Autores
Eleutério, C.M.S. (UEA/CESP) ; Santos, H.C. (UEA/CESP) ; Santos, R.S.O. (UEA/CESP) ; Santos, R.X. (UEA/CESP) ; Silva, A.S. (E.E.T.M/SEDUC) ; Souza, C.R.S. (UEA/CESP) ; Souza, R.J. (UEA/CESP) ; Souza, T.G. (UEA/CESP)
Resumo
Esta experiência demonstrou a possibilidade de romper com o paradigma do ensino tradicional, mostrar uma visão diferente de fazer ciência e vincular a temática “Pigmentos Naturais” na disciplina de Química. Desenvolvida por acadêmicos do curso de Química vinculado ao PIBID envolvendo alunos da E.E.T.M. do Ensino Médio. A metodologia foi apoiado nos estudos de Damasceno, Silva e Francisco (2010) e Renhe et al. (2009). Os testes foram feitos na residência de alunos e no Laboratório de Educação Química e Saberes Primevos - CESP/UEA. A avaliação desses resultados confirma que a experiência realizada com o fruto de jenipapo verde pode constituir uma excelente estratégia didático-pedagógica para o ensino de química pelo fato de permitir o diálogo entre o saber tradicional, acadêmico e escolar.
Palavras chaves
Pigmentos Naturais; PIBID; Ensino de Química
Introdução
Nos aldeados indígenas e em algumas comunidades tradicionais da Amazônia a extração de pigmentos naturais de acordo com Eleutério (2015) é uma prática rotineira, por exemplo, o extrato do jenipapo (Genipa americana L.) é usado para pintar o corpo, tecidos, adornos, para açoitar utensílios cerâmicos etc., esta atividade não é comumente explorada no contexto da escola, uma vez ou outra se percebe este tipo de experimentação nesse espaço formativo, e quando isso acontece o professor ainda é mal interpretado pelos colegas que dizem “não ser ciência” este tipo de conhecimento. Com o intuito de romper com esse paradigma, mostrar uma visão diferente de se fazer ciência e tentar situar os “Pigmentos Naturais” no ensino básico, acadêmicos do curso de Química vinculados ao PIBID e alunos da Escola Estadual Tomaszinho Meirelles produziram um extrato utilizando frutos de jenipapos (Genipa americana L.) verdes. De acordo com Damasceno, Silva e Francisco (2010) e Renhe et al. (2009), o fruto verde de jenipapo produz, por oxidação, um corante azul escuro solúvel em água e etanol. Os frutos maduros de jenipapo quando submetidos à extração com solventes orgânicos fornecem um extrato amarelo cristalino, enquanto que a extração com soluções diluídas de hidróxido de sódio (NaOH) resulta em um extrato azul, cujo pigmento principal é um geniposídeo. Com base nessas informações podemos afirmar que corantes provenientes de espécies naturais podem se constituir elementos importantes para ensinar química em escolas amazônidas pelo fato desta Região apresentar uma variedade de espécies vegetais produtoras de pigmentos. Isso, justifica a realização desta experiência com alunos da Educação Básica no município de Parintins-AM. Ressaltamos que esta experiência possibilitou tecer um diálogo entre a cultura local, os saberes da academia e da escola.
Material e métodos
O desenvolvimento desta experiência seguiu as orientações de índios e caboclos que dominavam a técnica de extração de pigmento de jenipapo (Genipa americana L.). O procedimento metodológico foi estruturado a partir dos relatos dos atores sociais que possibilitou criar um roteiro para a extração. A experiência foi desenvolvida por acadêmicos do curso de Química do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) envolvendo alunos da Escola Estadual Tomaszinho Meirelles do 1º, 2º e 3º Ano do Ensino Médio. O procedimento metodológico foi apoiado nos estudos de Damasceno, Silva e Francisco (2010) e Renhe et al. (2009). O fruto de jenipapo (Genipa americana L.) foi coletado na área urbana de uma escola no município de Parintins-AM. Os primeiros testes de extração foram realizados nas residências dos alunos do Ensino Médio pelo fato da escola não possuir Laboratório e espaço adequado para o desenvolvimento da atividade. Para extrair o corante, o fruto foi cortado, as sementes retiradas, a polpa espremida (como se fosse um limão) e coada. O extrato ficou em repouso por um tempo prolongado para se observar a intensidade de cor. Os testes foram repetidos na universidade no Laboratório de Educação Química e Saberes Primevos no CESP/UEA sob a orientação e supervisão de três professores de Química. As extrações foram realizadas em meio aquoso a frio; meio quente com sal, pré tratamento com mordente em meio frio e quente. Para testar o extrato de jenipapo (Genipa americana L.) foram utilizadas peças confeccionadas em tecidos de algodão. As peças foram lavadas em água corrente e colocadas para secar em temperatura ambiente para verificar a fixação e tom de cor. Os resultados foram organizados, avaliados e apresentados na XI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
Resultado e discussão
A avaliação do processo de extração do corante de jenipapo, demonstrou que água e etanol extraem um corante azul intenso, que se torna negro, principalmente em temperaturas superiores a 80ºC corroborando os estudos desenvolvidos por Damasceno, Silva e Francisco (2010) e Renhe et al. (2009). Foi percebido também que a utilização de mordente proporcionou uma melhor fixação e uniformidade das cores nas peças tingidas. A temperatura do tingimento levou a tons de cor diferentes (Figura 1).
