Autores

Mendes da Silva, J.F. (UFRJ) ; Guerra, A.C.O. (UFRJ) ; Teixeira, V.G. (UFRJ) ; Lages, A.S. (UFRJ) ; Almeida, C.R.P. (UFRJ) ; Lima, L.S. (UFRJ)

Resumo

A exposição itinerante “A Química em Tudo” tem como objetivo promover a formação interdisciplinar de alunos e professores de Química de escolas públicas de ensino fundamental e médio. Os participantes do projeto levam até as escolas um conjunto de experimentos relacionados aos temas Cosméticos, Qualidade da Água, Energias Renováveis e Artes, onde os alunos participam ativamente da execução dos experimentos, interagindo dialogicamente com os monitores responsáveis. Em 2015 foram atendidos cerca de 750 alunos em oito escolas públicas fluminenses, o que demonstra a importância de ações de divulgação científica nesses espaços.

Palavras chaves

Divulgação Científica; Espaços não formais; Ensino de Química

Introdução

O elo central do processo de aprendizagem em Química, seja na educação formal como na não formal, é a formação de conceitos e, para tanto, é necessário ao aluno confrontar duas categorias de conceitos: aqueles advindos do senso comum, construídos cotidianamente pela ação direta das pessoas frente à realidade experimentada por elas, e os científicos, construídos em situações de ensino-­aprendizagem. Somente a partir deste confronto se dá a superação do senso comum e a construção do conhecimento científico. Nesse contexto, eventos de educação não formal voltados para a divulgação e popularização da ciência apresentam­-se bastante eficientes. Estes eventos incluem não só a transmissão de conceitos científicos, mas a significação dos mesmos na construção da cidadania. A formação cidadã dos alunos implica em um ensino de Química contextualizado, em que os discentes possam perceber as relações entre o conhecimento científico e sua vivência social, compreendendo que este tipo de saber é fundamental para que eles compreendam, analisem, critiquem e transformem a realidade social de suas comunidades. Um aspecto muito importante no desenvolvimento de projetos escolares inovadores é o incentivo de discursos interdisciplinares, onde existe uma proposta de desenvolvimento de uma racionalidade gerada, segundo Habermas, pelo encontro dos discursos das Ciências, da Filosofia e o chamado “mundo da vida” (MINAYO, 1994). A partir desses pressupostos, a equipe do Laboratório Didático de Química (LaDQuim) do IQ/UFRJ estruturou a exposição itinerante “A Química em Tudo”, que tem como objetivo promover a formação interdisciplinar de alunos e professores de Química de escolas públicas de ensino fundamental e médio.

Material e métodos

Os participantes do projeto levam até às escolas um conjunto de experimentos, onde os alunos participam ativamente da execução dos mesmos, interagindo dialogicamente com os monitores responsáveis por cada um deles. A exposição é dividida em quatro áreas: 1.Artes: nesta área discutimos as relações entre a Química e as Artes, bem como a importância destas como manifestação cultural humana. Para ilustrar a relação desses dois campos, é preparado o pigmento amarelo limão a partir da reação entre cloreto de bário e cromato de potássio em meio aquoso. Com o pigmento, os alunos preparam tintas a óleo e guache, e constroem uma pintura coletiva que fica como registro da visita da exposição à escola. 2.Cosméticos: nesta área discute-se o conceito de beleza e sua relação com a auto-estima dos alunos. Preparamos nesta área dois cosméticos: óleo bifásico e batom. Em relação aos cosméticos, realizamos ainda a medição do valor de pH de diversos produtos cosméticos e de higiene pessoal, discutindo os conceitos de acidez e basicidade e sua relação com a qualidade desses produtos. 3.Qualidade da água: de forma a discutirmos a importância da água para a manutenção da saúde humana, bem como do tratamento da água para a purificação da mesma, realizamos ensaios químicos com amostras de água coletadas na escola. 4.Energias renováveis: apresentamos aos alunos diversos brinquedos educativos movidos por energia solar ou eólica, ou ainda por ação de uma célula a combustível. Os conceitos químicos associados, bem como a noção de sustentabilidade, são discutidos nesta área da exposição.

Resultado e discussão

Em 2015 foram atendidos cerca de 750 alunos em oito escolas públicas fluminenses, abrangendo os municípios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Belford Roxo, Petrópolis e Angra dos Reis. A grande demanda de visitas demonstra, por um lado, a importância dada a essas ações pelos professores e diretores de escolas, e por outro, a ausência de condições de realização, na escola, de atividades experimentais que se integrem aos conteúdos abordados pelo professor em sala de aula. Os alunos participam avidamente das discussões, demonstrando grande interesse especialmente nos experimentos de energias renováveis e de preparação de cosméticos. É comum observar que os alunos apresentam uma grande dificuldade em associar conceitos trabalhados em sala de aula, como concentração de soluções e miscibilidade de líquidos, aos fenômenos observados durante os experimentos, sendo comum, após uma apresentação dos conceitos químicos envolvidos, ouvi-los dizer que os professores já haviam falado sobre aquele assunto, mas que não haviam percebido a relação com o experimento, indicando uma dificuldade de transposição dos conteúdos teóricos para a elaboração de explicações dos fenômenos observados. Além do letramento científico dos alunos, é importante ressaltar que a exposição é, também, um espaço de formação de professores, já que os monitores que nela atuam são licenciandos em Química, Física, Filosofia, Belas Artes e História, proporcionando a eles um espaço de planejamento de ações pedagógicas renovadas, de forte cunho interdisciplinar, e que eles podem rediscutir, analisar e aprimorar a cada vez que a atividade é realizada em uma escola, adequando a exposição às necessidades e possibilidades dos alunos atendidos.

Conclusões

As ações da exposição itinerante "A Química em Tudo" nas escolas fluminenses em 2015 demonstrou a importância das ações extensionistas universitárias para a divulgação científica e o estabelecimento de colaborações entre as escolas públicas de Educação Básica e a universidade na promoção do letramento científico dos alunos dos ensinos fundamental e médio, bem como na formação dos licenciandos que atuam no projeto, estimulando-os a engajarem-se com práticas docentes renovadas e promotoras do protagonismo dos alunos na construção do conhecimento.

Agradecimentos

Agradecemos à FAPERJ, CNPq, CAPES e PR5/UFRJ pelo apoio financeiro ao projeto.

Referências

MINAYO, M.C.S.Interdisciplinaridade: funcionalidade ou utopia?. Saúde Soc., v. 3, 42-­64, 1994.