Autores
Assai, N.D.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA) ; Delamuta, B.H. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Bernardelli, M.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ (UENP))
Resumo
Este trabalho busca apresentar parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado acerca de como três professores de química da rede básica de ensino de uma cidade localizada no norte do Paraná desenvolvem suas aulas a respeito das Ligações Químicas. Para isso, foi realizado uma discussões com esses professores mediante a cinco questões pré-estabelecidas pela pesquisadora. Para a análise de dados utilizou-se a Análise Qualitativa Livre de Bogdan e Biklen (1994), sendo possível identificar que os professores ainda utilizam o método tradicional de ensino e instrumentos como quadro negro, giz, experimentação e modelos de isopor.
Palavras chaves
Ligações Químicas; Perspectivas Formativas; Ensino de Química
Introdução
A aprendizagem do conceito de Ligações Químicas é considerada central no estudo da Química, pois é essencial para o entendimento de diversos outros conteúdos químicos, tais como: estruturas moleculares, reações químicas, equilíbrio químico e termodinâmica (OZMEN, 2004). Assim, os conceitos relacionados às Ligações Químicas podem possibilitar o estabelecimento de maiores nexos com outros conceitos, como mostra a fala de Silveira Júnior (2012, p. 40) O estudo dos modelos de ligações químicas tem como objetivo explicar e prever propriedades e comportamento dos materiais, tendo assim relação direta com os pilares da química, ciência que estuda os materiais, as suas propriedades, a constituição e as transformações que eles sofrem. Conhecer os modelos de ligações pode favorecer o estabelecimento de relações com outros modelos, conceitos ou ideias centrais da química e possibilitar a compreensão de diversos fenômenos que ocorrem ao nosso redor, como as reações químicas, a liberação de energia na combustão, a solubilidade de substâncias, etc. Estudar os modelos de ligações químicas são notadamente importantes, uma vez que proporciona aos estudantes compreender a existência e/ou ausência de determinados compostos químicos, assim como explicam as propriedades e características dos diversos materiais. Como exemplo, podemos citar a existência de um sal de fórmula BaCl2, e a impossibilidade de haver um composto BaCl (com apenas um átomo de cloro), pode ser explicado devido ao modelo de ligação iônica. De maneira análoga, a condução elétrica de um fio de cobre e a ausência de propriedades de condutividade elétrica do açúcar, são exemplificados devido ao tipo de ligação que as constituem. Evidencia-se que no processo de ensino e de aprendizagem desse tema (Ligações Químicas), algumas dificuldades são apresentadas, de acordo com algumas pesquisas já realizadas, como: - Abstração (LEAL, 2009; SILVEIRA JÚNIOR, 2012); - Padrão de apresentação a respeito dos tipos de Ligação Química: iônicas-covalente-metálicas (SILVEIRA JÚNIOR, 2012); - Ensino de Ligação Química centrado apenas em livros didáticos (LEAL, 2009; SILVEIRA JÚNIOR, 2012); - Falta de contextualização (LEAL, 2009; SILVEIRA JÚNIOR, 2012); - Linguagem utilizada pelos livros e professores (LEAL, 2009; SILVEIRA JÚNIOR, 2012); - Noções equivocadas que os estudantes possuem a respeito das Ligações Químicas. Essas noções são agrupadas em: confusão entre Ligação Iônica e Covalente; Antropomorfismos; Regra do Octeto; Geometria das Moléculas e Polaridade; Energia nas Ligações Químicas e Representação das Ligações (FERNANDEZ; MARCONDES, 2006); - Falta de relação dos conceitos a serem ensinados com os conhecimentos prévios dos estudantes (LEAL, 2009; SILVEIRA JÚNIOR, 2012). Nessa perspectiva os problemas e dificuldades para trabalhar este conteúdo, como a abstração, linguagem, conceitos prévios, livro didático, a constante transformação da sociedade e a demanda de novas gerações, exigem que o professor deva estar preparado para os novos e crescentes desafios, como por exemplo: o uso dos recursos midiáticos educacionais; jogos; experimentos, entre outros no processo de ensino e de aprendizagem. Nesse viés, Quadros et al. (2011) julgam importante conhecer a visão que os professores em exercício têm a respeito do ato de ensinar Química, como trabalham, os aspectos que concebem importantes para o estudante aprender sobre determinado conceito, as dificuldades que apresentam, e como os mesmos trabalham, para realizar uma análise ampla do conceito em questão e também das práticas dos professores. Diante do exposto, o objetivo dessa pesquisa é compreender como 3 professores da educação básica de uma cidade do norte do Paraná desenvolvem suas aulas a respeito das Ligações Químicas e quais os instrumentos que os mesmos utilizam em suas aulas.
