Autores
Guimarães, L.P. (IFRJ) ; Castro, D.L. (IFRJ)
Resumo
O relato apresentado propõe uma estratégia didática da lei de conservação das massas para ser abordado desde os anos inicias na escola, auxiliando a despertar a curiosidade e a investigação pelas ciências. Esse trabalho foi desenvolvido em uma turma de 4º ano, no município de Barra Mansa (RJ), com alunos de idade entre 8 a 10 anos. Tem como objetivo trazer o princípio da conservação das massas integrando a experimentação e uma música do desenho animado “Mundo Bita” para estimular a criatividade e observar os fenômenos. Como resultados destaca-se a identificação do princípio químico, vinculado ao desenho animado e o experimento proposto e mostrar que estes podem ser discutidos de forma contextualizada para essa idade.
Palavras chaves
Ensino de Química; Desenho animado; Lei de Conservação das ma
Introdução
É notório a dificuldade em Química quando esses a encontram na Educação Básica, por não perceberem a validade ou o significado do conhecimento apresentado. Isso muitas vezes acontece devido à baixa contextualização que os conteúdos são trabalhados em sala de aula, tornando o ensino distante, asséptico e difícil, não despertando o interesse e a motivação dos alunos. Não é raro a Química ser resumida a uma lista de conteúdo, o que tem gerado uma carência generalizada de familiarização com a área, que deixa lacunas na formação dos cidadãos e cidadãs. Não são recentes as preocupações em relação à ineficiência da formação em química ao longo do ensino fundamental. Em geral, os professores ao trabalhar os conteúdos de ciências durante a Educação Básica alegam que tiveram uma formação deficiente em química. Esse discurso muitas vezes está relacionado com o fato da “(...) Química ser apresentada na Educação Básica de uma forma muito preocupada em detalhes e os professores dos anos iniciais não se sentem à vontade de trabalhar conceitos químicos” (GONZALEZ, DECCACHE-MAIA e MESSEDER, 2017). Pode-se notar uma sensação de estranheza quando se fala em trabalhar Química, tendo em vista que ela começa a aparecer na educação básica nos livros textos que definem o seu lugar no 9º ano do ensino fundamental, ao longo de um semestre, na área de ciências. Essa organização escolar dá a impressão que a Química só é e pode ser ensinada a partir dessa idade/série, restringindo a possibilidade de se usar a palavra Química quase ao final da Educação Básica. Contudo em outros momentos são ensinados conteúdos como a água, o ar, o solo. Vale perguntar: esses temas não são assuntos de química? Esse trabalho propõe a ideia de que a química deve ser abordada de forma integrada aos demais conhecimentos nos anos iniciais, propiciando uma interação do educando com essa área do conhecimento desde os primeiros anos de escolaridade. Nessa estratégia didática, o tema escolhido foi a lei de conservação das massas devido ao fato de que o início da química moderna, como disciplina escolar e ciência atualmente, ter sido atribuída a Antoine Laurent de Lavoisier e os seus trabalhos envolvendo esse princípio químico. Quando propõe-se abordar esse conteúdo nos anos iniciais, é no sentido em integrá-la de modo em que é pensada a ciência como um todo, vinculando esse conteúdo proposto ao cotidiano das crianças, buscando inserir o seu conhecimento dentro da realidade a qual a mesma faz parte. A intervenção em sala de aula ocorreu utilizando os seguintes recursos didáticos: O primeiro deles é a experimentação que é visto com bons olhos por diversos professores e até mesmo pelos alunos e pode ser utilizada para ensinar química nos anos inicias (MESSEDER e OLIVEIRA, 2017). Cabe ressaltar, que muitos utilizam essas atividades para motivar os educandos mas esse recurso pode ser usado além da motivação, Oliveira (2010) elenca em seu trabalho vários objetivos que podem ser alcançados através das atividades experimentais, no caso dessa estratégia didática será privilegiada o estímulo a criatividade e a observação de fenômenos naturais. Um outro fator que precisa ser levado em conta na abordagem da lei de conservação das massas é em uma abordagem atraente e acessível para o público infantil e para isso foi utilizado uma música do desenho animado “Mundo Bita” denominada “Natureza sempre se transforma”, fazendo relação com os postulados da lei de conservação das massas. A utilização da música para coloca o aluno em situações de aprendizagem precisa ser convidado a se exercitar nas práticas de aprender a ver, observar, ouvir, atuar e refletir sobre elas (BARROS; ZANELLA; ARAÚJO-JORGE, 2013). Essa mesma autora defende a utilização da música justamente para uma maior integração entre os alunos e o conteúdo a ser administrado. Portanto, esse trabalho tem como objetivo desenvolver uma estratégia didática sobre o princípio da conservação das massas com uma abordagem adaptada aos anos iniciais utilizando uma música de um desenho animado e a experimentação.
