Autores

Silva, L.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Dias, P.L.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Pinheiro, J.M.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Oliveira, E.X. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Lages, A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO)

Resumo

Este trabalho manifesta a preocupação com jovens pertencentes a grupos menos favorecidos e visa assegurar seus direitos quanto a uma educação de qualidade, atrativa e equitativa. São reportados os resultados da oficina pedagógica “Calorimetria de Combustíveis”, tendo como base o enfoque CTSA. No 1º dia da oficina, aplicou-se um questionário sobre o assunto, seguido de um debate sobre o mesmo. No 2º dia, realizou-se um experimento a fim de calcular o calor liberado pela combustão de 3 combustíveis (etanol, biodiesel e óleo diesel). Após o experimento, foi aplicado o mesmo questionário inicial. Os alunos concluíram que apesar do óleo diesel liberar mais calor, ele é o mais poluente. A análise dos questionários revela que o conhecimento dos alunos sobre o tema em questão foi aprimorado.

Palavras chaves

Oficina pedagógica; CTSA; Equidade social

Introdução

No Brasil, ainda existe grande desigualdade de acesso e permanência da população de baixa renda ao ensino superior, principalmente, às universidades públicas (GOLGHER et al., p. 215, 2014 ; NETO et al., p. 883, 2012), mesmo após a implementação da lei nº 12.711 de 2012 (BRASIL, 2012), como uma política de ação afirmativa que busca reparar as distorções raciais e sociais no campo da educação superior. Soares (p. 94, 2005) admite que “a desigualdade socioeconômica é a geradora remota das dificuldades próximas que afetam o desempenho dos alunos”. Enquanto que Ferreira (p. 33, 2001) aponta, também, uma escola não atrativa e autoritária, com professores despreparados. A experimentação tem grande importância no ensino, instiga a formulação de hipóteses e a investigação sobre o objeto de estudo baseado não apenas na memorização de fatos e conceitos que logo são esquecidos, mas sim no raciocínio e na busca pelo conhecimento, promovendo uma aprendizagem significativa (TERRAZAN et al., p. 2, 2014). O presente trabalho manifesta a preocupação com jovens pertencentes a grupos menos favorecidos e visa assegurar seus direitos quanto a uma educação de qualidade, atrativa e equitativa. Serão reportados os resultados da primeira oficina, “Calorimetria de Combustíveis”, parte de um Projeto de Extensão que emprega Oficinas Pedagógicas com tema motivador “Petróleo & Gás, Biocombustíveis e Petroquímica”. Estas oficinas têm como base o enfoque CTSA, cujo objetivo central é promover a educação científica, tecnológica e ambiental dos cidadãos (SANTOS, p. 2, 2007; SANTOS & MORTIMER, p. 114, 2002; TEIXEIRA, p. 183, 2003).

Material e métodos

O projeto teve início com a divulgação do trabalho aos alunos do Ensino Médio (1º ao 3º ano) do Colégio Estadual Jardim Meriti, localizado no município São João de Meriti/RJ, construindo uma discussão sobre o petróleo e as fontes energéticas renováveis e realizando o experimento “Determinação do teor de álcool na gasolina”. Em um segundo contato, foi promovido um debate sobre os objetivos e as motivações para cursar um Curso de Graduação, além de serem apresentadas as formas de acesso, politicas de apoio e a existência de ações afirmativas. A partir de então, são aplicadas as Oficinas Pedagógicas, cada uma sendo desenvolvida por um total de 2 h, sendo 1 h por semana consecutiva e fora do turno escolar. No 1º dia, é aplicado um questionário com perguntas sobre o tema da oficina (Questionário Inicial). Depois, é promovido um debate sobre o assunto. No 2º dia, é realizado um experimento e, depois, é aplicado o mesmo questionário (Questionário Final), a fim de se verificar o grau de aprendizagem promovido pela oficina. Na oficina “Calorimetria de Combustíveis”, o questionário consistiu de 7 questões, 4 discursivas e 3 objetivas, versando sobre reações de combustão e calorimetria. O experimento realizado visava verificar qual combustível (etanol, biodiesel de soja ou óleo diesel) liberava maior calor de combustão. O experimento utilizou materiais simples e foi montado de acordo com o esquema apresentado na Figura 1. Na forma de empada foram adicionados 2 mL do combustível e, com auxílio de fósforo, iniciou-se a combustão que foi mantida até o consumo completo do combustível. A água (100 mL) na lata teve sua temperatura determinada antes e após a combustão. O calor liberado pela queima de 2 mL do combustível foi calculado pela fórmula q=m.c.ΔT.