Esta experiência possibilitou visualizar a existência de outros grupos funcionais presente no extrato de jenipapo (Genipa americana L.) verde (Figura 2), corroborando o estudo das funções orgânicas (álcool, éter e éster), ligações químicas, classificação de carbono e de cadeias carbônicas. Foi possível utilizar o extrato de jenipapo (Genipa americana L.) para demonstrar a grandeza pH, soluções, o processo de extração de corantes naturais realizado pelos alquimistas (história da química). Reforça o estudo ou ampliação de técnicas de extração de pigmentos naturais da Amazônia com vista à aplicabilidade sustentável na indústria têxtil e de alimentos.
Estes exemplos confirmam a possibilidade de se trabalhar na educação básica conteúdos químicos a partir de uma abordagem temática (pigmentos naturais) que esteja vinculada ao contexto do aluno para que se sinta motivado a aprender química. De acordo com Fernandes (2012), o professor ao estimular o aluno, o desafia a aprender e a mobilizar competências. Paulo Freire (2011) mostra a importância do professor respeitar a individualidade do aluno aproveitar suas vivências e experiências no ato de educar. Assim, é possível fazer a ponte entre os saberes acadêmicos, escolares e os conhecimentos que o aluno adquiriu no decorrer de sua vida.
tecidos tingidos com extrato de jenipapo(genipa americana L.)
Estrutura da genipina com grupos funcionais
Conclusões
Esta experiência nos fez perceber que estudos que envolvem realidades tão diversas e complementares se entrelaçaram nas atividades culturais, formando conexões entre os saberes acadêmicos, escolares e tradicionais como demonstra o processo de extração do pigmento de jenipapo (Genipa americana L.). As atividades práticas como essas favorecem a construção do conhecimento científico, estimula o pensar e o fazer, proporciona o envolvimento de professores da universidade e da educação básica, acadêmicos do PIBID e alunos de diferentes níveis de conhecimento, promove momentos de reflexão, tomada de decisões e sobretudo, permite a partilha e a chegada de conclusões.
Agradecimentos
Agradecemos a Deus, CAPES/PIBID, à FAPEAM, aos alunos, à Profª. Dra. Célia Maria Serrão Eleutério por colaborar parte dos resultados e sua Tese, ao Prof. Dr. Rafael Jovit
Referências
DAMASCENO, Silvia Mara Bortoloto; SILVA, Fernanda Trevizam Floriano da; FRANCISCO, Antônio Carlos de. Sustentabilidade do processo de tingimento do tecido de Algodão Orgânico. XX Encontro Nacional de Engenharia de Produção Maturidade e Desafios da Engenharia de Produção: Competitividade das Empresas, Condições de Trabalho, Meio Ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a 15 de outubro de 2010.
ELEUTÉRIO, Célia Maria Serrão. O Diálogo entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a Formação Inicial de Professores de Química na Amazônia. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Mato Grosso, Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Cuiabá, 2015.
FERNANDES, João André Tavares. Uma reflexão sobre a diversidade cultural na universidade: respeito às diferenças, en Contribuciones a las Ciencias Sociales, Agosto 2012, www.eumed.net/rev/cccss/21.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.
RENHE, Isis Rodrigues Toledo; et al. Obtenção de corante natural azul extraído de frutos de jenipapo. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v. 44, n. 6, p.649-652, jun. 2009.