Autores
Geronimo, A. (IFRJ) ; Cardoso, S.P. (IFRJ)
Resumo
Os profissionais da educação assinalam o desinteresse dos alunos pelas aulas em que são ensinados conceitos químicos, por fatores diversos, que podem influenciar negativamente a aprendizagem dos alunos. Como forma de ajudar professores e alunos na mudança deste contexto, surge o jogo como um recurso auxiliar nas aulas. Neste sentido, o quebra-cabeça “O Átomo dos Filósofos” foi desenvolvido como forma lúdica de estimular o pensamento e a construção do conhecimento sobre a origem do conceito de átomo. A atividade foi desenvolvida com 63 alunos do nono ano do ensino fundamental, onde observou- se que a utilização de atividades lúdicas com adolescentes na escola é uma estratégia possível para a construção do conhecimento, estimulando o interesse sobre o tema e a socialização dos alunos.
Palavras chaves
Lúdico; Quebra-cabeça; Átomo.
Introdução
Vários fatores geram o desinteresse do aluno pelas aulas de química, influenciando de forma negativa a aprendizagem, pois não ocorrendo relação entre o que se estuda na escola com a realidade, os conteúdos acabam não apresentando significado para ele. No caso do ensino de teoria atômica, a forma como modelos atômicos são apresentados pode levar “o aluno a entende que o átomo foi descoberto e então estudado, quando na verdade o átomo não foi descoberto, mas sua teoria construída” (MELO e LIMA NETO, 2013, p. 113). Erros conceituais como este são comuns quando se trabalha modelos e simbolismo sem o devido cuidado ou preparação dos estudantes quanto às características da química, e como conceitos e teorias são desenvolvidos. Neste sentido, apresentamos o jogo de quebra-cabeça “O Átomo dos Filósofos”, elaborado para apresentar a conceituação de átomo de forma lúdica, como opção para iniciar o estudo de teoria atômica. Para Cunha (2012), os jogos se destacam ao serem organizados com objetivo centrado na aprendizagem, permitindo ao aluno desenvolver a capacidade de entender conteúdos escolares e colocá-los em prática. Kishimoto (2002), Carvalho (2004) e Robaina (2008) enfatizam o uso de jogos para assimilação de conceitos onde o aluno se comporta como protagonista de sua aprendizagem, em ambiente criativo, prazeroso, desafiador e eficiente, que leva ao raciocínio, reflexão e à construção do conhecimento. Apresenta função lúdica e educativa, sendo importante manter o equilíbrio para que não se torne apenas lúdico e recreativo, ou apenas educativo, com risco de o aluno apresentar alguma resistência ao jogo (KISHIMOTO, 2002).
Material e métodos
A atividade apresentada neste trabalho consiste no desenvolvimento e aplicação do jogo “O Átomo dos Filósofos”, composto por quatro quebra- cabeças onde cada um apresenta como pano de fundo uma figura relacionada a um elemento da natureza (ar, água, terra e fogo), e pressupostos a partir dos quais os filósofos gregos iniciaram sua observação sobre a formação da matéria, até chegarem à definição de átomo. O objetivo do jogo é iniciar o estudo de teoria atômica, sem que seja utilizada uma aula tradicional, levando o aluno a perceber a evolução dos conceitos e de como esses se complementam. Foram confeccionados em papelão, com cada quebra-cabeça contendo 40 peças. Foi desenvolvida em duas turmas do nono ano do ensino fundamental, no turno vespertino, de uma escola municipal da Pavuna, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, em duas aulas de cinquenta minutos. As turmas foram divididas em grupos, com cada um deles recebendo um dos quebra-cabeças para montagem. Foi entregue desmontado, junto com uma foto do pano de fundo para orientar sua organização. Somente após montado, os alunos tinham acesso às informações sobre o elemento da natureza presente naquele quebra-cabeça, o qual determinado filósofo acreditava ser a origem de tudo, chegando à definição de átomo. Cada um dos grupos apresentou para turma suas observações e entendimento sobre as informações contidas no quebra-cabeça recebido, com posterior debate sobre as informações apresentadas mediadas pela professora.
Resultado e discussão
A atividade foi desenvolvida com 63 alunos divididos em duas turmas. Os
alunos apreciaram a aula, pois a forma lúdica como o tema foi apresentado os
envolveu, sendo percebido um maior comprometimento com a realização da
atividade. Para eles a aula dependia da sua atuação na montagem do quebra-
cabeça, o que fez com que se sentissem importantes e protagonistas do seu
processo de aprendizagem. Para Oliveira, Silva e Ferreira (2010), este
envolvimento do aprendiz é importante e viável, pois através da brincadeira
e do jogo o estudante está agindo, pensando, sentindo aprendendo e se
desenvolvendo.
O jogo foi atrativo, a ponto de todos participarem, fato a se destacar tendo
em vista a característica agitada das turmas, quebrando barreiras de
socialização existentes. Outro fato importante no desenvolvimento da aula,
ainda com relação ao aspecto da interação em grupo, foi a ajuda que um aluno
disponibilizou ao outro para a montagem do quebra-cabeça, e para a leitura,
debate e interpretação do pressuposto apresentado. Para Vygotsky (1998), o
jogo possui uma ação social, proporcionando situações que estimulam o
desenvolvimento dos alunos e sua interação com os demais participantes da
turma.
O fato dos quebra-cabeças serem formados por figuras diferentes despertou
nos alunos a curiosidade de saber do que se tratava o quebra-cabeça dos
outros grupos, havendo um respeito à exposição das ideias e observações
quando das apresentações e do debate aberto à turma. O debate foi rico e
construtivo, pois os alunos se atentaram para a conceituação de átomo feita
pelos gregos como uma partícula indivisível e constituinte da matéria à sua
volta.
Conclusões
O jogo “O Átomo dos Filósofos” atingiu seu objetivo como atividade lúdica para iniciar o estudo de teoria atômica. O nono ano do ensino fundamental é o momento onde o aluno entra em contato com a química, sendo importante tornar este momento agradável e representativo, despertando o interesse pela disciplina e construindo a base para novos conhecimentos. Identificamos que o uso do quebra-cabeça estimulou a aprendizagem e a socialização, valorizando a ação dos alunos, permitindo o debate e o entendimento de conceitos, configurando-se em uma atividade colaborativa e lúdica.
Agradecimentos
Referências
CARVALHO, A. M. P. Ensino de Ciências: Unindo a pesquisa e a pratica. São Paulo: Thomson, 2004.
CUNHA, M. B. da. Jogos no Ensino de Química: Considerações teóricas para sua utilização em sala de aula. Revista Química Nova na Escola, Vol. 34, n 2, p. 92-98, maio 2012.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, Brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo: Cortez, 2002.
LOPES, M. G. Jogos na Educação: criar, fazer e jogar. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
MELO, M. R.; LIMA NETO, E. G. Dificuldades de Ensino e Aprendizagem dos Modelos Atômicos em Química. Química Nova na Escola. Vol. 35, n. 2, p. 112 – 122, MAIO 2013.
OLIVEIRA, L. M. S.; SILVA, O. G. da.; FERREIRA, U. V. da S. Desenvolvendo jogos didáticos para o ensino de química. HOLOS, vol. 5, 2010, p. 166-175. IFRN. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=481549223019. Acesso em 04/06/2018.
ROBAINA, J. V. L. Química através do lúdico: brincando e aprendendo. Canoas: Ed. Ulbra, 2008.
VYGOTSKY, L. S. A Formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.