Autores

Gomes, M.A. (IFPB) ; Neto, F.F. (DEMÓCRITO DE SOUSA) ; Resende Filho, J.B.M. (IFPB)

Resumo

Este resumo consiste em um relato de experiência de uma sequência didática organizada a partir de duas cenas do filme “Homem Aranha 2”. Através de questionamentos sobre os aspectos dessas cenas, foi possível abordar conceitos químicos tais como isótopos e elementos, energia, fusão nuclear etc. Sob cada tópico os alunos realizavam uma pesquisa prévia para discussão em sala, seguida da análise das (im)possibilidades desses conceitos usados no filme. A sequência didática associada ao filme se apresentou como uma ferramenta capaz de estimular e facilitar o aprendizado de Química pelos alunos.

Palavras chaves

Ensino de Química; Homem Aranha; Fusão Nuclear

Introdução

Os métodos abordados no ensino de Química voltados para o ensino médio vem sendo, sem dúvida, um dos assuntos que tem sido amplamente discutido em estudos acadêmicos, tendo em vista tornar o ensino dessa ciência mais significativo, efetivo, instigante. “A busca de recursos inovadores no ensino de química é constante, contudo esse não se trata do único problema; tem-se de enfrentar o desinteresse dos estudantes frente aos conteúdos que, muitas vezes, parecem ser distantes, sem aportes teóricos ou ainda, deslocados da realidade” (SILVA et al., 2013, p. 2). O mundo da ficção cinematográfica é apenas uma das propostas diante de muitas ferramentas motivadoras no processo de ensino-aprendizagem, em especial, quando trata-se de histórias de super-heróis, um mundo de aventuras que fascina e cativa públicos de todas as idades. Esse universo cinematográfico dos super-heróis pode ser utilizado para abordar diversos conceitos químicos (e também de outras ciências), através de uma abordagem crítica e questionadora sobre suas (im)possibilidades. Segundo Sousa e Moura (2015, p. 2), “desde a década de 30, o cinema vem sendo utilizado em diferentes âmbitos da educação brasileira, seja como um recurso didático ou ferramenta pedagógica”. É evidente que o uso das narrativas dos super-heróis não é ter uma história extraída da realidade, mesmo que essa possa conter elementos dela, mas sim uma história de encantamento, capaz de fazer com que os alunos desmistifiquem a Química como sendo “aterrorizante e entediante”. Considerando o exposto, este trabalho consiste em um relato de experiência de uma sequência didática construída a partir da utilização do filme Homem Aranha 2 como ferramenta fundamental de estimulação, facilitação e aproximação do cotidiano dos alunos com o ensino de Química.

Material e métodos

Este relato de experiência está embasado em uma sequência didática desenvolvida a partir de duas cenas do filmes Homem Aranha 2, de 6 e 10 min de duração, onde o Dr. Octopus (antagonista do filme) promove a fusão nuclear do trítio, com o intuito de tentar encontrar uma nova fonte de energia. A presente sequência didática é composta por 20 aulas, de 50 min de duração cada. Após a apresentação das cenas, foram levantados questionamentos que nortearam as aulas posteriores: 1) Por que usar o trítio para promover a fusão nuclear? 2) Como o Dr. Octopus promoveu a fusão nuclear do trítio? 3) É possível ficar tão próximo da fusão nuclear como Dr. Octopus estava? 4) O que aconteceu quando o sistema fictício que estabilizava a fusão nuclear foi desligado? 5) Por que a fusão nuclear do trítio atraiu materiais paramagnéticos, mas as garras e as bases metálicas do sistema não foram atraídos? Vale a pena mencionar que na primeira aula com a turma, os alunos foram questionados sobre seus interesses, sobre o que gostavam de fazer e sobre o que achariam interessante estudar na disciplina de Química. Dentre os tópicos mencionados,, foram selecionados “Filmes de Super- heróis” (interesses) e “Radioatividade” (o que gostaria de estudar). Após os questionamentos iniciais, as aulas foram organizadas de acordo com os tópicos: 1) isótopos e elementos químicos; 2) Energia: conceito, unidades, obtenção; 3) Métodos de obtenção de energia atuais; 4) A Fusão Nuclear; e 5) Consumo de energia no Brasil e no mundo. No decorrer das aulas, os tópicos eram apresentados e discutidos, sempre relacionando-os com algum aspecto das cenas observadas. Vale a pena frisar que atividades complementares e de pesquisa orientada extraclasse eram passadas para os alunos, no intuito de enriquecer as discussões em sala.

