Autores

Trindade, M.S. (UFPA) ; Trindade Souza, J.R. (UFPA) ; Brito, L.P. (UFPA) ; Valente, J.A.S. (EAUFPA)

Resumo

O objetivo desta pesquisa foi o de desenvolver um estudo sobre as analogias presentes em livros didáticos de Química do 1º ano do ensino médio. Para isso, foram realizadas análises sobre as analogias presentes em 6 livros em relação a frequência, validade e o modo como as analogias são apresentadas em livros didáticos e a função que estas desempenham no ensino de Química. Os resultados evidenciaram que há consciência da importância das analogias como recurso pedagógico por parte dos autores, porém não há preocupação por parte destes em fazer discussões a respeito das relações entre conceito análogo e conceito alvo. Inferiu-se, ainda, que é delegada ao professor a responsabilidade de explicar o fundamento das comparações realizadas e identificar possíveis erros conceituais.

Palavras chaves

Analogias; Livro didático; Ensino de Química

Introdução

A utilização de analogias no processo de ensino e aprendizagem de Ciências se baseia na aprendizagem de uma nova informação com base no estabelecimento de semelhança com um conhecimento familiar, ou seja, a analogia favorece a construção de conhecimento por meio da utilização ideias familiares a ideias não conhecidas ou pouco conhecidas, porém esta estratégia apresenta algumas desvantagens, como a possibilidade de os alunos aprenderem o domínio do análogo e não o alvo, ou seja, do conhecimento que deveria ser aprendido. Duarte (2005, p. 7-29) pontua algumas potencialidades da utilização de analogias no ensino de ciências, entre elas estão o fato de levarem à ativação do raciocínio analógico, desenvolverem a capacidade cognitiva (criatividade e a tomada de decisões), a facilidade na compreensão e na visualização de conceitos abstratos, além de poderem ser usadas para avaliar o conhecimento e a compreensão dos alunos. Freitas (2011) dedica especial atenção a utilização de analogias no estudo dos modelos atômicos, devido a estes estarem relacionados ao primeiro contato teórico com a química “invisível” e subjetiva pelos alunos de educação básica. Monteiro e Justi (2000, p. 67-91) afirmam que, ao usar uma analogia presente no livro texto ou mesmo elaborar uma, o professor tem condições de avaliar até onde os alunos a compreenderam, podendo fazer esclarecimentos caso não tenha obtido o resultado desejado. Por outro lado, segundo as autoras, não ocorre o mesmo com o autor já que este não possui mecanismo para avaliar a compreensão das analogias pelos alunos. Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo realizar uma análise, quantitativa e qualitativa, de analogias presentes em livros de Química da Educação Básica.

Material e métodos

O desenvolvimento desta pesquisa envolveu uma abordagem quantitativa e qualitativa na análise da presença de analogias em 6 livros didáticos do 1º ano do ensino médio. Os livros analisados são identificados pelas letras A, B, C, D, E e F e foram selecionados por serem amplamente utilizados no ensino de Química. As analogias presentes nos livros foram identificadas, quantificadas, listadas e classificadas de acordo com um sistema adaptado com dez categorias. Tal sistema é uma adaptação feita por Francisco Junior (2009, p. 121-143): 1. Quantidade e frequência das analogias; 2. Conteúdo do conceito alvo: estabelece os tópicos e conceitos químicos considerados como alvo na analogia; 3. Tipo de relação analógica entre análogo e alvo: analisa o tipo de relação compartilhada entre análogo e alvo; 4. Formato da apresentação; 5. O nível de abstração dos conceitos análogo e alvo; 6. A posição da analogia em relação ao alvo: verifica a posição da analogia, se esta foi apresentada antes, durante, após ou mesmo a margem do texto; 7. O nível de enriquecimento da analogia: verifica em que extensão as semelhanças são apresentadas pelo autor. Existem 3 níveis de enriquecimento: um em que as analogias apresentam pouca semelhança e são chamadas de simples; um segundo em que as analogias compartilham de alguns atributos, são as analogias enriquecidas; e no terceiro nível em que se utiliza diferentes análogos ou análogos modificados para descrever o conceito alvo, esta analogia é classificada como estendida; 8. O nível de mapeamento feito pelo autor: analisa se o(s) autor(es) discute(m) os conceitos correspondentes entre alvo e análogo e até que ponto esta correspondência é debatida 9. Presença de orientações pré-tópico; 10. Apresentação e discussão de limitações.

