Autores

França, M.B. (COLEGIO PEDRO II) ; Wallier, P. (COLEGIO PEDRO II) ; Faria, I.R. (COLEGIO PEDRO II)

Resumo

Há muito se discute sobre a necessidade de imprimir sentido ao ensino de disciplinas como Química. Mesmo assim, ainda verifica-se na maioria das salas de aula um ensino tradicional, que distancia o aluno do processo de aprendizagem. Uma forma alternativa utilizada principalmente por professores do ensino fundamental é a realização de Feiras de Ciências. Contudo este tipo de atividade se distancia do ensino médio, onde as atividades experimentais são pautadas em aulas de laboratório formais. O presente texto é resultado da realização de uma Semana de Química com alunos do ensino médio do Colégio Pedro II, baseada em palestras e oficinas experimentais voltadas ao cotidiano. As avaliações positivas feita pelos alunos reforçam a necessidade de mais eventos desse tipo na âmbito escolar

Palavras chaves

Semaana de Química; Ensino de Quimica; cotidiano

Introdução

Nos últimos anos tem sido crescente o debate acerca do Ensino de Química no Brasil. Apesar de ainda ser, em sua grande maioria, pautado no modelo tradicional e mecanicista, começam a ser estabelecidos diversos modelos alternativos. A maior parte deles buscam formas que transcendam a sala de aula, e que aproximem o ensino da realidade do estudante. Entre os anos 80 e 90 popularizou-se, principalmente no ensino fundamental, nas escolas brasileiras as famosas “Feiras de Ciência”, trazidas do modelo norte- americano de ensino, onde alunos e professores (em especial de Ciências e Biologia) trabalhavam em projetos a serem apresentados à comunidade escolar (Barcelos et al. 2010). Com o passar dos anos, tais eventos ganharam novos contornos agregando demais disciplinas como, por exemplo, História, Matemática, Literatura e Artes, passando a serem chamados de “Feiras Culturais”. No contexto do Ensino de Química, as atividades experimentais sempre foram marcadas por aulas formais de laboratório. Apesar de ser uma ciência experimental por natureza, tal prática no nível médio promove, até certo ponto, distanciamento dos alunos com a realidade que os cerca. Isso decorre do fato dos equipamentos utilizados, bem como as substâncias empregadas, parecerem inatingíveis ao mundo cotidiano. Nesse contexto o presente trabalho pretendeu adequar as propostas das conhecidas Feiras para o nível médio e o Ensino de Química. Para isso, todos os alunos do ensino médio do Colégio Pedro II – Campus Humaitá II, foram convidados a participar de uma “Semana de Química”, onde as aulas formais foram transferidas para atividades como palestras e oficinas experimentais voltadas para a realidade cotidiana.

Material e métodos

A 1ª Semana de Química do Colégio Pedro II – Campus Humaitá II ocorreu nos dias 28 e 30 de agosto e 01 de setembro de 2017. Ao longo destes três dias os alunos participaram de uma série de atividades, divididas basicamente em dois grupos: palestras e oficinas experimentais. Optou-se por temas que se adequassem a realidade de cada série do ensino médio, e por estabelecer parcerias com outras instituições de ensino. A escolha dos temas foi feita de modo a aproximar a realidade dos alunos do ensino médio à química que os cerca, e estabelecer parcerias com outras instituições de ensino propiciando diferentes olhares sobre esses temas. Dessa forma, foram convidados três profissionais distintos que falaram sobre: 1) Química e os Sentidos (Prof. Joaquim Mendes – IQ/UFRJ); 2) Química Verde (Profa. Queli Aparecida – IFRJ); 3) Água (Profa. Samira Portugal – UNIRIO). As palestras foram divididas em dois momentos, sendo o primeiro deles de uma fala do convidado; e o outro de espaço amplo e aberto para perguntas e debates sobre o tema desenvolvido. As oficinas experimentais foram realizadas pela equipe do Laboratório Didático de Química (LaDQuim) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A equipe montou quatro estações de trabalho distintas, com a temática “Química em Tudo”. As atividades duraram cerca de 20-30 minutos cada, e os temas abordados foram: Tratamento de Água, Energia, Acidez e Basicidade e Óleos Essenciais. Em cada oficina os discentes foram supervisionados pela equipe do LaDQuim, participando ativamente da atividade experimental proposta. Ao término de cada ciclo os alunos rodavam de uma oficina para outra, reiniciando os trabalhos. Após o final do evento os alunos responderam a um questionário de avaliação, de forma voluntária e anônima, sobre a experiência vivida.

