Autores

Melo Brasil, T. (UEA) ; Amazonas da Rocha, J. (UEA) ; Campelo de Assis Junior, P. (UEA) ; Serrão Eleutério, C.M. (UEA)

Resumo

Este trabalho foi resultado de uma experiência vivenciada na disciplina Prática de Ensino de Ciências e Química II - Estágio Supervisionado realizada em uma escola pública no município de Parintins-AM. Durante o período de Estágio Supervisionado foi confeccionada uma tabela periódica com tampinhas de garrafas PET (politereftalato de etileno) com a finalidade de estimular a criatividade dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, mediar o estudo dos elementos químicos e promover uma formação consciente e ecológica. Nas aulas de regência os alunos testaram através de um jogo a tabela periódica que se constitui um instrumento didático eficaz para ser utilizado nas aulas de química no Ensino Médio.

Palavras chaves

Material Didático; Tabela Periódica; Estágio Supervisionado

Introdução

Os materiais didáticos alternativos são instrumentos importantes para auxiliar as ações didáticas do professor, mediar e contextualizar o conhecimento químico e proporcionar uma aprendizagem significativa. Além dos recursos didáticos clássicos comercializados nas papelarias e gráficas, como os livros didáticos, as tabelas periódicas impressas, modelos e estruturas orgânicas, existem outros materiais educativos que são construídos pelos próprios professores para dar suporte ao trabalho docente. Durante o processo de formação os alunos de química são estimulados a criar ou confeccionar o seu próprio instrumento didático utilizando materiais de baixo custo presente no seu e no cotidiano dos alunos, pois, pensamos ser possível sair da condição de mero espectador do processo ensino-aprendizagem e partir para ações mais concretas que contribuam com o aprendizado do aluno e que promovam reflexões do fazer docente. Alves (2001) julga indispensável que durante o processo de formação, o futuro professor seja capacitado para, em sua prática docente, compreender o universo cultural do aluno, a fim de que, juntos, a partir do que conhecem, venham a se debruçar sobre os desafios que o mundo lhes apresenta, procurando respondê-los, e nesse esforço, produzam novos saberes. É necessário buscar alternativas didáticas e metodológicas para mediar o conhecimento, possibilitar o diálogo entre conteúdos disciplinares com os conhecimentos que os alunos já possuem, gerando aprendizagens mais significativas. No processo ensino-aprendizagem não possível desconsiderar o conhecimento prévio dos alunos, pois partimos do pressuposto que esse conhecimento pode oferecer uma contribuição importante para o reconhecimento do aluno, sujeito que aprende e é capaz de promover mudanças pessoal e social por meio do seu aprendizado. Com base nesses fundamentos, construímos uma tabela periódica com tampinhas de garrafas PET (politereftalato de etileno) com o intuito de estimular a criatividade dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, mediar o estudo dos elementos químicos e promover uma formação consciente e ecológica.

Material e métodos

O procedimento metodológico deste trabalho se ampara nos princípios da pesquisa qualitativa que segundo Minayo (2010) [...] se aplica ao estudo da história, das afinidades, das representações, das crenças, das percepções e das ideias, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus objetos e a si mesmos, sentem e pensam. A pesquisa bibliográfica sustentou a discussão sobre a indústria PET no Brasil e a respeito do ciclo de vida de embalagens confeccionadas com esse tipo de resina. Para construir a Tabela Periódica foi necessário seguir alguns procedimentos como: coleta e seleção das tampinhas por cores; confecção da base estrutural em madeira e organização das tampinhas em grupos e períodos. Depois do material didático confeccionado, ele foi apresentado aos 29 alunos do 1º ano do Ensino Médio, onde foi explicado o procedimento de confecção. Para trabalhar o conteúdo Tabela Periódica foram confeccionadas 10 cartelas do tipo baralho onde continham as perguntas relacionadas com o assunto em pauta e com questões ambientais (metais pesados, resíduos sólidos (garrafas PET), tempo de decomposição de alguns resíduos etc.). Os alunos se dividiram em 2 grupos para que respondessem as perguntas. Cada grupo escolheu dois representantes para participar da brincadeira. As cartelas foram embaralhadas para não privilegiar nenhum grupo com perguntas simplificadas ou com grau de complexidade. O grupo que obtive o maior número de acertos foi o vencedor. O material didático foi avaliado pelos alunos que responderam duas perguntas: a Tabela Periódica confeccionada com garrafas PET se constituía em uma metodologia eficiente e se esse tipo de atividade facilitava a compreensão do estudo dos elementos químicos? A estratégia utilizada pelos estagiários para contextualizar os elementos químicos era dinâmica, divertida, cansativa ou aborrecida. Os resultados foram apresentados no Seminário Pedagógico de socialização do Estágio Supervisionado.

