Autores
Moreno, R.P. (UERR) ; Rizzatti, I.M. (UERR)
Resumo
A partir de uma análise acerca do acesso à informação pelo viés da tecnologia no contexto escolar, advinda do estudo sobre a produção e uso de vídeo em salas de aula de duas turmas do segundo ano do Ensino Médio Integrado ao Técnico em Agropecuária, constatou-se que estes recursos potencializam a ampliação de conhecimentos e viabilizam múltiplas articulações no âmbito educacional. A abordagem de pesquisa-ação adotada evidenciou que a utilização do vídeo induz a novas formas de interação e interatividade frente à constituição do conhecimento. Os alunos produziram três vídeos, sendo estes sobre a atmosfera, solos e água. Logo, o objetivo de propor o uso do vídeo como recurso de aprendizagem no âmbito pedagógico propiciou inovações na prática dos discentes e docentes envolvidos no estudo.
Palavras chaves
Ensino de química; solo, água, ar; vídeos didáticos
Introdução
A utilização da tecnologia na sala de aula tanto possibilita a inovação na prática de ensino e aprendizagem; como viabiliza a circulação de informações de forma atrativa. O uso dos recursos midiáticos, em especial o vídeo, inegavelmente, possibilita o despertar da criatividade à medida que, estimula a construção de aprendizados múltiplos, em consonância com a exploração da sensibilidade e das emoções dos alunos, além de contextualizar conteúdos variados. A partir desse conjunto de possibilidades, o educador pode conduzir o educando a aprendizados significativos que fomentem princípios de cidadania e de ética. O presente artigo sobre as condições favoráveis à construção de saberes variados por meio do uso do vídeos sobre atmosfera, água e solos na óptica da Química Ambiental, encontra-se divido em dois momentos. O primeiro diz respeito às considerações iniciais referentes às temáticas abordadas, debruçando-se nos estudos e pesquisas desenvolvidas por Kaplún (2010) e outros, de tal forma a proporcionar a compreensão das contribuições do uso do vídeo em sala de aula como recurso de aprendizagem. No segundo momento descreveremos sobre o uso do vídeo como recurso de aprendizagem onde solicitou-se aos alunos de duas turmas do segundo ano do ensino médio integrado ao técnico em Agropecuária da Escola Agrotécnica (EAgro) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), que denominamos de turmas 2A e 2B, se dividissem em três grupos cada e cada turma produzisse três vídeos, um sobre a atmosfera, um sobre a água e outro sobre os solos. A importância desse trabalho consiste, então, em enfatizarmos o uso de recursos tecnológicos como forma de inclusão social dos alunos e formação integral de cidadãos, capazes de transformarem e expandirem a sociedade que vivem e a apreciarem e preservarem o ambiente que habitam.
Material e métodos
O trabalho sob a forma de pesquisa-ação, foi organizado da seguinte maneira: A primeira etapa consistiu em dividir cada uma das duas turmas do segundo ano do ensino médio integrado ao técnico em agropecuária da Escola Agrotécnica (EAgro) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), denominadas turmas 2A e 2B respectivamente, em três grupos com nove a onze alunos cada e posteriormente sorteou-se os temas: atmosfera, solo e água entre esses grupos, logo cada turma ficou com os três temas e foram produzidos no total seis vídeos, dois sobre cada temática. Os grupos realizaram um aprofundamento bibliográfico da sua temática no âmbito da Química \Ambiental. Ainda nessa etapa discutiram as possibilidades de produção dos vídeos, uma vez que cada grupo estava livre para escolher a melhor maneira de preparar e apresentar seu vídeo. No segundo momento da chamada pesquisa-ação, os alunos elaboraram roteiros e partiram para a produção de seus vídeos. Para a produção os alunos usaram câmeras digitais, celulares, computadores para a edição das imagens e o aplicativo Movie Maker para formatar a exibição dos vídeos. Não foi definido com os alunos qual seria a duração dos vídeos, nem tampouco de que forma seriam produzidos, deixando-se assim a cargo de cada grupo a liberdade para a sua produção, o que serviria inclusive para futuras discussões com as turmas após as exibições dos vídeos prontos.
Resultado e discussão
O resultado desse trabalho nos leva a constatar que o uso do vídeo na 
escola, viabiliza aos alunos inúmeras possibilidades de construir e 
reconstruírem o seu aprendizado, influenciando no desenvolvimento de 
diversos processos de conceber e construir saberes.
A experiência relatada, da produção de vídeo em sala de aula, desmistifica a 
concepção de que o processo de produção dos audiovisuais é uma tarefa 
complexa e impossível de ser realizada em salas de aulas. 
