Autores

Leão, M.F. (UFRGS E IFMT) ; Assis, A.S. (IFMT) ; Oliveira, E.C. (UNIVATES) ; Del Pino, J.C. (UFRGS)

Resumo

O curso de Licenciatura em Química do IFMT em EaD possui um AVA que disponibiliza variados recursos midiáticos, além de ser o meio de comunicação. O estudo tem como objetivo identificar como os estudantes do curso avaliam o AVA e os recursos didáticos que utilizam no decorrer de sua formação inicial. O estudo é do tipo levantamento descritivo e exploratório, cuja coleta de dados ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2017. Utilizou-se um formulário eletrônico, via Google Drive, contento questões fechadas em escala Likert para analisar 10 aspectos deste espaço educativo e de seus recursos. Os estudantes consideram o AVA como meio favorável para o aprendizado e preferem os recursos com linguagem audiovisual. Logo, reflexões sobre tecnologias na educação são favorecidas nos curso em EaD.

Palavras chaves

Ambiente Virtual; Formação de professores; Tecnologias educacionais

Introdução

Vivemos um momento marcado pelas constantes mudanças sociais, ocasionadas pelos avanços científicos e tecnológicos. Neste contexto, o processo educativo necessita valer-se da facilidade de acesso à informações e das novas tecnologias educacionais para que os estudantes compreendam a realidade que os rodeia e assim exerçam sua cidadania de maneira consciente, autônoma e crítica. De acordo com Silva e Nuñez (2003), existe uma preocupação evidente, nos documentos educacionais oficiais brasileiros, relacionada a dimensão tecnológica na formação do cidadão. Assim, espera-se que a formação inicial de professores de química permita a reflexão sobre o uso de tecnologias para ensinar química e como os atores envolvidos podem explorar tais recursos em sala de aula, visando novos saberes para a inovação didática. Outro aspecto a ser considerado é que a oferta dos cursos a distância foi possível graças a globalização e a democratização no acesso à internet, o qual a sociedade está transformando o modo de acesso as informações. Esses recursos são usados para a formação dos profissionais da educação com o objetivo de alcançar um público que a modalidade presencial não alcançaria. Para Valente (2014), o potencial e as possibilidades que as Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs) oferecem para os processos educativos e comunicativos são enormes, a exemplo da forma rápida e ágil que acessamos e trocamos informações com outras pessoas. Contudo, o autor alerta que estas mudanças ocorridas no campo da comunicação não acontecem na mesma magnitude no campo educacional, ou seja, a educação não se apropriou ainda de todos os recursos disponíveis pelas TDICs. Neste sentido, a educação não deveria ficar alheia a essas mudanças e a cada dia vem aderindo aos seus recursos didáticos. Segundo Almeida (2003), foi graças a estas novas tecnologias que foi possível potencializar e desenvolver significativamente a Educação à Distância (EaD) no país, sobretudo com a oferta de cursos superiores. A flexibilidade de horários e a abreviação de distâncias, ou seja, de barreiras espaciais, além da comunicação e trocas de materiais quase que de maneira instantânea, fizeram que a EaD ampliasse sua atuação, devido seu potencial interativo e dinâmico para a construção de conhecimentos. Assim, a utilização de TDICs no meio educacional vem ganhando importantes espaços, a exemplo de ofertar cursos de formação de professores na modalidade EaD, cujo caráter é semipresencial. Inclusive cursos de Licenciatura em Química já são ofertados em EaD, cursos que até então eram impensáveis nesta modalidade por se tratar de uma ciência de caráter experimental. Por isso, mais do que nunca, é preciso analisar como está ocorrendo este processo formativo, ou seja, como estão sendo desenvolvidos os cursos dessa ciência prático-experimental na modalidade EaD. Para tanto, se faz necessário refletir sobre os recursos tecnológicos disponíveis nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) e como eles podem ser utilizados para ensinar e aprender os conceitos químicos. Os recursos presentes nos AVAs, que utilizam a Plataforma Moodle por exemplo, oferecem às instituições de ensino, aos professores formadores e aos estudantes cursistas inúmeras possibilidades, pois, são redes interconectadas que permitem aos ateres envolvidos no processo experimentarem várias perspectivas pedagógicas. Neste sentido, Tores e Silva (2008, p. 3) afirmam que no AVA “os sujeitos poderão descobrir diversificadas mídias simultaneamente, podendo assim integrá-las numa mesma atividade. Alguns ambientes oferecem condições adequadas para o desenrolar das experiências interativas quanto às relações com a tecnologia, e cooperativas, quanto a relações interpessoais”. Assim, o professor da EaD pode utilizar o AVA para “disponibilizar materiais, textos, vídeos e áudios, além das atividades. Os alunos acessam esses recursos, de qualquer local que tenham acesso à Internet, trocam ideias, materiais, informações, respondem às atividades, aos fóruns, entre outros” (FRANÇA, 2013, p. 20). Corroborando o pensamento supracitado, Leão, Rehfeldt e Marchi (2013, p. 49) defendem os AVAs como novos espaços educativos, que contribuem para o “envolvimento dos estudantes nas discussões, incentivo à pesquisa, trocas de experiências, melhor comunicação, interação dos participantes, ajuda mútua que caracterizou o trabalho colaborativo, melhor entendimento sobre os temas estudados, entre tantas outras”. Diante do exposto, o objeto deste estudo foi identificar como os estudantes do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), ofertado na modalidade EaD, avaliam o AVA e os recursos didáticos que utilizam no decorrer de sua formação inicial de professores de química.

