Autores

Pinho, G.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ -UFC) ; Almeida, M.M.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ -UFC) ; Lima, I.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE)

Resumo

A Educação Ambiental (EA) tem papel fundamental no processo de construção de uma sociedade comprometida em transformar a relação do homem com a natureza. Assim, decidiu-se investigar o Ensino de EA praticado por docentes de Ciências da Natureza de três escolas públicas da rede estadual de ensino, em Fortaleza -CE, com o objetivo de identificar suas concepções e práticas, além de suas correlações com os PCN e as DCNEM, através da aplicação de questionários e entrevistas. Os resultados revelaram que a maioria dos professores questionados tem relativo conhecimento das recomendações desses documentos, porém não incorporam as recomendações dos mesmos na condução de suas disciplinas, tratando as temáticas ambientais de modo isolado e apenas em situações pontuais e datas comemorativas.

Palavras chaves

Educação Ambiental; professores; PCN e DCNEM

Introdução

Nos últimos tempos, é cada vez mais comum o aparecimento de problemas socioambientais que, em menor ou maior proporção, causam prejuízos que podem levar anos, décadas, séculos, ou muito mais tempo para serem solucionados. Com isso, surge a necessidade de alertar a população não somente sobre as consequências que estes problemas podem causar, mas, principalmente, conscientizar as pessoas para que sejam capazes de desenvolver mudanças de hábitos e atitudes que possam ser socialmente repassadas, com a finalidade de despertá-las para a construção de um mundo sustentável e social e economicamente equilibrado. A Educação Ambiental (EA) propõe uma nova forma de encarar o papel do ser humano no mundo, ao tentar superar a lógica predatória de exploração do meio ambiente pelo homem em sua busca de produção de riquezas, colocando em risco sua própria sobrevivência. Assim, a EA defende formas mais harmônicas de relacionamento com a natureza e, portanto, a construção de valores éticos, capazes de estimular posturas de integração na sociedade a partir de uma visão holística das problemáticas ambientais e sistêmica das relações humanas. A intenção é despertar nos indivíduos uma consciência cidadã, com uma visão global que integre valores, conhecimentos e capacidades de agir com consciência de suas consequências em relação à responsabilidade ambiental e sua preservação (PÁDUA, 1999). Os documentos legais estabelecem que temas sociais como Meio Ambiente, sejam trabalhados em todos os níveis de ensino, desde a educação infantil ao nível superior, com o fito de ajudar a desenvolver a consciência cidadã. Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) trazem importantes orientações no auxílio do professor para a abordagem da EA no Ensino Médio. Enquanto isso, os PCN colocam a EA como um tema transversal. Esse tratamento implica que a EA não integra como uma disciplina específica do currículo, mas que seja trabalhado por todos os componentes curriculares e com diversos tipos de abordagens. Esse documento dá importantes orientações para que seja possível trabalhar as temáticas ambientais de forma permanente e através das diferentes disciplinas que compõem o currículo, propondo um tratamento didático interdisciplinar da EA. Além disso, apontam para a aplicação de projetos pedagógicos na escola com temáticas ambientais, no intuito de incentivar professores e as instituições educativas a trabalharem na busca da formação de valores e práticas sociais que favoreçam atitudes cidadãs conscientes por parte de toda a comunidade escolar. Ressalta também a importância de abordar Educação Ambiental para além dos problemas ecológicos. Para isso, sugere que aspectos econômicos e sociais também sejam contemplados, no intuito de favorecer uma abrangência interdisciplinar que facilite a contextualização e auxilie o educando na construção de uma visão crítica geral e não apenas pontual e fragmentada das problemáticas ambientais (BRASIL, 1999). As Diretrizes DCNEM, assim como os PCN, também orientam para que as temáticas ambientais sejam abordadas com foco na contextualização e na interdisciplinaridade. Contudo, assumem uma abordagem histórica, ao considerarem as práticas sociais, políticas e culturais, como também as experiências de vida pessoais e as questões relacionadas ao ambiente, e enfatizarem o papel dos movimentos sociais para trabalharem com temáticas que potencializem o desenvolvimento do ensino em EA com vistas à formação cidadã. Estabelecem a implantação da EA desde a educação básica até a superior, destacam o papel dos sistemas de ensino e o regime de colaboração entre eles. Buscam assegurar a formação humana, e relacionar conceitos históricos e socioculturais com suas condições físicas, emocionais, culturais e intelectuais. Além disso, estimulam a execução e avaliação de projetos institucionais e pedagógicos em EA, com o objetivo de que a abordagem dessas temáticas supere a mera distribuição pelos demais componentes curriculares. Orientam cursos de formação de docentes da educação básica, como também os sistemas educativos e as instituições de ensino (BRASIL, 2012). Para desenvolver Educação Ambiental, compreende-se que é preciso levar em consideração que o educador constitui elemento principal, por ser ele quem deve orientar o trabalho pedagógico, na tarefa da constituição da cultura e dos saberes e sua complexidade permeada de valores, crenças, história de vida, experiências profissionais, enfim. Diante do exposto, a presente pesquisa teve como objetivo analisar a percepção e prática dos Professores de Ciências do Ensino Médio de três escolas da rede pública estadual do município de Fortaleza (CE), sobre o Ensino de EA, tomando como referência analítica a comparação com as orientações contidas nos PCN e DCNEM.