Recorrer à produção audiovisual, pelo viés da elaboração de pequenos 
roteiros, do planejamento, de gravações, da análise da linguagem 
audiovisual, da edição/montagem do vídeo, significa muito mais do que uma 
simples produção; significa, principalmente, mostrar aos alunos, advindos 
tanto das áreas urbanas e rurais, de que eles são capazes e de que o 
aprendizado não é tão sofrível e desestimulante como muitos acreditam.
A experiência de elaboração do vídeo em sala de aula é vista como mecanismos 
de extrema importância para a renovação do contexto escolar, seja como 
mecanismos de inclusão, de democratização, de ressignificação ou de 
transformação de saberes e papéis a serem desempenhados. A promoção de 
debates diversos induz ao aluno buscar informações (incitando a leitura), 
possibilita a interdisciplinaridade e promove novas reflexões no contexto 
escolar e social.
Após a produção dos vídeos pelos alunos, foi organizada a apresentação dos 
mesmos no auditório da escola para que os alunos das duas turmas pudessem 
assistir a todos os vídeos e foram convidados também dois professores de 
Português e a professora de Física, para participarem avaliarem juntamente 
com o professor de Química, os trabalhos.
Analisaremos cada um dos vídeos apresentados pelos grupos de alunos do 
segundo ano:
O vídeo da turma 2A, sobre a água, consistiu na visita do grupo de alunos à 
Companhia de Águas e Esgoto de Roraíma – CAER, lá com a ajuda de  um 
funcionário que serviu de guia, visitaram toda a estação e puderam de forma 
bastante didática, entenderem todas as etapas de tratamento pela qual passa 
a água, ou seja, os tanques de tratamento até esta estar própria para a 
distribuição e consumo da população. Visitaram também a central de 
monitoramento computacional da rede de esgotos da cidade. Na parte final 
desse vídeo uma aluna visitou os tanques de piscicultura do ecopark  O que 
se discutiu nesse vídeo foi a ausência da participação dos alunos, que 
apenas acompanharam o monitor pela estação e gravaram tudo com muito boa 
qualidade de som e imagem, porém, não fizeram questionamentos ou 
intervenções durante toda a visita, ou seja, produziram um documentário 
sobre as etapas de tratamento da água, mas de forma passiva. A aluna que 
visitou o ecopark, fez uma explanação sobre o local e a atividade 
piscicultora, de forma satisfatória, mas de uma forma geral, a participação 
dos alunos deixa a desejar. Já o vídeo da turma 2B, sobre a água, consistiu 
na visita de igarapés do bairro do Caranã, na periferia da cidade e de obras 
de tubulações de esgoto abandonadas pela prefeitura de Boa Vista. O vídeo 
ficou basicamente centrado em apenas um aluno que falou durante toda a 
gravação, que apesar de apontar pontos importantes tais como, o descaso do 
poder público com as obras de esgoto, que faz com que esses locais sejam 
procurados por usuários de drogas, etc,  a poluição por parte da população 
local dos igarapés em especial esse do Caranã, o desperdício de água nas 
torneiras e bebedouros, verificado por eles na escola que funciona em 
período integral, o vídeo peca pela linguagem vulgar e cenas um tanto 
inadequadas e desnecessárias, que fez com que o vídeo que até então 
apresentou uma proposta interessante em suas abordagens, ficasse reduzido à 
brincadeiras por parte dos demais participantes ao invés desses participarem 
mais efetivamente na apresentação oral do vídeo. No quesito edição o vídeo é 
bem feito. Observações foram feitas com relação à língua Portuguesa, tanto 
na fala quanto na escrita e o professor de química orientou-os com relação à 
postura que devem ter ao preparar um vídeo que além de ser objeto de 
avaliação é um material que se destina a apresentação pública, o que implica 
em uma conduta e ética a serem observados nas próximas produções do grupo.
O vídeo da turma 2A, sobre a Atmosfera, foi realizado com a visita do grupo 
de alunos ao Aeroporto Internacional de Roraima “Atlas Brasil Cantanhede”. 
