Autores

Nascimento, L.J.C. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Messeder, J.C. (IFRJ-NILÓPOLIS)

Resumo

Este artigo tem como objetivo geral apresentar uma proposta como estratégia metodológica para o ensino de química no Ensino Médio, onde a Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez é utilizada como recurso, a fim de viabilizar um ensino crítico e participativo, provocado pela busca de resolução de problemas existentes na realidade dos alunos. Procuramos apontar um caminho possível para a sua aplicação, ao trabalharmos os conhecimentos de substâncias e suas transformações, e o de materiais e processos de separação. Estes temas, entre outros, podem ser amplamente explorados quando associados a questões ambientais e com o uso desta metodologia. Espera-se que este trabalho sirva como incentivo para aqueles que desejam experimentar na prática o Arco de Maguerez no ensino de química.

Palavras chaves

Arco de Maguerez; Problematização; Metodologia ativa

Introdução

O mundo avançou e as escolas brasileiras, em grande parte, permanecem praticamente como no século passado, com seu método de ensino tradicional. A abordagem Química quase não sofreu alterações, onde a estrutura continua sendo a mesma, apesar de aparentemente moderna, e as prioridades, em geral, ainda são para informações desconectadas da realidade vivida pelos alunos. Para Chassot (2000), a relevância do ensinar química deve estar além de apenas adquirir conhecimentos científicos, uma vez que é de fundamental importância que o cidadão apresente condições de compreender o mundo em que vive, tal como, de se relacionar com ele, pois diversas são as circunstâncias do dia a dia nas quais o ensino de química pode estar associado, como nos inúmeros itens que são consumidos, bem como, a relação com o meio ambiente. Conforme Santos e Schnetzler (2014), o objetivo do ensino de química deve estar em envolver a abordagem de informações químicas fundamentais que proporciona ao aluno participar ativamente na sociedade, onde este possa tomar decisões com consciência e avaliar as consequências de seus atos. Sendo assim, é preciso que o ensino de química seja trabalhado de acordo com a realidade dos alunos, viabilizando um ensino que desenvolve diversas habilidades, diferente do que temos normalmente observado. Desta maneira, se torna indispensável que o professor rompa com os esquemas tradicionais de ensino, e assuma novas posturas frente à química que se ensina nas escolas. A Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez (M.P.), é uma metodologia ativa, e de acordo com Colombo (2007), é uma ótima oportunidade para todos os participantes de se experimentar na prática uma metodologia problematizadora, pois permite trabalhar e relacionar os temas abordados em sala de aula com situações existentes na realidade, como exercitar a conscientização, o trabalho em grupo, o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo, as possíveis soluções de problemas reais, buscando a participação de todos os envolvidos. A M.P. é um recurso metodológico que tem como base para sua aplicação o esquema do Arco de Maguerez (BORDENAVE; PEREIRA, 2002). Esta metodologia apresenta características e etapas bem definidas, onde tem a realidade social como ponto de partida e como ponto de chegada (BERBEL, 2011), e que apresenta a seguinte configuração: possui cinco passos que são desenvolvidos com base na realidade, sendo, a Observação da Realidade e Definição do Problema a ser estudado, a primeira etapa; Identificação dos Pontos-chave, a segunda etapa; Teorização, a terceira etapa; Hipóteses de Solução, a quarta etapa; e Aplicação à Realidade, a quinta e última etapa, conforme esquematizado na figura 1. A primeira etapa, segundo Berbel (2011), se dá através da Observação da Realidade social, onde os alunos são conduzidos a identificar uma(s) problemática(s). A etapa dos Pontos Chaves é o momento em que os alunos devem ser orientados a refletir sobre as causas possíveis da existência do problema que está sendo estudado. Na Teorização é realizada uma investigação sobre o assunto abordado. Já na Hipótese de soluções os alunos deverão expor suas ideias quanto às possíveis soluções para o problema encontrado. E por último, a quinta etapa, que tem a ver com a o retorno à realidade, é a etapa de desempenhar as decisões tomadas, essencialmente a parte prática, onde se deve intervir na realidade estudada. Neste momento os alunos devem voltar para a realidade apontando soluções para o(s) problema(s) detectado(s), com base em suas pesquisas. O ensino de química, nos diferentes níveis, pode ser favorecido pela utilização da M.P. no processo de ensino-aprendizagem, assim como relata Soares et al (2016). Devido à sua estrutura metodológica, a M.P. com o Arco de Maguerez possibilita aos envolvidos o desenvolvimento da produção de conhecimentos ao observar e problematizar situações existentes em suas realidades. Esse ensino problematizador, que desenvolve diversas competências nos indivíduos, está proposto, como pode ser observado, ao longo de todo o documento Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio (BRASIL, 2000). Como pode ser verificado, o PCNEM orienta para um ensino com a mesma finalidade que a M.P. com o Arco de Maguerez propõe, um ensino contextualizado, que visa a autonomia dos estudantes, o estímulo do pensamento argumentativo, a capacidade de trabalhar em equipe, a busca por solucionar problemas reais. Para Berbel (2011), quanto mais alternativas metodológicas o professor vivenciar, mais enriquecedor se torna, pois melhores serão as condições pessoais e profissionais de atividades que terá para trabalhar com seus alunos. Este trabalho tem como objetivos específicos: servir como meio facilitador para aqueles que desejam aplicar o Arco de Maguerez na educação básica e apresentar estratégias para o cumprimento das etapas iniciais.