Material e métodos

O presente estudo apresenta a avaliação dos estudantes em formação sobre o AVA e os recursos disponibilizados pelo Curso de Licenciatura em Química, ofertado na modalidade EaD, promovido pelo IFMT Campus Cuiabá - Bela Vista. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, cujo levantamento de informações permitirão compreender melhor determinados aspectos do objeto investigado (GIL, 2008). Este levantamento foi realizado junto aos estudantes em formação deste curso. A coleta de dados ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2017. Este curso utiliza a plataforma Moodle como principal meio tecnológico de aprendizagem. Por meio dela, é disponibilizado o AVA aos estudantes, no qual os professores formadores disponibilizam materiais, orientam os estudos, organizam fóruns e chats para discussão, indicam leituras, expõem conceitos e propõem atividades de avaliação (IFMT, 2013). Também no AVA (ilustrado na Figura 1) são disponibilizados cronogramas, guias de estudos, avaliações virtuais, além de outros arquivos importantes para a aprendizagem. Participaram da pesquisa 57 estudantes do total de 361 estudantes matriculado no primeiro semestre de 2017. Cabe apontar que o convite para participar de maneira voluntária na pesquisa foi enviado para os endereços eletrônicos de todos eles, convite este que foi reforçado pelo coordenador do curso e que teve um lembrete disponibilizado no próprio AVA. Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um formulário eletrônico (Google Forms), contendo 9 (nove) questões. Porém, por se tratar de um recorte da pesquisa de doutoramento apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação e Ensino de Ciências, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), optou-se por apresentar somente a questão que envolve o AVA e os materiais nele disponibilizados. Este formulário elaborado foi enviado aos endereços eletrônicos de todos os estudantes. A questão analisada neste texto foi assim formulada: Em uma escala de 1 (ruim) a 5 (excelente), atribua uma nota para cada um dos seguintes aspectos do espaço virtual de aprendizagem e dos recursos utilizados no decorrer das aulas: a) Layout do Ambiente Virtual de Aprendizagem; b) Qualidade das informações contidas nas aulas (Rótulos); c) Textos/Artigos em DOC ou PDF; d) Aulas elaboradas em slides (PPT); e) Animações computacionais (Flash); f) Áudios; g) Vídeos; h) Links direcionados (URLs); i) Pastas de arquivos selecionados (Diretórios); e j) Livros eletrônicos em PDF. Após realizada a coleta, os dados coletados em escala Likert foram tabulados e a análise ocorreu por meio da interpretação dos dados estatísticos (percentual das notas atribuídas) buscando relações com o referencial teórico utilizado.

