Autores

Feitosa, J.C. (UERR) ; Carneiro, E.A. (UERR) ; Rizzatti, I.R. (UERR) ; da Silva, L.E. (UERR) ; de Lima, R.C.P. (UERR) ; Teles, V.L.G. (UERR) ; Medeiros, I.J.S. (UERR)

Resumo

A presente pesquisa tem por finalidade discutir a prática pedagógica no ensino de química através da contextualização e das aulas práticas no processo de ensino- aprendizagem em duas escolas públicas da capital Boa Vista, Roraima. Esta pesquisa foi realizada por meio de levantamento e análise bibliográfica, entrevistas com os professores e aplicado questionários a estudantes do ensino médio e médio técnico. Através deste trabalho foi possível verificar que a maioria dos alunos pesquisados considera que as aulas teóricas de Química contribuem para melhorar a construção de seu conhecimento sobre o assunto. Além disso, a pesquisa revelou também que os estudantes percebem que o professor associa o conteúdo de Química abordado em sala de aula com o seu cotidiano.

Palavras chaves

prática pedagógica; educação química; ensino médio

Introdução

O ensino convencional da Química se limita a internalizar na mente dos alunos variadas fórmulas, reações e propriedades, esquecendo o quão importe é relacionar estes mesmos ensinamentos com a forma natural que acontecem na natureza. Para Queiroz apud Farias, Basaglia, Zimmermann (2009), trabalhar com as substâncias, aprender a observar um experimento cientificamente, visualizar de forma que cada aluno descreva o que observou durante a reação, isto sim leva a um conhecimento definido. As aulas práticas possibilitam ao aluno uma compreensão de como a Química se constrói e se desenvolve, uma vez que ele presencia a reação no momento em que ela acontece, já que foi dessa forma que ela surgiu através da Alquimia, como era conhecida a química praticada na Idade Média, onde alquimistas utilizavam a experimentação com fogo, água, terra e ar. Segundo Alves (2007), no Ensino da Química a aula prática deve contribuir para compreensão de conceitos químicos, podendo diferenciar duas atividades, quais sejam: prática teoria. Aquela acontece no manuseio e transformações de substâncias; ao passo que esta se verifica quando se procura explicar a matéria. Por fim, observa-se a importância dada pelos autores à adoção de metodologias que contemple aulas práticas e teóricas para melhor aproveitamento no ensino da Química, especialmente na contemporaneidade. De acordo com Neto (2010) a ideia de contextualização nasceu com a reforma do ensino médio, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que orienta a compreensão dos conhecimentos para uso cotidiano. Ainda conforme o autor originou-se nas diretrizes que estão definidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que buscam um ensino de Química centrado na ligação entre informação científica e contexto social. Contextualizar a Química não se restringe a promover uma ligação artificial entre o conhecimento e o dia a dia do aluno. Não é citar exemplos como ilustração ao final de algum conteúdo, mas que contextualizar é propor “situações problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário para entendê-las e procurar solucioná-las”. Nesse sentido, deve-se perseguir a prática de um ensino mais contextualizado, procurando relacionar os conteúdos de química com o cotidiano dos alunos, acima de tudo respeitando as diversidades de cada um, objetivando uma formação cidadã e o despertar do seu senso crítico. Estudos mostram que a prevalência da apatia dos alunos pelo estudo da Química se deve, em grande parte, a falta de aulas práticas que possam relacionar a teoria e a prática. Na outra ponta, por sua vez, os profissionais de ensino afirmam que este problema é devido à falta de laboratório ou de equipamentos que permitam a realização de aulas práticas. Segundo Galiazzi apud Farias, Basaglia, Zimmermann (2009), realizar aulas práticas seguido de discussão para a montagem da interpretação dos resultados é uma atividade extremamente rica em termos de aprendizagem. Fonseca (2001) destaca que o trabalho experimental deve estimular o desenvolvimento conceitual, de forma a permitir ao estudante explorar, elaborar e supervisionar suas ideias, comparando-as com a ideia científica, pois só assim elas terão papel importante no desenvolvimento cognitivo. Segundo esse autor, pesquisas mostram que os estudantes desenvolvem melhor sua compreensão conceitual e aprendem mais a respeito da natureza das ciências quando participam em investigações científicas, em que haja suficiente oportunidade e apoio para reflexão. Cumpre destacar que para a realização de uma aula prática, alguns fatores devem ser levados em consideração, tais como: as instalações da escola, o material e os reagentes requeridos e, sobretudo, as escolhas das experiências. A pesquisa aqui empreendida tem como propósito abordar um tema que de algum modo tem desafiado os estudiosos de ciências, particularmente o ensino da Química no Ensino Médio, que é construir um ponto de ligação entre o conhecimento escolar e o cotidiano dos alunos. Tem-se que a ausência desta conexão é responsável pela apatia e distanciamento entre alunos e professores. Ao limitar o ensino da Química a uma abordagem puramente tradicional e formal, finda por não contemplar as muitas possibilidades para tornar a disciplina mais atrativa e perde-se a oportunidade de associá-la com o dia a dia do indivíduo. Uma forma de transformar a Química em uma ciência mais desejada é a utilização de aulas práticas no ambiente escolar, transformando a sala de aula em um local de confirmação de teorias, de investigação e principalmente em local de aprendizagem, e assim desenvolvendo o senso crítico dos alunos. Assim, este trabalho tem como objetivo verificar a prática pedagógica no ensino de Química através da contextualização e das aulas práticas no processo de ensino- aprendizagem.