Material e métodos

O presente trabalho classifica-se como uma pesquisa de natureza descritiva, de campo, com feição de um estudo de caso com abordagem quanti-qualitativa. Classifica-se também como uma pesquisa bibliográfica, pois se desenvolve a partir do estudo realizado através de livros, artigos e nos PCN e DCNEM. A técnica empregada consistiu na aplicação de dois questionários. O primeiro teve o objetivo de investigar os dados pessoais e a formação acadêmica dos professores. O segundo focou na prática pedagógica e na concepção dos docentes com relação à Educação Ambiental. Em cada uma das escolas foi entrevistado um professor de Física, um de Química e um de Biologia. No tocante à prática pedagógica, os professores foram indagados sobre: a) quais fontes utilizam em suas abordagens em EA (jornal, revistas, vídeos da internet, etc); b) até que ponto as temáticas ambientais estão relacionadas com os conteúdos de suas disciplinas; c) se os conteúdos de suas disciplinas que estão interligados à temáticas ambientais. Quantos as concepções sobre Educação Ambiental, os professores foram estimulados a falarem sobre: a) a forma como vêm EA; b) a importância de discutir meio ambiente na escola; c) apontaram que julgam ser necessário para que o professor possa trabalhar EA no ambiente escolar. As etapas da pesquisa foram: 1ª Etapa: Iniciada em setembro de 2015, envolveu um levantamento dos principais problemas que envolvem Educação Ambiental. 2ª Etapa: Revisão Bibliográfica. Nessa etapa foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de conhecer o conceito e as orientações que os PCN e DCNEM trazem sobre a temática 3ª Etapa: Definição dos objetivos a serem alcançados e planejamento das atividades necessárias. 5ª Etapa: Construção dos instrumentos de pesquisa. Com base no estudo realizado nos PCN e DCNEM elaborou-se os questionários. 6ª Etapa: Aplicação dos Questionários 7ª Etapa: Tratamento dos Dados Nessa última etapa, os dados foram analisados e correlacionados com os objetivos da pesquisa. Comparou-se as respostas dadas pelos professores com o que está explicitado nos PCN e DCNEM, com intenção de descobrir se os entrevistados conhecem os documentos oficiais e se realizam suas práticas em EA de acordo com as orientações desses documentos. Objetivou-se, também, averiguar se a Educação Ambiental esteve presente na formação desses professores.