Material e métodos
Para sustentar a proposta da pesquisa serão apresentados nessa seção, os caminhos das abordagens metodológicas que foram percorridos durante esta investigação. A ênfase da pesquisa foi diagnosticar como os professores participantes da pesquisa desenvolvem suas aulas a respeito das Ligações Químicas. Para a realização desta pesquisa, vale comentar que foi realizado um curso, caracterizado pela aplicação de um Material Instrucional, desenvolvido durante um trabalho de mestrado (OMITIDO). Esse material denominado de Roteiro Instrucional (OMITIDO) consiste em 8 encontros, totalizando 21 horas, com o objetivo de apresentar um novo recurso midiático educacional: WebQuest para professores de Química. Ressalta-se que neste artigo o foco é analisar um debate que ocorreu no quarto encontro, a respeito das dificuldades e limitações do ensino de Ligações Químicas. Vale comentar também, que este assunto foi escolhido pela pesquisadora para debate, pois os encontros seguintes tiveram como objetivo a apresentação de WebQuests que abordavam esses conceitos. Ou seja, mostrar para esses professores a diversidade de recursos disponíveis para superar os obstáculos encontrados para o ensino desses conceitos. Os sujeitos desta pesquisa são 5 professores da educação básica de diferentes escolas localizadas em uma cidade no norte do Paraná. Esses professores apresentam os seguintes perfis: • Todos são formados em Licenciatura em Química e atuam (ou já atuaram) em escolas públicas, apenas um professor não atuava na rede estadual de ensino, e sim na rede federal de ensino; •A experiência dos professores participantes em sala de aula, varia de 4 a 35 anos; Neste contexto a coleta de dados, ocorreu mediante a gravação de uma discussão mediada pela pesquisadora, mediante quatro questões, a saber: 1)Como você inicia sua aula a respeito de Ligações Químicas? 2)Você costuma questionar seu aluno para sondar seus conhecimentos prévios a respeito desse assunto? 3)Quais assuntos vocês consideram relevantes para ensinar Ligações Químicas? 4)Qual a maior dificuldade de ensinar Ligações Químicas? 5)Como trabalhar com a abstração do conteúdo? 6)Quais instrumentos de ensino você utiliza para o ensino desses conceitos? As questões foram transcritas e constituem o conjunto de dados dessa pesquisa. A pesquisa realizada caracteriza-se com qualitativa de cunha bibliográfico na busca de interpretar e compreender como 3 professores desenvolvem suas aulas a respeito das Ligações Químicas e quais os instrumentos que os mesmos utilizam em suas aulas. O encontro foi gravado mediante a utilização dos instrumentos como smartfone e notebook, posteriormente transcritas pela própria pesquisadora. Vale comentar alguns passos realizados no momento das transcrições, como: •Primeiramente, foi indicado cada entrevistado com siglas (P1, P2 e P3); •Foi utilizado apenas um símbolo [...], com o intuito de abstrair algumas falas. O tópico abaixo apresentará os resultados e discussões desta pesquisa
Resultado e discussão
Essa seção apresenta a interação ocorrida entre a pesquisadora e os professores durante a pesquisa. A escolha dos professores foi motivada pelo contexto da pesquisa e pelo fato de conhecer alguns e saber da sua vontade em mudar e aperfeiçoar cada vez mais a sua prática docente. Foi gratificante ouvir as falas desses professores, no qual deixaram claro que deveria existir uma maior interação entre a universidade e as escolas.
