Autores

Oliveira, B.R.M. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA)

Resumo

Este trabalho discute a construção da identidade docente de 8 licenciandos em Química de uma universidade catarinense. Para tanto, foram analisados textos produzidos pelos licenciandos, em que apresentaram sua trajetória escolar e as influências que trazem consigo na construção da concepção sobre ser professor. O material passou pela análise de conteúdo, originando duas categorias: i) Concepções sobre a profissão docente e ii) Influências da trajetória escolar na identidade docente. Os resultados revelam que as concepções dos licenciandos estão em consonância com as atuais perspectivas de formação docente e com o perfil profissional que o curso investigado almeja. Além disso, verificou-se que o ensino médio apresenta grande influência na construção da identidade docente dos licenciandos.

Palavras chaves

Formação de professores; Licenciatura em Química; Docência

Introdução

A formação inicial de professores vem sendo discutida amplamente no cenário de pesquisas educacionais, apontando caminhos para a discussão de modelos formativos mais eficazes em relação às complexas demandas da escola e da sociedade. Preocupar-se em como se constrói o perfil profissional de um professor parece ser um aspecto representativo, especialmente para os cursos de licenciatura. Segundo Costa e colaboradores (2014), Nóvoa (2007), Pimenta (2000) e Maldaner (1999), a construção da identidade profissional de um professor ocorre em um processo sociocultural influenciado por diversas referências e principalmente pelas relações estabelecidas com os professores durante a trajetória escolar. Para Beja e Rezende (2014) a ideia sobre “ser professor” vai se construindo durante as experiências vividas enquanto aluno. Maldaner (1999) ressalta que o conceito inicial sobre “ser professor” evolui para o conceito sobre “ser professor de Química”. Essas experiências que ocorrem tanto na educação infantil, no ensino fundamental e médio, na graduação, na pós-graduação, podem influenciar em maior ou menor grau na construção e reconstrução da ideia sobre “ser professor”, em um processo contínuo de reelaboração. Concordamos com Melo e colaboradores (2017) que é fundamental explorar os espaços formativos na licenciatura, em especial os estágios supervisionados, para discutir questões relativas a (re)significação da identidade docente. É nesse debate que se pode analisar em que medida se consolidam as intenções formativas que o curso pretende validar, no que tange o perfil docente. Por isso, o objetivo deste trabalho é o de investigar o processo de construção da identidade docente de licenciandos em Química de uma universidade catarinense, e os aspectos que a influenciaram/influenciam.

Material e métodos

Este estudo se deu em um curso de licenciatura em Química do estado de Santa Catarina, fundado em 2010. Segundo os dados oficiais do curso, o licenciado em química deve ter formação sólida e abrangente em conteúdos dos diversos campos da Química e uma visão interdisciplinar capaz de contextualizar os saberes e integrá-los em seus conjuntos. Deve estar capacitado para a aplicação pedagógica do conhecimento de Química e de áreas afins na atuação profissional como educador na educação média e superior, bem como na indústria química e em laboratórios de pesquisa. Por ser um curso iniciado recentemente pareceu-nos importante confrontar a concepção dos licenciandos com os anseios do curso, especialmente quanto ao perfil profissional. Nesta perspectiva, durante dois semestres, na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II, explorou-se a discussão sobre a construção da identidade docente. Cada licenciando escreveu um texto que contemplasse a sua concepção sobre “ser professor”, as experiências e/ou pessoas que influenciaram nessa concepção durante a trajetória escolar. Foram investigados 8 textos dos licenciandos, utilizando da análise de conteúdo, proposta por Bardin (2010), a partir da: a) organização do material de trabalho em uma tabela, identificando os alunos pela sigla A, seguido por um índice numérico de 1 a 8; b) Definição de unidades de registro ou significado a partir de uma leitura flutuante do material buscando palavras ou locuções que contribuíssem com a investigação conforme os níveis de ensino que se pretendia investigar - Educação infantil, Ensino fundamental, Ensino médio, e Ensino superior; c) Delimitação do tema, sintetizando o conteúdo analisado; d) Categorização; e e) Inferências sobre os dados, analisando-os conforme frequência e significado.

