusões

Os experimentos realizados permitiram aproximar os alunos do Ensino Fundamental I da linguagem científica e possibilitou que alguns conceitos pudessem ser desmitificados. As atividades também contribuem para a formação dos docentes e licenciandos envolvidos, pois esses repensaram suas práticas pedagógicas, evidenciando a importância da constante preparação e adaptação do educador, cooperando para a construção do pensamento crítico, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de futuros adultos conscientes, empáticos, cuidadosos e solícitos.

Agradecimentos

Ao Instituto ISAI e à PR5/UFRJ.

Referências

CHRISPINO, A.; LIMA, L. S.; ALBUQUERQUE, M. B.; FREITAS, A. C. C.; SILVA, M. A. F. B. Área CTS no Brasil vista como rede social: onde aprendemos? Ciência e Educação, Bauru 2013, 19, 455.
HOERNIG, A.M.; PEREIRA A.B. As aulas de Ciências Iniciando pela Prática: O que Pensam os Alunos. Revista da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v.4, n.3., set/dez 2004, p.19-28.
IZQUIERDO, M.; SANMARTÍ, N. e ESPINET, M. Fundamentación y diseño de las prácticas escolares de ciencias experimentales. Enseñanza de las Ciencias, v. 17, n. 1, p. 45-60, 1999.