Autores
Oliveira, M.S.C. (UECE) ; Albuquerque, V.R.P. (UECE) ; Tavares, C.D.A. (CISNE) ; Martins, M.D.S. (SEDUC)
Resumo
O termo biossegurança refere-se ao conjunto de ações, procedimentos, metodologias, técnicas com uso de equipamentos e dispositivos destinados a prevenir, controlar, minimizar ou eliminar riscos inerentes às atividades de pesquisa. Este trabalho teve como base uma revisão bibliográfica e uma pesquisa de campo, onde foram coletados dados gerais sobre a visão dos alunos em biossegurança e sua importância no ambiente laboratorial, realizada no mês de maio de 2016, totalizando 198 voluntários, do curso de química da UECE. Diante dessa pesquisa, pode-se extrair a necessidade de cursos e/ou palestras sobre biossegurança aos universitários participantes, a fim de complementar em sua carreira profissional, tal ciência, na compreensão dos riscos ocupacionais e nas medidas preventivas.
Palavras chaves
biossegurança; prevenção; laboratório
Introdução
A construção do conceito de biossegurança teve início em meados da década de 1970, com o surgimento dos impactos causados pela engenharia genética, que provocou uma forte reação da comunidade mundial científica, na região de Asilomar, nos Estados Unidos (MASTROENI, 2013). Em meados da década de 1980 a OMS - Organização Mundial de Saúde definiu a biossegurança como práticas de prevenção para o trabalho em laboratório com agentes patogênicos, e, além disto, classificou os riscos como biológicos, químicos, físicos, radioativos e ergonômicos. Por conseguinte, na década de 1990, observou-se a inclusão de temas como ética em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante em programas de biossegurança (Costa; Costa, 2002). Segundo ODA e SANTOS (2012), o primeiro manual de biossegurança foi editado em 1984, pelo Centro de Controle de Doenças – CDC, dos Estados Unidos. Surge aí pela primeira vez referência à biossegurança, como um conjunto de procedimentos, práticas e instalações voltadas para controlar o biorrisco, ou seja, o controle do risco advindo de patógenos. Dessa forma, de acordo Rodrigues (2008) a biossegurança constitui uma área de conhecimento relativamente nova, regulada em vários países por um conjunto de leis, procedimentos ou diretrizes específicas, que afirmam que o manejo e avaliação de riscos são fundamentais para a definição de critérios e ações que visam a minimizar os riscos que comprometem a saúde dos profissionais de saúde. Observa-se assim a necessidade de ampliar o debate sobre a educação profissional para o setor saúde, com ênfase na biossegurança, que é um produto social, condicionado por um conjunto de práticas sociais e culturais, próprias das comunidades às quais pertencem, sejam hospitais, laboratórios, empresas, indústrias, entre outros. Atualmente, a definição de biossegurança abrange ao conjunto de ações, procedimentos, metodologias, técnicas com uso de equipamentos e dispositivos destinados a prevenir, controlar, minimizar ou eliminar riscos inerentes às atividades de pesquisa, ensino ou desenvolvimento tecnológico que possam interferir ou, até mesmo, comprometer a saúde humana, animal, ambiental e a qualidade dos trabalhos envolvidos (PETRUCELLI, 2014). É importante que esse conceito seja aplicado não somente ao ambiente laboratorial, mas em todos os locais em que haja a probabilidade de ocorrer acidentes, tais como em sua própria casa, no trabalho ou no lazer (TRINDADE, 2013).No Brasil, sua definição como ciência foi oficializada em meados de 2000, com a publicação da Política Nacional de Biodiversidade - PNB (BRASIL, 2000). Além disso, a biossegurança no Brasil é amparada por outros dispositivos legais, tais como: a PNB, formulada e implementada por meio do Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, Lei n°11105/2005, a Legislação de Segurança e Saude Ocupacional (Lei n° 6514/1977), a Lei Orgânica da Saude (Lei n°8080/1990), e a Lei de Crimes Ambientais - LCA (Lei n°9605/1998) (CNB, 2016; PETRUCELLI, 2014). A grande dificuldade de eliminar ou minimizar os riscos, segundo alguns especialistas, está na conscientização e no manuseio dos equipamentos frente as tecnologias envolvidas. Diversas técnicas laboratoriais são realizadas pelos estudantes que passam por situações de risco, porém não necessariamente ocorrerá um acidente ou contaminação, desde que sejam adotadas as normas básicas de biossegurança e seguidas rigorosamente desde a organização do espaço laboratorial até a postura do usuário (COSTA, 2005). Com relação aos laboratórios de química é importante àqueles que irão realizar suas atividades observarem as condições dos pisos, paredes, teto, portas, janelas, armazenamento de reagentes, instalações elétrica e hidráulica, de gases, contra incêndio, ventilação e exaustão, iluminação, bancadas de trabalho e mobiliário a fim de eliminar possíveis acidentes (OLIVEIRA, et al. 2007). Em uma Instituição de ensino e pesquisa, é necessário reconhecer que os laboratórios químicos oferecem alguns riscos ocupacionais, como riscos biológicos e/ou químicos, necessitando estabelecer um programa adequado de biossegurança. Dessa forma, pode-se garantir a qualidade e eficácia na realização das tarefas, além da segurança para quem estiver manipulando (OLIVEIRA, et al. 2007). Dentre os meios ou dispositivos utilizados para minimizar os riscos de acidentes em laboratórios químicos, podem-se destacar os Equipamentos de Proteção Individual - EPIs e os Equipamentos de Proteção Coletiva- EPCs, que possuem a mesma finalidade (GAVETTI, 2013). Este trabalho teve como intuito fazer um levantamento com os alunos de químicas sobre a sua visão em relação à biossegurança, mostrar medidas preventivas, por meio de adoção de boas práticas, uso adequado de EPIS e EPCs, manuseio e armazenamento correto das substâncias, entre outros cuidados necessários a saúde do usuário de laboratório.
