Autores

Mendes da Silva, J.F. (UFRJ)

Resumo

As novas tecnologias de comunicação e informação pressionam por mudanças nas metodologias didáticas de disciplinas de cursos superiores. O ensino híbrido, que conjuga atividades presenciais e à distância, surge em resposta a essa demanda por inovações pedagógicas, permitindo uma ressignificação da etapa de avaliação dos processos de ensino e aprendizagem. Descrevemos neste trabalho os resultados obtidos na disciplina Química Orgânica I de um curso de graduação ao empregar um programa de ensino híbrido baseado na teoria histórico-cultural. A resposta dos alunos à metodologia descrita tem se mostrado positiva, tomando-se como base os índices de aprovação, o desenvolvimento de habilidades relacionadas à elaboração de hipóteses, ao uso da linguagem científica e à capacidade de argumentação.

Palavras chaves

Ensino híbrido; Química Orgânica; Ensino Superior

Introdução

As inovações trazidas pelas novas tecnologias de comunicação e informação colocaram em cheque o ensino tradicional. Atualmente, os alunos, mesmo quando frequentam as aulas expositivas, raramente mantêm sua atenção voltada para o professor ao longo de toda a aula, frequentemente acessando aplicativos e redes sociais em seus smartphones e interagindo presencialmente e à distância com seus colegas (VALENTE, 2014). Assim, os modelos tradicionais de aula e avaliação já não se adequam a esse novo perfil de aluno, sendo necessário o desenvolvimento de novas estratégias pedagógicas. Diante desse quadro, surge o chamado ensino híbrido, definido por Staker e Horn (2012) como “”um programa de educação formal que mescla momentos em que o aluno estuda os conteúdos e instruções usando recursos on-line, e outros em que o ensino ocorre em uma sala de aula, podendo interagir com outros alunos e com o professor”. Propostas de ensino híbrido tem sido elaboradas tanto para a Educação Básica quanto para o Ensino Superior (VALENTE, 2014), promovendo a aprendizagem colaborativa, a autonomia do aluno e avaliações processuais, o que permite reverter um quadro muito comumente encontrado no Ensino superior, onde a avaliação se torna o foco do processo educacional. As avaliações processuais rompem com o medo que os alunos demonstram das “provas”, e se tornam um espaço para explorar a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) dos discentes (SFORNI, 2017), ao invés de apenas verificar quais conceitos já foram internalizados. Frente às questões expostas, descrevemos neste trabalho os resultados obtidos na disciplina Química Orgânica I de um curso de Licenciatura em Química ao empregar um programa elaborado a partir dos pressupostos do ensino híbrido e da teoria histórico-cultural (SFORNI, 2017).

Material e métodos

A proposta de ensino híbrido para a disciplina de Química Orgânica I dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Química do Instituto de Química da UFRJ utiliza o ambiente virtual de aprendizagem da UFRJ como plataforma virtual para as atividades on line. Os tópicos da disciplina foram divididos em seis seções: 1.Nomenclatura de compostos orgânicos 2.Estereoquímica 3.Ligação Química (teorias de ligação de valência e de orbitais moleculares) 4.Relações entre estrutura e propriedades físico-químicas de compostos orgânicos 5.Acidez e basicidade de compostos orgânicos 6.Reações de adição eletrofílica em alcenos Em cada seção foram disponibilizados vídeos e textos complementares referentes a cada tema, bem como um conjunto de atividades avaliativas individuais. Dois tipos de atividade são obrigatórios: um questionário com perguntas objetivas e de autocorreção, com peso 1, e outro com questões dissertativas, com peso 3, sendo as perguntas selecionadas aleatoriamente pela plataforma virtual a partir de um banco de questões elaborado pelo professor. Todos os questionários possuem um tempo limitado para serem respondidos, findo o qual as respostas são enviadas automaticamente ao servidor. Além dessas avaliações obrigatórias, existem outras de caráter eletivo, como a elaboração de mapas conceituais, a redação de textos dissertativos e jogos didáticos. Em relação às aulas presenciais, essas são organizadas na forma de aulas dialógicas e, sempre que possível, baseadas na apresentação de dados experimentais ou calculados de propriedades físicas e químicas de compostos orgânicos selecionados, a fim de que os alunos elaborem, coletivamente, hipóteses capazes de explicarem esses dados e que estejam em consonância com os modelos teóricos atualmente aceitos pela comunidade científica.

Resultado e discussão

A resposta dos alunos à metodologia descrita tem se mostrado positiva, dependendo, em grande parte, dos percursos formativos trilhados pelos alunos antes de iniciarem essa disciplina. Ocorre, frequentemente, um período de adaptação, onde é preciso superar as práticas dos alunos quanto à passividade em sala de aula, à exposição de suas dúvidas ao grupo, a procurar o auxílio do professor para sanar dúvidas e ao papel da avaliação nos processos de ensino e aprendizagem. Vencidas essas barreiras, o processo evolui satisfatoriamente, sendo os índices de aprovação superiores aos de turmas onde se empregam metodologias tradicionais de ensino, alcançando a faixa dos 90 a 100%, se descontarmos as evasões. A metodologia empregada nas aulas presenciais é bem aceita, verificando-se um aumento gradual na participação dos alunos mais tímidos ou inseguros. Frequentemente diferentes grupos elaboram hipóteses divergentes, permitindo o debate sobre os pontos fortes de cada uma, bem como as incoerências eventualmente existentes, promovendo, assim, a capacidade de argumentação, o uso da linguagem científica e a compreensão dos processos cognitivos e metacognitivos empregados na elaboração de suas hipóteses. Ao contrário de algumas expectativas, o plágio e a fraude nas avaliações não são problemas significativos. Diversas causas contribuem para isso, como a existência de um banco de questões amplo para cada questionário, a anulação da avaliação dos alunos envolvidos em práticas não-éticas e a percepção da importância da avaliação formativa no processo de aprendizagem. O fato de saberem que os erros podem ser discutidos e que uma nova avaliação permitirá a verificação dessa aprendizagem em uma segunda etapa geram uma maior adesão dos alunos e um melhor desempenho ao longo da disciplina.

Conclusões

Os resultados obtidos com a metodologia de ensino híbrido adotada na disciplina em questão nos permitem avalia-la como exitosa em promover uma aprendizagem efetiva dos conceitos fundamentais de Química Orgânica, tomando- se como base os altos índices de aprovação alcançados. O desenvolvimento de habilidades relacionadas à elaboração de hipóteses, ao uso da linguagem científica e à capacidade de argumentação contribuem positivamente para a avaliação da metodologia, que se mostra, assim, como um instrumento eficaz para a construção da autonomia do aluno frente à sua formação profissional.

Agradecimentos

Aos alunos da disciplina de Química Orgânica I LN e ao suporte técnico do Ambiente Virtual de Aprendizagem da UFRJ.

Referências

SFORNI, M.S.F. O método como base para reflexão sobre um modo geral de organização do ensino in MENDONÇA, S.G.L., PENITENTE, L.A.A., MILLER, S. (Org.) A questão do método e a teoria histórico-cultural: bases teóricas e implicações pedagógicas. Marília:Oficina Universitária, 2017.
STAKER, H.; HORN, M. B. Classifying K–12 blended learning. Mountain View, CA: Innosight Institute, Inc. 2012. apud VALENTE, J.A. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta da sala de aula invertida. Educar em Revista, n. 4, 2014.
VALENTE, J.A. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta da sala de aula invertida. Educar em Revista, n. 4, 2014.