Autores
de Albuquerque, D.N.M.O. (UERR) ; Ferreira, M.N. (UERR) ; Teles, V.L.G. (UERR) ; Jacobina, E.S. (UERR) ; Rizzatti, I.M. (UERR) ; de Lima, R.C.P. (UERR)
Resumo
A contextualização dos conteúdos de química abordados em sala de aula com o cotidiano é um dos principais desafios no ensino de química. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi desenvolver uma pedagogia problematizadora da química do ferro para alunos do 1º ano do ensino médio da modalidade EJA. As etapas envolveram a aplicação de um questionário para levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos, realização de experimentos, leitura e discussão de um texto e por último, aplicação de um outro questionário a fim de avaliar a relação dos conhecimentos prévios com os adquiridos. Os resultados mostraram características de aprendizagem significativa, uma vez que despertou o interesse dos alunos para as explicações, hipóteses e argumentações sobre o elemento ferro no cotidiano.
Palavras chaves
ensino de química; resolução de problemas; EJA
Introdução
A Química faz parte da grade curricular da Educação de Jovens e Adultos (EJA), sendo de grande importância na formação do caráter sócio educacional do educando. Dentro desta modalidade de ensino, o professor deve, durante as aulas, valorizar a experiência de vida do aluno, estimulando-o a expor suas ideias e a refletir sobre as situações-problema da sociedade (NASCIMENTO, 2012). Porém, muitas vezes, o ensino da química ocorre de forma descontextualizada e não interdisciplinar (NUNES e ADORNI, 2010), promovendo o desinteresse dos alunos pelos conceitos abordados em sala de aula, pois estes não conseguem compreender a importância da química no seu dia a dia. Logo, o aprendizado da Química depende do interesse, empenho e a utilização de recursos pedagógicos adequados e atuais pelo professor. Ao professor, cabe planejar o ensino de forma a estimular o aluno a pensar e a superar dificuldades, enquanto o aluno deve ter interesse em apreender (NOVAIS, 1999). No ensino de Química para a EJA, a experimentação problematizadora pode ser uma estratégia eficiente para a aprendizagem, pois favorece a compreensão dos conceitos, em que a postura do professor durante as discussões, em cada momento pedagógico, deve ser de um mediador do conhecimento, em que irá mostrar o caminho e não fornecer informações prontas (DELIZOICOV ; ANGOTTI , 1990). A experimentação problematizadora é caracterizada por três momentos pedagógicos para a problematização inicial, organização do conhecimento e sistematização do conhecimento. O primeiro momento, segundo e terceiro momentos se propõem, respectivamente, a apresentar questões que podem ser discutidas com os discentes, a promover os conhecimentos necessários para a compreensão do tema e da problematização inicial e a aplicar os conceitos adquiridos (DELIZOICOV ; ANGOTTI , 1990). Ao considerar que o ferro é um dos elementos encontrados em grande proporção na crosta terrestre, sendo o metal mais produzido e presente no nosso meio de vida (VAITSMAN; AFONSO; DUTRA, 2001), o objetivo deste trabalho foi desenvolver uma proposta de experimentação problematizadora no estudo da química do ferro a fim de somar para a aprendizagem no ensino de química.