Material e métodos
A atividade foi desenvolvida com quatorze crianças do 4° ano do Ensino Fundamental, na faixa etária de 8 a 10 anos de idade, de uma unidade escolar municipal localizada no município de Barra Mansa, Rio de Janeiro. Foi utilizada uma abordagem metodológica qualitativa e participativa, uma vez que o pesquisador fez parte da pesquisa, contribuindo e não apenas observando e anotando. A coleta de dados foi por meio de rodas de conversa, que se configura como uma boa estratégia para aproximar os alunos no desenvolvimento das atividades e a exposição muitas vezes concomitantes de ideias faz com que o conhecimento proposto seja construído de forma coletiva em um ambiente favorável a formulação de hipóteses (MELO e CRUZ, 2014). Essa estratégia didática se dividiu em dois momentos: No primeiro momento ocorreu uma reunião com a professora da turma sobre a intervenção proposta, a proposta do trabalho foi apresentada e a docente contribuiu com informações com relação aos alunos e as adaptações necessárias que precisariam ser feitas nos recursos didáticos para a realidade da turma. Após as intervenções sugeridas pela professora terem sido feitas, no segundo momento houve o contato com a turma para a aplicação da estratégia didática. Inicialmente foi exibido a música “Natureza sempre se transforma” do desenho animado “Mundo Bita”, após a exibição, os alunos, em uma roda de conversa, levantaram várias questões sobre as transformações que ocorrem na natureza relacionadas com a letra da música e com a sua vivência. Em momento seguinte a essa roda de conversa, foi iniciado a experimentação. O experimento foi realizado na sala de aula, cabe ressaltar que os materiais utilizados não ofereciam risco aos alunos, tendo em vista que a reação química feita era a dissolução de um comprimido efervescente de vitamina C em água, além do fato de ter sido escolhido materiais visando a segurança dos alunos, essa reação é muito comum de ser realizada em casa pois é muito importante levar os educandos a perceberem que na vida cotidiana as experiências são realizadas a todo tempo. No decorrer do desenvolvimento da atividade experimental, o pesquisador foi responsável pela coleta, organização e análise dos dados. Para isso, adotou a observação e anotações em diário de bordo da fala das crianças, além de registro fotográfico e gravação de áudio. Os registros das falas das crianças foi o principal instrumento de dados para os resultados, pois segundo Oliveira e Messeder (2017, p. 141), “demonstram os discursos que são divulgados nos meios de comunicação e que estão incorporados aos relatos de estudantes da Educação Básica”. Todas as etapas desse trabalho foram e aprovadas pelos responsáveis dos alunos que autorizaram sua participação, com direito ao uso de imagens. Para a exposição dos resultados objetivando a identificação nos registros de participação, os alunos ao início da atividade, foram identificados com códigos de A1 a A14.
Resultado e discussão
A estratégia didática buscou avaliar o quanto pode ser representativa a
realização de experimentos no ensino de ciências para alunos dos anos
iniciais, nos aspectos de motivação, estímulo à criatividade, trabalho em
grupo, formulação de hipóteses e interesse para a aprendizagem. Foram
planejadas de forma que as crianças participassem de forma direta, realizando
os experimentos e oferecendo contribuições em suas diversas etapas para que
pudessem se sentir protagonistas na construção do conhecimento. Em momento
anterior à aplicação das atividades, reuniram-se o pesquisador e a professora
da turma a fim de apresentar e adequar o planejamento da aula com a realidade
da turma. Nesse encontro inicial com a docente da turma, foi apresentado a
necessidade e a importância que desde os anos iniciais o aluno já tenha
contato com alguns conceitos de Química desde os primeiros anos de
escolaridade e a abordagem que seria dada aos recursos didáticos. A professora
relatou o seu desconforto em trabalhar com a Química, afirmando que trabalhava
de forma superficial, sentindo-se insegura para a aplicação e abordagem da
atividade. Essa postura é recorrente no discurso dos professores e discutido
em vários trabalhos que se dedicam a estudar a Química nos anos iniciais
(GONZALEZ, DECCACHE-MAIA e MESSEDER, 2017). Mediante a esse discurso, o
pesquisador expôs que o conteúdo a ser trabalhado seria adaptado ao nível de
escolaridade e sem a complexidade que seria desnecessária nesse momento aos
alunos, mesmo assim, a professora se manteve resistente e insegura, diante
disso o pesquisador aplicou a estratégia didática aos educandos. Após essa
conversa inicial a professora pontuou algumas limitações da turma mediante a
utilização dos recursos didáticos, como a dificuldade de interpretação de