Material e métodos

Foi realizado um levantamento teórico por meio de pesquisas em livros, revistas, fontes de dados disponíveis na Internet, artigos e periódicos científicos, Monografias, Teses e Dissertações. Em seguida realizou-se uma pesquisa de campo direcionada a 37 alunos, sendo 20 alunos do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Professor Carlo Casadio e 17 alunos do 4º ano do ensino técnico da Escola Estadual Gonçalves Dias, ambas localizadas na cidade de Boa Vista – RR, nos dias 14 e 17 de junho de 2013. Os dados coletados foram agrupados, analisados e interpretados com o intuito de se obter informações sobre o conhecimento e contribuir na construção de uma aprendizagem significativa no ensino de Química.

Resultado e discussão

Conhecer a prática pedagógica no ensino de Química através da contextualização e das aulas práticas no processo de ensino-aprendizagem, é a questão central deste artigo. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo no mês de junho de 2013, onde foram aplicados 37 questionários com alunos de Escolas Públicas Estaduais, cuja análise e resultados das informações obtidas na pesquisa são apresentados nesta seção. Dos 37 entrevistados, o estudo mostra que 76% responderam com coerência a indagação sobre o que se entende por Química, ou seja, dando a entender que o conceito está sendo assimilado por grande parte dos alunos. Já 24% não responderam, deixaram a questão em branco. O percentual de respostas coerente não destoa de resultado obtido em pesquisa realizado por Neto (2010), onde 95% das respostas foram de forma coerente. No que se refere gostar de estudar Química, observa-se que a grande maioria dos respondentes, 70%, afirmaram que gostam de estudar a matéria. Já 30% responderam não gostar de estudar a disciplina. Os dados acima reforçam investigação idêntica conduzida por Daga e Cottica (2010), no Estado do Paraná, a qual revela que 66% dos pesquisados afirmaram gostar da disciplina química, enquanto 34% dos alunos alegaram não gostar do referido assunto. Perguntado aos pesquisados se eles consideram que as aulas teóricas de Química contribuem para melhorar na construção de seu conhecimento sobre o tema, 86% responderam afirmativamente, ao passo que 14% responderam de forma negativa. Em esclarecedora abordagem sobre o tema Russell (1994) observa que: Quanto mais integrada a teoria e a prática, mais sólida se torna a aprendizagem de Química, ela cumpre sua verdadeira função dentro do ensino, contribuindo para a construção do conhecimento químico, não de forma linear, mais transversal, ou seja, não apenas trabalha a química no cumprimento da sua sequência de conteúdo, mais interage o conteúdo com o mundo vivencial dos alunos de forma diversificada, associada à experimentação do dia-a-dia, aproveitando suas argumentações e indagações. Indagado aos alunos se o professor associa o conteúdo de Química abordado em sala de aula com o cotidiano do pesquisado, 78% responderam afirmativamente. Já 22% revelaram não haver essa associação entre conteúdo ensinado e o dia a dia do aluno. Pesquisa realizada por Souza et al (2012), no Estado do Piauí, revela que 60% dos indivíduos pesquisados não consegue relacionar