Autores

Diniz de Almeida, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Lopes de Miranda, J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO)

Resumo

O uso da Tecnologia de Informação e comunicação (TIC) em sala de aula está cada vez mais presente nas discussões sobre a educação no século XXI. Embora o uso de dispositivos móveis proporcione um amplo leque de possibilidades para o ensino, muitos professores consideram o uso de dispositivos móveis em sala de aula como inadequado. O uso de TIC no ambiente escolar pode também associar as atividades participativas, utilizando a mediação para promover a aprendizagem cooperativa, na qual o aluno é o protagonista deste processo. Neste trabalho, selecionamos a temática combustíveis, em especial, biodiesel para ser contextualizada e utilizada no desenvolvimento de um aplicativo elaborado por alunos do ensino médio profissionalizante, que pode ser disponibilizado em smartphones ou computadores.

Palavras chaves

TIC; aprendizagem; combustíveis

Introdução

O uso da Tecnologia de Informação e comunicação (TIC) em sala de aula está cada vez mais presente e necessário nas discussões sobre a educação no século XXI. Os computadores, smartphones e tablets ganharam espaço no desenvolvimento de ensino e aprendizagem devido à incorporação de suas diversas funcionalidades. O uso de dispositivos móveis como smartphones e tablets abre um amplo leque de possibilidades para o ensino em geral e de ciências, em particular. Apesar disso, muitos professores encaram o uso de celulares em sala de aula como algo que deve ser proibido (MATEUS, 2015). Embora hoje seja muito pouco explorada a utilização dos recursos tecnológicos e que a maioria das escolas ainda utilizem suas ferramentas tradicionais como, quadro e giz, os professores devem utilizar a seu favor o que a modernidade traz e sobrepujar esta barreira tecnológica (CINELLI, 2003). O uso de dispositivos móveis torna-se motivador e utilitário, quando este pode ser engajado aos alunos em atividades didáticas de maneira produtiva em sala de aula, devido à sua fácil disponibilidade, tornando-se de baixo custo para a escola também. O aluno, deste modo, tem a possibilidade de ter acesso a discussões de seu cotidiano contextualizado a sua disciplina escolar, de forma mais cativante, inserindo-o no contexto da disciplina ligado ao mundo virtual. Desse modo, a educação não formal e a divulgação em ciência vêm se afirmando, não sem resistências, sendo inclusive temerário indicar a existência efetiva de um novo campo de conhecimento, o que reforça a importância do aprofundamento teórico sobre essa prática (MARANDINO). Durante muitos anos, acreditava-se que a aprendizagem ocorria pela repetição e que os estudantes que não aprendiam eram os únicos responsáveis pelo seu insucesso escolar. No entanto, com o avanço das teorias de aprendizagem, sabe-se hoje que o fracasso destes alunos também está relacionado ao método de aprendizagem que o professor exerceu em sala de aula(CUNHA, 2012). Todavia, com o avanço da tecnologia, o método de ensino tem sido reformulado através do auxílio das novas tecnologias que possibilitam trabalhar com investigação e experimentação na sala de aula, quer na química, quer em outras disciplinas, permitindo ao aprendiz vivenciar experiências, interferir, fomentar e construir o próprio conhecimento. Entendemos a contextualização como uma possibilidade de problematizar o mundo dos alunos por meio do conhecimento científico, juntamente com saberes de outras áreas, de forma a permitir uma compreensão mais ampla da realidade na qual eles estão inseridos. Ou seja, “[...] contextualizar seria problematizar, investigar e interpretar situações/fatos significativos para os alunos de forma que os conhecimentos químicos auxiliassem na compreensão e resolução dos problemas [...]”(Silva, 2003, p. 26). Em um processo contextualizado de aprendizagem, o aluno participa dinamicamente da ação educativa através da interação com os métodos e meios para organizar a própria experiência. A participação do professor como facilitador do processo ensino-aprendizagem é relevante para permitir que o aluno desenvolva habilidades e seja capaz de realizar a atribuição de significados importantes para sua articulação dentro do processo ensino-aprendizagem. Para Vygotsky, a aprendizagem da criança pode ocorrer através do jogo, da brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz mais experiente e que o processo básico pelo qual isto ocorre é através da mediação, pois esse aprendizado é fortemente influenciado por experiências concretas que eles vivenciaram. No momento em que os signos culturais vão sendo internalizados pelo sujeito é quando os humanos adquirem a capacidade de uma ordem de pensamento mais elevada(VYGOTSKY, 1991). É nesse contexto construtivista que o se propõe o desenvolvimento de um aplicativo didático a ser disponível em celular ou computador, como ferramenta pedagógica motivadora para o processo de ensino aprendizagem, com a abordagem temática em combustíveis fósseis e biocombustíveis. OBJETIVO O projeto realizado teve como objetivo contextualizar o ensino do tema combustíveis no âmbito do conhecimento químico, com o enfoque em Biodiesel, através do desenvolvimento de um aplicativo feito pelos próprios alunos no Colégio ETESC – Escola Técnica de Santa Cruz, Rio de Janeiro e no espaço Nave do Conhecimento (https://navedoconhecimento.rio/); projeto realizado pela Prefeitura do RJ, em que estes equipamentos urbanos abrigam uma diversidade de ambientes com soluções de alta tecnologia à disposição dos usuários, com ações específicas para os moradores das comunidades locais, localizado em Santa Cruz, Rio de Janeiro. Este processo ocorreu através do desenvolvimento de um aplicativo que foi denominado pelos próprios alunos de “FUEL ASK”, que pode ser usado em computadores ou smartphones, no qual foi feita a abordagem dinâmica para a aprendizagem de conceitos sobre combustíveis, e em especial, o biodiesel.

