Autores

Lima, F.C. (DQCI UFS ITA) ; Santos, F.S. (DQCI UFS ITA) ; da Silva, E.L. (DQCI UFS ITA) ; dos Santos, M.L. (DQCI UFS ITA)

Resumo

Neste trabalho apresentamos a elaboração e aplicação de uma oficina temática sobre a produção de cerâmicas vermelhas, importante Arranjo Produtivo Local (APL) da região do Agreste Sergipano, que possibilitou a contextualização dos conteúdos químicos de misturas e seus processos de separação. A execução da oficina contou com a participação de estudantes do ensino médio e empregou as matérias primas usadas em uma empresa ceramista visitada. Materiais de uso cotidiano também foram utilizados e os resultados foram coletados através da gravação de áudio e questionários. Os alunos apresentaram soluções para os problemas propostos empregando os conceitos químicos abordados, mas mantiveram o foco nas características visuais dos materiais, apesar de relacioná-las com transformações químicas.

Palavras chaves

Cerâmica vermelha; Oficina temática; Separação de misturas

Introdução

O ensino de Ciências dentro da perspectiva CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) defende a contextualização do conhecimento científico, a partir da problematização dos conhecimentos, em torno de questões sociais, o que resulta na formação de cidadãos capazes de tomar decisões e resolver problemas na sociedade (CEREZO, 1999). Nessa perspectiva, a realização de oficinas temáticas possibilita um contexto diferenciado para a abordagem de conhecimentos a partir de temas atrelados a questões tecnológicas e sociais. Estas oficinas têm como base experimentos elaborados para que os estudantes possam refletir sobre determinados conceitos relacionados com situações cotidianas, permitindo, assim, uma visão mais integrada do conhecimento e do mundo (LIMA et al, 2013). A abordagem temática é pautada, inicialmente, em uma situação problema ou tema gerador que remete ao estabelecimento das relações CTS. Um modelo desta abordagem proposto por Marcondes et al (2007) prevê, na sequência, o levantamento do panorama geral do problema, através de visitações, notícias, filmes, etc.; da visão específica ligada à Química, com atividades relacionadas à linguagem e aos conceitos; por fim, uma síntese, com uma nova leitura do problema, na qual são observados os posicionamentos e atitudes. No presente trabalho apresentamos os resultados da produção e aplicação de uma oficina temática versando sobre a produção de Cerâmicas Vermelhas, um importante Arranjo Produtivo Local (APL) da região do Agreste Sergipano, que compreende os municípios de Itabaiana, Campo do Brito e Areia Branca (SERGIPE, 2009). Essa temática é extremamente relevante do ponto de vista econômico, social e ambiental para esta região e permitiu a abordagem dos conceitos químicos de misturas e métodos de separação.

Material e métodos

A escolha do tema gerador cerâmica vermelha decorreu do fato desta ser uma APL presente no Agreste de Sergipe, região onde também se localiza o Campus Prof. Alberto Carvalho, da Universidade Federal de Sergipe, do qual os autores deste trabalho fazem parte. Para iniciar a elaboração da oficina temática, conforme o modelo proposto por Marcondes et al (2007), realizamos uma visita guiada à uma empresa ceramista do município de Itabaiana (Cerâmica Serrana), na qual foi observado todo o processo de produção de blocos de cerâmica vermelha, figura 1. Com base nestas observações foi elaborada uma oficina temática baseada nesta APL e associando os conceitos químicos de misturas e métodos de separação destas. A oficina foi estruturada na observação de materiais, realização de experiências por parte dos estudantes participantes e resolução de situações problema, divididas em três momentos: o primeiro na identificação das matérias primas; o segundo nas misturas e separação dos componentes (ou impurezas presentes); o terceiro na queima ou cozimento dos blocos de argila. A oficina foi aplicada com nove alunos do ensino médio de um colégio Estadual, pelo período de 2 horas. Além das argilas (barro preto e barro amarelo ou selão), blocos crus, blocos cozidos e retalhos de blocos, cedidos pela Cerâmica visitada, também foram incluídos outros itens (areia, pedras, limalha de ferro, ímã, peneira de suco, garrafas plásticas, frascos coletores, entre outros materiais de uso cotidiano) para fomentar a discussão das misturas e separações. Outros recursos didáticos empregados na realização da oficina foram: apostilas, slides e projetor. A coleta de dados foi realizada usando gravador de áudio e questionários com as situações problema, a partir dos quais foram analisados os resultados.

