Autores

Batista, L.C. (IFCE - CAMPUS LIMOEIRO DO NORTE) ; Gomes, C.L.C. (IFCE - CAMPUS LIMOEIRO DO NORTE) ; Braga, R.C. (IFCE - CAMPUS LIMOEIRO DO NORTE)

Resumo

Um problema enfrentado por professores é a falta de interesse e motivação dos estudantes, sendo a Química uma das disciplinas mais afetadas. O universo de Harry Potter faz sucesso no público infanto-juvenil com seus feitiços e poções. Utilizar esses pontos para criar um olhar diferenciado na Química é uma forma de ultrapassar uma barreira essencial que leva ao aprendizado. O objetivo do projeto foi elaborar aulas de química relacionadas ao mundo mágico. A pesquisa foi aplicada no IFCE – Campus Limoeiro do Norte, no curso de Tecnologia em Alimentos, nas disciplinas de Química Geral e Bioquímica Geral. Observou-se que houve um aumento nas notas da turma de 2017, em relação às turmas anteriores, e também uma redução na taxa de evasão, sugerindo que as aulas ajudaram na compreensão da Química.

Palavras chaves

Ensino; Metodologia; Magia

Introdução

INTRODUÇÃO O conhecimento químico pode ser promovido como um dos meios de interpretar o mundo e intervir na realidade, se for apresentado como Ciência, com seus conceitos, métodos e linguagens próprios, e como construção histórica, relacionada ao desenvolvimento tecnológico e aos muitos aspectos da vida em sociedade. Pretende-se assim que o aluno reconheça e compreenda, de forma integrada e significativa, as transformações químicas que ocorrem nos processos naturais e tecnológicos em diferentes contextos. A contextualização do ensino é fundamental para o estudante, pois é assim que ele se envolverá e comprometerá com o processo educativo (ARAGÃO, 2012). Coelho e Marques (2007) destacam que o número de pesquisas está aumentando, visando aproximar o ensino dos alunos de seu contexto local. Pautados nos pressupostos freireanos de educação, a abordagem de contextos relevantes para os estudantes torna-se essencial para o seu aprendizado. A necessidade de se ensinar e de aprender Química é essencial no contexto atual. Com o aumento das novas tecnologias e a utilização diária de diferentes produtos, cria-se uma dependência desses conhecimentos, principalmente na conjuntura de desenvolvimento social, político, econômico e ambiental dos países (ARAGÃO, 2012). As disciplinas de química são bases para muitas careiras das áreas tecnológicas. É de fundamental importância que o ensino de Química seja relevante ao estudante, isto é, que possa ser relacionado com o seu dia-a- dia, como assuntos que afetam a sua vida e a sociedade em que ele se insere (CHASSOT, 1999). O emprego de atividades lúdicas relacionadas ao conteúdo da disciplina de química aprimora o processo ensino- aprendizagem proporcionando ao aluno uma melhor compreensão dos conhecimentos adquiridos durante a aula. Ela, muitas vezes, tem seus conteúdos demonstrados em aulas práticas que facilitam a compreensão de seus assuntos. A compreensão da química amplia as possibilidades de inserção em cursos superiores de ensino e da melhoria da qualidade profissional do indivíduo (SOARES, 2008). Harry Potter é uma história que está presente no mundo infanto-juvenil por isso conquistou legiões de fãs por todo o mundo. A maneira de escrever da autora, o carisma do protagonista e identificação do leitor com os personagens faz com que essa coleção seja sucesso. É inquestionável que o livro é cheio de referências diretas e indiretas a vários elementos do mundo real, incluindo nessa lista a química, que pode não ser representada com total veracidade nos livros, mas que tem pontos que se assemelham bastante com ela. Apesar de ser uma série de ficção e tratar de temas cercados de magia, ela é uma forma lúdica e divertida de se aprender assuntos diversos, inclusive química (PROPAGAÇÃO, 2016). A inserção da química no mundo de Harry Potter pode ser feita de maneira fácil e natural o que pode ser o canal de comunicação para quebrar a barreira de rejeição de muitos estudantes. As semelhanças encontradas entre esse universo e a Química podem ser a chave para trazer uma melhoria o ensino de química tanto nas escolas quanto nas universidades, objetivando chamar a atenção dos alunos para assuntos relacionados à aprendizagem de Química. OBJETIVOS 1. Objetivo Geral • Desenvolver aulas teóricas de conceitos básicos de Química e Bioquímica, inseridos no mundo de Harry Potter. 2. Objetivos Específicos • Realizar revisão Bibliográfica de conteúdos relacionados ao Tema Harry Potter e destacar passagens ou trechos relacionados a conteúdos de Química e Bioquímica; • Escolher conteúdos de química adequados para a inserção de assuntos de “Harry Potter”; • Identificar os fatores que motivam os alunos a se entusiasmar pela disciplina (química); • Aplicar a contextualização da química nas aulas; • Preparar aulas adaptadas, envolvendo conteúdos de química e o mundo fantástico da magia; • Estimular a leitura de clássicos da literatura internacional; • Incentivar o interesse e rendimento nas disciplinas de Química e Bioquímica; • Divulgar projeto em sites diferenciados.

