Autores

Lima, A.V. (UEA) ; Andrade, L.G. (UEA) ; Glória, A.S. (UEA) ; Lima, P.V. (UEA) ; Santos, R.S.O. (UEA) ; Machado, A.J. (SEDUC-AM) ; Eleutério, C.M.S. (UEA)

Resumo

Esta experiência foi realizada na Escola Estadual Dom Gino Malvestio onde foram envolvidos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), professores e alunos do 3º Ano do Ensino Médio. A intenção dos pibidianos era contextualizar a função álcool, conteúdo que já havia sido apresentado aos alunos pela professora regente. Foram utilizados resíduos de mandioca (Manihot esculenta Crantz); água e levedura biológica e construído um condensador caseiro para destilar o álcool produzido no processo fermentativo. Os resultados obtidos foram satisfatórios e possibilitaram o diálogo entre a teoria e a prática mostrando que os alunos compreendem melhor os conteúdos de química se o professor utilizar a experimentação como estratégia de ensino e aprendizagem.

Palavras chaves

Experimentação; Função Álcool; Mandioca

Introdução

A região Amazônia considerada a maior floresta tropical do mundo, apresenta uma diversidade de vegetais dentre eles a Manihot esculenta Crantz, conhecida como mandioca brava. Esta espécie de raiz tuberosa pertence à família Euphorbiacea, é uma das culturas de maior importância socioeconômica no Brasil (CENÓZ, BURGOZ, LÓPES, 2007). Antes do descobrimento do Brasil, os nativos se alimentavam da mandioca, e, no período colonial, além dos escravos os portugueses, em longas viagens, também utilizavam a farinha de mandioca como suprimento alimentar (MAZZEU, DEMARCO, KALIL, 2007). Sua produção se inicia com o plantio das manivas e depois do tubérculo maduro, inicia-se o processo de colheita, transporte, higienização, descasque, trituração, prensagem, peneiração e torração da massa. A massa da mandioca não pode ser ingerida in natura, pois, possui característica cianogênica (ácido anídrico). De acordo com Eleutério (2015) os glicosídeos cinanogênicos (linamarina e lotaustralina) sob a ação de ácidos ou enzimas, sofrem hidrólise e liberam acetona, glicose e ácido cianídrico (HCN). A solução amarela resultante do processo de prensagem da massa de mandioca é conhecida como tucupi, apresenta pH aproximado de 3 a 4,5 o que lhe classifica como um alimento de alta acidez (CHISTÉ, COHEN, OLIVEIRA, 2007). Nessa solução além do cianeto é possível encontrar teores altos de álcool. Essa última característica estimulou professores e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) a produzirem etanol utilizando resíduos de mandioca (Manihot esculenta Crantz) para abordar a função álcool nas aulas de química no Ensino Médio.

Material e métodos

Esta experiência foi desenvolvida na Escola Estadual Dom Gino Malvestio e envolveu 5 acadêmicos do Curso de Química pertencente ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID); 1 Professor Supervisor pertencente ao quadro funcional da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino (SEDUC-AM) lotado na escola campo de iniciação à docência e 1 Professor Coordenador do Programa pertencente à Universidade do Estado do Amazonas (UEA) no município de Parintins-AM. O público alvo foram 30 alunos do 3º Ano do Ensino Médio e o conteúdo abordado foi a função álcool. Antes de iniciar e experiência na escola foi aplicado um questionário para verificar o conhecimento dos alunos em relação a função álcool pois, este conteúdo já havia sido abordado nas aulas de Química pela professora regente. De posse dos resultados, acadêmicos e professores realizaram a experiência. Para isso, utilizaram 500g de resíduos de mandioca (Manihot esculenta Crantz) picados e higienizados; 1 litro de água e 15g de levedura biológica (Saccharomyces cerevisiae) que depois de misturada e homogeneizada foi armazenada em uma garrafa de politereftalato de etileno (PET) por 1 semana (processo fermentativo). Após esse processo a amostra foi colocada num alambique (condensador caseiro) constituído de uma serpentina de cobre, cubos de gelo e uma caixa de isopor conectada a uma panela de pressão. O álcool foi destilado a uma temperatura de 200ºC aproximadamente e armazenado em um balão de fundo chato devidamente fechado. Após este processo foi aplicado um segundo questionário aos alunos para verificar se a experiência tinha sido significativa e se havia ampliado os conhecimentos em relação à função estudada.

