Autores

Soares, C. (IFMA/CAMPUS CAXIAS) ; Lima, A. (IFAM/CAMPUS CAXIAS) ; Sousa, E. (IFMA/CAMPUS CAXIAS) ; Guimarães, J. (IFMA/CAMPUS CAXIAS) ; Viana, R. (IFMA/CAMPUS CAXIAS) ; Santos, T. (IFMA/CAMPUS CAXIAS) ; Vascocelos, W. (IFMA/CAMPUS CAXIAS)

Resumo

Um dos grandes desafios encontrados por professores que trabalham em salas de inclusão é a falta de materiais didáticos adaptados a esse fim. Em se tratando da disciplina de química é perceptível uma desigualdade entre alunos videntes e não videntes, já que o ensino dessa disciplina é tradicionalmente baseado na visão, pois requer observações de fenômenos e reações. Nessa perspectiva, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver uma tabela periódica em Braille, construída com materiais alternativos. O que lhes dará condições iguais de aprendizado, assim como preconiza a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). O material foi apresentado aos alunos cegos e seus professores, para manipulação e verificação da adequação às necessidades apontadas por eles. Os mesmos categorizaram satisfatório o níve

Palavras chaves

Ensino de Química; Inclusão; Tabela Periódica em Brail

Introdução

O esforço pela inclusão social e escolar de pessoas com necessidades especiais no Brasil é a resposta para uma situação que perpetuava a segregação dessas pessoas e cerceava o seu pleno desenvolvimento. Até o início do século XXI, o sistema educacional brasileiro abrigava dois tipos de serviços: a escola regular e a escola especial. Na última década, o sistema escolar brasileiro implantou a educação inclusiva, que compreende a educação especial dentro da escola regular e transforma a escola em um espaço para todos. Ela favorece a diversidade, na medida em que considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum momento de sua vida escolar. Na escola inclusiva, a integração é a medida utilizada para incentivar a aprendizagem. Cada aluno deve receber condições para conhecer o seu próprio processo de aprendizagem, suas características e necessidades. Ter conhecimento de seus limites e, como meta, a superação dos mesmos (LOMBARDI, 2003). De acordo com Cerqueira e Ferreira (1996), em nenhuma outra forma de educação, a adequação de recursos didáticos, onde as atividades experimentais se incluem fortemente, assumam tanta importância como na educação especial de pessoas deficientes visuais. Mas, apesar das leis destinadas a normatizar o processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, muitas pessoas ligadas à educação afirmam não se sentirem preparadas para enfrentar tal desafio (FERNANDES; HEALY, 2007). O estudo de metodologias adequadas à aprendizagem, que utilizem recursos visando à educação inclusiva e à busca de material didático adequado, se torna necessário para qualificar os educadores para este novo desafio. O ensino de ciências, em todos os níveis, está focado em uma perspectiva muito visual. Os materiais pedagógicos são muitas vezes inadequados para alunos que apresentam necessidades visuais, o que acarreta prejuízo para a aprendizagem destes alunos. Em muitos casos um desempenho abaixo do esperado está mais relacionado à falta destes materiais do que por sua limitação, devido à falta de visão. O estudo de ciências para alunos cegos acaba sendo feito de forma pouco motivadora, supondo uma dificuldade em seu estudo. (MARTÍ, 1999).