Resultado e discussão

1. Foram encontradas 51 analogias nos 6 livros analisados. 2. A maior parte das analogias foi para explicações a respeito de Gases (22%), seguido por Estrutura Atômica (18%) e elementos e Propriedades Periódicas (16%). Talvez este resultado seja explicado pelo alto grau de abstração desses conceitos. 3. Foram reconhecidas 30 analogias do tipo funcional, 14 do tipo estrutural-funcional e 7 do tipo estrutura. 4. Das 51 analogias encontradas nos livros-texto, 72,54% foram caracterizadas como ilustrativo-verbal. 5. Cerca de 61% das analogias é do tipo concreta-abstrata. 6. Foi observado o predomínio das analogias durante apresentação do conceito alvo (37,25%), enquanto que à margem existem 29,41% e os outros 33,34% representam as analogias que se posicionam antes ou após a apresentação do conceito alvo. O livro A apresenta a maior parte das analogias antes do alvo, o livro B apresenta a maior parte posicionada à margem, no livro F estão em iguais quantidades e nos livros C e D predominam as analogias durante apresentação do alvo. 7. A maioria das analogias (35) que corresponde a 68,63% foi classificada como simples, seguida do tipo enriquecida (23,53%) e do tipo estendida (5,88%). 8. Em 82,35% dos casos foi realizada uma explicação do funcionamento/estrutura do análogo descrito. 9. mais de 43% das analogias presentes nos livros são acompanhadas de algum tipo reconhecimento das mesmas. 10. Um fato inquietante presente em todos os livros analisados é ausência total de discussões que envolvam as limitações das analogias. É preocupante pelo fato de o aluno levar a analogia longe demais, fazendo uma transição incorreta das características do análogo para o alvo (MONTEIRO; JUSTI, 2000).

Conclusões

Pode-se inferir que quanto maior o nível de abstração do conceito alvo maior é a importância, dada pelos autores, na forma como se apresentam os conceitos análogos. A complexidade de conceitos abstratos leva alguns autores a utilizar analogias nos livros-texto, reconhecendo que as analogias despertam a atenção do estudante para que este constitua as devidas correspondências. Para estabelecer um maior nível de compreensão de determinados assuntos os autores lançaram mão de análogos concretos e familiares ao estudante, porém sem o devido reconhecimento de suas limitações.

Agradecimentos

Referências

DUARTE, Maria da Conceição. Analogias na educação em ciências contributos e desafios, Investigações em Ensino de Ciências – V10(1), pp. 7-29, 2005. Disponível em:http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID121/v10_n1_a2005.pdfAcesso em 02 out. 2013.

FRANCISCO JUNIOR, Wilmo Ernesto. Analogias em livros didáticos de química: um estudo das obras aprovadas pelo Plano Nacional do Livro Didático Para o Ensino Médio 2007. CIÊNCIAS E COGNIÇÃO, 1, 2009, v.14, p. 121-143.

FREITAS, Ladjane Pereira da Silva Rufino de. O uso de analogias no ensino de química: uma análise das concepções de licenciandos do curso de química da UFRPE. 2011, 193f., Dissertação (mestrado em ensino de ciências) - Departamento de Educação, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2011.

MONTEIRO, Ivone G.; JUSTI, Rosária S. Analogias em livros didáticos de química brasileiros destinados ao ensino médio. INVESTIGAÇÕES EM ENSINO DE CIÊNCIAS. V.5 (2), p.p. 67-91,2000.