Resultado e discussão

A análise dos textos produzidos pelos licenciandos deu origem a duas categorias: i) Concepções sobre a profissão docente e ii) Influências da trajetória escolar na identidade docente. A primeira categoria advém dos dados apresentados pela Tabela 01. Os resultados são semelhantes aos observados por Melo e colaboradores (2017). Dentre as concepções elencadas ressaltam-se a 1, 4 e 6, sendo que as principais ideias que justificam tais concepções são, respectivamente, as de o professor dominar os aspectos didático-pedagógicos para facilitar o aprendizado dos alunos, da possibilidade de proporcionar melhorias na vida pessoal/profissional dos estudantes, e a de dar sentido aos conteúdos ensinados conforme o cotidiano dos alunos. Infere-se que as concepções 1, 5 e 6 estão em total consonância com o que se almeja no curso como perfil profissional. Além disso, as concepções 3 e 8 são reflexos das discussões atuais na área de formação de professores, que possivelmente advém das disciplinas pedagógicas do curso e/ou os estágios supervisionados. Por fim, as concepções 2, 4 e 7 podem estar atreladas a adjetivos atribuídos a professores que os alunos tiveram durante sua trajetória escolar. Nessa perspectiva, a segunda categoria surgiu dos dados apresentados pela Tabela 02. Considerou-se na análise apenas os textos que traziam relatos positivos sobre experiências ou professores da trajetória escolar dos licenciandos. Dessa forma, é possível verificar que o ensino médio foi o que mais trouxe contribuições para o aluno construir sua concepção sobre ser professor. No entanto, cabe salientar que o ensino superior possui papel de destaque neste processo, uma vez que na investigação os participantes estavam ainda na metade do curso e evidenciaram o ensino superior em quatro respostas.

Tabela 01 - Concepções dos alunos sobre "ser professor"

Concepções apresentadas pelos licenciandos sobre a profissão docente

Tabela 02 - Incidência de cada nível de ensino nos textos dos licencia

Cada nível de ensino ressaltado pelos licenciandos em seus textos, mostrando influências na concepção sobre ser professor.

Conclusões

De modo geral, as concepções dos licenciandos sobre a profissão docente mostraram-se em consonância com o que se almeja nos atuais estudos da área de formação de professores, bem como com os preceitos que alicerçam o curso de licenciatura em Química em questão. Tais concepções revelaram a influência majoritária de experiências e/ou professores do ensino médio, mas cabe ressaltar a relevância da graduação nesse processo de reelaboração contínua da identidade docente, bem como no possível reflexo desta no ensino médio, quando estes licenciandos atuarem como professores.

Agradecimentos

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. 11ª ed. Lisboa: Edições 70, 2011.
BEJA, A. C.; REZENDE, F. Processos de construção da identidade docente no discurso de estudantes da licenciatura em química. Revista Eletrónica de Enseñanza de las Ciencias. v.13. n.2. p.156-178, 2014.
COSTA, M. L. R.; BEJA, A. C. S.; REZENDE, F. Construção da identidade docente em licenciatura em química de um instituto federal de educação profissional. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 305-313, 2014.
MALDANER, O. A. A pesquisa como perspectiva na formação continuada do professor de Química. Química Nova, v. 22, n. 2, p. 289-292, 1999.
MELO, C. M. S. de.; RIBEIRO, B. de. S.; QUEIROZ, G. K. de.; BEZERRA, B. H. de. S.; Identidade docente - como estou me tornando professor de química – encontros e desencontros com a profissão. II Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino em Ciências (II CONAPESC). Campina Grande – PB, 2017. Disponível em <https://editorarealize.com.br/revistas/conapesc/trabalhos/TRABALHO_EV070_MD4_SA6_ID326_07022017223041.pdf >
NÓVOA, A. Vida de professores. 2a Ed. Porto: Porto Editora, 2007.
PIMENTA, S.G. Formação de professores: identidade e saberes docentes. Em PIMENTA, S.G. (Org.) Saberes pedagógicos e atividades docentes. 2 Ed (pp. 15-31). São Paulo: Cortez, 2000.