Autores

Macedo, J.M.M. (IFRO)

Resumo

O presente trabalho refere-se aos resultados de uma sequência didática, tendo como centro uma aula de campo, realizada na disciplina de Química Ambiental. A aula foi realizada nas dependências da instituição, situada no município de Porto Velho, na qual os alunos realizaram uma exploração no entorno da área, utilizando um questionário com perguntas dirigidas. O objetivo da prática foi desenvolver um recurso didático que despertasse os alunos para uma visão mais holística sobre o que é realmente o meio ambiente e de que forma todas as ações antrópicas podem influenciar em todos os níveis na harmonia do meio. Os resultados apontaram para a relevância da aula como estratégia didática e em como a percepção dos participantes ficou mais apurada após o término da atividade.

Palavras chaves

Aula de campo; Recurso didático; questionário

Introdução

A Química Ambiental é uma disciplina que integrou recentemente a grade curricular de cursos no Brasil, entre os anos de 1990 e 2000. Tal disciplina visa estudar transformações ambientais que ocorrem por meio de processos químicos naturais e/ou induzidos por via antrópica, que podem comprometer a saúde e o meio ambiente (MOZETO&JARDIM, 2002; CANELA, FOSTIER e GRASSI, 2017). Quando se inicia o trabalho com os alunos, independente do nível de escolaridade é bastante comum que estes imaginem o ‘meio ambiente’ como um sistema isolado, composto por aquíferos, florestas e diversidade faunística. Contudo, o foco da disciplina é justamente apresentar de forma integrada, como as ações naturais ou antrópicas podem afetar o meio ambiente, e que cada lugar e indivíduo compõe esse meio. Uma forma de realizar essa análise integrada de um local é por meio de aulas de campo, que propõe a interação entre o aluno e materiais concretos, de forma que consigam conciliar teoria e prática, unificando um envolvimento natural e social, estabelecendo relações que irão abrir possibilidades de atingir novos conhecimentos (VASCONCELLOS, 1995). No entanto, não é possível a todas as instituições de ensino deslocarem grande número de alunos, seja por limitação estrutural ou financeira, para realizarem aulas de campo. Dessa forma, torna-se imprescindível que o docente possa viabilizar essa experiência para os estudantes com recursos acessíveis à instituição de ensino, como na vizinhança ou mesmo nas dependências da própria instituição de ensino. Visando essa possibilidade, o presente trabalho apresentará uma sequência didática para aprimorar as aulas da disciplina de Química Ambiental e auxiliar os discentes no desenvolvimento de uma visão mais integrada do indivíduo com o meio onde está inserido.

Material e métodos

Público-alvo: o trabalho foi desenvolvido com os alunos do 4º ano do Curso Técnico em Química Integrado ao nível médio do Instituto Federal de Rondônia Campus Porto Velho Calama. Local de estudo: Dependências do Campus Porto Velho Calama (área externa com 68 mil m2). Procedimento experimental: Os discentes foram inicialmente orientados em sala sobre a atividade, na qual iriam explorar toda a extensão da área externa do campus. Os mesmos deveriam se organizar em trios e observar cada aspecto do campus, conforme as seguintes perguntas: 1. Como era a área do campus antes de ser habitada? 2. Quais as atividades que precederam a construção do campus? 3. Como é a vizinhança do campus? 4. Quais as atividades no entorno do campus? 5. Quais as atividades no interior do campus? 6. Quais as formas de poluição que podem ser observadas na unidade? Classifique-as em pontuais ou difusas. 7. Descreva a fauna e a flora do local. 8. Que estratégias poderão ser desenvolvidas para mitigar ou melhorar os aspectos ambientais do campus e do seu entorno? Os discentes observaram o tipo de solo, o lançamento de esgoto doméstico, a fonte de abastecimento do campus, os comércios no entorno, a vegetação interna e externa, a forma de descarte de resíduos, a política de reaproveitamento e tratamento de resíduos no campus, resíduos produzidos pelo restaurante do campus, ausência/presença de políticas de arborização no campus. Os trios deveriam percorrer o campus e em duas semanas, deveriam a partir dessas reflexões, elaborar um relatório com um histórico do campus até sua situação atual. Em um terceiro momento, deveriam apresentar um projeto de intervenção para alguma problemática observada na aula exploratória. E por último, deveriam por o projeto em prática, apresentando ao final, um relatório.

Resultado e discussão

Durante a primeira fase de caráter exploratório, os alunos já demonstraram surpresa com os aspectos nunca antes observados sobre a localidade. Chamaram atenção para a presença de um grande igarapé que corta boa parte da cidade e passa ao lado do campus. Nos relatos entregues, 100% dos grupos chamou atenção para o lançamento de esgoto doméstico, visível no local; assim como outras situações descritas na Figura 1. Quanto às propostas mitigadoras, os grupos propuseram as medidas dispostas na Figura 2. Todos os grupos apontaram para a necessidade do plantio de árvores, ao passo de 75% sugeriu trabalhos de conscientização com os moradores do entorno ou projetos em parceria com o poder público, visando a descontaminação e revitalização do igarapé. Um grupo (25%) propôs um sistema de reaproveitamento de água, dado o porte do campus e a captação da água do poço. Somente um grupo observou para o fato do restaurante como unidade geradora de resíduos e propôs a compostagem dos resíduos de alimentos. As situações apontadas mostraram como os alunos conseguiram associar os conteúdos trabalhados em sala com o espaço onde estão inseridos.

Figura 1

Principais fatos observados pelos grupos durante a prática.

Figura 2

Principais propostas mitigadoras informadas pelos grupos.

Conclusões

Por meio dessa sequência didática, buscou-se refletir a respeito da necessidade de integrar os conceitos trabalhados em Química Ambiental e pô-los em prática de modo a sensibilizar os estudantes para que compreendam o meio ambiente e suas interações de forma holística. Foi observado durante a leitura dos relatórios o aumento da frequência de respostas mais próximas dos problemas ambientais que deveriam ser compreendidos pelos estudantes.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Rondônia.

Referências

CANELA, MARIA C.; FOSTIER, ANNE H.; GRASSI, MARCO T. A Química ambiental no Brasil nos 40 anos da SBQ. Quím. Nova vol.40 no.6 São Paulo July 2017
MOZETO, A. A.; JARDIM, W. DE F.; Quim. Nova 2002, 25, 7.
VASCONCELLOS, C. D. S. Planejamento: plano de ensino: aprendizagem e projeto educativo. 4.ed. São Paulo: Libertad, 1995.