texto e a operação com números decimais. Na semana seguinte, após as
modificações na estratégia didática terem sido feitas, foi realizada a
aplicação com os alunos. No primeiro momento, em sala de aula, foi realizada a
apresentação do pesquisador e do tema e em uma roda de conversas, onde as
crianças fizeram perguntas livres acerca do tema: transformações químicas. O
objetivo destas questões era desmistificar as conotações negativas para a
palavra “Química”, e trazer para o cenário infantil que no nosso dia a dia a
Química está muito presente através da transformação de diversos materiais. Em
seguida, foi exibido aos alunos a música “Natureza sempre se transforma” do
desenho animado “Mundo Bita”, a letra é rica em detalhes das transformações
que ocorrem na natureza e aproxima muitas das reações químicas do cotidiano de
uma criança. Após a exibição do clipe musical proposto, foi realizada uma roda
de conversa que tinha como objetivo captar as concepções prévias e a relação
que o aluno estabeleceu com a música sobre as seguintes perguntas. Para
instigar os alunos foram feitas as seguintes perguntas: “Vocês gostaram do
desenho? Afinal, o que é transformação química?” Todos os alunos contribuíram
com respostas à indagação feita, apresentamos a seguir algumas delas. “A2:
transformações é o que ocorre na lagarta para virar borboleta”; “A6: a água
derreter também é uma transformação”; “A8: a semente quando vira árvore também
é uma transformação”. Todas as falas após a exibição da música foram
relacionadas as menções feitas na sua letra, há um maior detalhe na
transformação dos seres vivos. Após esse primeiro momento de diálogo, os
alunos foram instigados a pensar em transformações que não ocorrem em seres
vivos, nesse momento notou-se uma maior dificuldade de relação até que um dos
alunos relacionou as queimadas como uma transformação química. Importante
ressaltar que era fato recorrente no bairro e na época em que essa estratégia
foi aplicada a prática de queimadas criminosas mas o aluno deu a seguinte
explicação: “A12 o caco de vidro que reflete a luz do sol e queima o mato”;
uma outra transformação mencionada foi a porta da sala que era de aço que
estava enferrujada, quando esses dois alunos exemplificaram, os outros
começaram a falar outros tipos de transformação. Após a utilização do clipe
musical foi realizado a atividade experimental, o principal objetivo desse
recurso nessa estratégia didática estava relacionado com a capacidade de
formulação de hipóteses frente as indagações realizadas no decorrer do
experimento, importante ressaltar que a abordagem experimental corrobora com
a visão de experimento de Oliveira (2010), em que esta afirma a necessidade
desse recurso estar acompanhada de questionamentos e diálogos, assim como
inserir os alunos a pensar sobre o fenômeno observado, elaborar hipóteses,
fazer registros, discutir, refletir e elaborar explicações. Visto isso, a
reação química realizada foi muito simples, era a dissolução em água do
comprimido efervescente da vitamina C. Com o fim da reação química os alunos
foram indagados: “O que produziu essa reação?” O aluno A7 definiu a produção
de vitamina C, este foi convidado a colocar a mão em cima da água e acabou
percebendo a produção de gás, a partir daí foi colocada outra pergunta: “quais
são as outras formas de perceber a produção do gás?” O aluno A5 sugeriu:
“tampe a garrafa e sacuda para produzir espuma”, o aluno A8 sugeriu:” Abre a
garrafa devagar e ouça o som do gás sair, igual o refrigerante”. Nessas duas
situações, pode-se perceber a relação que os alunos fizeram com o seu
cotidiano, demonstrando assim a possibilidade de um tem químico sem muita
complexidade. No momento seguinte, foi introduzido uma balança simples de
cozinha no experimento, foi explicado que se os materiais se transformam a
medida de massa da balança não se alteraria depois do experimento. Nessa
segunda parte, os alunos foram enfim inseridos no seu primeiro contato com a
lei de conservação das massas de forma adaptada e coerente com a realidade
vivenciada. Com a inserção da balança, a atividade experimental ganhou um
caráter de verificação, contudo essa seria feita de forma crítica com os
procedimentos adotados, tendo em vista isso, a aluna A1 foi convidada para
realizar o experimento a sua maneira, esta mediu a garrafa com água e o
comprimido, anotou os valores e verificou que a massa inicial era maior que a
final. A partir daí a turma foi indagada o porquê da massa ter diminuído e os
alunos foram unânimes em afirmar que a falta da tampa fez com que o gás
escapasse, nesse momento pode-se perceber que os alunos a partir da
experimentação construíram a partir da observação da reação química que a
aplicação da lei de conservação das massas só ocorreria em um sistema fechado.