a teoria ensinada pelo professor com os fenômenos químicos que ocorrem no cotidiano, contrariando dados revelados neste estudo onde a maioria consegue assimilar a teoria com o conteúdo. No que diz respeito o aluno considera essencial a realização de aulas práticas para compreender os conteúdos abordados nas aulas de Química, a investigação revela que os alunos mostraram um grande interesse por aulas práticas para minimizar as dificuldades encontradas na disciplina de Química. Esta afirmação pode ser verificada nas respostas, onde 89% responderam sim e 11%, não. Inquiridos se a Química é importante para a vida do pesquisado, os dados revelam que a grande maioria considera essa ciência fundamental, 89%, contra 11% daqueles que não vê importância para o cotidiano. Isso demonstra que os alunos assimilam o conteúdo exposto nas aulas, possibilitando que estes consigam aplicar e identificar a Química no dia a dia, ou seja, aprendendo de forma contextualiza e trazendo o vínculo entre teoria e prática. No que se refere à existência de laboratório para aulas práticas nas escolas pesquisadas, verificou-se que 76% responderam que não e, 24% disseram existir espaço para este tipo de aula. Isso mostra que embora haja o laboratório, este não é utilizado, pois a maioria dos alunos declara desconhecer esse fato. Comparando os números acima com os dados a que chegaram Macêdo et al (2010) em trabalho realizado no Estado do Piauí, verifica-se que os alunos daquela pesquisa estão mais informados da existência ou não de espaços para aulas práticas em suas Unidades Escolares, com 51,1% dos respondentes. Foi questionado na oitava pergunta a cerca da frequência com que os alunos comparecem ao laboratório. Aqui os dados mostram que 67% dos respondestes declararam frequentar esta modalidade de estudo uma vez por semana; para 22% as práticas acontecem duas vezes na semana; e 11% assistem às aulas em três momentos por semana (Figura 1). Analisando estes dados observa-se o pouco interesse dos alunos pelas aulas de laboratório, pois a maioria revela frequentar esse importante espaço de aprendizagem apenas uma vez por semana. Importante observação faz Dominguez apud Monteiro, Perdigão, Santos (2011), ao narrar que o ensino da Química deve priorizar a experimentação como forma de aquisição de dados da realidade, oportunizando ao aluno a se desenvolver de formar ativa, construtiva e criadora com os conteúdos trabalhados em sala de aula, ou seja, os conceitos estudados em sala de aula devem estar ao mesmo tempo ligados às aulas práticas, de forma a construir e demonstrar esses conceitos.

Figura 1:

Resposta dos alunos do ensino médio das escolas avaliadas quando questionados sobre com que frequência visitam o laboratório para aulas práticas.

Conclusões

Através deste trabalho foi possível verificar que a maioria dos alunos pesquisados considera que as aulas teóricas de Química contribuem para melhorar na construção de seu conhecimento sobre o assunto. Além disso, a pesquisa revelou que os estudantes percebem que o professor associa o conteúdo de Química abordado em sala de aula com o seu cotidiano.

Agradecimentos

Referências

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