Material e métodos
A pesquisa foi realizada com 75 estudantes de três turmas distintas do 2º ano da EJA de uma escola pública do município de Boa Vista/RR, sendo 26, 24 e 25 alunos da Turma 1, Turma 2 e Turma 3, respectivamente. Como instrumentos para coleta de dados foram elaborados um pré-questionário contendo 5 questões abertas e objetivas, um roteiro experimental com perguntas associadas aos procedimentos realizados e um pós-questionário para avaliação dos conhecimentos adquiridos e da metodologia adotada. O roteiro experimental foi elaborado mediante adaptação de experimentos envolvendo a corrosão (FOGAÇA, 2016), ferrofluido (THENÓRIO, 2016) e ferro no cereal (THENÓRIO, 2015). O roteiro experimental foi baseado numa proposta de experimentação investigativa, de modo a permitir ao estudante o levantamento de hipóteses e correlação com seus conhecimentos prévios. Para o desenvolvimento da proposta experimental foram utilizados materiais de baixo custo, simples e reutilizados (limalha de ferro, ímã de neodímio, frascos de amostras de perfumes). A limalha de ferro foi encontrada em serralheria e o ímã de neodímio foi extraído de um HD de computador. Os demais materiais utilizados, por proposta experimental, foram placa de vidro 12 x 12 cm, óleo de cozinha, 07 copos plásticos descartáveis transparentes, 07 pregos, 1 fio de cobre 08 cm, 07 barbantes 10 cm, solução aquosa de sal, água de torneira, vinagre, óleo, detergente, cereal processado em liquidificador na proporção de 1 xícara de cereal para 02 copos de água morna, 1 saco plástico hermético 17 x 16 cm. Na intervenção didática foram abordados três momentos pedagógicos de 50 minutos cada. No primeiro momento foi realizada uma problematização inicial: ¨Por que o Ferro é importante no nosso dia a dia? ¨. Solicitou-se que cada estudante respondesse um questionário e expressasse sua opinião em relação às questões. Em seguida, essas questões e outras perguntas feitas pelos próprios alunos foram discutidas em aula, a fim de problematizar e realizar um levantamento das concepções em relação à química do Ferro. No segundo momento pedagógico foi realizada a Organização do Conhecimento. Para a aplicação do experimento, as turmas foram divididas em 4 grupos. Após cada experimento, os alunos responderam questões sobre suas observações. No terceiro momento pedagógico para sistematização do conhecimento, foi sugerida a leitura do texto “Ferro” (MEDEIROS, 2010) e após, foram realizadas reflexões, discussão e aplicação do pós-questionário.
Resultado e discussão
Na 1º pergunta do pré-questionário “Qual a primeira coisa que vem à sua mente
quando
você pensa no elemento químico ferro?”, mais de 55% dos alunos das turmas
deixaram
esta questão sem resposta. De modo geral, os alunos associaram à tabela
periódica,
massa, número atômico, metal, elemento sólido e oxidação do ferro. Importante
ressaltar que 10% dos alunos da Turma 1 associaram a ideia de ferro à
substância,
demonstrando confusão de conceitos químicos.
Para a segunda pergunta do pré-questionário “Quais são as aplicações do ferro
no seu
dia a dia?”, 35%, 25% e 60% das turma 1, 2 e 3 não responderam à pergunta, o
que
pode estar relacionado ao não entendimento ou falta de interesse em responder à
questão. As frequência das respostas em todas as turmas apontaram para
associação à
equipamentos do trabalho, saúde, remédios e alimentação.
Na terceira pergunta do pré-questionário “Cite três objetos presentes no seu
cotidiano que são constituídos de ferro ou ligas metálicas que contém ferro”,
23%
das Turmas 2 e 3 não sabiam ou não quiseram responder a pergunta. As respostas
apontaram utensílios domésticos, eletrodomésticos, transporte e
eletroeletrônicos,
demonstrando que o aluno conguem perceber a presença de ferro em seu dia a dia.
Na quarta pergunta do pré-questionário “Existe relação entre o ferro contido
nos
alimentos e o ferro nos objetos apontados anteriormente?”, 36%, 37% e 35% dos
alunos
das Turmas 1, 2 e 3, respectivamente, responderam que há relação do Ferro nos
alimentos com os objetos empregados no dia a dia. Isto pode estar relacionado
ao
ensino de química eficaz no que tange ao reconhecimento do elemento ferro
presente
em diferentes formas, pois o ferro encontrado nos alimentos é o mesmo elemento
presente na ferrugem e objetos, porém em estados químicos e combinações.
Contudo,
mais de 28% dos alunos de todas as turmas acreditam que não há relação do
elemento
ferro dos alimentos com objetos do dia a dia.
Na 5ª pergunta do pré-questionário “Qual doença está associada à falta de ferro
no
organismo?”, mais de 52% dos alunos conseguiram associar a falta de ferro à
anemia.
Os demais alunos associaram à zica, hepatite e beribéri ou não responderam à
questão
(3%, 15% das turmas 2 e 3).
