Autores
Freire Correa, K. (UFAM) ; Maia Correa, G. (UFAM) ; Fernandes de Moura do Carmo, D. (UFAM)
Resumo
O processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos de química é de difícil compreensão pelos alunos, pois necessitam de um grande poder de abstração. A relevância do presente estudo é pertinente considerando a ausência da educação inclusiva em muitas escolas do país. Diante disso, elaborou-se esta pesquisa, para auxiliar na educação especial, com estudantes cegos ou de baixa visão, além de incentivar o uso de uma importante ferramenta pedagógica que é a construção de modelos didáticos.Com estes modelos foi possível discutir conceitos sobre ligação química, geometria molecular, funções orgânicas e inorgânicas.A metodologia utilizada foi um estudo de caso e pesquisa quantitativa, onde foi possível verificar que os modelos didáticos auxiliam no processo de aprendizagem dos conteúdos mencionados.
Palavras chaves
Modelos moleculares; Deficientes visuais; Geometria molecular
Introdução
É fato que os conteúdos de química é de difícil compreensão pelos alunos, pois necessitam de um grande poder de abstração e geralmente visualização de imagens e esquemas. Alunos portadores de deficiência visual, que estão matriculados em escolas de Ensino Regular, as dificuldades na compreensão são maiores devido à falta de adaptações e aplicação de práticas pedagógicas diferenciadas por parte dos professores. A Declaração de Salamanca (1994) reforça a inclusão de todos no sistema de ensino, pregando a educação completa de todas as pessoas, considerando em especial suas diferenças. A capacidade de construção de conhecimento e aprendizado dos alunos portadores de DV é, segundo SANTOS E MANGA (2009) a mesma dos alunos que possuem uma visão normal, sendo assim, a educação de portadores de deficiência e de não portadores não deve ser diferenciada, ou seja, as atividades realizadas por ambos os alunos devem possuir o mesmo nível de conhecimento e dificuldade, contudo para que a educação possa ser realizada de forma igualitária, a aplicação de ferramentas pedagógicas se fazem necessárias no processo de ensino e aprendizagem destes alunos, facilitando a compreensão de conceitos e conteúdos. Com o objetivo de melhorar a compreensão dos assuntos de química, foi realizada a divisão dos seus conteúdos, e segundo JHONSTONE (2006), uma alternativa seria trabalhar os três níveis, sendo eles: a macroscópica, a microscópica e a representacional. Para cada nível mencionado, há um grande apelo visual para a compreensão dos conteúdos, o que prejudica a assimilação dos mesmos por parte dos alunos com deficiência visual. Diante disso é importante que todos os alunos tenham o mesmo contato com tais abordagens por meio de técnica de ensino.
Material e métodos
A pesquisa teve uma abordagem qualitativa por meio de um estudo de caso. Segundo LAVILLE e DIONNE (1999) esse tipo de estudo permite que o pesquisador beneficie de mais tempo para adaptar seus instrumentos.Os métodos de coleta de dados usados foram observação e questionário. A oficina, intitulada “Construindo Modelos Moleculares a Cegas”, foi realizada em duas escolas pertencentes ao município de Itacoatiara-AM. Foram realizadas reuniões com cada gestor e pedagogo das escolas. Nesses encontros, foi apresentado o projeto por escrito, onde estavam delineados os objetivos e os procedimentos metodológicos da Oficina, assim como, explicações minuciosas de como a obtenção dos dados poderiam contribuir. A oficina foi divulgada para alunos, professores de química e comunidade, posteriormente foi realizada as inscrições dos interessados. Os modelos moleculares foram confeccionados com materiais de baixo custo, fácil acesso e boa durabilidade. Optou-se pela utilização de bola de isopor de diferentes diâmetros (35 mm e 50 mm) em analogia aos diferentes tamanhos dos átomos. cerca de 26 alunos participaram do projeto, tendo a participação de 25 alunos videntes, que tiveram os olhos vendados. Após a realização da oficina, foi repassado um questionário com perguntas que buscassem informações diretas e indiretas sobre os assuntos relacionados aos modelos moleculares. Todas as respostas foram recolhidas para análise. A outra etapa consistiu na aplicação de uma prova avaliativa, semelhante ao aplicada durante o bimestre, com objetivo de analisar o desempenho dos alunos. Todas as etapas do teste tiveram autorização por parte da Escola para serem gravadas e fotografadas, preservando-se, contudo, a identidade dos alunos ao longo do projeto.