Material e métodos

Para Bizerra e Ursi (2014), o termo estratégia de ensino se deve ao fato de o trabalho do professor ser semelhante ao de um estrategista, visto que, além do estudo, abrange planejamento, organização, seleção de métodos, a fim de atingir objetivos específicos. Buscou-se elaborar uma proposta de ensino contextualizador, utilizando como estratégia de ensino a M.P. com o Arco de Maguerez, ao trabalharmos os conhecimentos de substâncias e suas transformações, e o de materiais e processos de separação, envolvendo aspectos ambientais, na disciplina química no ensino médio. Esta proposta de ensino é um recorte de um trabalho maior, parte de uma pesquisa em andamento, um trabalho de conclusão de curso. Utilizar a M.P. como estratégia de ensino quer dizer que o professor agirá como mediador e os alunos como agentes ativos no processo de ensino-aprendizagem. A proposta de aplicação se estrutura conforme cada etapa do Arco. Antes de iniciar a aplicação das etapas do Arco é ideal estabelecer uma troca de informações com os alunos sobre as temáticas a serem abordadas, analisar seus conhecimentos prévios, instigar suas opiniões. Deverão ser levantados questionamentos sobre a existência de problemáticas ambientais e as contribuições que os conhecimentos em química podem favorecer para a diminuição dessas situações. Feito isto, cada etapa poderá ser desenvolvida conforme descrito a seguir. 1ª Etapa: A etapa inicial do Arco de Maguerez é o momento da observação da realidade, onde os alunos deverão ser guiados a repararem a realidade em que vivem. Aqui eles deverão ser orientados a apontar a existência de problemas ambientais em suas realidades focando em descarte de materiais, e assim discuti-los. É recomendado a utilização de vídeos, reportagens, fazendo referência à temática de descartes inadequados de diversos tipos materiais. Por último, os alunos, divididos por grupos, deverão fazer registros, por meio de fotografias, e de investigação social, dos problemas ambientais que enxergam em suas realidades (cotidiano domiciliar, entorno da escola, praças, córregos), e apresentá-los na próxima etapa. 2ª Etapa: A segunda etapa do Arco de Maguerez é a dos Pontos-Chave, onde cada grupo deverá apresentar seus registros, apontando e discutindo as causas e consequências das problemáticas encontradas. O que os alunos pensam ser os causadores daqueles problemas? Quais são os agravantes? 3ª Etapa: é a Teorização. Aqui deverão ser feitos estudos mais investigativos dos assuntos abordados, trabalhar as temáticas contidas nos conteúdos de química, realizar pesquisas na internet, em livros, em jornais, para melhor entendimento dos conhecimentos científicos em relação aos problemas detectados. Já as 4ª e 5ª etapas, Hipótese de soluções e Aplicação à realidade, são fases em que predominam as considerações e as ideias dos alunos, a fim de resolverem os problemas em estudo, cabendo ao professor/mediador apenas guiar estas fases, e mostrar, por fim, os resultados desta metodologia.