Resultado e discussão

Para fins de análise do questionário, as respostas foram divididas em: a) certa; b) parcialmente certa (questões discursivas); c) errada e d) não sei (uma das opções das questões objetivas). As questões discursivas deixadas em branco foram padronizadas como resposta “não sei”. Houve uma grande resistência dos alunos assinalarem a opção “não sei”, observado por suas reclamações ao ser solicitado marcar esta opção quando não sabiam a resposta. Isto pode ser comprovado no Gráfico 1a, onde o percentual de respostas “não sei” foi expressivo nas questões discursivas (1, 2, 4 e 5), mas não nas objetivas em que, aparentemente, os alunos preferiram “chutar” a resposta. Assim, o número de respostas “não sei” diminuíram, mas aumentou o número de respostas erradas. Ressalva para a terceira questão. O segundo dia da oficina só pôde ser realizado 3 semanas depois devido ao cronograma da escola e à greve dos caminhoneiros. Os alunos apresentaram dificuldades em realizar o cálculo do calor liberado pelos combustíveis, só o realizando após ser feito um exemplo no quadro. Chegaram à conclusão que o óleo diesel libera um pouco mais de calor, embora seja mais poluente, por observaram que a lata de refrigerante ficou coberta de fuligem. A realização do experimento após a greve enriqueceu as discussões e os alunos questionaram por que, sendo o biodiesel um combustível menos poluente e renovável, não aumentar o seu teor no óleo diesel. Pela análise do Questionário Final (Gráfico 1b), pôde-se notar um maior percentual de respostas certas e parcialmente certas, com exceção das questões 6 e 7. Entretanto, o erro nestas duas questões consistiu na inversão do conceito de calor específico. Adicionalmente, após detectar este fato, a equipe percebeu que estas questões foram mal formuladas.

Figura 1. Esquema para montagem do experimento.



Gráfico 1. Respostas dos Questionários: a) Inicial e b) Final.



Conclusões

Analisando os questionários aplicados antes e após a realização da oficina, foi possível observar que seus conhecimentos sobre reações de combustão e calorimetria foram aprimorados. Também foram detectados seus interesses pelo tema nas discussões, principalmente por se tratar de um assunto atual. Assim, é possível concluir que instigando o aluno de uma forma diferenciada, seu empenho aumenta, fazendo com que sejam obtidos resultados mais satisfatórios quanto à aprendizagem. O trabalho nesta escola tem continuado e já foram aplicadas outras duas oficinas pedagógicas com resultados satisfatórios.

Agradecimentos

PROFAEx/UFRJ

Referências

BRASIL. LEI Nº 12.711, DE 29 DE AGOSTO DE 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 30 de agosto de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acessado em: 28 de maio de 2018.
FERREIRA, L A M Direito da criança e do adolescente: direito fundamental à educação, V. 1. São Paulo. 2011.
GOLGHER, A. B.; AMARAL, E. F. L. & NEVES, A. V. C. Avaliação de impacto do bônus sociorracial da UFMG no desempenho acadêmico dos estudantes. Mediações, Londrina, v. 19, n. 1, p.214-248, 2014.
NETO, A. B. A.; MOURÃO, M.G.M.; CASTRO, S. P. N.; MACIEL, R. C. & FRANCO, A. L. M. Políticas afirmativas na educação superior: O sistema de cotas na Unimontes. Motricidade, v. 8, n. S2, p. 882-887, 2012.
SANTOS, W. L .P. & MORTIMER, E. F. Uma Análise de Pressupostos Teóricos da Abordagem C-T-S (Ciência-Tecnologia-Sociedade) no Contexto da Educação Brasileira. Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 2, p.110-1132, 2000.
SANTOS, W. L .P. Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica. Ciência & Ensino, v. 1, número especial, p. 1-12, 2007.
SOARES, J. F. Qualidade e equidade na educação básica brasileira: fatos e possibilidades. In: BROCK, C.; SCHWARTZMAN, S. (Org.). Os desafios da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2005.
TEIXEIRA, P. M. M. A educação científica sob a perspectiva da pedagogia histórico-social e do movimento CTS no ensino de ciências. Ciência & Educação, v. 9, n. 2, p. 177-190, 2003.
TERRAZAN, E.A; LUNARDI, G. & HERNANDES, C. L. O uso de experimentos na elaboração de módulos didáticos por professores do GTPF/NEC. IV Encontro nacional de pesquisa em educação em ciências. Bauru, SP, 2003. Disponível em: http://abrapecnet.org.br/enpec/iv-enpec/orais/ORAL128.pdf. Acessado em: 02 de abril de 2017.