Autores

Silva, F.J.O. (UERR) ; Silva, E.G. (UFMT) ; Rizzatti, I.M. (UERR) ; Medeiros, I.J.S. (UERR) ; Sousa, J.S. (UERR)

Resumo

Atualmente existe uma grande variedade de livros e séries de televisão que abordam a perícia em locais de crimes, e apesar de nem sempre estarem totalmente comprometidos com o rigor do conhecimento científico, atraem a curiosidade de um grande número de pessoas, sobretudo dos estudantes. A Perícia papiloscópica é a área voltada para descobrir a identidade das pessoas através da análise de impressões digitais. Assim, esse trabalho teve por objetivo apresentar os princípios químicos presentes na perícia papiloscópica em uma exposição interativa para a divulgação da ciência durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Roraima nos anos de 2014 e 2015 na cidade de Boa Vista. Visitaram a exposição em torno de 600 pessoas nas duas edições, mostrando a importância destas ações para a divul

Palavras chaves

divulgação científica; impressão digital; perícia criminal

Introdução

A sociedade tem discutido a relação do desenvolvimento científico versus desenvolvimento humano e a ética do fazer científico. Numa sociedade caracterizada pelo fácil acesso a informação, a imprensa de divulgação científica, e também outros veículos de comunicação de massa como o cinema, a televisão entre outras, têm incentivado essas discussões. Mais do que um espaço de entretenimento, informação e debate, esses meios tem sido um canal de educação informal, atingindo um público mais amplo do que os bancos escolares. Nesse cenário de inovação e debates, a mídia tem sido importante canal de discussão sobre as potencialidades da ciência na educação. Considerando sua importância, enquanto meio de educação informal, entende-se ser importante estudar a forma como se dá o processo educativo com a contribuição de novas linguagens. A divulgação científica pode alcançar as diferentes populações por meios formais ou informais (SANTOS; NASCIMENTO-SCHULZE; WACHELKE, 2005). Na educação formal de ciências estão as atividades desempenhadas em escolas, orientadas por currículos básicos, enquanto os museus, centros de ciência, exposições científicas - foco de interesse do presente estudo - e outros tipos de iniciativas representam o sistema de educação informal em ciências (NASCIMENTO-SCHULZE et al, 2003). As exposições voltadas para a divulgação científica envolvem o fenômeno das interações em diversos aspectos, sendo que dois princípios fundamentais estão presentes em todos os tipos de exposições de museu, que são o caráter comunicativo das exposições, que se consistem num meio de apresentar as concepções dos organizadores aos visitantes, e sua natureza de experiência para os visitantes, em que há interação entre diversas pessoas (MCLEAN, 1996), é possível afirmar que podem ser identificadas tanto interações dos visitantes com a própria exposição quanto interações com outros atores sociais presentes no ambiente da exposição (SANTOS; NASCIMENTO-SCHULZE; WACHELKE, 2005). Para Gore (2002), a interação é o fator importante para comunicação que garante o sucesso dos centros de ciência interativos como forma de difundir a ciência. Um dos obstáculos para compreensão da importância da química é a pouca relação entre o que as pessoas fazem e o que vivenciam no cotidiano com os princípios básicos desta ciência. Observa-se que até mesmo alguns alunos do ensino médio são afetados pela baixa motivação e encontram grandes dificuldades em identificar, dentro dos currículos propostos, algo voltado para suas expectativas e que seja palpável ao seu cotidiano. A motivação e a atenção necessária para provocar maior interesse dos alunos no estudo da química podem acontecer quando se demonstra a aplicabilidade prática do que se está estudando. Assim, buscando uma possibilidade para mobilizar a atenção dos alunos e provocar o aprendizado científico por meio da perícia papiloscópica, este trabalho buscou por meio de uma exposição interativa abordar os conceitos químicos envolvidos nesta área da perícia criminal. Contudo, não foi o objetivo dessa proposta limitar esses conhecimentos apenas a estudantes do ensino médio e tão pouco à sala de aula, mas que a exposição alcance alunos de todas as idades, professores e a comunidade em geral. O principal papel da perícia papiloscópica é, através da ciência, encontrar os vestígios deixados no local de um crime e transformá-los em provas. A perícia papiloscópica é destinada a descobrir a verdadeira identidade das pessoas por meio das impressões digitais. Essa é considerada uma forma eficiente de individualização humana e anula a prova testemunhal e os falhos reconhecimentos por outros processos. O foco da exposição é contemplar a química de modo plausível. Nesse contexto é que se propõe o uso da perícia papiloscópica como algo atrativo que seduza a atenção das pessoas em proveito da divulgação científica (MAIA, 2011). Neste sentido, foram apresentadas no estande cinco técnicas de revelação de impressões digitais latentes, a saber, a do pó; de iodo; de ninidrina; da nianoacrilato e do nitrato de prata, abordando conteúdos como reações químicas; equações químicas; balanceamento de equações; substâncias químicas; Lei de conservação da massa, entre outros.