Material e métodos

MATERIAIS: Os materiais usados no desenvolvimento deste trabalho foram: 1) A contextualização temática com uma aula na instituição de ensino Colégio ETESC – Escola Técnica de Santa Cruz, Rio de Janeiro sobre “O que são combustíveis?? Para que servem? A qualidade dos combustíveis nos afeta?” , “O que é biodiesel?” utilizando conteúdos sobre o biodiesel no Brasil (Miranda, 2016); E a utilização do espaço Nave do Conhecimento, para o desenvolvimento do aplicativo móvel "FUEL ASK". MÉTODOS: O trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas: 1) contextualização temática sobre combustíveis, biocombustíveis e biodiesel; 2) proposição do desenvolvimento do aplicativo aos alunos; 3) divisão dos alunos em grupos, com atividades diferenciadas; 4) início das atividades para o desenvolvimento do aplicativo; 5) seleção dos itens relativos ao tema gerador a serem utilizados no aplicativo (feita pelos alunos, com a mediação do docente); 6) avaliação dos primeiros testes do aplicativo, feito entre os alunos; 7) apresentação do uso do aplicativo para a turma e para o docente. A contextualização temática sobre combustíveis, biocombustíveis e biodiesel (etapa 1) foi desenvolvida em duas aulas, com dois tempos para cada aula, em um total de 50 minutos para cada aula. A proposição (etapa 2) e divisão dos alunos em grupos, com atividades diferenciadas (etapa 3) foram realizadas após o término das aulas teóricas. O desenvolvimento do aplicativo (etapa 4) e a seleção dos itens relativos ao tema gerador a serem utilizados no aplicativo (etapa 5), que foram elaborados na Colégio ETESC – Escola Técnica de Santa Cruz, foram realizados em duas aulas, com dois tempos para cada aula de 50 minutos. A seleção dos itens relativos ao tema gerador a serem utilizados no aplicativo (etapa 5) também ocorreu via e-mail eletrônico, como também com o uso do aplicativo WhatsApp, seguida da etapa de elaboração das perguntas, feita pelos alunos e mediada pela docente. O aplicativo foi desenvolvido inteiramente pelos próprios alunos, com o debate e avaliação dos mesmos. Eles fizeram uso do software Unity para o seu desenvolvimento, assim como, do adobe photoshop e adobe illustrator para o design e elaboração das perguntas desenvolvidas para a produção do aplicativo contextualizado em combustíveis. A avaliação dos primeiros testes do aplicativo, feito entre os alunos (etapa 6),foi realizada pelos alunos num espaço de tempo de uma semana, e a apresentação do uso do aplicativo para a turma e para o docente (etapa 7), foi realizado em uma aula de dois tempos, com 50 minutos para cada aula.