Resultado e discussão

A temática principal da Semana de Química desenvolvida pelo Campus Humaitá II do Colégio Pedro II foi “Explorando a química sobre diferentes olhares”. Nesse sentido, a presença de profissionais de outras instituições de ensino no evento mostrou-se de grande valia, seja para alunos que ouviram sobre os temas a partir de novas perscpetivas; seja para o estabelecimento de parcerias fundamentais em projetos futuros. Percebeu-se nas palestras e oficinas uma participação ativa dos alunos (Figura 1), que demonstraram bastante interesse tanto nas perguntas, bem como na execução das atividades práticas. A Figura 2 apresenta os resultados obtidos para as quatro perguntas feitas aos alunos no questionário de avaliação. Verificou-se que 90% dos discentes consideraram a Semana de Química como Ótima ou Boa. No quesito palestras, consideraram como Ótima ou Boa 76% dos alunos que assistiram ao menos a uma das palestras. No que tange as oficinas experimentais, 93% dos participantes também as avaliaram como Ótimas ou Boas. No entanto, causou estranhamento observar que um percentual significativo dos alunos não compreendeu o evento como algo que tenha contribuído para o processo de aprendizagem (6% - Não e 33% - Indiferente). Tal fato pode encontrar explicação na pouca familiaridade dos estudantes com esse tipo de proposta, bem como na habitual construção de conhecimentos de forma compactada e estanque promovida por escolas e professores. Nesse sentido, o desenvolvimento de atividades em espaços de aprendizagens diferentes (não-formais) são de grande valia, pois não são restritos ao limite da sala de aula onde ocorre uma relação fechada entre professor e aluno, mas aberto a toda possibilidade e interação voltada para busca do conhecimento (Rüntzel e Marquês, 2016).

Figura 1

Alunos do Colégio Pedro II participando das atividades da Semana de Química

Gráfico 1

Quantificação dos questionários respondidos por alunos ao final da Semana de Química

Conclusões

A realização da Semana de Química voltada para alunos do ensino médio como proposta de projeto de ensino-aprendizagem fora do espaço formal da sala de aula mostrou-se eficaz. A partir dos resultados obtidos, verificou-se que a grande maioria dos estudantes consideraram as atividades oferecidas como ótimas ou boas, sendo capazes de explorar a Química sobre diferentes pontos de vista. Os resultados positivos alcançados nos questionários de avaliação indicam a necessidade de investimento em outros projetos deste tipo, bem como em pesquisas voltadas aos diferentes processos de ensino-aprendizagem

Agradecimentos

À Direção do Campus Humaitá II do Colégio Pedro II pelo apoio na realização da Semana de Química, e aos diferentes profissionais que se dispuseram de forma voluntária

Referências

1) BARCELOS, N. N. S.; JACOBOUCCI, G. B.; JACOBOUCCI, D. F. C. Quando o cotidiano pede espaço na escola, o projeto da feira de ciências “vida em sociedade” se concretiza. Ciência & Educação, [S.l.], v. 16, n. 1, p. 215-233, 2010. 2) RÜNTZEL, P. L.; MARQUÊS, C. A. Espaços não formais de aprendizagem no contexto das pesquisas em Ensino de Química. In: XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química. Atas do XVII ENEQ. Florianópolis, SC, 2016.