Resultado e discussão

Materiais didáticos alternativos no Ensino de Química possibilitam uma aprendizagem contextualizada e significativa. Isso foi demonstrado quando os alunos consultaram a Tabela Periódica confeccionada com tampinhas de garrafas PET para responderem as perguntas contidas nas cartelas. Essa dinâmica demonstrou a necessidade do professor confeccionar seu material didático para contextualizar conceitos ou temáticas relacionadas com a química do cotidiano. Quando ele próprio constrói seu material didático parece que o excesso de verbalismo é quebrado, ele dá vida aos conteúdos que ensina. Ele ensina com mais vontade, aproximando a ciência e o conhecimento científico dos alunos da educação básica. Antigamente, primava-se por uma abordagem tradicional do ensino onde o professor era o principal responsável de repassar o conteúdo de modo a não ser questionado nem contestado, e o aluno comportava-se apenas como espectador e receptor de tais informações de forma passiva (LIMA FILHO, et al., 2011). Hoje, é um, novo contexto, a postura do professor em sala de aula deve ser diferenciada, ancorada nas propostas curriculares, no livro didático e em metodologias que sinalizam para um ensino de caráter construtivista em que o objetivo principal é a construção do conhecimento do aluno de forma ativa. Ressaltamos que neste trabalho a Prática de Estágio Supervisionado nos permitiu observar que as condições do ensino público em algumas escolas não são das melhores. Faltam professores habilitados para assumir a regência em química, as salas de aulas são superlotadas, alunos desmotivados e com problemas emocionais em estado avançado, recursos didáticos escassos e/ou precários, comprometendo o trabalho do professor. Esses problemas são confirmados por Gadotti (2000, p.6) quando afirma que a [...] educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos realmente seguros numa época de profundas e rápidas transformações. Mesmo conhecendo essa problemática, a falta de recursos didáticos nas escolas para ensinar química não pode se configurar um entrave para o professor, pois durante sua formação na academia são instigados a buscar novas alternativas didáticas para mediar o conhecimento principalmente na ausência dos materiais convencionais. O material didático é um instrumento importante para apoiar e fortalecer a prática do professor e na concepção de Gralles (2000) ele fornece informações, orienta a aprendizagem, promove habilidades, motiva, avalia, possibilita simulações e criação. De acordo com Souza (2007) esses recursos permitem ao aluno a assimilação do conteúdo trabalhado em sala de aula, desenvolve novas habilidades e a criatividade. Para que os recursos didáticos possam promover uma aprendizagem significativa, é necessário que o professor esteja preparado, capacitado, ter criatividade para explorar os recursos que estão ao seu alcance (tampinhas de garrafas PET), com o objetivo de aproveitar todos os benefícios que os mesmos possam proporcionar. É importante ressaltar que o material didático deve ser de fácil manuseio em função da dinamicidade das atividades a serem desenvolvidas no contexto escolar. Como o objetivo deste trabalho não era apenas confeccionar uma tabela periódica com tampinhas de garrafas PET (politereftalato de etileno) para estimular a criatividade dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, mediar o estudo dos elementos químicos, mas também, promover uma formação consciente e ecológica que optamos por descrever sobre o material que é confeccionado as tampinhas de garrafas PET para ilustrar as aulas de química e iniciar o diálogo a partir das informações obtidas durante a pesquisa bibliográfica. As tampinhas assim como as garrafas de refrigerantes são produzidas com um material vulgarmente conhecido como PET. É um termoplástico rígido e transparente; possui alto grau de cristalinidade e resistência ao impacto. O PET é altamente combustível, com valor de cerca de 20.000 BTUs/kilo, e libera gases residuais como monóxido e dióxido de carbono, acetaldeído, benzoato de vinila e ácido benzóico. Em função dessas e outras características incineração desse material não é recomendado, mesmo que seja para recuperação de energia. Essas informações justificam a reciclagem desse material (LEIS, 1991 apud DORATIOTTO, 2011). Após essa contextualização do material utilizado na confecção da tabela periódica passamos a falar aos alunos da escola campo-estágio sobre a origem e a organização dos elementos químicos, sustentada na obra de Mortimer e Machado (2007) falamos aos alunos que a idéia inicial que se tem desde os tempos antigos é que as substâncias são compostas por um número pequeno de elementos químicos. Aristóteles, por exemplo, destacava a existência de quatro elementos fundamentais: água, ar, terra e fogo. Mas essa imagem de elementos aos poucos vem sendo descontruída. Com a descoberta dos prótons foi possível estabelecer um novo critério de identificação para elementos químicos que relacionava a um modelo de átomo. Esse novo critério estabelecia que átomos de um mesmo elemento químico deviam possuir o mesmo número de prótons no seu núcleo. Esse número passou a ser chamado de número atômico e serviu para identificar o elemento químico. A Tabela Periódica é resultado dos estudos desenvolvidos por Dmitri Ivanovich Mendeleev, químico russo que desenvolveu a primeira versão da tabela periódica. Foi a maneira mais adequada que ele encontrou para exibir as semelhanças entre os elementos químicos, não apenas em pequenos conjuntos como as tríades. Mostrava semelhanças numa rede de relações vertical, horizontal e diagonal. A organização dos elementos químicos em forma de tabela pode ser usada como guia de pesquisas e importante instrumento didático no ensino de química. Para avaliar o material didático foi perguntado aos alunos se a Tabela Periódica confeccionada com garrafas PET se constituía em uma metodologia eficiente e se esse tipo de atividade facilitava a compreensão do estudo dos elementos químicos? A estratégia utilizada pelos estagiários para contextualizar os elementos químicos era dinâmica, divertida, cansativa ou aborrecida. Em relação à primeira pergunta 29 alunos responderam sim e com relação à segunda questão: 14 consideraram dinâmica, 15 avaliaram como sendo divertida. Esses resultados mostraram que materiais didáticos alternativos com caráter lúdico como a tabela confeccionada com tampinhas de garrafas PET desenvolvem habilidades cognitivas importantes no aluno. O aluno aprende brincando (Figura 2) e o ensino passa a ser prazeroso para ele. A tabela periódica mostrou-se uma boa alternativa para se iniciar o estudo dos elementos químicos, visto que os alunos se interessaram em confeccionar outras tabelas dessa natureza para que pudessem estudar em casa.

