Autores

Leal de Castro, D. (IFRJ) ; Cordeiro Guedes, R. (IFRJ) ; Sabino Neves, S.R. (UFF)

Resumo

As dificuldades de aprendizagem de alunos da Educação de Jovens e Adultos se agravam no ensino de química. A maioria dos estudos para esta área ainda está restrita a alfabetização e poucos são àqueles voltados para o ensino de disciplinas da área de ciências como a química. Este trabalho utilizou-se dos métodos de observação e questionários, para propor a construção da tabela periódica. Na etapa inicial, foi feita uma diagnose para verificação dos conhecimentos prévios, através de um questionário. Na etapa seguinte, foi solicitado aos alunos uma pesquisa sobre os elementos químicos no cotidiano e o recorte de figuras que representasse suas aplicações. O envolvimento na tarefa ficou abaixo do esperado, um dos fatores que pode ter contribuído para isso foi o curto período de tempo das aulas.

Palavras chaves

Tabela periódica; EJA; Recursos didáticos

Introdução

Pensar no ensino de química para Educação de Jovens e Adultos não é um tarefa muito fácil, visto que ainda temos muito a construir junto à EJA. A grande gama de estudos para esta área ainda está restrita a alfabetização e poucos são àqueles voltados para o ensino de disciplinas específicas da área de ciências como a química. Se olharmos para história da EJA no Brasil, desde os anos de 1940, diversos programas, a maioria com períodos curtos de duração e com utilização de mão de obra voluntária e sem especialização (HADDAD e DI PIERRO, 2000), foram direcionados para alfabetização popular. Isso porque, a educação por não contemplar a todos e permitir ainda a evasão de outros, gerou no país um alto número de pessoas analfabetas, que não conseguiram concluir na idade própria o ensino. Temos então uma dívida histórica de exclusão social, e tentamos por meios de programas e leis diminuir o analfabetismo. Contudo, é necessário olhar também para o Ensino Médio voltado à EJA, que representa àqueles que por diversos motivos abandonaram a escola e tentam por meio dos Programas de Educação de Jovens e Adultos concluir a Educação Básica. Haddad e Di Pierro (2000) nos revelam um novo quadro de exclusão que tem como protagonistas os jovens e adultos que ingressaram na escola, mas desistiram após um percurso fracassado, em que pouco é apreendido e gera um acúmulo de repetições que causam consequentemente o abandono escolar. Além disso, tal sistema tem deixado deficiências na leitura, na escrita e no cálculo, tornando muitos alunos analfabetos funcionais (HADDAD e DI PIERRO). Nesse sentido, as outras áreas do conhecimento são acionadas a se voltarem também para esta modalidade que possui características específicas que devem ser consideradas no ensino. Essa preocupação está na LDB, enfatizando que a formação de professores deve contemplar todas as modalidades e níveis da escolarização, como a EJA. Mas será que estamos preparados para enfrentar os desafios que nos coloca frente a uma turma de alunos com diferentes faixas etárias, trabalhadores e pais de famílias, com períodos distintos longe da escola? Soma-se a isso o ensino de uma disciplina conhecida pelas suas dificuldades e por estar envolvida com conceitos matemáticos e físicos, além da interpretação. Devemos considerar o fato de que o perfil de aluno da EJA tem mudado nos últimos anos. Exemplo disso é o aumentou do número de alunos juvenis. Segundo Haddad e Di Pierro (2000, pág. 127), tal fenômeno iniciou-se nos anos de 1980, onde a EJA passou “a acolher um novo grupo social constituído por jovens de origem urbana, cuja trajetória escolar foi mal sucedida”. Para estes autores, esse novo grupo que passou a compor a EJA tem uma relação com a escola de tensão e conflito, visto que já passaram por diversos problemas de aprendizagem e de adaptação, e buscam neste novo momento recuperar os estudos de forma acelerada. Na educação em química, com o objetivo de alcançar um ensino que seja significativo para o aluno, pesquisadores tem concentrado os seus esforços em atividades que integrem o ensino da química com o cotidiano do aluno e com as principais questões sócio-científicas, tão presentes na complexa modernidade em que se encontra nossa sociedade. Godoi, Oliveira e Codognoto (2009) veem o estudo tabela periódica como um desafio, pois para estes autores ele tem sido feito ou pelo livro ou pelo uso de computadores por meio da tabela interativa. É fato, contudo, que poucas são as escolas brasileiras que apresentam computadores disponíveis para realização de atividades como estas. Uma alternativa é o uso de materiais de baixo custo para construção da tabela periódica. Neste sentido, a construção desta tabela tem como objetivo fomentar a discussão entre os alunos sobre a utilização destes elementos no dia-a-dia. Torna-se uma alternativa a fim de fugir de um ensino tradicional que foque na memorização, e em um ensino sem sentido para o aluno. Nesse mesmo caminho, Ferreira et al (2012) corroboram para essa discussão, acrescentando que dependendo do tipo de metodologia utilizada no ensino de química, as dificuldades de aprendizagem podem ser aumentadas.