Resultado e discussão

SOBRE OS DADOS PESSOAIS E A FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS PROFESSORES: Entre os professores pesquisados 44,44% eram do sexo feminino e 55,56% do sexo masculino. Destes, 33,33% se encontravam na faixa etária compreendida entre 20 e 30 anos, 33,33% estavam entre 30 e 40 anos e os outros 33,33% entre 40 e 50 anos. Quanto ao tempo de magistério, 77,78% dos entrevistados possuem mais de cinco anos de trabalho na educação; 66,67% são professores efetivos da rede pública estadual; 88,89% deles possuem pós-graduação, e desses, apenas 37,5% o fizeram em áreas relacionadas à EA. Percebeu-se que os professores possuem um bom tempo de experiência como docentes e, apesar de apresentarem faixas etárias variáveis, a maioria é concursado e possuem nível de pós-graduação, e alguns ainda o fizeram na área de EA, o que demonstra interesse pelas temáticas. SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES: Entre os entrevistados, 66,67% acreditam que a EA não deve ser ministrada como mais uma disciplina específica do currículo, pois entendem que é uma temática que precisa ser trabalhada de forma interdisciplinar. Esse entendimento está de acordo com as sugestões dos DCNEM e dos PCN, que colocam as temáticas ambientais não apenas como interdisciplinares, mas também, como transversais, pois devem compor os objetivos e conteúdo de todas as disciplinas. Para Sato (2005), não podem ser abordadas como uma única disciplina específica, pois dificilmente se encontraria um profissional polivalente que detenha todos os conhecimentos inerentes à multidimensionalidade associada à questão ambiental, pois esta envolve muitas variáveis e sua solução precisa de vários conhecimentos e profissionais envolvidos. Todos os professores pesquisados afirmaram que sempre abordam os temas ambientais em suas aulas, que o fazem de maneira contextualizada, e que também procuram despertar nos alunos um pouco de consciência ecológica e cidadã. A contextualização, juntamente com a interdisciplinaridade, constitui, o principal eixo estruturador da organização curricular sugerida nos PCN e nas DCNEM, pois esses documentos consideram importante que o aprendizado estabeleça relações com vida cotidiana, a fim de induzir o aluno a uma reflexão capaz de provocar mudanças significativas em seus hábitos e atitudes. Todos os entrevistados acreditam que é importante as escolas desenvolverem projetos educacionais com foco em EA, mas, apenas os professores de uma das instituições de ensino pesquisadas participaram de um projeto de semana cultural que teve como tema a sustentabilidade. Os PCN e as DCNEM, consideram importante que a EA seja trabalhada como projetos interdisciplinares, porém, esses ainda não são compreendidos pelas escolas, nem tão pouco estão presentes na proposta pedagógica dessas instituições, por isso, nem todas abordam a temática e, quando o fazem, é de forma pontual, como uma semana cultural de um determinado ano e nada mais. Embora considerem a necessidade de se trabalhar com as temáticas ambientais de forma interdisciplinar, 44,44% dos professores afirmaram que convidariam apenas os professores das disciplinas da área de Ciências da Natureza para participar com eles de um possível projeto de EA; 33,33% disseram que convidariam os colegas da área de Ciências da Natureza e também os professores da área de Ciências humanas; apenas 22,22% consideram importante convidar docentes de todas as áreas. Essas respostas tornam evidente que para os entrevistados ainda não está claro a noção da contribuição dos diferentes componentes curriculares em um trabalho desse tipo. SOBRE A ABORDAGEM DE TEMÁTICAS AMBIENTAIS EM SALA DE AULA: Quando perguntados sobre quais fontes costumam utilizar como apoio em suas abordagens em EA, 77,78% dos professores afirmaram que utilizam vídeos e textos da internet. Os PCN orientam sobre a importância de se utilizar diversas fontes de consulta e abordagem para enriquecimento da temática e sugerem exemplos da prática cotidiana, notícias de jornais e revistas, textos e ilustrações dos livros didáticos, como formas apoio além da internet, mas, poucos dos entrevistados afirmaram que utilizam alguma dessas outras opções. A maioria dos professores, 77,78% vê relação entre os conteúdos de suas disciplinas e as temáticas ambientais, porém, 11,11% destes, afirmaram que não costumam abordá-las por falta de tempo. Avaliando os conteúdos relacionados aos temas ambientais e sugeridos pelos professores para trabalhar EA nas disciplinas de Química, Física e Biologia, percebeu-se, que a disciplina onde os professores diversificam mais suas abordagens foi a Química, pois nas outras disciplinas os conteúdos trabalhados se repetiram. Dos entrevistados, 88,89% afirmaram que abordam mais as temáticas que têm relação com os conteúdos de suas disciplinas. Entre esses, muitos disseram que o fazem, procurando sempre dar ênfase aos temas mais atuais. E um grupo um pouco menor, 55,55% desses mesmos professores, afirmou que procura estabelecer a relação homem/natureza e sistema produtivo. Para Lisboa e Kindel (2012), a educação deve buscar ações e estratégias para que as pessoas entendam as relações atuais de produção e consumo, bem como as futuras implicações decorrentes da continuidade da utilização dos recursos naturais até a exaustão, que causariam irreversíveis problema na manutenção da vida em nosso planeta. CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Todos os professores pesquisados consideram importante discutir meio ambiente na escola. Algumas colocações feitas por eles, foram: “A gente precisa. Temos que discutir o assunto e não só na escola, mas, também, fazer com que os alunos levem essa discussão para casa, para os pais” (Professor A); “É necessário que os alunos entendam os problemas que o mundo está passando e tenham oportunidade para refletirem criticamente sobre o papel deles diante de tudo isso” (Professor B); “É necessário a conscientização da preservação do meio em que vivemos, lembrando que a abrangência é bem maior, como cultural e política” (Professor C); “A escola é o início de toda a formação cidadã e o tema ambiental é importante para formar cidadãos conscientes” (Professor D). Perguntou-se aos professores o que consideravam necessário para desenvolver EA na escola. A maioria dos entrevistados citou o interesse, a parceria com outros professores, a realização de projetos, o apoio, principalmente do núcleo gestor, e a formação docente na área. Lisboa e Kindel (2012), consideram que o fazer pedagógico, dentro e fora da escola, deve ser acompanhado de investimentos em pesquisas, na formação de professores bem preparados e reestruturando a ideologia que permeia a escola em todos os níveis de ensino, adotando a educação ambiental como o motivador maior da práxi. Sobre a forma como avaliam suas abordagens em EA, 66,67% dos entrevistados consideram fracas, pois admitem que a grande quantidade de conteúdos para ministrar, o tempo reduzido de aula e a falta de tempo para se dedicar à pesquisa, são fatores que contribuem para que essas temáticas sejam trabalhadas, na maioria das vezes, apenas de forma ilustrativa e, dessa maneira, não são capazes de suscitar debates onde trocas de experiências cotidianas poderiam enriquecer a temática abordada e despertar a criticidade dos educandos em relação às mesmas.

