Autores

Cleophas, M.G. (UNILA)

Resumo

Este artigo apresenta parte de uma pesquisa realizada com 35 estudantes de um Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, localizada no nordeste do Brasil, acerca da apropriação destes indivíduos sobre o uso das TICs, em especial o m-learning (mobile learning), como estratégia de aprendizagem em Química. A pesquisa é de natureza qualitativa e os dados revelam que os discentes não sabem explorar corretamente os benefícios que a aprendizagem móvel pode agregar a sua aprendizagem. Também foram demonstrados desconhecimentos acerca de aplicativos que possam contribuir com o aprendizado em Química, mostrando assim, que o campo de pesquisa sobre o m-learning para a Química é, sem dúvida, uma grande seara.

Palavras chaves

TIC; Dispositivos móveis; Estratégias de aprendizag

Introdução

As possibilidades de formar professores e futuros formadores por meio das facilidades que as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) oferecem são promissoras (COLL et al., 2010). Contudo, a inserção das TICs no ambiente escolar é recheada de desafios físicos e humanísticos. Assim, vários empecilhos físicos, tais como a precariedade ou ausência das tecnologias, a falta de conectividade com a internet, etc., além dos problemas atrelados à formação continuada dos professores (visto que, muitas vezes, a depender do local, tal formação não existe), são fatores que corroboram a não utilização das TICs pelos professores. Estamos certos de que o maior desafio de uma escola é acompanhar as mudanças que estão permeando de forma célere as vidas das pessoas, em especial as dos alunos. No que se refere ao m-learning, Keskin e Metcalf (2011) afirmam que a aprendizagem móvel representa um campo de estudo multidisciplinar altamente popular em todo o mundo, pois tem atraído muita atenção dos pesquisadores em diferentes disciplinas que perceberam o potencial da aplicabilidade das tecnologias móveis para o processo de ensino e aprendizagem. Alguns estudos têm investigado o uso de aprendizagem móvel como uma técnica de ensino complementar para reduzir tempo e restrições de localização dentro do ambiente formal de aprendizagem (MOTIWALLA, 2007; HUANG et al., 2009). O rápido desenvolvimento para a implantação de tecnologia móvel no âmbito escolar oferece aos alunos novas oportunidades para aumentar engajamento, motivação e aprendizagem (AHMED e PARSONS, 2013). Seppälä e Alamäki (2003) defendem que a característica central da aprendizagem móvel permite aos alunos estar no lugar certo e na hora certa, ou seja, estar onde eles são capazes de experimentar a autêntica alegria de aprender. O que se pretende com o uso dos dispositivos móveis no contexto educacional é educar os indivíduos não apenas para pesquisar e utilizar uma variedade de informações, mas também para criar novos elementos valiosos que possam ser usados para a solução de problemas que estejam ligados à vida social destes indivíduos (JAMEE e WONGYU, 2013), e, nesta perspectiva, o uso destes dispositivos tem muito a ser explorado. Como o m-learning está se desenvolvendo rapidamente, ramificações sobre a sua usabilidade estão sendo criadas (BERGE e MUILENBURG, 2013) e certamente, cada vez mais, teremos novas estratégias didáticas pautadas no uso das TICs no universo escolar ou acadêmico. Toda essa evolução visa aumentar a flexibilidade e a sensação de liberdade em aprender. Marçal et al. (2005) defendem o uso de dispositivos móveis na educação, citando seus principais objetivos: 1. Melhorar os recursos para o aprendizado; 2. Prover acesso aos conteúdos em qualquer lugar e a qualquer momento; 3. Aumentar as possibilidades de acesso aos conteúdos, incrementando e incentivando a utilização dos serviços providos pela instituição de ensino; 4. Expandir as estratégias de aprendizado disponíveis, por meio de novas tecnologias que dão suporte tanto à aprendizagem formal coma à informal; 5. Fornecer meios para o desenvolvimento de métodos inovadores de ensino, utilizando os recursos de computação e mobilidade. Mediante as possibilidades apresentadas pelo m-learning, é possível perceber que inúmeras estratégias didáticas podem ser utilizadas por professores e alunos, visando fornecer uma nova maneira de dinamizar o ensino tradicionalista, além de favorecer a inclusão tecnológica de maneira proveitosa para fins didático-pedagógicos. Desta forma, sabemos que as tecnologias móveis estão revolucionando a educação ao transformarem a sala de aula convencional, ao inserir aplicações interativas que têm o potencial de melhorar as experiências de aprendizagem dos alunos (SCORNAVACCA et al., 2009). Vale frisar que a implantação das tecnologias móveis no contexto escolar tende a favorecer não apenas contribuições perante a melhoria do aprendizado dos alunos, mas também pela capacidade inovadora e desafiante diante da práxis docente. Este trabalho tem como objetivo responder à seguinte questão de investigação: Como se processa a apropriação das TIC, em especial, do m- learning, enquanto estratégia de de aprendizagem perante a apropriação de conceitos específicos da Química? Os objetivos que nortearam esta investigação foram os seguintes: • Investigar quais ferramentas tecnológicas são mais utilizadas por um grupo de estudantes de um curso de Licenciatura em Ciências da Natureza em seu cotidiano; • Levantar informações acerca das características dos aplicativos utilizados por estes estudantes.