O aluno A11 que sugeriu fechar a garrafa repetiu o experimento e verificou as
medidas de massa inicial e final da reação química proposta. Depois desse
aluno, outros três (A4, A9 e A13) sugeriram novas abordagens procedimentais a
atividade experimental a partir de hipóteses diferentes realizadas,
demonstrando criatividade e criticidade mediante aos processos expostos. Com o
fim da estratégia didática, foi pedida a professora que avaliasse a estratégia
didática, ela se impressionou com os resultados encontrados na turma e assumiu
a partir da observação ter a capacidade de ensinar química nos anos inicias
com a utilização de recursos didáticos.
Conclusões
A estratégia didática buscou avaliar o quanto pode ser representativa a realização de experimentos no ensino de ciências para alunos dos anos iniciais, nos aspectos de motivação, estímulo à criatividade, trabalho em grupo, formulação de hipóteses e interesse para a aprendizagem. Foram planejadas de forma que as crianças participassem de forma direta, realizando os experimentos e oferecendo contribuições em suas diversas etapas para que pudessem se sentir protagonistas na construção do conhecimento. Em momento anterior à aplicação das atividades, reuniram-se o pesquisador e a professora da turma a fim de apresentar e adequar o planejamento da aula com a realidade da turma. Nesse encontro inicial com a docente da turma, foi apresentado a necessidade e a importância que desde os anos iniciais o aluno já tenha contato com alguns conceitos de Química desde os primeiros anos de escolaridade e a abordagem que seria dada aos recursos didáticos. A professora relatou o seu desconforto em trabalhar com a Química, afirmando que trabalhava de forma superficial, sentindo-se insegura para a aplicação e abordagem da atividade. Essa postura é recorrente no discurso dos professores e discutido em vários trabalhos que se dedicam a estudar a Química nos anos iniciais (GONZALEZ, DECCACHE-MAIA e MESSEDER, 2017). Mediante a esse discurso, o pesquisador expôs que o conteúdo a ser trabalhado seria adaptado ao nível de escolaridade e sem a complexidade que seria desnecessária nesse momento aos alunos, mesmo assim, a professora se manteve resistente e insegura, diante disso o pesquisador aplicou a estratégia didática aos educandos. Após essa conversa inicial a professora pontuou algumas limitações da turma mediante a utilização dos recursos didáticos, como a dificuldade de interpretação de texto e a operação com números decimais. Na semana seguinte, após as modificações na estratégia didática terem sido feitas, foi realizada a aplicação com os alunos. No primeiro momento, em sala de aula, foi
Agradecimentos
Ao IFRJ pela possibilidade da pesquisa.
Referências
BARROS, M. D. M.; ZANELLA, P. G.; ARAÚJO-JORGE, T. C. A música pode ser uma estratégia para o ensino de Ciências Naturais? Analisando concepções de professores da educação básica. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, v. 15, p. 81, 2013.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ciências da Natureza, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, Brasília 2015. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio. Acesso em 20/08/2017.
GONZALEZ, T. S. ; DECCACHE-MAIA, E. ; MESSEDER, J. C. . Desenhos animados como possibilidades didáticas para ensinar conceitos químicos nos anos iniciais. Revista de Ensino de Ciências e Matemática (REnCiMa), v. 8, p. 61-77, 2017.
MESSEDER, J. C.; OLIVEIRA, D. A. A. S. . Ensino de Química no Ensino Fundamental: relatos de práticas investigativas nos anos iniciais. Educação Química en Punto de Vista, v. 1, p. 122-134, 2017.
MELO, M. C. H.; CRUZ, G. C. Roda de conversa: uma proposta metodológica para a construção de um espaço de diálogo no ensino médio. Imagens da Educação, v. 4, n. 2, p. 31- 39, 2014.
OLIVEIRA, J. R. S.; Contribuições e abordagens das atividades experimentais no ensino de ciências: reunindo elementos para a prática docente. Acta Scientiae. v.12, n.1, p. 139-156, Jan./Jun. 2010
OLIVEIRA, D. A. A. S.; MESSEDER, J. C. Da narrativa literária à produção textual coletiva: remontando conceitos químicos no Ensino Fundamental. Thema. v. 14, n. 2, p. 137-150, 2017.