Material e métodos

O presente trabalho possui cunho qualitativo e utilizou-se dos métodos de observação e questionários, assim como o próprio produto final, a construção da tabela periódica, para coleta de dados. Concordamos com Ludke e André (2014) a respeito dos benefícios para a pesquisa qualitativa da coleta de dados por meio da observação. Para estes autores, a observação “possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens” (LUDKE e ANDRÉ, 2014, p. 30). Dentre as vantagens que os autores apresentam, a oportunidade que o pesquisador possui de chegar mais perto do que é estudado, de poder coletar dados novos, poderá ser utilizada também em situações em que não seja possível comunicação entre pesquisador e objeto de estudo. Vale lembrar que a observação requer do pesquisador planejamento, organização e foco, afim de que os objetivos iniciais do trabalho sejam alcançados (LUDKE e ANDRÉ, 2014).A proposta apresentada foi realizada com vinte e cinco alunos de uma turma da primeira fase da EJA, numa escola particular da baixada fluminense do Rio de Janeiro. Nesta escola a EJA funciona no turno noturno. A turma tem predominância de jovens e adultos com idades entre dezessete e vinte e quatro anos, tendo apenas um aluno com idade de trinta e cinco anos. Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizadas seis aulas de quarenta e cinco minutos de duração cada. Na etapa inicial, foi feita uma diagnose para verificação dos conhecimentos prévios, na qual os alunos responderam a um questionário contendo nove perguntas.Para a etapa seguinte, foi solicitado aos alunos, primeiramente, uma pesquisa prévia sobre os elementos químicos no cotidiano e o recorte de figuras que representassem suas aplicações. Também foi orientado que os recortes das figuras tivessem o tamanho padrão de uma foto de documento (3x4) para uma boa visualização. Tal atividade, em conformidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM (BRASIL, 1999) busca favorecer a aproximação entre ciência e a realidade dos educandos, pois O aprendizado de Química no ensino médio “[...] deve possibilitar ao aluno a compreensão tanto dos processos químicos em si, quanto da construção de um conhecimento científico em estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais, políticas e econômicas”(PCNEM, BRASIL, 1999). Na aula seguinte, foi, então, realizada a montagem da tabela periódica com figuras que representassem as aplicações dos elementos no cotidiano, trazidas pelos alunos. Para tanto a turma foi divida em três grupos e cada um recebeu uma folha de papel quarenta quilos, com a estrutura/esqueleto da tabela, para a colagem das figuras. Finalizando, na última etapa, foi feita a abordagem teórica, na qual foi observada a participação e percepção dos alunos após a realização da atividade.

Resultado e discussão

Com base na diagnose inicial, foi possível verificar que metade da turma já teve um contato anterior com a tabela periódica. Dentre estes, observou-se consenso quanto à importância do seu estudo para as aulas de química. Com relação à identificação de elementos conhecidos no cotidiano, apenas três alunos da turma não souberam responder. Entretanto, dentre os demais alunos, a maioria fez confusão entre molécula e elemento químico.Além disto, constatou-se a dificuldade de identificar a presença de elementos essenciais no nosso cotidiano, já que, somente escreveram os símbolos químicos conforme visualizaram na tabela recebida. Tais dificuldades são explicadas por Chassot (2003) comparando-as com a mesma dificuldade de compreensão de um texto em outro idioma que não tenhamos conhecimento, pois segundo ele, a ciência é “uma linguagem construída pelos homens para explicar o mundo natural”. Na etapa seguinte, foi iniciada a montagem da tabela periódica na folha de papel quarenta quilos, com as figuras trazidas pelos alunos. Nesta etapa foi possível promover a cooperação entre os alunos e, de forma mais descontraída, eles puderam procurar a posição de cada elemento para a colagem correta. Observou-se, ainda, a curiosidade maior de alguns alunos com relação aos elementos importantes para o bom funcionamento do organismo, como o cálcio, ferro e potássio. Entretanto, constatou-se que o grande desafio enfrentado no desenvolvimento da atividade, foi a curta duração de tempo das aulas, o que impossibilitou a finalização da atividade em sala de aula. Assim, foi necessário solicitar aos alunos que se reunissem em outro momento para a conclusão do trabalho. Contudo, devido às dificuldades enfrentadas por esses alunos, em função da rotina pesada de trabalho, a maioria não pôde participar da conclusão do trabalho em outro momento, ou seja, fora da sala de aula. Apenas um grupo conseguiu concluir a tarefa, com a participação mínima dos outros integrantes. Finalmente, foi feita a abordagem teórica, sendo observado que a participação e interação da turma não atenderam às expectativas. Não foram observadas mudanças significativas na apreensão dos conteúdos, possivelmente pelo fato de não ter tido tempo hábil para a realização da atividade, bem como para uma reflexão mais aprofundada sobre a pesquisa feita. Neste sentido, supõe-se que seja mais adequado a designação prévia dos elementos exatos que cada aluno deverá pesquisar, de forma a agilizar a montagem da tabela, pois cada um saberá sua localização no momento da colagem das figuras. Na EJA, estudar e, além disso, questionar as relações perenes e impingidas no contexto social do aluno é para Paulo Freire (2011) uma forma de fazer uma educação não neutra, mas política, crítica e voltada para formação da cidadania.