Material e métodos

Inicialmente foram feitas leituras dos livros da saga e os filmes também foram assistidos. Foram escolhidos alguns temas do universo mágico como Alquimia, Feitiços, Transfiguração e Poções, sendo estes adaptados em aulas práticas de Química. Entre as aulas práticas elaboradas para a disciplina de Química Geral, foram feitas: 1. Foi elaborada uma poção seletora, utilizando um indicador de repolho roxo e várias soluções de pH diferentes, para selecionar os alunos em tribos, que competiram durante o semestre em várias provas, em uma tentativa de tornar o ensino de Química mais divertido, dinâmico e interessante. 2. No final do primeiro livro da saga, os personagens tem que resolver um enigma sobre poções, a fim de continuarem sua jornada. Para as aulas, foram elaborados três enigmas mágicos sobre vidrarias, com o objetivo de fazer os alunos aprenderem mais sobre seus usos, de uma maneira mais agradável. 3. Entre as provas, uma delas foi que os alunos pensassem em reações químicas que lembrassem os feitiços Magnify (ampliar algo), Melting (derreter algo) e Light (criar fogo), sendo necessário que eles fizessem reações que não envolvessem perigo. 4. Continuando com o tema reações químicas, foi pedido aos alunos que pensassem em nomes mágicos como feitiços para algumas reações feitas em sala de aula. Por exemplo, a reação KMnO4 + H2O2 recebeu como sugestão de nome Gasify; a reação CuSO4 + NH4OH recebeu o nome de Blue Sky, entre outras. 5. Para contextualizar a aula prática de preparação de soluções, os alunos elaboraram a Poção Furta-Cor, uma solução que ficava mudando de cor continuamente. O objetivo foi que os alunos aprendessem de forma mais agradável sobre soluções e como prepará- las. Já na disciplina de Bioquímica Geral, foi feita uma competição entre as tribos a Olímpiada de Bioquímica, com uma série de provas, dentre elas: • Maratona de relatórios de aulas práticas; • Ciclismo de velocidade – montagem de aminoácidos; • 100m da natação – o melhor relatório de aula prática; • Ginástica rítmica e artística – preparação de soluções e desenvoltura no laboratório; • Revezamento 4x100m – resolução de questões; • Salto em distância e em altura – diferença entre as notas dos relatórios e das primeiras provas em Química Geral e em Bioquímica Geral (medida de crescimento do estudante). Houve também uma aula prática relacionada à Poção Seletora vista em Química Geral no contexto do estudo de aminoácidos, outra para a confecção de um espelho mágico e a primeira prova de Bioquímica Geral teve várias questões feitas com contexto das aulas mágicas. Para analisar a eficiência do projeto, foi feita, primeiramente, uma comparação em Química Geral, entre as notas da turma de 2017 com as das turmas de 2013 a 2016, através dos cálculos das médias de cada ano; posteriormente, houve uma comparação das médias dos alunos em Geral, sendo utilizadas as turmas de 2015 a 2017. Foi feita uma análise qualitativa através da aplicação de questionários com os alunos.