Resultado e discussão

A avaliação do trabalho foi feita a partir dos depoimentos dos alunos através da mediação feita com os alunos pelo uso do aplicativo WhatsApp, em que os mesmos gravaram seus depoimentos sobre o trabalho realizado. Esta atividade foi registrada em forma de áudio. O aplicativo realizado foi obtido de forma satisfatória e de compreensão dos alunos, além de contextualizar as técnicas de informática e o ensino de química. De acordo com o depoimento dos alunos, podemos observar que o aplicativo desenvolvido foi utilizado por eles de forma lúdica contribuindo para a aprendizagem do tema combustíveis. A análise do discurso dos alunos a ser apresentada neste trabalho é inicial e será relatada com base nas respostas obtidas a partir da pergunta abaixo: “O que este trabalho sobre combustíveis pode acrescentar para vocês no conhecimento químico e na área de informática, em que vocês atuam? ”. (Pergunta feita por Cinthia Diniz de Almeida) Analisando-se os discursos dos alunos sob a ótica do construtivismo crítico de Paulo Freire (Freire, 1996), foi possível observar excertos que ressaltaram o aluno como sendo protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, como em: A1: “... aprendi mais uma linguagem de programação e também aprendi a usar uma nova ferramenta de criação... consegui aprender mais sobre combustíveis, tanto no aplicativo como nas palestras que a professora deu, para nos ajudar a montar esse aplicativo”. A2: “... eu aprendi mais sobre o conteúdo abordado no jogo. Foi bastante interessante”. A3: “... me deu alguns conhecimentos na área da programação e do designer e me acrescentou várias coisas, além do que, claro, que houve uma pesquisa por traz das perguntas do jogo, e isso acabou me dando alguns conhecimentos sobre combustíveis, ajudou em química e em vários outros quesitos...”. A4: “... Achei algo em que eu nunca realmente tinha me aprimorado em todo esse tempo: designer;... Nunca consegui fazer algo em que eu mergulhasse durante todas as minhas tentativas”. O processo de mediação (Vigostky, 1991) pôde ser observado nos seguintes discursos dos alunos: A5: “... com as palestras da professora Cinthia, eu obtive mais conhecimento sobre o assunto abordado, que foi combustível, e isso vai me ajudar bastante para o futuro”. A6: “... A professora nos ajudou também bastante com este jogo, ensinando a gente de como são feitos, de que são feitos e para que servem os combustíveis”. A presença da contextualização e da interdisciplinaridade entre os domínios dos conteúdos da Química e da Informática pode ser obervado nos seguintes excertos de discursos: A7: “Este trabalho sobre biocombustíveis me acrescentou um conhecimento técnico sobre o assunto que irá me ajudar principalmente na área química,..., me permitindo um olhar mais brando sobre os combustíveis em geral, que é algo que está amplamente presente em nosso cotidiano. Na minha área técnica, que é informática, este trabalho ajudou muito na aprendizagem do desenvolvimento de software, uma área abrangente e que, com uma pequena base, muito já pode ser feito, e tais softwares que forem desenvolvidos podem ser reconhecidos por muitos, e ser de grande ajuda para empresas, corporações e pessoas”. Foi possível constatar que a grande parte dos alunos mencionou nos seus discursos a relação do aprendizado de informática e o ensino de química como algo satisfatório e de grande importância para o conhecimento deles, fazendo com que tenhamos atingido, pelo menos em relação aos temas tratados, o objetivo de interdisciplinaridade entre a Química e a Informática, havendo a compreensão do papel dos combustíveis na sociedade atual". Com relação à análise da aprendizagem em equipe e a cooperação, importantes aspectos para a formação humana e grande desafio para a carreira profissional, alguns trechos foram destacados: A8: “... o trabalho ajuda a crescer de alguma forma a capacidade intelectual... ”. A9: “... em lidar em situação de grupo me ajudou bastante. Então, este projeto acrescentou bastante coisa para mim e pode me servir em algumas coisas no futuro”. A10: “Eu consegui derrotar um medo irracional que eu tinha e saber utilizar uma nova ferramenta para trabalhar no futuro”. A11: “... ele me ajudou a desenvolver um método de pesquisa, a trabalhar em equipe, o que é necessário para uma carreira profissional”. A12: ”Para mim este projeto foi importante para o meu futuro, não só o meu, mas também para os outros desenvolvedores”... E o jogo também nos proporcionou a ideia de como será o trabalho futuro de um programador, inclusive no trabalho em equipe". Notamos que a maioria dos alunos citou em seus depoimentos o fato de o trabalho em equipe ter sido um esforço coletivo para desenvolver o aplicativo, em que eles se dedicaram a realizar uma tarefa visando concluir determinado trabalho, no qual cada um desempenhou uma função específica, mas todos unidos por um só objetivo, alcançar o tão almejado aplicativo “FUEL ASK”.

