Autores
Souza, E.A. (UEA) ; Andrade, L.P. (UEA) ; Moreira, A.R. (UEA) ; Belém, A.G. (UEA) ; Silva, E.C.V. (UEA) ; Serrão, E.M. (UEA) ; Souza, T.G. (UEA) ; Rocha Filho, J.S. (UEA) ; Assis Júnior, P.C. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA)
Resumo
Este estudo foi realizado com professores do campo de duas escolas estaduais do município de Parintins que ofereciam a Educação de Jovens e Adultos (EJA) vinculada ao ProJovem Campos Saberes da Terra. Participaram do estudo professores formadores e acadêmicos do Curso de Química e professores da EJA. Metodologia deste estudo se sustentou na abordagem dialética que interpreta a realidade do sujeito e foi amparada nos trabalhos de Eleutério (2015); Gondim e Mól (2009); Chassot (2008) e nos cadernos pedagógicos utilizados pelos professores do ProJovem. O diálogo aconteceu entre os conteúdos da química e à temática “produção de farinha de mandioca” - objeto do conhecimento o que possibilitou aos professores uma formação docente sólida e autônoma.
Palavras chaves
Saberes da Química; Professor do Campo; Produção de farinha
Introdução
Este estudo envolveu duas escolas do campo e tinha intenção de mostrar que é possível construir uma proposta de ensino para ser trabalhada pelo professor de química tomando como base a vivência da população campesina e as práticas produtivas desenvolvidas nesse contexto. Foram envolvidos no estudo professores formadores e acadêmicos do Curso de Licenciatura em Química, professores que atendiam alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em escolas do campo, vinculados ao ProJovem Campo – Saberes da Terra. Este Programa visava promover e elevar a escolaridade de jovens agricultores, com idade entre 18 a 29 anos, excluídos do sistema formal de ensino; oferecer a especialização “lato senso” aos professores e coordenadores pedagógicos das áreas do conhecimento em efetivo exercício assim como, oferecer curso de atualização pedagógica para professores da qualificação profissional. As atividades de ensino foram apoiadas no parecer do Conselho Nacional de Educação (2002) que recomenda a inclusão de temáticas que contemplam a diversidade rural, cultural, social, política, econômica, de gênero, geração e etnia nas propostas pedagógicas. Acreditamos nessa possibilidade e a partir do conhecimento, vivencias dos professores do campo e do material pedagógico utilizado por eles, dialogamos com os conteúdos da química. Os resultados foram satisfatórios que permitiu a realização de uma formação pedagógica com outros professores que ensinavam em escolas rurais na modalidade EJA, considerando a necessidade de uma concepção mais ampliada que promovesse o diálogo entre os saberes produzidos na academia e as vivências construídas pela população do campo.
Material e métodos
O estudo se sustentou no método de abordagem dialética proposta por Hegel, que interpreta a realidade do sujeito. Nesta perspectiva, o pesquisador compreende que a realidade é um processo dinâmico, nada está definido, tudo se relaciona, portanto, os fatos não podem ser considerados e analisados sem considerar o contexto social, político, econômico, etc.(LAKATOS e MARCONI, 2010). Esse modelo [...] compreende o ser humano como elemento transformador e criador de seus contextos (GHEDIN e FRANCO, 2008). Os procedimentos técnicos apoiados nos trabalhos de Eleutério (2015); Gondim e Mól (2009); Chassot (2008) e nos cadernos pedagógicos: Agricultura Familiar; Sistema de Produção; Cidadania; Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável (MEC/SECAD, 2010). Em um primeiro momento, os acadêmicos do Curso de Licenciatura em Química entrevistaram 8 professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) vinculados ao ProJovem Campo – Saberes da Terra de duas escolas do campo com o intuito de se conhecer a vivência e prática pedagógica desenvolvida por eles. Num segundo momento analisaram o material pedagógico (caderno) utilizado pelos professores e identificaram as temáticas que possibilitavam o diálogo entre os conteúdos da química. No terceiro momento se construiu a proposta de ensino e no quarto momento realizou-se a formação pedagógica (Figura 1) com outros professores que ensinavam em escolas rurais na modalidade EJA e com a participação dos acadêmicos do Curso de Licenciatura em Química.
Resultado e discussão
O estudo mostrou o conhecimento que os professores têm das práticas produtivas realizadas cotidianamente nas comunidades tradicionais. Porém, não tinham percebido ainda a possibilidade de diálogos entre essas práticas e os conteúdos da química. Eles conhecem o processo de fabricação de farinha; de produção de vasilhas de barro; de tingimento de cuias; de produção de extratos vegetais; extração de óleos etc. Dentre essas atividades, os professores têm mais habilidade em produzir a farinha de mandioca (Manihot esculenta Crantz), portanto, esta foi escolhida para promover o diálogo entre o saber tradicional e o saber da academia (químico).
No processo de fabricação da farinha de mandioca foi demonstrada a separação de misturas: peneiração, filtração, decantação (Figura 1) e a reação de oxidação (Figura 2).
As imagens demonstram que saberes e práticas tradicionais da população campesina possuem vínculo com a química, se configuram excelentes instrumentos didáticos para os professores que atuam nesse contexto e ajudam na conservação da identidade das pessoas do lugar. Arroio (2007) é a favor de que reconheçamos a centralidade da terra e do território na produção da vida, da cultura, das identidades, da tradição, dos conhecimentos da população do campo, portanto, não podemos pensar numa proposta curricular linear, urbanística, racionalista e técnica. É necessário que a educação do campo tenha o seu próprio projeto curricular voltado para as pessoas que vivem no campo e que considere as práticas produtivas, a cultura e seus conhecimentos. Neste estudo, os conteúdos da química foram subordinados à temática “produção de farinha de mandioca” – objeto do conhecimento o que possibilitou aos professores uma formação sólida e autônoma.
Conclusões
Este estudo deixou evidente que os conhecimentos tradicionais e o científico são elementos que se cruzam, entrelaçam e se expandem, criam e recriam, proporcionam relações educativas que nascem das experiências e vivencias de professores da escola do campo. Os conteúdos de química ensinados nessa perspectiva favorecem a formação cidadã e a quebra do paradigma tradicional de ensino que tem suas origens nos primórdios da colonização, com as práticas educativas adotadas pelos jesuítas e que ainda hoje tendem permanecer em algumas escolas brasileiras.
Agradecimentos
À Coordenação do Curso de Licenciatura em Química; ao Programa ProJovem Campo Saberes da Terra; às Escolas Estaduais Caetano Mendonça e Cuburi do município de Parintins.
Referências
ARROYO, M. G.. Políticas de Formação de Educadores (as) do Campo. Cad. Cedes, Campinas, vol. 27, n. 72, p. 157-176, maio/ago. 2007.
CHASSOT, A. Fazendo educação em ciências em um curso de pedagogia com inclusão de saberes populares no currículo. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 27, p. 9-12, fev. 2008.
ELEUTÉRIO, Célia Maria Serrão. O Diálogo entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a formação Inicial de Professores de Química na Amazônia. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Cuiabá, 2015.
GONDIM, M. S. da C.; MÓL, G. de S. Interlocução entre os saberes: relações entre os saberes populares de artesãs do Triângulo Mineiro e o ensino de ciências. In: VII ENPEC - Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2009, Florianópolis. VII ENPEC, 2009.
LAKATOS, E. M.; MARCONI. M. de A. Fundamentos da Metodologia Científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.