Material e métodos

A pesquisa realizada para elaboração desse trabalho ocorreu por meio de compilação de dados a partir de livros, revistas especializadas, sites, artigos científicos e manuais. Para possibilitar a abordagem didática necessária à pesquisa e verificar alguns dos princípios da ciência química existentes no trabalho da perícia papiloscópica, foi necessário também observar as especificidades de atuação da papiloscopia e seus procedimentos, para isso foi utilizado o manual de “Procedimento Operacional Padrão” elaborado pela Secretaria Nacional de Segurança do Ministério da Justiça (POP/SESP/MJ) (DULTRA, 2009). A aplicação da pesquisa foi feita a partir do processo didático sistemático de organização e execução da ideia proposta, implicando na análise posterior de observações de dados qualitativos, buscando realizar inferências de toda a informação coletada, sendo possível alcançar um maior entendimento da proposta e do conteúdo estudado (DEMO, 2009). A opção por uma análise qualitativa buscou observar de forma mais detalhada as concepções do público alvo sobre a temática apresentada. Foram realizadas entrevistas informais que permitiram a obtenção dos dados em um clima de cooperação na linguagem do entrevistado, permitindo ao pesquisador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os pesquisados interpretam aspectos específicos da proposta (BOGDAN; BIKLEN, 1994). A necessidade de procurar instrumentos que possam revelar as ideias sobre os temas propostos para obter dados capazes de mostrar com maior detalhe e profundidade as concepções dos participantes, fez-se necessário também a aplicação de um questionário avaliativo aplicado ao público que visitou o estande. O questionário foi constituído por quatro questões simples e diretas, cada uma contendo três possíveis respostas objetivas (gostei muito; mais ou menos e não gostei) que buscaram captar as concepções da pesquisa. O propósito principal era que, após a abordagem, fosse possível obter das pessoas participantes o real nível de assimilação dos temas específicos apresentados e, além disso, observar a viabilidade do estande como meio de divulgação da ciência química (RUDIO, 2002). Para aplicação prática dessa proposta de divulgação da ciência química através da perícia papiloscópica, foi montada e apresentada uma exposição durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Roraima (SNCT-RR) nos anos de 2014 e 2015, ocorrida na Universidade Estadual de Roraima (UERR). A estrutura foi constituída de uma mesa, onde foram expostos alguns materiais utilizados na perícia papiloscópica, faixa com a ilustração de uma impressão digital e um átomo, dois banners contendo informações, imagens e curiosidades relacionando a atividade da perícia papiloscópica com a ciência química. Tal formato de apresentação foi proposto com o intuito de chamar a atenção dos visitantes para o estande, provocando uma aproximação e facilitando a abordagem (LIMA, 2005). Durante a exposição utilizou-se uma linguagem clar