A seguir serão apresentados os resultados e suas respectivas discussões na ordem em que ocorreram os questionamentos durante a pesquisa. Em relação a primeira questão (Como você inicia sua aula a respeito de Ligações Químicas?), os professores deixaram claro que começam as aulas discutindo/relembrando alguns conceitos químicos indispensáveis para que os conceitos de Ligações Químicas possam ser estudados. Essa ideia fica clara na fala dos 3 professores participantes da pesquisa.
Eu começo trabalhando as propriedades físicas das substâncias e a partir da diferenciação das propriedades físicas eu vou introduzindo a ideia das Ligações Químicas. Por exemplo, diferença de ponto de fusão, diferença de condutividade elétrica, diferença de solubilidade, por que que uma conduz e outra não, por que uma é solúvel e a outra não e ai dentro dessas características nós vamos buscando quais elementos são formadores daquelas substâncias. P1
Então, mas quando você começa a falar das propriedades físicas, você precisa retomar a questão da distribuição eletrônica, porque se você não fizer este tipo de retomada, eles não conseguem entender por que ele é um metal, por que ele é um ametal. P2
[...] precisa ir articulando as questões das propriedades físicas e das posições na tabela periódica. A distribuição, quantos elétrons ele tem na última camada, por isso ele faz esse tipo de ligação, por que tem preferência de doar ou compartilhar elétrons. P3
Observa-se que os conceitos que os professores destacam ser indispensáveis para o entendimento de Ligações Químicas são: propriedades físicas das substâncias, distribuição eletrônica e a tabela periódica como um todo. Percebe-se que além da retomada de alguns conceitos, os professores não indicaram mais nada, ou seja, o único jeito que iniciam suas aulas é por meio da revisão de conceitos.
Em relação a segunda questão (Você costuma questionar seu aluno para sondar seus conhecimentos prévios a respeito desse assunto?), o P1 afirma que questiona seus alunos e também realiza experimentos demonstrativos, pois a partir da observação os alunos começam a falar algumas concepções prévias. Já a P2 diz que pergunta, mas é muito difícil fazer com que os alunos respondam. Ela afirma também que os alunos tem dificuldade de relacionar os conceitos. O P3 foi interrompido várias vezes, e só citou que é relevante uma interação entre o professor e o aluno.
Sim na verdade incentivar para que eles mostrem seus conhecimentos prévios né. É uma coisa que facilita muito, é se tiver a possibilidade de alguns experimentos para eles poderem observar. Simples assim, entre sal e açúcar [descreve o experimento], aí essa ideia das observações, eles vão começar a soltar suas concepções prévias. P1
A eu sempre pergunto. Agora o duro é sair a resposta né. A gente questiona o que é e o que não é, se ele já ouviu falar, se não ouviu [...] não pode levar coisa pronta, porque eles não querem pensar. Quando você fala uma coisa eles não conseguem relacionar aquilo ou a pensar. E a cada ano parece que está pior. P2
[...] é necessário aquela interação. P3
Em relação a terceira questão (Quais assuntos vocês consideram relevantes para ensinar Ligações Químicas?), todos discutem que é fundamental discutir desde a tabela periódica até a distribuição eletrônica.
É muito importante desde a tabela periódica, distribuição eletrônica. [...] ver quais elementos são metais e suas propriedades, quais elementos são ametais e suas propriedades. P1
Olha eu acho assim, se ele conseguir enxergar a tabela, saber quem doa e quem recebe já é um grande passo. P2
Analisando o áudio foi possível observar que o P1, vai além, o mesma e afirma que é necessário que os alunos saibam quais elementos são metais e quais são ametais e suas propriedade. Nesse momento o P2 afirma que não “sonha alto”, que para ele só o entendimento do que é uma ligação iônica e porque ocorre a mesma já está bom. Já o P3, não cita algum conteúdo, só discute que os alunos ficam muito “bravos” quando são questionados. Os mesmos querem tudo pronto, mediante a copia do quadro negro.
Em relação a quarta questão (Qual a maior dificuldade de ensinar Ligações Químicas?), apenas o P1 deixou claro que a dificuldade está relacionada a prática do professor, em fazer com que o aluno entenda que esses conceitos estão presentes em seu cotidiano. Os P2 e P3 relacionaram suas respostas em relação ao aluno, a falta de conhecimentos prévios e de interesse dos mesmos.