Material e métodos
Segundo Costa e Costa (2012), a caracterização de uma abordagem qualitativa na pesquisa dá-se, dentre outros fatores, pela busca da compreensão e interpretação de uma dada realidade e pelo uso de dados verbais e de imagens, como fotografias ou desenhos. Este trabalho teve como base uma revisão bibliográfica e uma pesquisa de campo. A coleta de dados sobre o conhecimento geral em biossegurança e sua importância no ambiente laboratorial, foi realizada no mês de maio de 2016, tendo como público-alvo os alunos do curso de graduação em química da Universidade Estadual do Ceará - UECE, totalizando 198 voluntários. Tal pesquisa ocorreu por meio de um questionário, com 11 questões objetivas levando em consideração a compreensão e a adequação de perguntas, no contexto acadêmico dos alunos. Alguns pontos merecem destaque, tais como: o conhecimento das normas em biossegurança, a identificação da cor referente ao risco químico, a qualidade no piso do laboratório para a execução segura das atividades, bem como a adoção de medidas preventivas no laboratório de química. Antes de responderem ao questionário abaixo, os alunos receberam uma explicação sobre a importância e os objetivos da pesquisa, não só para o orientando, mas também como fonte de pesquisa para o curso de química em relação à aplicabilidade em biossegurança, com ênfase na adoção de medidas preventivas. Sem nenhum questionamento ou rejeição, todos os alunos voluntariamente responderam em torno de 5 minutos. Com relação à preocupação com as respostas, os entrevistados ficaram cientes que seus dados pessoais não seriam divulgados, mas daria credibilidade à pesquisa.
Resultado e discussão
Os resultados obtidos foram explanados através de tabelas e gráficos que
serão apresentados logo abaixo, onde as respostas tiveram como principal
objetivo, fazer um levantamento, através da visão dos alunos do curso de
química, sobre noções prévias de biossegurança no laboratório de química. A
pergunta número 01 foi explanado o gênero dos entrevistados.
Dentre os 198 alunos entrevistados, 106 (52,5%) pertencem ao sexo feminino,
onde o maior número de mulheres que respondeu ao questionário, encontra-se
no 3° semestre, com 24 (22,64%). Já 92 alunos (47,5%), do sexo masculino,
destacou-se o 1° semestre em maior número: 18 (19,56%).
A faixa etária dos entrevistados encontra-se compreendida entre 18-20 anos,
com o percentual de (53,5%) em relação a amostra total, seguida entre 21-25
anos, equivalentes a (31,3%), demonstrando que os universitários na área da
química em sua maioria são jovens, com probabilidade de entrarem no mercado
de trabalho entre 24-25 anos, levando em consideração a média do curso em
torno de 4 anos.
A maioria dos alunos entrevistados, com predominância do 1° ao 7° semestre,
afirmou não ter conhecimento em relação ao conceito de biossegurança nos
laboratórios, sendo irrelevante no 1° semestre (72,7%), haja em vista que
acabaram de ingressar no curso, porém há uma certa preocupação com os alunos
entrevistados do 6° semestre, equivalente a (68%).