Resultado e discussão

Em relação à disciplina de Química Geral, os dados calculados de média das cinco turmas podem ser observados no Gráfico 1, sendo a turma 2017 onde foram aplicadas as aulas práticas contextualizadas e outras turmas de anos anteriores da disciplina que não participaram do projeto: Gráfico 1 – Comparação entre as médias das cinco turmas em Química Geral Fonte: Autores. De acordo com os resultados obtidos, observou-se que a média em 2013 era bastante elevada e foi decaindo com o passar dos anos. Isso pode ter acontecido por causa do uso do Enem como forma de ingresso no curso. Antes do Enem, os alunos procuravam os cursos com os quais mais se identificavam, enquanto agora os alunos procuram o curso em que sua nota possibilita a entrada, sem realmente considerar se é esse curso o que ele quer fazer. Isso pode ser mais bem percebido ao se fazer uma simples busca sobre entrar na faculdade no Google: encontram-se inúmeros sites que dizem ajudar o aluno a escolher o curso através da sua nota no Enem, enquanto há alguns anos a pesquisa levaria a sites sobre testes vocacionais, sites que ajudariam o aluno a perceber qual a área que ele teria mais afinidade. Isso acaba levando os alunos a escolherem um curso sobre o qual não sabem quase nada, fazendo com que desistam da faculdade ainda nos primeiros semestres. Esse é um problema que afeta muito o curso de Tecnologia em Alimentos, o que pode ser notado através da queda da média das turmas na disciplina de Química Geral, que é ministrada no primeiro semestre do curso. O projeto objetiva não só melhorar a aprendizagem de Química, mas também fazer com que os alunos conheçam mais sobre o curso que escolheram e se interessem mais por ele, já que a Química é uma das bases do curso e um conhecimento que eles vão utilizar ao longo de todos os próximos semestres. Portanto, é importante notar que houve um aumento na média da turma de 2017, onde o projeto foi aplicado, mostrando que as aulas realmente foram eficientes. Um dos grandes problemas do curso de Tecnologia em Alimentos é o alto índice de evasão, ilustrado no Gráfico 2. Essa evasão acontece principalmente na passagem do primeiro para o segundo semestre, onde ou muitos alunos desistem trocam para outro curso. É possível perceber a gravidade do problema no gráfico ao observar-se que em 2015 e 2016 quase metade dos alunos que iniciaram o curso se evadiram. Por isso, o projeto não só objetivava uma melhora no desempenho em Química dos alunos, mas sim motivar os alunos a permanecerem no curso. Pode-se ver que o projeto foi bem sucedido nisso, pois em 2017 a evasão caiu drasticamente, sendo que só 9 alunos evadiram. É interessante ressaltar que os alunos que não desistem durante o primeiro semestre e avançam ao segundo geralmente são alunos que permanecem no curso até o fim, então se pode esperar que desses 32 alunos da turma de 2017, a grande maioria se forme em Tecnologia de Alimentos. Gráfico 2 – Fluxo dos alunos em relação à evasão (IFCE, 2018) Em relação à disciplina de Bioquímica Geral, os dados calculados de média das três turmas foram: 2015 = 6.8, 2016 = 6.9 e 2017 = 7.5, sendo a turma 2017 onde foi feita a Olímpiada de Bioquímica e foram também aplicadas algumas aulas práticas contextualizadas e outras duas turmas de anos anteriores da disciplina que não participaram do projeto. De acordo com os resultados obtidos, observou-se que a média em 2017 aumentou bastante em relação aos anos anteriores. Isso pode ter acontecido por causa da utilização de novas metodologias de ensino, no caso, a aplicação de uma Olímpiada aliada a aulas práticas contextualizadas, que buscaram despertar o interesse dos alunos e aumentar sua participação nas aulas. Portanto, é importante notar que houve um aumento na média da turma de 2017, onde o projeto foi aplicado, mostrando que as aulas realmente foram eficientes. Também para analisar a eficácia do projeto, foram aplicados questionários para saber a opinião dos alunos, sendo estes respondidos por uma amostra de 25 alunos. Uma das perguntas presentes no questionário foi sobre o que os alunos acharam da ideia de aulas de química relacionadas ao universo de Harry Potter, sendo os resultados: 8% = regular, 36% = boa, 20% = ótima e 36% = excelente. Outra pergunta do questionário foi sobre se os alunos acharam que as aulas mágicas os ajudaram na melhor compreensão do conteúdo de química, sendo os resultados: 32% = sim, ajudaram muito; 60% = sim, ajudaram um pouco e 8% = sem opinião. De acordo com os resultados observados, pode-se notar que os alunos aceitaram bem as aulas relacionadas com Harry Potter, sendo que 92% consideraram a ideia do projeto entre boa, ótima e excelente; e também 92% disseram que as aulas ajudaram na compreensão do ensino de Química (a resposta “não ajudaram” não foi citada por nenhum dos participantes da pesquisa). Somado aos dados do gráfico 1 que indicaram um aumento na média da turma, pode-se concluir que as aulas ministradas com conteúdos relacionados ao universo de Harry Potter contribuíram significativamente para a melhoria no desempenho dos alunos na disciplina de Química Geral.

Gráfico 1

Comparação entre as médias das cinco turmas em Química Geral

Gráfico 2

Fluxo dos alunos em relação à evasão

Conclusões

Através desse projeto, pode-se notar que a realização de aulas de Química com associação a conceitos do universo de Harry Potter possibilitou um aumento na média das notas dos alunos, além de agradarem aos alunos, que consideraram que o projeto ajudou-os na aprendizagem da disciplina, demonstrando assim a importância do uso de novas metodologias no ensino da Química. O projeto também promoveu a redução da taxa de evasão na turma onde foi aplicado, sendo isso extremamente importante, pois esse é um dos principais problemas enfrentados pelo curso.

Agradecimentos

À J. K. Rowling, por ter criado esse universo mágico e incrível, e à Professora Renata Chastinet, por ter me dado a oportunidade de participar desse projeto. Ao I

Referências

ARAGÃO, A. S. O Ensino de Química para Alunos Cegos: Possibilidades e Desafios a Partir da Pedagogia Histórico-Crítica. XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas – Livro 3, 2012.
CHASSOT, A.I. A educação no ensino de química. Ijuí: Editora da Unijuí, 1999.

COELHO, J. C.; MARQUES, C. A. Contribuições freireanas para a contextualização no ensino de Química. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v 9, n. 1, p. 59-75, 2007. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1983-21172007090105>. Acesso em: 03 mar. 2017.
IFCE em Números. Disponível em: <http://ifceemnumeros.ifce.edu.br/>. Acesso em: 12 mar. 2018.
PROPAGAÇÃO Química. Harry Potter: Bruxo ou Químico? Disponível em: <http://propagacaoquimica.blogspot.com.br/2014/05/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html>. Acesso em: 30 nov. 2016.
SOARES, M. H. F. B. Jogos e atividades lúdicas no ensino de química: teoria, métodos e aplicações. Em: Departamento de química da UFPR (Org), Anais, XIV Encontro Nacional de Ensino de Química, 2008.