Autores

Santos de Jesus, D. (UFS) ; da Paz Santiago, O. (UFS) ; Lopes da Silva, E. (UFS)

Resumo

Este trabalho tem como objetivo principal apresentar resultados de um projeto de pesquisa a respeito do tema Energia, realizado com um público do agreste sergipano de diferentes gerações. Foram investigados saberes populares (detidamente de senso comum) e saberes escolares que pais e estudantes apresentam quando provocados a falar sobre questões relacionadas ao conceito de energia. De modo esperado, os resultados demonstraram que os pais trouxeram predominantemente ideias de senso comum, como em: “Fornecem energia para coisa diferente, então a energia é diferente” ou “Calorias é o que não é saudável”. Embora os filhos tenham apresentado conhecimento escolar, por exemplo, quando falam a respeito de energia e calorias serem a mesma coisa; eles também apresentaram ideias de senso comum.

Palavras chaves

Senso comum; saber escolar; energia

Introdução

O conhecimento científico, de certo modo, acaba sendo absorvido pela sociedade; embora, haja a predominância do senso comum na comunidade em geral. Muitas vezes, o conhecimento do senso comum é considerado como “errado”; porém, a partir do momento em que o conhecimento científico e/ou escolar surge através das concepções do senso comum, tal conhecimento não deve mais ser avaliado como errado (LOPES, 1999). Devemos considerar que, em meio a diversas realidades, é preciso investigar se as concepções de senso comum podem realmente ser consideradas como erradas, e dentro de que contexto. Santos (2008) questiona se há alguma razão para substituirmos o conhecimento vulgar, que recebemos de berço e partilhamos desde sempre uns com os outros, pelo conhecimento científico, produzido por poucos e inacessível à maioria. O saber popular é fruto da produção de significados pelas camadas populares da sociedade, ou seja, classes dominadas, do ponto de vista econômico e cultural. Senso comum é definido como forma de expressão do saber popular, maneira de conceber e interpretar o mundo pelas camadas populares. O conhecimento comum e saber popular são formas diversas do conhecimento cotidiano. O saber científico é transmitido na forma de conhecimento escolar, ou seja, é enquanto saber legitimado, dotado de poder, que ele se constitui (LOPES, 1999). O presente trabalho busca identificar os saberes adotados pelos grupos de pais/filhos quando argumentam sobre energia, visando observar a utilização de conhecimentos de senso comum e escolar, mesmo por aqueles que não têm/tiveram contato direto com o contexto escolar. A escolha do tema energia deve-se às várias concepções possíveis a seu respeito.

Material e métodos

A pesquisa foi realizada com um grupo de estudantes do Ensino Médio e seus respectivos pais/responsáveis. Embora a temática energia seja pouco perceptível na comunidade em geral, ela está ligada diretamente ao nosso cotidiano. O público alvo está inserido em diferentes gerações, possibilitando verificar a predominância de cada tipo de saber em cada geração. Foram investigadas as concepções do grupo acerca do tema energia, dentro de questões que envolviam o contexto real dos entrevistados. O grupo analisado é formado por 38 sujeitos do agreste sergipano, dentre eles 18 estudantes e 18 genitores. Segundo o IBGE, Sergipe possui IDEB total 4,2; e está em 20ª posição do país em relação ao IDH que é 0,742. Para realizar a pesquisa foi utilizada uma entrevista semiestruturada, que partia de um questionamento básico, englobando algumas teorias e hipóteses voltadas para o contexto do tema energia. A partir das respostas apresentadas pelos entrevistados, pode-se fazer um levantamento sobre os tipos de saberes presentes nas falas dos sujeitos. Após a coleta das entrevistas, todas as falas foram transcritas e devidamente categorizadas. As respostas foram agrupadas de acordo com o nível de semelhança apresentado; subsequentemente foram analisadas e unitarizadas. As categorias surgiram a partir da relação entre os dados brutos, que surgiram dentro das falas, e o que diz a literatura a respeito dos conceitos de energia.

Resultado e discussão

A partir das falas dos entrevistados e do auxílio da literatura, surgiram duas categorias e suas respectivas subcategorias: 1) Energia e Calorias; 2) Energia dos combustíveis. A categoria 1 analisa as concepções dos entrevistados em relação ao conceito de energia e calorias, consideramos que calorias é a energia, proveniente dos alimentos, que o nosso corpo utiliza, categorizando esse conceito como o conhecimento escolar de referência. Na subcategoria 1.a estão inseridos os entrevistados que evidenciam características do saber escolar, como nas falas de A5 e P13. O uso de tal conhecimento por esses entrevistados corrobora com o nível de escolaridade, pois ambos estudaram até o 3° Ano do Ensino Médio. Já na subcategoria 1.b, há a predominância do conhecimento de senso comum, pois as pessoas veem calorias como algo distinto de energia. Alguns pais, como o P18, observam certa relação entre os dois, mas não considera como a mesma coisa. Na análise da categoria 2, consideramos como parâmetro o conceito escolar de combustível, em que combustível é qualquer corpo cuja combinação química com outro seja exotérmica. A partir dessa referência, analisamos o quanto as pessoas relacionam a energia dos alimentos à de combustíveis de carro. Na subcategoria 2.a insere-se as concepções que se aproximam do conhecimento escolar, em que as pessoas consideram que alimentos e combustíveis são fontes de energias diferentes que geram energia da mesma forma, destacada na fala do P4. Já a subcategoria 2.b é caracterizada por concepções de senso comum, relatando, por exemplo, o fato de uma ser poluente e a outra não como podem observar na fala de A3; os entrevistados também destacam o fato de os dois tipos de energia serem originárias de fontes diferentes como representado na fala do P3(Figura 1)


Falas que caracterizam as categorias e subcategorias. P representa pais e A alunos.

Conclusões

Os resultados demonstraram que estar em contato direto com o conhecimento escolar não significa que o sujeito irá utilizar-se totalmente deste para expressar suas concepções a respeito do tema energia. A análise mostrou que mesmo dentro do grupo de alunos, houve a utilização tanto do conhecimento escolar quanto das concepções oriundas do senso comum. O grupo dos pais/responsáveis também utilizou-se dos dois tipos de conhecimento para referir-se à energia. Assim, embora tenha havido confusões, troca de ideias e termos, podemos afirmar que o conhecimento de senso comum não deve ser desprezado.

Agradecimentos

Aos colaboradores da entrevista.

Referências

LOPES, A. C. R. Conhecimento escolar: Ciência e cotidiano. 1°. ed. Rio de janeiro: UERJ, 1999.
SOUZA, B. D. S. Um discurso sobre as ciências. 5°. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
Gerencia Geral de alimentos, Rotulagem Nutricional Obrigatória Manual de Orientação aos Consumidores Educação para o Consumo Saudável, disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/rotulos/manual_rotulagem.PDF acesso em: 31/05/2015 às 12:00h.