Conclusões

A partir deste estudo, podemos concluir que o ensino de química e das ciências na Educação de Jovens e Adultos, vem sendo negligenciada como em todas as disciplinas e demais áreas de ensino da EJA. Observamos que devemos pensar em atividades que possam ser completamente realizadas durante o curto período da aula de química, já que em nossa opinião o tempo foi um fator determinante para o menor aproveitamento da proposta. O contexto social dos alunos também deve ser levado em conta, no momento em fazemos a proposta de uma atividade em grupo e que demanda preparação e necessidade de materiais, que devem ser levados pelos alunos.Entendemos que as atividades lúdicas são fator para a motivação dos alunos, mas esta proposta deve ser pensada de modo a permitir que o aluno participe efetivamente da tarefa. No ensino de química, com o objetivo de alcançar uma aprendizagem que seja significativa para o aluno. Diversos pesquisadores tem concentrado os seus esforços em atividades que integrem o ensino da química com o cotidiano do aluno e com as principais questões sócio-científicas tão presentes na complexa modernidade em que se encontra nossa sociedade. É nesse sentido, a fim de contribuir para o ensino de química dentro da modalidade de Jovens e adultos, que compartilhamos nossas experiências realizadas durante o estudo da tabela periódica. Buscou-se, por meio deste trabalho, averiguar as contribuições possíveis para o ensino de química, no estudo da tabela periódica, na EJA, utilizando-se uma atividade lúdica e dinâmica, que favoreça a integração da turma, a partir da construção de uma tabela periódica que enfatizasse os elementos químicos no cotidiano do aluno. Constatamos que a elaboração de propostas didático-metodológicas para uma turma da educação de jovens e adultos constitui-se num grande desafio a ser enfrentado pelos educadores,considerando a diversidade e as peculiaridades dessa modalidade de ensino.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia pelo apoio a pesquisa.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM). 1999. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12598%25>. Acesso em: 07 mar. 2015.

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FREIRE, P. Educação de adultos: algumas reflexões. In: GADOTTI, Moacir. ROMÃO, José E. (org.). Educação de Jovens e Adultos: Teoria, prática e proposta. São Paulo: Editora e livraria Instituto Paulo Freire, 2011.

FERREIRA, E. A.; GODOI T. A.; SILVA, L. G. M. da; SILVA, T. P. da; ALBUQUERQUE, A. V. de. Aplicação de jogos lúdicos para o ensino de química: auxilio nas aulas sobre tabela periódica. Encontro Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia/UEPB. Disponível em http://www.editorarealize.com.br/revistas/enect/trabalhos/Comunicacao_177.pdf Acesso em 25 maio de 2015.

GODOI, T. A. de F.; OLIVEIRA, H. P. M. de; CODOGNOTO, L. Tabela periódica: Um super trunfo para alunos do ensino fundamental e médio. Química Nova na Escola.V. 32, nº1, Fev., 2010. Disponível em < http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc32_1/05-EA-0509.pdf> Acesso em 25 maio de 2015.

HADDAD, S; DI PIERRO, M. C. Escolarização de Jovens e Adultos. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n.14, p. 108-130, mai. / jun./ jul. / ago. 2000.

LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2. ed. São Paulo: EPU, 2014.