Todos os alunos, participaram ativamente do vídeo, com explanações sobre 
vários temas relacionados a atmosfera, no final do vídeo os alunos aos pares 
realizaram no laboratório da escola vários experimentos relacionados ao ar e 
de forma didática conseguiram explicar satisfatoriamente conceitos como por 
exemplo: o ar possui peso, o ar ocupa espaço, o solo possui ar, a pressão 
exerce força no ar, etc. O interessante é que os alunos não deixaram de 
mencionar os efeitos negativos que a agricultura exerce  sobre a atmosfera, 
relataram também o problema das queimadas, num momento em que o Estado vive 
a maior estiagem dos últimos vinte anos. Em resumo, o melhor vídeo 
apresentado, a edição muito bem feita, faz com que o vídeo seja o mais 
completo do que era o esperado. O professor de química recomendou sobre a 
correta escrita das fórmulas químicas apresentadas no vídeo. Enquanto o 
vídeo da turma 2B, sobre a Atmosfera, foi realizado com muitos vídeos 
extraídos do youtube, mesclados a poucas apresentações por parte dos alunos 
e a participação de professores de Biologia e Educação Física da EAgro, que 
falaram sob a forma de entrevista sobre o tema. O vídeo carece da 
participação mais efetiva dos alunos como protagonistas. A ideia que passa é 
a de que nem todos participaram da elaboração ou edição do vídeo. A 
professora de Física, fez algumas correções no que se refere à conceitos 
físicos, que não ficaram muito claros na abordagem.
O vídeo da turma 2A, sobre solos, tratou especificamente sobre os solos de 
Roraíma, para isso realizaram entrevistas com os professores da área técnica 
como o por exemplo o professor de Mecanização Agrícola que fala sobre as 
características do solo roraimense, o processo de formação dos solos. Também 
entrevistaram o professor de Zootecnia, sobre a importância dos solos para a 
pecuária e com o professor de Agricultura II, a questão do baixo nível de 
matéria orgânica no solo roraimense, a questão da acidez e fertilidade 
desses solos e também a questão do manejo desses solos. Ressaltaram a 
importância da integração: lavoura-pecuária-floresta e a recuperação de 
pastagens degradadas. O vídeo conta com a participação dos alunos em 
questionamentos feitos aos professores entrevistados que participaram do 
vídeo e a também a preocupação de todos no que se refere a qualidade e 
edição do vídeo. Nesse vídeo os alunos também demonstraram preocupação com 
os solos, no que se refere à técnicas nocivas praticadas na agricultura e na 
pecuária. E finalmente, o vídeo da turma 2B, sobre solos, mostrou-se um 
vídeo mais tímido em relação aos demais em que as alunas se organizaram de 
forma que cada uma apresentasse uma parte como se estivessem apresentando um 
seminário, porém gravado. Algumas imagens de solos encontrados em Roraíma, 
extraídas da internet foram mostradas no vídeo, mas de uma forma geral a 
apresentação contou com a participação de todos do grupo. Observações foram 
feitas com relação à língua Portuguesa, tanto na fala quanto na escrita. 
Salientou-se que ao invés de buscarem imagens na internet sobre os solos de 
Roraima, que fossem ao  Museu dos Solos de Roraima, que existe no CCA- 
Centro de Ciências Agrárias da UFRR, lá poderiam não só filmar imagens de 
amostras de solos, como também entrevistar os mestrandos e doutorandos que 
cuidam do espaço.
Conclusões
Essa atividade objetivou analisar a utilização do vídeo como instrumento didático-educativo no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do segundo ano do ensino médio integrado ao técnico em Agropecuária da EAgro, cuja abordagem dos temas: água, atmosfera e solos sob o viés da Química Ambiental, foi materializada sob a forma de vídeos. O objetivo esperado foi alcançado, uma vez que o uso das mídias na escola evita a dicotomia entre saberes da escola e saberes do mundo, entre o ato de ministrar ou instruir, conduzindo a prática de inserção social dos discentes. Os alunos produziram vídeos de Química Ambiental e sempre demonstraram, nos vídeos uma preocupação com as formas de como práticas agropecuárias indevidas podem prejudicar de um modo geral a qualidade da água, dos solos e a atmosfera, nessa última salientou-se a preocupação com o crescente número de queimadas no Estado, principalmente nas áreas rurais. Essa reflexão é muito positiva, uma vez que estamos lidando com futuros agrônomos, zootecnistas, administradores rurais, enfim, profissionais das ciências agrárias, que devem olhar para a terra não só visando lucros, mas sim a sua correta manipulação e preservação. Com relação a produção dos vídeos, o fato de se ter deixado livre aos alunos desenvolverem da forma que lhes aprouver, serviu de orientação que nem sempre dessa forma bons resultados podem ser alcançados. È necessário estabelecer com os alunos alguns critérios comuns para a realização dos vídeos, tais como: tempo de duração, tipo de enquadramento no vídeo, tipo de programa a ser utilizado na edição dos vídeos, para não se correr o risco dos mesmos não “abrirem” em alguns computadores. E ter em mente que o mais importante não é o produto em sí, mas sim o processo.
Agradecimentos
AO Núcleo de Pesquisa e Estudo em Educação em Ciências e Matemática (Nupecem), da Universidade Estadual de Roraima-UERR.
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