Após a aplicação do questionário, iniciou-se a problematização inicial
perguntando
aos alunos “Por que o Ferro é importante no nosso dia a dia?”. Os grupos
relacionaram a importância com a saúde e nutrição e também com materiais
utilitários
tais como: cadeira, mesa, ventilador, carro e pregos. A seguir, algumas
respostas
dos alunos (A) das turmas 1, 2 e 3.
“Não tem como viver sem ferro” (G1 - Turma 1);
“Ferro causa a anemia” (G2 - Turma 1);
“Os bebês precisam de ferro” (G1 - Turma 2);
“Nós vivemos em volta do ferro” (G2 - Turma 2);
“O ferro causa anemia” (G2 - Turma 3);
“O bebê e a mãe precisam de ferro, sendo na gestação” (G2 - Turma 3).
A partir das respostas dos grupos de alunos G2 - Turma 1 e G2 - Turma 3,
percebeu-se
confusão em relação aos conceitos, pois a falta de ferro no organismo humano é
que
causa anemia. Logo, como problematização, os Grupos foram questionados à
reflexão.
No segundo momento foi realizado o procedimento experimental com intuito de
organizar o conhecimento dos alunos com base nos conhecimentos prévios. Foram
realizados três experimentos, sendo o primeiro sobre a corrosão do ferro,
segundo
sobre ferrofluido e o terceiro sobre ferro nos cereais.
No experimento 1 foi realizada uma estratégia para analisar a corrosão do ferro
em
diferentes meios. Na turma 1 e 2 foram formados 4 grupos e na turma 3 foram 3
grupos. Assim, como estratégia de experimentação foram realizadas combinações
do
prego em diferentes meios propostos pelos próprios alunos. As combinações
realizadas
pelos grupos foram diversas, onde percebeu-se que 100% dos alunos empregaram um
método a fim de explicar as observações após o sistema permanecer em repouso
por
sete dias. Importante ressaltar que os grupos tiveram combinações diferentes
quanto
à ordem das substâncias. Logo, com os resultados os alunos conseguiram
absorver os
conhecimentos sobre a influência do meio na corrosão do prego.
Desta forma, obteve-se uma variedade de resultados e estas combinações
diferentes
tiveram um papel importante na aula, pois com base nela obteve-se uma discussão
proveitosa a respeito do experimento, com várias dúvidas e argumentações a
respeito
do que foi observado.
Na primeira pergunta complementar ao experimento “Você acha que a corrosão do
prego
é influenciada pelo meio em que está inserido?”, todos os grupos afirmaram que
sim.
Na segunda pergunta complementar ao experimento “Por que a esponja de lã de aço
usada na cozinha enferruja após permanecer horas sobre a pia? E se esponja for
encoberta por sabão?”, 100% dos alunos da Turma 1 e mais de 85% das demais
turmas
responderam que a esponja de lã de aço enferruja se ficar exposta ao ar sobre a
pia.
Quanto à questão de encobrir a esponja com sabão a maioria dos alunos respondeu
que
não enferruja.
Na terceira pergunta associada ao experimento da corrosão do ferro “Como
proteger
portões, janelas e outros objetos da corrosão?”, todos os grupos das diferentes
turmas apontaram diferentes formas para proteção de objetos da corrosão, tais
como:
detergente, zarcão e galvanização.
Após responderem a estas questões, foi realizado o segundo experimento sobre
ferrofluido, onde um aluno de cada turma preparou o experimento e deu amostra
para
cada grupo colocar em um frasco pequeno e observar os efeitos do imã de
neodímio.
Na 1ª pergunta do experimento 2 “Qual a propriedade pode ser observada no
ferrofluido?”, 25% dos alunos associaram à magnetização, estado líquido ou
sólido e
ferro.
Assim, após o experimento foi explicado aos alunos onde pode ser encontrado o
ferrofluido e suas aplicações. Em seguida, foi realizado o terceiro experimento
sobre ferro no cereal.
Na pergunta associada ao experimento em questão, todos os grupos citaram
exemplos de
alimentos que devem fazer parte da sua dieta como fontes de ferro, tais como:
feijão, couve, beterraba etc.
No terceiro momento foi feita a leitura do texto “Ferro” (MEDEIROS, 2010) com o
intuito de promover uma discussão sobre o elemento químico ferro, a fim de
permitir
uma reflexão dos alunos para sistematização do conhecimento.