Material e métodos

Este projeto foi realizado como trabalho de conclusão da disciplina Educação Inclusiva I, do Curso de Licenciatura em Química, do Instituto Federal do Maranhão – Campus Caxias, baseado no ensino para estudantes com deficiência visual. O projeto foi desenvolvido em 4 (quatro) etapas, sendo a primeira uma visita investigativa na Unidade Escolar Presidente John Kennedy, uma escola inclusiva para alunos cegos, para conhecer a necessidade dos alunos no ensino de química. Através da aplicação de um questionário contendo perguntas fechadas, observou-se que o aluno com deficiência visual prefere aprender utilizando materiais alternativos produzidos em alto relevo, com diferentes espessuras e tamanhos. A partir da realidade percebida, e buscando um melhor reconhecimento e compreensão dos assuntos relacionados à química, optou-se pela produção de um material alternativo com baixo custo, que proporcione uma sua boa percepção tátil. Desta forma, optou-se pela construção de uma tabela periódica em Braille e em alto relevo. O material didático adaptado foi construído em um compensado, onde foram desenhados todos os símbolos que compõem os elementos químicos. As linhas foram delimitadas através de pequenos cortes, feitos com uma serra circular para madeira. Cada quadrado da tabela apresenta as dimensões de 10 cm x 10 cm. Para que o aluno pudesse identificar qual o tipo de elemento, utilizaram-se várias texturas, hidrogênio (EVA liso), metais (Tinta spray azul), ametais (EVA ondulado), semimetais (lixa) e gases nobres (EVA aveludado), A representação dos símbolos dos elementos químicos foi feita utilizando sementes. Para a representação dos nomes dos elementos e respectivos números atômicos, foram utilizadas miçangas, todos dispostos conforme a datilografia Braille. Todo material didático possui uma legenda em Braille abaixo dos elementos para identificar as diferentes texturas dos mesmos. A tabela periódica adaptada foi apresentada para professores e alunos cegos da escola Unidade Escolar Presidente Kennedy e do Instituto Federal do Maranhão para manipulação e verificação da adequação do material didático às necessidades apontadas pelos alunos.

Resultado e discussão

Observou-se que alunos com deficiência visual e professores que tiveram contato com a tabela periódica em alto relevo e em Braille mostraram um nível de satisfação e entusiasmado após manipulação do material didático, vislumbrando-o como ferramenta que auxilia no processo de ensino- aprendizagem, uma vez que pode ser utilizada como ferramenta didática na prática docente e contribui para a visualização dos elementos químicos, através das mãos, para o aluno. No entanto, é importante ressaltar que todo e qualquer material didático necessita de um professor capacitado para ensinar o aluno a manipulá-lo. É imprescindível que o docente tenha interesse em conhecer o novo, desafiar-se a si mesmo, em busca de melhorar suas metodologias e, consequentemente, o ensino. Na realidade de escolas inclusivas, há pouco material adaptado a pessoas com necessidades específicas. Quando a escola o tem, ficam, muitas vezes, subutilizados, devido à falta de caminhos metodológicos definidos para o alcance de objetivos claros e precisos em sala de aula. O presente material didático apresentado é uma ferramenta aliada do professor de química. No entanto, ainda necessita ser melhorado, através de sugestões de um número maior de especialistas na área, bem como de alunos cegos, uma vez que o material foi apresentado a dois alunos, quantitativo de cegos matriculados no ensino médio existente na cidade.

Conclusões

A tabela periódica adaptada para alunos cegos configurou-se um recurso didático auxiliador do ensino de química, uma vez que despertou interesse e curiosidade por parte desse público em aprender os elementos químicos através da manipulação desse material didático. O recurso didático pode ser um aliado da aprendizagem no ensino da química, contribuindo, ainda, para a prática docente.

Agradecimentos

Referências

CERQUEIRA, J. B.; FERREIRA, E. M. B. Os recursos didáticos na educação especial. Benjamin Constant, n.5, 1996. Disponível em: http://www.deficientesvisuais.org.br/Artigo17.htm. Acesso em 26/05/2015.
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf>. Acesso em 26/05/2015.
FERNANDES, S. H. A. A.; HEALY, L. Ensaio sobre a inclusão na Educação Matemática, Rev. Ib. Am. Ed. Mat., n. 10., p. 59-76, Jun 2007.
LOMBARDI, J. C. Temas de Pesquisa em Educação. São Paulo: Autores Associados, 2003.
MARTÍ, M. A. S. Didáctica multisensorial de las ciências Barcelona: Ed. Paidós, 1999.