Resultado e discussão

Embora o filme Homem Aranha 2 tenha sido lançado em 2004, muitos dos alunos já haviam assistido ao mesmo por fazerem parte de um universo que os interessa, o que está em consonância com muitos trabalhos reportados na literatura (OLIVEIRA et al., 2013; SILVA; SILVA, 2016; OLIVEIRA, 2006). As cenas trabalhadas em sala de aula, que envolviam a fusão nuclear do trítio (foco do tema que gerou as discussões seguintes) e batalhas entre o protagonista e antagonista, conseguiram prender a atenção dos alunos, fazendo com que eles participassem com uma motivação bem maior nas discussões posteriores, questionassem constantemente sobre diversos pontos abordados na aula (tanto em sala quanto em horário extraclasse) etc. Através do trânsito entre o universo da Ciência e o universo do filme, foi possível construir uma análise crítica dessas cenas, sobre suas (im)possibilidades, considerando o atual contexto da Ciência. As três primeiras perguntas foram respondidas em sala, pela turma, durante as aulas que explicavam o processo de fusão nuclear, em uma sequência de perguntas  respostas  relação com o filme  análise e discussões. Através do conhecimento da estrutura atômica, da força e da barreira Coulombiana e dos requisitos necessários para vencer esta última, os alunos puderam compreender o porquê da utilização do trítio na fusão (elemento de menor Z, logo, menor barreira Coulombiana a ser vencida) e como esta poderia acontecer. Outro ponto que vale a pena ressaltar foi a discussão gerada sobre o que motivou as ações do antagonista do filme: a busca por uma fonte de energia “limpa e inesgotável”, o que levou aos alunos pesquisarem e discutirem sobre os métodos de obtenção de energia (hidroelétricas, termoelétricas e usinas nucleares), suas vantagens e seus impactos ambientais.

Conclusões

As curiosidades expressas em forma de estímulos pela disciplina surgem das aventuras vivenciadas nos filmes de ficção de super-heróis. Com base nas observações em sala de aula, podemos inferir que as aulas executadas a partir das cenas do filme Homem Aranha 2 possibilitaram um maior envolvimento dos alunos com a Química. A partir de um olhar não tradicional para o filme: Homem Aranha 2 que não considera, por exemplo, apenas seu roteiro, buscamos construir abordagens diferenciadas para o uso do cinema no ensino.

Agradecimentos

Referências

OLIVEIRA, J. B. et al. O uso do filme 'Homem Aranha 2', como instrumento auxiliar para aulas de química. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 53., 2013, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABQ, 2013.

OLIVEIRA, L. D. Aprendendo Física com o Homem-Aranha: utilizando cenas do filme para discutir conceitos de Física no Ensino Médio. Física na Escola, v. 7, n. 2, p. 79-83, 2006.

SILVA, S. D. et al. O cinema e os quadrinhos: ferramentas alternativas para o ensino de química. Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 20, n. 1, 2015.

SILVA, A. M.; SILVA, S. R. B. Nas teias dos elementos químicos: Ensino de Química através dos quadrinhos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, XVIII., Florianópolis. Anais... Florianópolis: SBQ, 2016. 2016.

SOUSA, A. F.; MOURA, B. A. Os planos no filme Gattaca: subsídios para discutir a Natureza da Ciência pelo Cinema. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, X., Águas de Lindóia. Anais... Águas de Lindóia: ABRAPEC, 2015.