Resultado e discussão

Os resultados do questionário 1 demonstraram que dos 30 alunos investigados, 28 (95%) alunos já haviam assistido as aulas sobre a função álcool mas, apenas 12 (40%) alunos compreenderam o conteúdo e 18 (60%) não conseguiram entender o que foi ensinado pela professora regente em sala de aula. Foi observado que os alunos que disseram não compreender o conteúdo, eram aqueles que não participavam das aulas, não copiavam o conteúdo, não resolviam os exercicios propostos pelo professor, portanto, a aprendizagem não poderia ser satisfatória. Ainda a respeito da compreensão do conteúdo os resultados mostraram que alguns alunos não conseguiam identificar na formula estrutural o grupo que representa a função álcool. Foi observado também que 20 (65%) alunos não conseguiam relacionar o conteúdo estudado ao seu dia-a-dia. Apenas 10 (35%) alunos disseram que a função álcool estava relacionada às bebidas alcoólicas. Após a realização da experiência (atividade prática) foi aplicado o questionário 2 e os resultados obtidos foram: 28 (95%) alunos mostraram interesse em participar do experimento; indagaram sobre o processo de destilação do álcool; perguntaram se esse álcool destilado é o mesmo vendido em drogarias e supermercados ou misturado à gasolina. Para verificar se os alunos já conseguiam identificar o grupo funcional nas fórmulas estruturais e dar nomes aos compostos foi aplicado um exercício de aprendizagem. O resultado foi satisfatório, pois 28 (95%) alunos conseguiram responder as questões do exercício, embora tenham solicitado ajuda aos pibidianos. De modo geral a experiência mostrou que quando o professor associa a teoria à pratica a Química parece ser mais atrativa, os alunos compreendem melhor os conteúdos e a aprendizagem é mais significativa.

Conclusões

A experiência mostrou a importância de vincular o conteúdo teórico às atividades práticas e, sobretudo, referenciar o contexto do aluno, pois, não se concebe mais que as aulas de químicas sejam ministradas como antigamente onde o instrumento didático era o cuspe e o giz. Dos alunos exigia-se a memorização dos conteúdos repassados sem devida contextualização. Hoje, os conhecimentos ensinados devem permitir a construção de uma nova visão de mundo. Para isso, é necessário que estes estejam articulados a outras temáticas com ao intuito de minimizar a fragmentação dos conteúdos.

Agradecimentos

Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID); À Escola Estadual Dom Gino Malvestio; À Coordenação do Curso de Licenciatura em Química.

Referências

CENÓZ, P. J.; BURGOS, A. M.; LÓPEZ, A. E. Factores ambientales que afectan la calidad de raíces en mandioca (Manihot esculenta Crantz). Horticultura Argentina, v.26, p.5-9, 2007.
CHISTÉ, R. C.; COHEN, K. de O.; OLIVEIRA, S. S. Estudo das propriedades físico-químicas do tucupi. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 27(3): 437-440, jul.-set. 2007.
ELEUTÉRIO, C. M. S. O Diálogo entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a formação Inicial de Professores de Química na Amazônia. Tese (Doutorado) - Academia Federal de Mato Grosso, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Cuiabá, 2015.
MAZZEU, F. J. C.; DEMARCO, D. J.; KALIL, L. (Coords). Casa de Farinha. In: Cultura e Trabalho. Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD/MEC. Ministério da Agricultura. Brasília/DF, 2007. Coleção Cadernos de EJA.