Resultado e discussão

Diversos estudos sobre a utilização da M.P. com o Arco de Maguerez foram efetuados e apresentaram resultados significativos quanto ao desenvolvimento dos alunos, nas diferentes áreas e níveis de ensino (Berbel 2011). No ensino de química não são muitos os trabalhos publicados em que utilizam a M.P. com o Arco de Maguerez como recurso metodológico, quando comparada com outras metodologias. Soares et al. (2016) consideraram uma quantidade moderada de trabalhos que foram realizados e divulgados, no Brasil, no período entre anos 2006 e 2016. Para estes autores são notórias as contribuições em que a M.P. com o Arco de Maguerez favorece ao processo de ensino e aprendizagem em química. No primeiro semestre de 2016 esta metodologia foi apresentada como atividade de avaliação na disciplina Química em Sala de Aula III, do curso de Licenciatura em Química no IFRJ-Nilópolis, como uma proposta para o ensino de química por licenciandos, o que, posteriormente, acabou se tornando objeto de uma pesquisa maior pela autora deste presente trabalho. Ao vivenciarmos esse momento, observamos dificuldades ao elaborar e aplicar as etapas do Arco, principalmente a etapa da Observação da Realidade. De acordo com Berbel (2014), a primeira etapa tem se mostrado o ponto mais difícil, uma vez que os participantes devem apontar e formular problemas, sendo que, em geral, os estudantes estão acostumados a responder problemas já formulados pelo professor. Diante desta situação, elaborou-se uma proposta, parte de uma pesquisa, com possibilidade para a aplicação da M.P. com o Arco de Maguerez no ensino de química do Ensino Médio, onde são apontadas estratégias a serem consideradas nas etapas iniciais do Arco, e assim, facilitar a sua utilização, motivando aqueles que desejam aplicá-la. O ensino de química, nos seus diversos conteúdos, pode ser bem favorecido quando o associamos a questões ambientais, uma vez que esta temática é de grande importância para todos. Neste caso, trabalhando os conteúdos de substâncias e suas transformações, e o de materiais e processos de separação, relacionando às práticas reais e problemas ambientais, pode-se fazer bom proveito do processo de ensino-aprendizagem ao utilizarmos a M.P. como recurso metodológico. Antes de iniciarmos a aplicação, devemos ter em mente quais os objetivos a serem atingidos com a turma. Deve-se planejar, além dos conteúdos a serem trabalhados, quais as habilidades que pretendemos provocar para o desenvolvimento dos alunos, como por exemplo, nesta proposta pretendemos: exercitar a conscientização ambiental; promover o trabalho grupo; estimular a busca por resolução de problemas. Feito isto, ao chegarmos em sala de aula, o primeiro momento deve ser, conforme proposto por Berbel (2014), o de apresentar para os alunos a ideia do trabalho, destacando para eles as competências que serão conquistadas através do uso desta abordagem metodológica. Colombo (2007), destaca que, caso o processo tenha origem em uma disciplina onde o professor é quem define o conteúdo de ensino, o foco maior deve ser decidido pelo professor, no entanto, as problematizações devem ser feitas pelos alunos. Também devem ser feitos, inicialmente, questionamentos e discussões a fim de verificar os conhecimentos prévios que os alunos possuem, e o que deverá ser acrescentado ao longo do processo. É vantajoso dividir o tempo de trabalho de acordo com as etapas e com as temáticas a serem abordadas. Esta metodologia costuma demandar um período de maior de trabalho devido à sua estrutura, e isto pode ser visto pelo lado positivo ao observarmos o desenvolvimento dos participantes. É questão de planejamento. As etapas do Arco de Maguerez podem ser desenvolvidas em 2h/aula, além de podermos trabalhar também em projetos de pesquisa ou de extensão, o que permite utilizar mais tempo, conforme Berbel (2011). A fim de atingir o objetivo principal desta etapa, que é a identificação de problemas reais feita pelos alunos, podemos solicitar que grupos façam entrevistas sociais e registros fotográficos das situações que julgam serem problemáticas em suas realidades (cotidiano domiciliar, entorno da escola, praças, córregos, etc.), dentro da perspectiva de descarte de materiais. Utilizar a fotografia é algo interessante, uma vez que os alunos conseguem manter seus registros por meio de imagens, expressando seus pontos de vista, projetando suas argumentações, e assim, podem discuti-las, além de se divertir. Na segunda etapa, que é a dos Pontos-Chave, a ideia é que os grupos apresentem seus registros fotográficos e os resultados das investigações sociais, mostrando os problemas detectados, bem como, as opiniões da sociedade. É um momento ideal para promover um debate entre todos os participantes. Aqui, cada componente poderá expor sua opinião sobre as causas e as consequências das problemáticas encontradas. São processos importantes para a construção do conhecimento dos alunos. A teorização, 3ª etapa, é uma fase de estudos, de investigações, onde as temáticas de ensino deverão ser abordadas, e trabalhadas de acordo com os processos que envolvem os problemas em estudo. Neste ponto, podemos trazer os registros fotográficos e trabalhar as temáticas do ensino de química, acrescentando conceitos, fórmulas, exemplificações. Cabe aqui possibilitar o conhecimento das consequências do descarte indevido de materiais, expondo fotografias, vídeos de problemas ambientais que ocorrem no planeta. Este é um momento em que se pode fazer também experimentações, articulando o lado teórico à prática. Tudo feito até aqui deve ser registrado, pois vai proporcionar o desenvolvimento das próximas etapas e concluir o processo. As etapas seguintes, s são momentos em que os alunos deverão colocar em prática suas criatividades e, baseando- se em seus estudos, terão que elaborar possíveis soluções para os problemas encontrados, descrevendo o que necessita ser feito ou providenciado. Na última etapa, de retorno e aplicação à realidade, espera-se que os alunos consigam elaborar soluções para as problemáticas detectadas em suas realidades, ou ao menos, indicar possibilidades que minimizem tais situações. Completando-se, desta maneira, o Arco de Maguerez. Segundo Berbel (2014), esta metodologia apresenta um sentido como todo método, ao percorrer por diferentes etapas que são encadeadas, com início em um problema identificado na realidade. Bordenave e Pereira (2002), destacam que as estratégias de ensino devem promover várias habilidades nos sujeitos, sendo significantes para que os alunos desenvolvam várias maneiras de interagir e construir conhecimento. Podemos perceber que é justamente isto que a M.P. com o Arco de Maguerez possibilita.