Resultado e discussão

Em 2014, cerca de 250 pessoas visitaram a exposição durante a SNCT-RR e em 2015, cerca de 350 pessoas, envolvendo estudantes da educação básica, graduandos, pós-graduandos e comunidade em geral que visitaram a UERR no período do evento. Contudo somente em 2015, foi aplicado o questionário para que os visitantes responderam, e destes, 113 participaram da pesquisa respondendo ao questionário. A primeira questão perguntava se o visitante gostou do estande e da proposta apresentada para a divulgação da química e 109 (96,5%) responderam que gostaram muito, 3 pessoas responderam mais ou menos e 1 disse que não gostou. Já a segunda pergunta questionava o conhecimento sobre os materiais e técnicas apresentadas no estande, e 63 (55,8%) responderam que não tinham tido contato com esses materiais e técnicas, enquanto 41 disseram que tiveram contato com alguma coisa e 9 responderam que sim. Na terceira questão, o que mais chamou a atenção no estande para 36 pessoas foram as técnicas usadas na perícia papiloscópica, para 35 os materiais utilizados para revelar impressões digitais, e para 42 pessoas os princípios científicos apresentados. Por sua vez, na quarta questão foi perguntado se o visitante achava possível utilizar os princípios químicos apresentados para ajudar no ensino da química, e 105 (93%) pessoas responderam que “É possível a utilização de alguns princípios”, enquanto que 8 disseram “Sim, ajudaria na motivação dos alunos. Os resultados demostraram claramente a relevância da temática em uma abordagem educacional informal. Além disso, evidenciou-se que o interesse das pessoas pela química é potencializado quando visto pelo prisma da atividade pericial. Ficou também muito claro a possibilidade de estimular a curiosidade das pessoas através da perícia papiloscópica, apresentando relevante oportunidade para a abordagem de princípios químicos de forma geral e contextualizada. Após a exposição no evento, foi feita uma avaliação positiva. Foi percebido, através dos comentários e questionamentos observados, que houve boa aceitação dos visitantes que prestigiaram o estande, sendo possível observar a viabilidade da abordagem em resposta à problemática da pesquisa. Foi observada, durante a exposição, a participação de pessoas com idades variadas, inclusive professores e alunos de faculdades. Muitos perguntaram sobre a possibilidade de haver um curso voltado para a área da perícia e também sobre as matérias disciplinares mais exigidas para atuar nessa área. Além disso, muitos visitantes se surpreenderem com as técnicas e reagentes usados na revelação de impressões latentes, gerando vários outros questionamentos sobre a composição dos produtos e as reações observadas. Isso foi muito positivo para avaliação da exposição. Na figura 1 é ilustrada a exposição realizada em 2015, durante as atividades da SNCT-RR. A partir das atividades apresentadas durante as ações da SNCT-RR, alguns gestores de escolas que visitaram a exposição solicitaram que a exposição percorre algumas escolas tanto da capital como do interior, desta forma, foram visitadas até o momento cinco escolas de três municípios de Roraima, totalizando mais de 200 alunos atendidos, ampliando as ações de divulgação e popularização da ciência no estado, e aproximando a ciência da sociedade, mostrando a importância da química no cotidiano dos cidadãos. Em todas as escolas visitadas os estudantes e professores participaram da exposição, fazendo questionamentos, realizando alguns dos experimentos envolvendo a identificação das pessoas, e demonstrando satisfação com a proposta. Muitos relataram a necessidade de mais ações de divulgação da ciência, tendo em vista a dificuldade de deslocamento para visitarem as exposições ou eventos envolvendo a divulgação científica, bem como, a ausência de material didático ou atividades que facilitem a visualização e aproximação da química com o dia-a-dia dos estudantes.

EXPOSIÇÃO NA UERR



Conclusões

A exposição “Perícia Papiloscópica e a Química” durante as ações da SNCT-RR em 2014 e em 2015, bem como a visita as escolas de Roraima demonstrou a importância destas ações voltadas para a divulgação da ciência e a aproximação da universidade com a realidade escolar. Ademais a exposição se mostrou uma eficiente ferramenta para auxiliar na divulgação da química e tornar o ensino de química mais atraente e estimulante.

Agradecimentos

Referências

BOGDAN R. BIKLEN S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto Editora. 1994. (Coleção Ciências da Educação).
DEMO, Pedro. Participação é Conquista. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 2009.
DULTRA, Marco Aurélio Luz. Manual de Necropapiloscopia. Diretoria do Interior DPT. Salvador, 2009.
GORE, M. Travelling interactive science exhibitions. In: INTERNATIONAL SEMINAR: IMPLEMENTATION OF SCIENCE CENTERS AND MUSEUMS, 1, 2002. Annals. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002, p. 257-265.
LIMA, Ricardo Franco de. Compreendendo os mecanismos atencionais. Revista Ciência & Cognição, Vol 06: 113-122. UNICAMP: Campinas/ SP, 2005.
MAIA, Heber (org). Neurociências e Desenvolvimento Cognitivo. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
MCLEAN, K. Planning for People in Museum Exhibitions. Washington: ASTC, 1996.
NASCIMENTO-SCHULZE, C. M.; FRAGNANI, E.; CARBONI, L. R.; SCHUCMAN, L. V.; WACHELKE, J. F. R. Representações sociais de ciência e tecnologia e alfabetização científica: um estudo com professores do ensino médio em Florianópolis. In: JORNADA INTERNACIONAL SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, 3., 2003, Rio de Janeiro. Textos Completos. Rio de Janeiro: UERJ, 2003.
RUDIO F. V. Introdução ao projeto de pesquisa cientifica. 30ª Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
SANTOS; M. E. dos; NASCIMENTO-SCHULZE; C. M.; WACHELKE, J. F. R. A exposição itinerante enquanto promotora de divulgação científica: atitudes, padrões de interação, e percepções dos visitantes. Psicologia: Teoria e Prática, 7(2), 2005, p. 49-86.