APLICATIVO FUEL ASK - CONFIGURAÇÃO INICIAL.

Configuração inicial do aplicativo "FUEL ASK".

APLICATIVO FUEL ASK - NÍVEIS DO JOGO.

Elaboração dos níveis do aplicativo "FUEL ASK".

Conclusões

A ideia do trabalho foi promover o “diálogo” entre dois campos de domínio, a Química e a Informática, contextualizados com o tema combustíveis e biodiesel, através do desenvolvimento de atividades cooperativas realizadas pelos próprios alunos do ensino médio. Sendo os protagonistas de suas aprendizagens, os alunos mostraram-se participativos e empenhados durante todo o trabalho realizado, estando presentes em diversos encontros durante o final do período de 2017. Os alunos também puderam se apropriar dos conhecimentos científicos necessários para importantes mudanças em relação aos argumentos relacionados à problematização do uso dos combustíveis. Nessa perspectiva, aspectos econômicos, sociais, ambientais e questões sobre o consumismo excessivo de combustíveis passaram a fazer parte da compreensão dos alunos. Portanto, o produto das atividades dos alunos, neste trabalho, não se restringiu ao desenvolvimento do aplicativo feito por eles mesmos, mas abrangeu contextualização de conceitos científicos discutidos e aprofundados nos momentos anteriores, tornando-os capazes de articular tais conhecimentos em diferentes situações da vida cotidiana. O envolvimento dos alunos durante a sequência de ensino e o posicionamento crítico que adquiriram ao final das discussões acerca dos fatores que consideravam mais relevantes para encadear o tema ao jogo foi um forte indicativo das possibilidades de aplicação dos conhecimentos na perspectiva discutida neste trabalho. Assim, o uso de TIC, de modo inter-relacionado, contextualizado, participativo e interdisciplinar pode ser uma metodologia muito interessante para o processo de aprendizagem a ser empregada tanto no ensino de Química, como de outras disciplinas do ensino médio.

Agradecimentos

ETESC – Escola Técnica de Santa Cruz, RJ; Nave do Conhecimento – Santa Cruz, Rio de Janeiro; Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/PEQUI.

Referências

CINELLI, N. A influência do vídeo no processo de aprendizagem. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, Florianópolis, 2003. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/tielletcab/Nusi/HiperV/Biblio/PDF/8160.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2017.

CUNHA, M.B. Jogos no ensino de química: considerações teóricas para sua utilização em sala de aula. Química Nova na Escola, v. 34, n. 2, p. 92-98, 2012.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MATEUS, A. L. Ensino de química mediado pelas TICs. Editora UFMG. 197 p., p.97-98, 2015.

MARANDINO, M. A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: O QUE PENSA QUEM FAZ? IV ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS. Disponível em: http://www.fclar.unesp.br/Home/Graduacao/Espacodoaluno/PET-ProgramadeEducacaoTutorial/Pedagogia/grupo-de-estudos---texto-2-educacao-nao-formal.pdf> Acesso em: 14 dez. 2017.

Miranda, J.L, Moura, L.C. (org.), BOA-Biodiesel: obtenção e análise de qualidade. Editora Publit, Rio de Janeiro, 2016.

RIO DE JANEIRO. Prefeitura do Rio de Janeiro (Org.). Nave do Conhecimento. Disponível em: <https://navedoconhecimento.rio/>. Acesso em: 27 jun. 2018.

SILVA, R.M.G. Contextualizando aprendizagens em química na formação escolar. Química Nova na Escola, n.18, p. 26 – 30, 2003.

VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: ______. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.