Figura 1

Esquema das etapas do Arco de Maguerez.

Conclusões

A Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez possibilita significativas transformações nos sujeitos que dela participam, devido aos diversos estímulos intelectuais provocados e desenvolvidos ao longo de suas etapas. Dispõe de mecanismos comprovadamente efetivos no processo de ensino- aprendizagem. É um recurso metodológico que permite trabalhar com diversos outros recursos. Trata-se de uma abordagem que se fundamenta na participação ativa do aluno e do professor como mediador. É uma metodologia que envolve a escola e a sociedade, permitindo um uma educação contextualizada. Acreditamos que, por todas estas justificativas, a Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez se constitui uma excelente estratégia de ensino, que impulsiona o desenvolvimento de inúmeras competências nos participantes. Espera-se que este trabalho possa contribuir com aqueles que se interessam em experimentar outros caminhos metodológicos no ensino de química, esperamos também, que sirva como um meio facilitador para sua aplicação.

Agradecimentos

Referências

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BERBEL, N. A. N. Metodologia da problematização: respostas de lições extraídas da prática. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 35, n.2, p. 61-76, jul./dez. 2014.
BIZERRA, A. F. & URSI, S. Introdução aos Estudos da Educação I. Coord.: LOPES, S. G. & VISCONTI, M. A. São Paulo: Universidade de São Paulo/Universidade Virtual do Estado de São Paulo/Edusp, 2014.
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino aprendizagem. 23ªed. Petrópolis: Vozes, 2002.
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COLOMBO, A. A.; BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 28, n.2, p. 121-146, jul./dez. 2007.
SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em Química – Compromisso com a cidadania. 4ª edição, Ijuí: UNIIJUÌ, 2014.
SOARES, A. B.; BOTEGA, S. P.; BARIN, C. S. O Arco de Maguerez como proposta metodológica para o Ensino de Química: um panorama dos últimos dez anos. Anais... XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química. Florianópolis, jul. 2016.