Material e métodos

Este artigo segue uma abordagem qualitativa, consistindo de um estudo de caso (Yin, 2014). Neste sentido, visando cumprir os objetivos propostos, foi realizada uma investigação com um grupo de 35 alunos de um curso de licenciatura em Ciências da Natureza, a qual tinha como meta, compreender a relação destes sujeitos com o uso das TICs. Para a coleta de dados, utilizamos questionários estruturados que continham questões de natureza aberta e fechada.

Resultado e discussão

Dos 35 discentes questionados sobre os tipos de ferramentas tecnológicas que tinham à sua disposição, apenas 2,86% (01) afirmaram possuir tablet e 100% (35) possuem celulares, sendo que 80% (28) utilizam celular do tipo smartphone e 20% (07) utilizam celulares comuns, sem sistema operacional. Em relação ao notebook, 62,86% (22) afirmaram possuir este tipo de equipamento, e os demais, ou seja, 37,14% (13), afirmaram não ter disponibilidade. Quando questionados sobre os tipos de aplicativos que estes discentes utilizam, 82,86% (29) responderam afirmando utilizar aplicativos para vários fins, tal como exibido no Gráfico 1. Vale salientar que os discentes podiam responder a mais de um item do questionário; devido a isto, os dados ultrapassam o percentual de 100%. Os dados, revelados por meio do Gráfico 1, mostram que, destes discentes, 3,44% (01) não sabem explorar os aplicativos para fins educativos, pois, segundo Cleophas et al. (2014), é possível ampliar possibilidades de aplicação de novas formas de aprendizagem, incorporando situações que amenizem a monotonia que está arraigada no processo tradicional de ensino, mas, para isso, é necessário que professores e alunos trabalhem juntos, para superar o “desconhecimento” das vantagens que o uso dos dispositivos móveis pode fornecer para os processos de ensino e aprendizagem. Observamos também que 58,62% (17) dos discentes estão integrados a redes sociais. De acordo com Zancanaro (2012), as redes sociais são uma forma de sociabilidade entre os indivíduos de diferentes culturas e de democratização da informação, podendo essas comunidades serem usadas como instrumento de desenvolvimento e aprimoramento, promovendo grandes mudanças no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, não esmiuçamos nesta pesquisa detalhes que averiguassem especificidades sobre o uso destas redes sociais pelos discentes entrevistados. Em relação ao uso dos jogos em aplicativos, 27,58% (08) afirmaram utilizar. Isto mostra que as TICs possuem diversas similaridades com o lúdico (CLEOPHAS, 2015), promovendo prazer, diversão, etc. Contudo, estes discentes não explicitaram o tipo de jogo de que fazem uso. Todavia, este dado estabelece possibilidades para que jogos educativos sobre Química sejam explorados por estes discentes, precisando apenas que estes sejam orientados adequadamente, pois, “para compreender o fascínio dos jogos eletrônicos e os espaços nos quais trocam e intercambiam saberes é necessário explorá-los” (ALVES, 2005, p. 21). Finalmente, 10,34% (03) dos discentes asseguraram fazer uso de aplicativos com fins diversos.

Gráfico 1

Gráfico 1: Tipos de aplicativos mais utilizados pelos discentes.

Conclusões

Esta pesquisa nos mostra que, em relação ao universo amostral desta pesquisa (35 estudantes de um Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza), a apropriação das TICs, em especial do m-learning, como aporte para a promoção de aprendizagens em Química, é deficitária. Os dados mostram que grupo de estudantes ainda não sabe explorar corretamente os benefícios que as estratégias pautadas no uso do m-learning podem contribuir para sua aprendizagem. No entanto, este mesmo grupo, demonstrou interesse em ampliar habilidades e competências em relação ao manuseio destas ferramentas tecnológicas, reconhecendo assim, que os dispositivos móveis apresentam potencial para complementar as práticas pedagógicas, facilitando deste modo, o processo de ensino e aprendizagem da Química. Neste contexto, que se torna extremamente importante que os estudantes de Ciências da Natureza (futuros professores) aprendam a utilizar os dispositivos móveis, de modo a dinamizar metodologias que vem sendo empregadas nas escolas, tanto no contexto da sala de aula, quanto fora dela. Contudo, é preciso que os cursos de formação de professores promovam atividades e ações que utilizem os dispositivos móveis (com fins educacionais) com maior frequência, de tal modo, que as TICs permeiem o currículo acadêmico de forma planejada e alinhada com os objetivos relacionados com a aprendizagem.

Agradecimentos

FAPEPI (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí) e ANA/CAPES.

Referências

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Cleophas, M. G., Cavalcanti, E. L. D. & Leão, M. B. C. (2015). As TICs e o seu Potencial Lúdico. Revista Tecnologias na Educação, Ano 7, nº 12. Cleophas, M. G., Cavalcantim E. L. D., NERI DE SOUZA, F. & LEÃO, M. B. C. (2014). Uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) em um jogo didático. In: MIRANDA, G. L.; MONTEIRO, M. E.; BRÁS, P. (Orgs.). Aprendizagem Online. Lisboa: Guide Artes Gráficas, LTDA, p. 503-514.
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