Resultado e discussão

No 1o momento (identificação das matérias primas, figura 2) foi solicitado que 2 grupos selecionassem os materiais para produzir um bloco. Um grupo selecionou selão, barro preto e água, porém chegou à conclusão de que havia excesso de água: “tem água demais, coloca mais argila amarela (selão)”; o segundo grupo acrescentou também areia. Quando perguntados se construiriam uma casa com esse material responderam: “com esse não, colocou água demais”. Ao final um integrante de outro grupo exclamou: “a areia é para fazer o bloco de cimento”. No 2o momento (mistura e separação) após o preparo de três misturas sugeridas os alunos mencionaram aspectos visuais: “a cor mudou”, “a textura mudou”, além de citar o papel da água como “para fazer a mistura”, “para fazer a massa” e “ajuda na modelagem”. Duas separações de misturas foram também sugeridas, selão+pedras e selão+ferro. Para separar selão+pedras: “catação com a mão”, “coloca água, um sobe outro desce” e “fazer o mais fácil, catar, não ficar peneirando”. Estas falas demonstram conhecimento sobre os processos de separação e a aplicação destes na solução dos problemas. Também foi feito um paralelo ao apresentar os métodos empregados na Cerâmica Serrana: a remoção da água pelo uso de uma bomba à vácuo e o uso de um grande ímã para retirar impurezas metálicas. No 3o momento (queima) os aspectos relacionados com o cozimento dos blocos foram abordados pela comparação do bloco cru e queimado. As explicações dos grupos foram pautadas nas diferenças entre estes: “o bloco cru desmancha com água”, “quando queima retira a água” e “muda a substância quando queima”. É perceptível que os alunos se apropriaram das propriedades dos materiais, mas também tentaram explicar essa mudança a partir de uma reação química promovida pelo aquecimento.

Figura1ceramica

Etapas do processo de produção de blocos de cerâmica vermelha (Cerâmica Serrana): matérias primas, misturas, maquinários, blocos crus e cozimento.

Figura2oficina

Apresentação das matérias primas e algumas fotografias da realização da oficina temática de produção de cerâmicas vermelhas.

Conclusões

A abordagem temática da produção de cerâmica vermelha, importante Arranjo Produtivo Local da região do Agreste Sergipano, permitiu a contextualização dos conceitos químicos de mistura e separação de misturas. Tendo em vista os resultados obtidos com a oficina foi possível verificar que os estudantes se apropriaram do conhecimento científico para propor soluções às questões impostas. Por fim, é observado na fala dos alunos que suas considerações estão pautadas, principalmente, em suas impressões sensoriais, relacionadas com os aspectos macroscópicos dos materiais.

Agradecimentos

Adenilton M. Santos, funcionário da Cerâmica Serrana, pela visita monitorada. Alunos do Colégio Estadual Dr. Augusto C. Leite, participantes da oficina. NIPPEC, pelo empr

Referências

CEREZO, J. A. L. Los estudios de ciencia, tecnología y sociedad. Revista Iberoamericana de Educación, nº 20, 217-225, 1999.

LIMA, J. D. F. V.; SOUSA, A. N.; SILVA, T. P. Oficinas Temáticas no Ensino de Química: Discutindo uma Proposta de Trabalho para Professores no Ensino Médio. Anais do Encontro Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia. v 1, nº 1, 2012.

MARCONDES, M. E. R.; SILVA, E. L.; AKAHOSHI, L. H.; SOUZA, F. L.; CARMO, M. P.; SUART, R.; MARTORANO, S. A. A.; TORRALBO, D. Oficinas temáticas no Ensino Público. 1. ed. São Paulo: FDE, 2007. v. 1. 108 p.

SERGIPE. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia. Plano de Desenvolvimento do APL de Cerâmica Vermelha de Sergipe ou O que são arranjos produtivos locais. Disponível em: http://www.neapl.sedetec.se.gov.br/modules/tinyd0/index.php?id=7. Acesso em: 03 jun. 2009.