Logo após a leitura do texto, foi perguntado aos alunos a origem do ferro. Os
alunos
apresentaram várias respostas e dúvidas.
Este momento pedagógico permitiu o esclarecimento de dúvidas e a correlação dos
conhecimentos já existentes com os adquiridos nesta proposta de experimentação
problematizadora da química do ferro. Após as discussões para a sistematização
do
conhecimento do ferro, foi aplicado o pós-questionário.
As respostas relativas à 1ª pergunta do pós- questionário “Por que o ferro é
importante no nosso dia a dia?”, os alunos responderam de forma mais clara e
precisa, como pode ser observado nos relatos seguintes:
“Porque o ferro está em todo lugar como na comida, nos objetos, no nosso
corpo.”
“O ferro está nos alimentos.”
“Precisamos de ferro no nosso organismo.”
Na 2ª pergunta do pós- questionário “De de 0 a 10, qual sua nota em relação à
metodologia utilizada?”, mais de 88% dos alunos das Turmas 1 e 2 e 60% da Turma
3,
avaliaram a metodologia acima de 9, o que demonstra a satisfação dos alunos.
As reflexões, experimentos e discussões promovidas durante todo o processo da
pedagogia problematizadora no estudo da Química do ferro, promoveram a
compreensão
do assunto de forma contextualizada, a interação entre docente-aluno e aluno-
aluno,
bem como a valorização da escrita e da fala na perspectiva da aprendizagem
significativa.
Combinação de substâncias (água, vinagre, sal, detergente e/ou óleo) dos alunos da Turma de uma escola pública de Boa Vista para observar a corrosão.
Alunos da Turma 1 de uma escola pública de Boa Vista/RR realizando o experimento da identificação do ferro no cereal processado.
Conclusões
A experimentação problematizadora no estudo da química do ferro na modalidade de ensino de Educação de Jovens e Adultos é uma boa proposta para os docentes e alunos, pois promove o resgate e valorização dos conhecimentos, interação entre aluno-aluno e aluno- professor, bem como a interpretação de situações cotidianas, contribuindo para um ensino voltado para o desenvolvimento pessoal e social dos alunos.
Agradecimentos
À CAPES pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).
Referências
DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. Metodologia do ensino de ciência. São Paulo: Cortez, 1990.
FOGAÇA, J. Corrosão do ferro. Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/corrosao-ferro.htm> Acesso em: 20 fev. 2016.
MEDEIROS, M. A. Ferro. Química nova na escola, 2010. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc32_3/11-EQ-6809.pdf> Acesso em: 20 out. 2015.
NASCIMENTO, Rosimar Luca do. O Ensino de Química na Modalidade EDUCAÇÃO DE JOVENS E Adultos e o cotidiano como estratégia de ensino / aprendizagem. Disponível em: < <http://www.nead.fgf.edu.br/novo/material/monografias_quimica/ROSIMAR_LUCA_DO_NASCIMENTO.pdf. Acesso em: 03 Jan. 2016.
NOVAIS, V. L. Química: Estrutura da matéria e Química Orgânica. São Paulo: Atual, 1999.
NUNES, A. S.; ADORNI, D.S. O ensino de química nas escolas da rede pública de ensino fundamental e médio do município de Itapetinga-BA: O olhar dos alunos. In: Encontro Dialógico Transdisciplinar - Enditrans, 2010, Vitória da Conquista, BA. -Educação e conhecimento científico, 2010.
THENÓRIO, I. Como fazer o Ferrofluido caseiro. Disponível em:
<http://www.manualdomundo.com.br/2012/10/como-fazer-ferrofluido-caseiro/>. Acesso em: 20 jan. 2016.
THENÓRIO, I. Como ver o Cereal Matinal de Ferro. Disponível em: <http://www.manualdomundo.com.br/2011/10/cereal-matinal-de-ferro/>Acesso em: 20 out. 2015.
Vaitsman, D. S.; Afonso, J. C.; Dutra, P. B.; Para que Servem os Elementos Químicos, Ed. Interciência: Rio de Janeiro, 2001.