Resultado e discussão

Foram 10 os aspectos avaliados neste estudo referente ao AVA e aos recursos didáticos utilizados neste espaço formativo. Os resultados da avaliação dos estudantes deste curso de Licenciatura em Química no IFMT, ofertado na modalidade EaD, podem ser observados no Quadro 1. A avaliação dos elementos e a forma com que o AVA está organizado, ou seja, o posicionamento sobre o Layout deste espaço virtual é bastante positiva, pois 73, 6% dos participantes consideram muito bem organizado o ambiente de estudo. Isto significa que a ampla maioria atribuiu notas 4 (23) e 5 (19) para este aspecto. Ter um AVA organizado é de extrema importância para o curso, pois impacta diretamente na formação destes professores que terão essa influência de planejamento e organização quando atuarem na docência. Cabe ressaltar a importância desta reflexão durante a formação inicial para que seja suprida a necessidade formativa para que os professores de química possam ser capacitados para utilizar as tecnologias em favor do ensino, conforme defende Silva e Nuñez (2003). Esta avaliação ser tão positiva pode levar a interpretação de que os estudantes consideram que o IFMT, por meio de seus professores formadores, tem o cuidado ao elaborar o layout do AVA para que o mesmo seja prático e objetivo. Assim, reforça-se o pensamento de Valente (2014), de que a comunicação, facilitada pelo uso das TDICs, influencia diretamente no processo educativo. Sobre a avaliação da qualidade das informações contidas nas aulas, ou seja, dos rótulos que instruem as atividades propostas, percebe-se que foi muito bem avaliada, pois recebeu de 89,4 % notas 4 (20) e 5 (31) dos estudantes. Isto pode estar relacionado com inúmeras possibilidades de compartilhar materiais e informações que a EaD permite (FRANÇA, 2013). Além disso, o autor defende que o planejamento das atividades e a apresentação destas é muito importante para que o processo tenha a liderança e a iniciativa dos estudantes, rompendo dessa forma o modelo tradicional de transmissão de conhecimentos. De modo geral, pelos resultados expressos no Quadro 1, é possível perceber que os diferentes recursos, tais como textos em DOC ou PDF, PPT (slides) e Flash (animações), Livros eletrônicos em PDF que são disponibilizados aos acadêmicos no AVA receberam boas avaliações, com a grande maioria das notas entre 4 e 5. Os recursos que utilizam linguagem audiovisual teve uma expressiva aceitação entre os estudantes deste curso, cuja modalidade é a EaD. Sendo que todos: áudios, vídeos, links de vídeos (URLs) direcionados: foram avaliados com notas a partir de 3 e a imensa maioria recebeu nota 4 e 5 na escala Likert de avaliação. Observa-se que os percentuais na avaliação dos textos e artigos disponibilizados no AVA, bem como as pastas de arquivos selecionados não tiveram uma aceitação tão expressiva quanto a que atribuíram aos vídeos e às aulas elaboradas em slides. Essa constatação corrobora o que relataram Leão, Rehfeldt e Marchi (2013), baseados em Prensky (2001), de que os estudantes contemporâneos preferem imagens antes de textos, ou seja, se atraem por recursos e materiais que utilizam a linguagem visual. Por outro lado, os áudios e as animações em Flash também não tiveram a mesma aceitação que os vídeos, por exemplo. Isso pode estar relacionado ao fato de que os áudios não envolvem elementos gráficos e as animações requererem interatividade e iniciativa por parte de quem utiliza este recurso didático. Como é possível observar nos dados contidos no Quadro 1 e nas discussões realizadas, fica evidente a importância dos recurso disponíveis no AVA deste curso para a formação pedagógica dos futuros professores de química. Conforme Leão, Rehfeldt e Marchi (2013, p. 49), as contribuições do AVA para o processo de formação superior dos estudantes “deram-se por meio das ferramentas e dos materiais disponibilizados aos estudantes, mostrando que existem outras possibilidades de se entender um determinado conteúdo por meio do uso de recursos multimídias, como áudio, vídeo e animações”.

Figura 1 - Layout do AVA

A figura ilustra o layout do Ambiente Virtual da disciplina de Metodologia Científica deste curso de formação de professores de química.

Quadro 1: Resultado da avaliação dos estudantes

No quadro contém os resultados da avaliação dos estudantes sobre 10 aspectos do AVA e dos recursos didáticos utilizados neste espaço virtual formativo

Conclusões

Refletir sobre os aspectos, recursos e possibilidades das TDICs em âmbito educacional é uma necessidade. A realização desse estudo possibilitou compreender como os estudantes do curso de Licenciatura em Química promovido pelo IFMT na modalidade EaD avaliam o AVA e os recursos didáticos que utilizam no decorrer de sua formação inicial de professores de química. Diante dos resultados obtidos, foi possível perceber que os estudantes da atualidade preferem recursos que utilizam a linguagem audiovisual do que textos. Outro aspecto observado foi quanto a maneira com que o AVA está sendo organizado, de maneira clara e objetiva, que segundo os estudantes contribui para o bom andamento do curso. Foi possível perceber também que os estudantes desta modalidade de ensino são amplamente favorecidos, pois além de ultrapassar barreiras físicas e temporais, a EaD possibilita formar os futuros professores para utilizar tecnologias no processo educativo. Logo, o AVA e os recursos nele disponibilizados permitem interação entre os atores envolvidos, uma linguagem dinâmica e envolvente e inúmeras possibilidades para que sejam construídos os conhecimentos químicos.

Agradecimentos

Ao IFMT por viabilizar a realização desta pesquisa e por conceder licença para qualificação profissional com incentivos do Edital 079/2016.Ao PPGQVS da UFRGS pela for

Referências

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