Autores
Matos, K.G. (UNINTER) ; Santos, J.J.S. (SEDUC-AL) ; Souza, C.G. (SEBRAE/MAC)
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo explorar a importância da inserção do saber popular do sabão reciclado de óleos de fritura, como prática experimental de auxílio para a aprendizagem significativa. A estratégia pedagógica foi interagir os alunos no ensino de química a partir do saber popular. Com a prática experimental os alunos tiveram uma proposta de um ensino curioso, investigativo e atraente. Após o experimento os alunos foram avaliados em debate com o auxílio do professor como mediador e observou-se que o ensino contextualizado com o dia a dia dos alunos, proporcionou o desenvolvimento de competências e habilidades visando à formação de indivíduos curiosos, incentivados, perspicazes e que saibam articular o conhecimento adquirido na escola nas diversas situações da vida.
Palavras chaves
Ensino de química; Sabão reciclado; Saber popular
Introdução
O bairro Chã de Bebedouro localizado na cidade de Maceió, no estado de Alagoas, é um bairro criado recendente, e por isso ainda suas principais ofertas de serviços são subordinadas ao bairro de Bebedouro, localidade mais próxima para atender os serviços básicos da população. Segundo os dados do IBGE (2018), o Bairro de Chã de Bebedouro foi criado através lei municipal 4953 em 06 de janeiro de 2000. Altera a lei Nº 4.687/98, que dispõe sobre o perímetro urbano de Maceió, a divisão do município em regiões administrativas e inclui o abairramento da zona urbana e de outras providencias, que foi publicado no Diário Oficial do Município em 07/01/2000. Atualmente o bairro Chã de Bebedouro é densamente povoado em 0,71 km² e uma população de 11.541 habitantes, segundo o Censo do IBGE (2018). Grande parte da população é de baixo poder aquisitivo, e vive em áreas de vulnerabilidade social e do mercado informal. Segundo Santos e Santos Junior (2010), não diferentes dos demais centros urbanos do Brasil, o bairro de Bebedouro cresceu de forma rápida e desordenada, acompanhado com esse crescimento, surgiu também os problemas socioambientais urbanos, entre os mais frequentes, o crescimento desordenado de moradias precárias, e de baixo poder econômico. Grande parte dos alunos deste bairro estuda na escola estadual Dr. Miguel Guedes Nogueira, onde foi desenvolvido o projeto para confecção de sabão reutilizado de óleos de cozinha como proposta de ensino do conteúdo de Matéria e Meio ambiente na disciplina de Química. Neste projeto, foram exploradas as diferentes explicações sobre o mundo, os fenômenos da natureza e as transformações produzidas pelo homem, comparando-os dentro de uma concepção científica, tecnológica e atual. O sabão reciclado já é produzido por uma parte das famílias deste bairro. Este saber popular foi aproveitado em sala de aula para aprender os conteúdos de química e assim contribuir para uma aprendizagem significativa e perspicaz. Tendo em vista que uma aprendizagem é significativa quando o novo conteúdo é intercalado ao conteúdo já existente no conhecimento do aluno, a partir do conhecimento prévio o novo conteúdo vai estabelecendo uma relação com o conhecimento já existente. Porém, quando esse conteúdo é adicionado ao conhecimento do educando sem relação nenhuma com o que já existe pronto em sua mente, torna-se uma aprendizagem mecânica e sem valor. Com isso, o discente não aprende o conteúdo, apenas “decora para passar na prova” (PELIZZARI et. al., 2002). Considerando que uma das finalidades da escola é contribuir para a formação integral dos alunos, o tema buscou uma compreensão do ambiente em sua complexidade, gerando representações do entendimento do aluno como ser humano dentro do Universo, espaço, relações e a própria vida. Quando se dá atenção a alguns aspectos como – o material a ser apresentado ao aprendiz tem que ser potencialmente significativo -, não ocorre aprendizagem mecânica e sim a significativa. Ausubel diz serem necessários que o discente necessite possuir sua estrutura cognitiva os “subsunçores” adequado, devendo também manifestar uma vontade de aprender (CASTRO e COSTA 2011). Na atualidade, nos deparamos com jovens sem compromisso com as atividades escolares, que chegam ao Ensino Médio levando dificuldades básicas em torno dos conteúdos de Física, Química e Biologia. Partindo do pressuposto de que o espaço escolar deverá ser um ambiente agradável, que estimule a arte de pensar e o prazer de aprender. Nesse projeto, os educandos atuaram diretamente sobre o objeto de aprendizagem, através da observação, experimentação, comparação e estabelecimento de relações entre fatos e fenômenos, teoria e prática.
Material e métodos
Para Darci Pitt e col. (2011), a perspectiva do esgotamento das reservas de petróleo e a pressão ecológica decorrente do uso dos derivados do petróleo, aliadas às instabilidades geopolíticas dos países produtores, tanto do setor industrial quanto governamentais, culminaram no desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas que propõem novos insumos para a indústria química, a partir de fontes renováveis e que buscam substituir os insumos petroquímicos. A estratégia da inserção do saber popular nas aulas de química, foi desenvolvida com 90 alunos de três turmas diferentes do 1° ano do ensino médio da escola estadual Dr. Miguel Guedes Nogueira, no bairro Chã de Bebedouro, localizado na cidade de Maceió, no estado de Alagoas. A perspectiva metodológica foi realizada no pátio da escola em três etapas. A primeira etapa foi constituída por uma abordagem teórica do roteiro da prática da construção do sabão reciclado junto com os conhecimentos dos alunos que sabiam fazer o sabão, acoplado com os conteúdos de Matéria (transformações da matéria) e Meio ambiente, mediado pelo professor. Na segunda etapa, todos os alunos fizeram o sabão reciclado com óleo de fritura reutilizado. E por final, a terceira etapa, concluiu-se com um debate em sala de aula sobre a prática do sabão reciclado junto com os conteúdos de química.