Figura 1: Tabela Periódica confeccionada com tamapinhas de garrafas PE



Figura 2: Alunos brincando com a Tabela Peeriódica



Conclusões

Neste trabalho discutiu-se a respeito de instrumentos didáticos alternativos confeccionados com materiais presente no cotidiano dos alunos da educação básica e como aplicá-los numa perspectiva lúdica. Durante a leitura do material bibliográfico que fundamentou este trabalho percebeu-se que a Educação Química envolve mente, mãos, sociedade, cotidiano e cidadania. Portanto cabe aos professores encontrar caminhos, alternativas ou estratégias didáticas para ensinar os conteúdos da química de forma contextualizada e significativa.

Agradecimentos

Ao Colégio Nossa Senhora do Carmo A Coordenação do Curso de Química Ao senhor Fridolino Teixeira Guerreiro Junior

Referências

ALVES, N. (org). Formação de professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 2001.
DORATIOTTO, C. P.; et al. Reciclagem de PET (Polietileno Tereftalato) no Brasil. XIV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e X Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba, 2011.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000.
GRAELLS, P. M. Los medios didácticos. Disponível em: <http://peremarques.pangea.org/medios.htm > Acesso em: 27 de novembro. 2015.
LIMA FILHO, F. S.; et al. A importância do uso de recursos didáticos alternativos no Ensino de Química: uma abordagem sobre novas metodologias. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, V.7, N.12; 2011.
MINAYO, M.C. de S. O desafio do conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 12ª edição. São Paulo: Hucitec-Abrasco. 2010.
SOUZA, S. E. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. In: I Encontro de Pesquisa em Educação. IV Jornada de Prática de Ensino, XIII Semana de Pedagogia da UEM: “Infância e práticas educativas”. Maringá-PR, 2007.