Conclusões

Conclui-se, com a realização da pesquisa, que os professores consideram importante discutir questões ambientais na escola, pois entendem a necessidade de conscientizar, principalmente os alunos, sobre os problemas ambientais tão discutidos nos últimos tempos, a fim de que possam refletir criticamente sobre essas temáticas que clamam por urgentes mudanças. Compreendem que as questões ambientais apresentam uma grande abrangência disciplinar, pois não envolvem apenas aspectos científicos, mas, também, questões de cunho social, político, cultural, entre outros; e que é necessário ao cidadão, agir com respeito ao meio ambiente através da adoção de hábitos e posturas que possam ser repassados aos demais indivíduos. A maioria dos entrevistados acredita que pode contribuir efetivamente para a preservação e conservação do meio ambiente através de sua prática pedagógica e entende a importância da aplicação de projetos educacionais para fortalecer o trabalho com essas temáticas, pois consideram a contextualização e a interdisciplinaridade ferramentas importantes no trabalho com EA. No entanto, muitos acreditam que podem realizar um bom projeto apenas com os professores de Ciências da Natureza, ou, no máximo, entre os professores de ciências da natureza e Ciências humanas e, com isso, desconsideram as contribuições da matemática e da área de Linguagens e Códigos nesses projetos. Percebeu-se que os professores compreendem a importância de trabalhar EA na escola e conhecem as principais orientações dos PCN e DCNEM para o desenvolvimento dessa prática; porém, ainda trabalham de forma isolada e pontual e geralmente reduzem as abordagens a simples contextualizações ou ilustrações que pouco podem contribuir para a formação de uma visão efetivamente crítica por parte dos discentes, como também, dos docentes e de toda a comunidade escolar.

Agradecimentos

Ao Programa de Ensino de Ciências e Matemática da UFC (ENCIMA) e as três escolas da rede pública estadual de Fortaleza (CE), onde foi realizado essa pesquisa.

Referências

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC; CNE, Câmara de Educação Básica, 2012.

_______. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Brasília: MEC; SEMTEC,1999.

LISBOA, C. P; KINDEL, E. A. I. et al. Educação ambiental, da teoria à prática. Porto Alegre. Mediação, 2012.

PADUA, S. M. (coordenador). Conceitos para se Fazer Educação Ambiental. Secretaria do Meio Ambiente, Coordenadoria de Educação Ambiental. 3ª edição. São Paulo: A Secretaria, 1999.

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos. Rima Editora, 2005.