Em contrapartida, os alunos do 8° semestre, que estão mais próximos de
concluir o curso, afirmaram positivamente terem noções da aplicabilidade em
biossegurança no ambiente laboratorial, tais dados poderão ter maior
credibilidade após a análise das outras questões, que serão discutidas no
decorrer do questionário.
Em relação a número total de entrevistados, a maioria dos graduandos,
equivalentes a 173 (87,37%), marcou corretamente a alternativa, demonstrando
terem familiaridade com essa sigla (Gráfico 01). Citaram, por exemplo:
jalecos, óculos, luvas, máscara facial, capacete, protetor auricular e
botas. Dos que responderam corretamente, apenas 23 alunos (13,29%) não
citaram nenhum exemplo.
Já os universitários pertencentes ao 5° e 8° semestres, sem exceção,
responderam corretamente e/ou optaram por não responder. Dentre os
semestres que marcaram a alternativa errada, destaca-se o 2° semestre
(15,78%).
É importante enfatizar que os alunos do 1° e 2° semestres, apesar da maioria
afirmar não ter participado de cursos referentes à biossegurança
laboratorial, já possuem uma noção sobre o termo e exemplos de EPI’s, onde
apenas 5 graduandos (16,51%) da amostra total, marcaram a alternativa
errada.
É previsto que o grupo pertencente ao 1° semestre (57,58%) afirmaria ainda
não saber exatamente como se cuidar, tendo em vista, iniciado o curso a
pouco tempo. Tal afirmativa possui credibilidade quando se volta o olhar
para os 5° (80%), 6° (64%), 7° (68,75%) e 8° (84,21%) semestres, em sua
maioria, supõe-se que os universitários já possuem um elevado grau de
conhecimento em relação aos propriedades e riscos provenientes das
substâncias químicas e noções de como se comportar durante a realização das
atividades nos laboratórios, através das aulas práticas no decorrer do
curso, onde vários já garantiram ter experiência na monitoria (Gráfico 02).
Dados semelhantes foram observados nos trabalhos de Pinheiro et al (2008),
onde foi aplicado aulas e questionários sobre biossegurança em aula s
práticas de química.
É importante que todos os alunos tenham a curiosidade em participar dos
laboratórios, não somente em aulas ministradas pelos professores, mas também
como monitores, pois além de contribuir para a sua formação acadêmica,
aliando a teoria com prática, permitirá ao aluno: compreender o uso adequado
dos equipamentos individuais e coletivos, planejar e entender previamente
como as reações acontecem, compreender a importância da organização do
laboratório, como medida preventiva, para a realização de suas atividades e
à dos colegas presentes no ambiente de trabalho. Segundo Trindade (2013) em
sua dissertação de mestrado, o manuseio dos equipamentos no laboratório e de
extrema importância, os cuidados e precauções com esse tipo de uso de
materiais, fato este que corrobora com nosso resultados expostos no gráfico
01, onde 87,37% tem familiaridade com os equipamentos de biossegurança para
uso no laboratório.
Sugere-se, dessa forma, que seria interessante haver um evento anual em
biossegurança, pelo curso de Química, abordando temas, tais como: boas
práticas em laboratórios, uso adequado e obrigatório dos EPIs, armazenamento
e manipulação correta das substâncias químicas, entre outros. Assim, os
universitários de graduação em química, que já possuem essa rotina, poderão
ficar mais informados e atualizados, enquanto àqueles que irão participar
pela primeira vez, de práticas, nas imediações de um laboratório, tenha a
consciência prévia que existem vários perigos, porém, com adoção de boas
práticas, acompanhamento de um responsável, postura adequada, tais riscos
poderão ser minimizados ou erradicados em prol de sua saúde e do seu bem-
estar.
Conclusões
De acordo com os dados obtidos nessa pesquisa, pode-se concluir que: • A maioria dos entrevistados não participou de fóruns e/ou palestras sobre a biossegurança, fato esse que gera uma preocupação quanto ao futuro desses Químicos. • A maioria dos alunos não obrigatoriamente usam jaleco nas aulas de laboratório, isso significa um risco muito grande a acidentes e a saúde desses alunos. • Quanto aos equipamentos de segurança EPI, a maioria dos entrevistados conhecem esses equipamentos e sabem de sua extrema importância. • Sugere então que os cursos de Química e outros da área de saúde implementem aulas de segurança de laboratório logo no 1º. Semestre do curso, para que esses procedimentos e dúvidas não interfiram no aprendizado essencial sobre biossegurança, que os alunos merecem obter para seu melhor aproveitamento acadêmico.
Agradecimentos
agradecemos a todos os 198 voluntários que prontamente responderam nosso questionário, demostrando assim interesse pelo assunto em pauta.
Referências
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