Resultado e discussão
Os resultados da pesquisa ocorreram em dois níveis
1. análise do questionário aplicado aos alunos antes e após a realização da
oficina; 2. Análise da percepção dos alunos sobre o modelo pedagógico nas
aulas
de química como um recurso na educação inclusiva. Os materiais didáticos
aplicados proporcionou a visualização tridimensional das moléculas e suas
geometrias,levando em conta a exploração da percepção tátil que ajudou na
construção de conhecimentos sobre os modelos moleculares.
Os relatos dos alunos revelam como a aprendizagem se torna significativa,
quando as aulas são adaptadas como indica as legislações. Observa-se a
necessidade das escolas em possuírem materiais didáticos, para atender com
qualidade os alunos com deficiência. Raposo e Mól (2010),afirmam que a
elaboração de materiais didáticos para serem explorados com
estudantes deficientes visuais pode propiciar um processo inclusivo em que
todos com e sem deficiência visual aprendem e participam.
Buscou comparar o desempenho dos alunos na prova sobre geometria molecular
antes e depois da oficina, com o intuito de verificar e analisar o
conhecimento
adquirido, através da associação da teoria com a oficina. Como resultados,
observou-se aumento do desenvolvimento da maioria dos alunos após a
aplicação
da oficina. Com base nos resultados obtidos é possível observar que a
oficina
pedagógica auxiliou na compreensão do conteúdo.
Na prova aplicada após a oficina 70% dos alunos envolvidos obtiveram notas
entre 4,0 – 5,0, percentual bastante relevante.A contribuição da oficina
para o
ensino, isto pode estar associado à linguagem utilizada, que foi um
facilitador
no processo de aprendizagem.Observa-se que esta proposta coloca o aluno como
protagonista e o professor com mediador.
Conclusões
Observamos que a construção de modelos moleculares contribui para ensino da Química para alunos com deficiência visual, desde que sejam utilizados linguagens e métodos capazes de fazer com que estes sujeitos compreendam a química através de outros sentidos. Diante dos resultados obtidos, pode-se concluir que a utilização de recursos didáticos táteis e visuais, é realmente eficaz para a promoção do aprendizado significativo dos alunos no estudo das ligações químicas, sendo, além disso, uma opção de recurso para utilização em salas de aulas inclusivas.
Agradecimentos
A Universidade Federal do Amazonas pelo apoio concedido.
Referências
JOHNSTONE, A. H. Macro and micro-chemistry. The school science review, 1982, 64-377.
LAVILLE, C. & DIONNE, J. A construção do saber. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
340 p.
RAPOSO, P.N. e MÓL, G.S. A diversidade para aprender conceitos científicos: a ressignificação do ensino de ciências a partir do trabalho pedagógico com alunos cegos. In: SANTOS, W.L.P. e MALDANER, O.A. (Orgs.). Ensino de química em foco. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. p. 287-311.
SANTOS, C. R.; MANGA, V. P. B. B. Deficiência Visual e Ensino de Biologia: Pressupostos Inclusivos. Revista FACEVV, no. 3, p. 13-22, 2009.
UNESCO. Declaração de Salamanca: sobre os princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Aprovada na Sessão Plenária da Conferência Mundial de Educação Especial em 10 de junho de 1994. Disponível em: <http://www.educacao.gov.br/>. Acesso em: 2 de maio de 2018.