Resultado e discussão
A proposta de inserir o Saber Popular em sala de aula tem sido preconizada e
amplamente disseminada por Chassot (1990; 1994; 2001; 2007; 2008b). A
literatura internacional também tem estimulado interações com saberes
populares, locais, tradicionais, nativos e indígenas nas aulas de ciências
(Baker e Taylor, 1995; Barros e Ramos, 1994; Cobern e Loving, 2001;
Francisco, 2004; George, 1988; 1992; George e Glasgow, 1989; Jegede, 1995;
Maddock, 1981; Ogawa, 1995; Pomeroy, 1994; Snively, 1990; Snively e
Corsiglia, 2001), destacando-se uma experiência pioneira realizada em
Uganda, na África (Haden, 1973), na qual alunos de ensino médio investigaram
saberes tradicionais associados à produção de ferro metálico a partir de
seus minérios com a cooperação de anciãos da tribo Okeb.
Os trabalhos empíricos de George (1988; 1992) indicaram os benefícios da
motivação e da participação ativa dos alunos nas aulas, o elevado nível de
socialização, o melhor desempenho, a compreensão mais rápida e melhor dos
conceitos científicos, a ampliação da visão de ciência, sua aplicação na
vida e a valorização das heranças culturais pelos alunos. George também
mencionou haver dificuldades nesse empreendimento, destacando o
desconhecimento dos professores sobre os saberes científicos operantes nas
práticas populares e a necessidade de haver formação específica e de
realizar mudanças na prática pedagógica.
Consideraremos tratar de uma manifestação do saber popular devido às origens
da comunidade e ao seu desenvolvimento independente de saberes científicos,
escolares e de tecnologia industrial.
Através da análise dos resultados obtidos durante a realização da pesquisa
de campo, sobretudo no que se refere ao diagnóstico do ambiente escolar e da
aprendizagem na área de Química dos alunos, conclui-se a necessidade de
implementação de ações pedagógicas inovadoras, principalmente atividades que
visem à realização de um ensino investigativo, onde o aluno é ativo,
reflexivo e participativo, motivando-os para a aprendizagem. Haja vista que,
muito dos alunos já confeccionavam o sabão com suas famílias e utilizavam
para comércio, através desta prática, eles puderam entender como a Química
está inserida dentro de sua rotina e como seus conhecimentos podem
influenciar para uma melhor qualidade de seu produto. Bem como, os demais
alunos puderam adquirir este conhecimento e assim produzi-lo para o próprio
consumo, tão quanto, para comércio e fonte de renda, e também contribuir
para o meio ambiente sustentável.
Conclusões
Durante o decorrer das atividades, os alunos tiveram oportunidades de pesquisar, buscar por informações, organizar dados, apresentar seus resultados etc. Tiveram também várias oportunidades de mobilização dos saberes adquiridos, de refletir e tomar decisões. Com esta pesquisa observou-se um grande envolvimento dos alunos perante o tema Matéria e Meio Ambiente. Desta maneira, a implantação de políticas de reciclagem e de informação, principalmente nas escolas, é um fator positivo para a resolução deste problema. Esta atividade teve relevância, pois, o bairro Chã de bebedouro, se concentra uma grande massa de pessoas carentes e desempregadas, onde a oportunidade de produzir um material de baixo custo contribui para a sustentabilidade, e pode servir para o comércio e ser fonte de renda para essas famílias.
Agradecimentos
Referências
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CHASSOT, A.I. A educação no ensino da química. Ijuí: Unijuí, 1990. p. 103-108.
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GEORGE, J. e GLASGOW, J. Some cultural implications of teaching towards common syllabi in science: a case study from the Caribbean. School Science Re¬view, v. 71, p. 115-123, 1989.
GEORGE, J. The role of native technol¬ogy in science education in developing countries: a Caribbean perspective. School Science Review, v. 69, n. 249, p. 815-821, 1992.
HADEN, J. Education in Chemistry. Ugan¬da, v. 10, n. 2, p. 49-51, 1973.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em < www.ibge.gov.br.> Acesso em 28/05/2018.
PELIZZARI, Adriana; KRIEGL, Maria de Lurdes; BARON, Márcia Pirih; FINCK, Nelcy Teresinha Lubi; DOROCINSKI, Solange Inês. Teoria da Aprendizagem Significativa Segundo Ausubel. Rev. PEC, Curitiba, v.2, n.1, p.37-42, 2002.
SANTOS, J. J. S.; SANTOS JUNIOR, A.C . Perfil socioeconômico e a percepção ambiental de moradores residentes em área de risco de deslizamentos/desmoronamentos: O caso do agromeramento subnormal Flexal de Cima, Maceió, Alagoas (Brasil).TCC UFAL 2010.