Autores

Oliveira Souza, C. (UECE) ; Oliveira Pinheiro, S. (UECE) ; Smenesesilva Alencar de, J.E. (UECE) ; Arruda Paz, L. (UECE)

Resumo

A realidade educacional de surdos no Brasil consiste no fato que a inclusão social para pessoas portadoras de alguma deficiência, seja ela física ou mental, ainda não se comporta como devido. Nesse sentido, a formação de professores para atender a necessidades educacionais especiais, constitui-se como um dos assuntos mais urgentes da educação Brasileira e fomenta inquietações entre profissionais de todas as áreas da educação. Neste trabalho, foi avaliada a compreensão dos alunos com surdez na escola de surdos de Fortaleza, comparando aqueles que têm intérpretes adaptados à Química e intérpretes que usam a datilologia em termos específicos dessa disciplina. Logo, comparados os resultados, chegou-se a conclusão que a parceria de intérpretes e professores é para aprimorar o conhecimento.

Palavras chaves

libras; ensino; química

Introdução

A Química é considerada uma disciplina, para muitos estudantes ouvintes, complexa, pelas suas reações, cálculos, nomenclaturas e termos específicos. Logo a compreensão dessa disciplina se torna ainda mais complicada para os alunos com deficiência auditiva, pois o meio de comunicação destes é através da Língua de Sinais que ainda apresenta um déficit de sinais adaptados na Química. Dessa forma, os intérpretes e professores precisam trabalhar juntos para melhorar a compreensão do surdo em sala de aula. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua de sinais usada por pessoas com deficiência auditiva para a sua comunicação. Da mesma forma que nas línguas orais- auditivas existem palavras, nas línguas de sinais também permitem expressão de qualquer conceito, que recebem o nome de sinais. Com a regulamentação da Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, que se dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, afirma que a inclusão escolar da criança surda deve ser desde os seus primeiros anos, seja pública ou privada, com o direito a educação e oportunidades iguais às crianças ouvintes. Um fator que ainda gera debates é inclusão dos alunos surdos nas salas de aula e em todos os contextos escolares que levam aos conceitos químicos, pois infelizmente nem todos os sinais necessários para a comunicação e para o crescimento científico destes estudantes estão disponíveis, logo para que os estudantes surdos e seus intérpretes possam buscar uma maior interação com a disciplina de Química, que é considerada uma das mais complexas por muitos, é necessário um relacionamento diário entre aluno-intérprete, para que juntos possam tornar apto o uso da LIBRAS nesta disciplina.

Material e métodos

A presente pesquisa foi realizada com 60 alunos surdos do Ensino Médio e 15 intérpretes, em duas escolas de fortaleza. As instituições de ensino que contribuíram para o resultado da pesquisa foram a EEFM Monsenhor Dourado e o Instituto Cearense de Educação dos Surdos (ICES) especializado em surdez, das quais são classificadas como escolas inclusivas, ou seja, nelas há alunos ouvintes e alunos surdos. No EEFM Monsenhor Dourado, o questionário contendo 10 (dez) questões foi aplicado nas salas de aulas do 2º e 3º ano do Ensino Médio para alunos com deficiência auditiva do turno da manhã, pois nestas continham alunos surdos e os seus intérpretes. Alguns professores ouvintes destas salas debateram sobre a dificuldade de ter um aluno deficiente auditivo em sala de aula, enquanto o intérprete traduzia o questionário para os alunos. No ICES, todos os alunos são surdos, logo foi realizado o questionário contendo as 10 (dez) questões tanto em sala de aula, quanto fora, durante o intervalo dos alunos. Durante a aplicação do questionário, em algumas salas, os intérpretes ajudaram os alunos a respondê-lo, em outros locais, como no pátio do instituto, os próprios alunos ajudavam um ao outro a traduzir as perguntas. O questionário para os intérpretes contendo 9 (nove) questões foi realizado nas salas dos professores. Ainda, neste instituto, pode-se debater com os professores, que também são ouvintes, sobre como administrar uma aula com alunos surdos.

Resultado e discussão

Todos os alunos entrevistados das duas escolas já nasceram com algum grau de deficiência auditiva. Segundo Censo do IBGE (2010), 45 milhões de brasileiros tem deficiência, sendo que 9.722.163 milhões são Deficientes Auditivos, sendo que quatro em cada 100 pessoas já nascem surdas. É bastante visível que a maioria dos alunos, cerca de 86% dos surdos tiveram seu primeiro contato com a Língua de Sinais nas escolas. O restante aprendeu a LIBRAS com amigos ou com a família, o que nos mostra o quanto a inclusão social e escolas bilíngues são de suma importância para os surdos. A figura 01 indicou que as maiorias dos alunos preferiram a comunicação com os sinais intrínsecos da Química. Observou-se que 86% dos alunos surdos preferem que as aulas de Química sejam traduzidas com os sinais já existentes ou adaptados na LIBRAS, o restante ainda aderem a tradução pela datilologia. 100% dos alunos surdos confirmaram que esses sinais melhoram a aprendizagem dessa disciplina que muitos consideram complexa, ou seja, esses sinais facilitam o entendimento da Química e as suas complexidades, como os seus termos específicos. Notou-se que a maioria dos profissionais dessa área já exercem a profissão de intérprete de LIBRAS a mais de cinco anos, demonstrando experiência e conhecimento para os sinais da Língua Brasileira de Sinais. A grande maioria dos intérpretes de LIBRAS já atuaram nessa área há mais de cinco anos, ou seja, muitos deles já tem um conhecimento de sinais bastante elevado. O questionamento abordado revelou que uma grande parte dos intérpretes de LIBRAS aprendeu essa língua em cursos, com amigos e alguns em comunidades religiosas (Figura 02).

Figura 01

Preferência dos alunos pela tradução da aula de Química com Datilologia ou Sinais da Química

Figura 02

Respostas dos intérpretes para a pergunta: Onde você aprendeu a LIBRAS?

Conclusões

De acordo com os resultados obtidos, observou-se um elevado número de alunos surdos com amplo interesse na disciplina de Química, porém com o desejo de adquirir mais conhecimento na Ciência, esses alunos apresentam dificuldades na sua aprendizagem. Então indica-se que essa aprendizagem da Química deverá ser aprimorada. Adaptar mais sinais específicos de Química para os sinais, assim a tradução do intérprete será mais rápida, e o aluno surdo poderá compreendê-la melhor, é recomendável também que o professor em sala utilize a tecnologia, como vídeo-aulas ou práticas em laboratório.

Agradecimentos

As escolas EEFM Monsenhor Dourado e o Instituto Cearense de Educação dos Surdos (ICES), pela compreensão e parceia na execução desta pesquisa.

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