Sair da tabela periódica, sair para a distribuição eletrônica e relacionar tudo isso dai, no dia a dia, no cotidiano. Não adianta nada eles saberem ligar o Sódio e o Cloro sem saber onde se encontra isso. P1
A maior dificuldade nossa é a bagagem do aluno. P2
Eu acho que é a falta de interesse dos alunos. P3
Pode-se afirmar também que os três professores, relataram que uma das dificuldades está em relação a abstração dos conceitos, que segundo as pesquisas de Leal (2009) e Silveira Júnior (2012), é uma das dificuldades mais encontrada no ensino e aprendizagem desse conteúdo. Além disso, vale ressaltar que nenhum professor deixou claro que as dificuldades devem-se a sua própria prática pedagógica.
Assim, perguntou-se: Como trabalhar com a abstração do conteúdo? (quinta questão), no qual apenas dois professores responderam. O P2 afirmou que é muito difícil e que você precisa mostrar que essas ligações estão presentes em seu cotidiano, o que vai ao encontro da resposta do P3, como podemos observar abaixo.
Essa é uma pergunta difícil. Você tem que tentar mostrar que tem ali e que você mexe ali. P2
Você tem que trazer, por exemplo para a prática do cotidiano, fazer com ele compreenda, passar do macro para o micro. É uma dificuldade muito grande. Eles ficam presos no que a gente fala e não vão além. P3
Por fim, última questão (Quais instrumentos de ensino você utiliza para o ensino desses conceitos?), tinha como objetivo compreender quais os instrumentos, recursos didáticos são usados pelos participantes da pesquisa. As respostas foram diferentes para cada um, que variou desde a experimentação, quadro negro, giz, livro didático e modelos com isopor.
Eu uso muito experimentação. P1
O meu é mais quadro e giz. Eu já trabalhei com eles massinha de modelar. P2
Livro didático e um modelinho com isopor. Os alunos vão montando as ligações. P3
Observa-se assim, que os professores deixam claro as dificuldades, como a abstração e a falta de interesse dos alunos, mas não utilizam instrumentos diferentes que chamem a atenção do alunos.
Conclusões
Com o intuito de responder a nossa questão inicial de pesquisa foi realizado um encontro para identificar as concepções de como 3 professores da educação básica desenvolvem suas aulas a respeito das Ligações Químicas e quais os instrumentos que os mesmos utilizam em suas aulas. Por meio deste estudo foi possível observar que os professores ainda seguem o modelo tradicional de ensino. Infelizmente, os mesmo só relataram que realizam questionamentos durante suas aulas, quando a pesquisadora perguntou se os mesmos questionavam os conhecimentos prévios dos alunos. Antes disso, só haviam afirmado que realizavam a revisão de alguns conceitos essenciais para o ensino de Ligações Químicas. Além disso, pode-se concluir também que os professores relataram que a grande dificuldade em ensinar ligações químicas remete-se a falta de interesse dos alunos, como a abstração dos mesmos e que para resolver este problema, o essencial seria que os alunos entendessem que as Ligações Químicas estão presentes em seu cotidiano. Por fim, pode-se afirmar que em relação aos instrumentos utilizados para o ensino desses conceitos, os professores ainda estão ligados ao quadro negro, giz e livro didático. Nenhum professor citou o uso de recursos tecnológicos, jogos, teatro, entre outros recursos.
Agradecimentos
Referências
FERNANDEZ, C.; MARCONDES, M. E. R. Concepções dos estudantes sobre Ligação Química. Revista Química Nova na Escola, São Paulo, n. 24. p. 20–24, nov., 2006.
LEAL, M. C. Didática da Química: fundamentos e práticas para o ensino médio. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. 119 p.
ÖZMEN, H. Some student misconceptions in chemistry: A literature review of chemical bonding. Journal of Science Education and Technology, v. 13, n. 2, p. 147-159, 2004.
QUADROS, A. L.; et al. Ensinar e aprender química.: a percepção dos professores do Ensino Médio. Educar em Revista, n. 40, p. 159-176, 2011.
SILVEIRA JÚNIOR, C. Ler para aprender ligações químicas em aulas de ciências: investigação, reflexões e lições. 2012. 163f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.