Autores

Mendonça, N.C.S. (UFG) ; Oliveira, A.P. (UFG) ; Benite, A.M.C. (UFG)

Resumo

Esta pesquisa apresenta discussões de uma intervenção Pedagógica (IP) feita numa escola da comunidade surda de Goiânia, o Centro Especial Elysio Campos, com intuito de propor e analisar diferentes estratégias de acesso ao conhecimento da ciência para alunos surdos do 9º ano do ensino Fundamental (EF). O conceito trabalhado foi o de “substâncias”, através da experimentação de alguns alimentos (frutas e bebidas), para abrir ambiente à discussão da constituição das coisas, e assim trabalhar o conceito de substância a partir da experiência cada aluno na IP. O que se observou que é trabalhar experimentação no ensino de ciência é uma alternativa para a introdução do conceito de substância.

Palavras chaves

ensino de ciências; educação de surdos; conceitos químicos

Introdução

A educação inclusiva (EI) pressupõe escolas abertas a todos, onde todos aprendem juntos, quaisquer que sejam as suas dificuldades (Roldão, 2003). Assim, podemos observar um impasse, quando esse modelo não é aplicável nas escolas. A educação inclusiva revoga uma nova configuração para as salas de aula que agora passa a contar com outros profissionais no desenvolvimento da ação mediada. Se antes tínhamos professor, aluno e conhecimento científico com a EI esse quadro foi reconfigurado. No ensino de surdos, por exemplo, há necessidade de se ter um profissional para fazer a tradução da Língua dos surdos a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Esse profissional é o “interprete” de Libras. Especificamente no caso do ensino de ciências que tem simbologia própria, temos um impasse porque na maioria das vezes o interprete não tem formação na área. E somada a essa questão e agravando-a, os professores de ciências – e nesse particular, a química –, por não possuírem formação que lhes possibilitem trabalhar com deficientes auditivos, têm grandes dificuldades em lidar com a construção de conceitos científicos para esse grupo particular, o que, por sua vez, gera exclusão e distanciamento dos alunos surdos nas aulas desse conteúdo (Sousa, 2011). O objetivo do presente trabalho é propor e analisar diferentes estratégias de acesso ao conhecimento da ciência para alunos surdos do 9º ano do Centro Especial Elysio Campos, contemplando-os em sua diferença, mediados pela linguagem.

Material e métodos

O presente trabalho foi desenvolvido no 9º ano do Ensino Fundamental (EF) numa escola da comunidade surda, o Centro Especial Elysio Campos mantido pela Associação dos Surdos de Goiânia (ASG). Foi desenvolvida esta Intervenção pedagógica (IP), participaram 9 alunos (A1 a A9), professor interprete (P1) e um participante (P2). A IP foi gravada em áudio e vídeo e transcrita para análise. Esta pesquisa é uma pesquisa participante, uma vez que nasceu de uma ação pedagógica, de professores de uma escola inclusiva. Deste modo, buscou-se o planejamento de IP’s, com o conceito de substâncias. PLANEJAMENTO DA IP Tempo: 02 aulas de 50 minutos cada – 22/09/2014 Temática: Substâncias Metodologia: - A partir do tema “De que são feitas as coisas?”, propomos uma experiência sensitiva, com a degustação de alimentos que continham substâncias em comum em sua constituição. - Foram dados aos alunos vários copos identificados por números, cada um contendo alimentos diferentes: laranja, mexerica, maracujá, abacaxi, pêra verde, banana verde, uva verde, suco de caju, chá matte, café, chocolate meio amargo e refrigerante de cola. - Cada aluno provou todos os alimentos, julgando quanto à similaridade dos mesmos, agrupando-os conforme sua opinião. Objetivos: - Instigar o estudante a tentar perceber semelhanças no sabor dos alimentos provados; - Experimentar outros sentidos além da visão para auxiliar no processo de aprendizagem; - Mostrar que diferentes alimentos podem ser constituídos de uma mesma substância; - Entrar em contato com o nível descritivo e funcional da substância química (macroscópico). Recursos: - Frutas, bebidas, chocolate meio amargo, copos descartáveis.

Resultado e discussão

Nosso objetivo com esta IP foi o de identificar similaridades no sabor dos alimentos oferecidos e agrupá-los utilizando um critério de classificação. Assim, foram escolhidos alimentos que se agregasse a três grupos de substâncias, levando em consideração o sabor e suas propriedades. As substâncias escolhidas foram o ácido cítrico, o tanino e a cafeína. Alguns recortes da fala dos alunos a partir da experimentação dos alimentos: Extrato 1: A3: Delícia chocolate. PP1: Você achar parecer mexerica número 1? Sabor chocolate parecer sabor mexerica? A3: Não, diferente. A7: Uva. PP1: Então, mas esse número colocar qual grupo? A7: Nesse. PP1: Ok, você saber. A1: Abacaxi? A6: Não, diferente. A8: Conhecer limão. (Depois que provou) Ah não, conhecer maracujá. A6: Maracujá. A8: É. Outro conhecer sabor não. A6: Colocar aqui, maracujá bom. Nossos resultados evidenciam que fazer relação entre os sabores de alimentos não é o suficiente para classificar uma substância. Observamos que através da experimentação cada aluno teve uma percepção diferente na degustação. Os alunos perceberam que havia uma diferença em cada alimento, mesmo assim não souberam classificar nos três grupos propostos, do ácido cítrico, o tanino e a cafeína. Cada um teve um critério em suas classificações, levando em consideração suas percepções no paladar e não souberam dizer o porque da escolha do grupo. O nosso objetivo aqui foi de motivar uma discussão das diferentes propriedades dos alimentos e mostrar que temos uma grande diferença de sentidos, O sabor é influenciado pelos efeitos táteis, térmicos, dolorosos e/ou sinestésicos, e essa inter-relação de características é o que diferencia um alimento do outro (TEIXEIRA, 2009).

Conclusões

Neste sentido o que se observou, que é uma forma de trabalhar a introdução do conceito de substância no ensino de surdo, através da experimentação de alimentos classificados em grupos e/ou com características semelhantes, gerando discussões entre os alunos sobre o conceito de substância. Assim, esta IP mostra que é uma alternativa trabalhar em conjunto o professor ouvinte (professor de química) com o professor interprete (professor de ciências), como intermediador no ensino de surdos, e que a aula deve ser planejada e ministrada em libras, afim de contemplar a todos os alunos surdos.

Agradecimentos

Agradecemos aos Professores e aos alunos surdos do Centro Especial Elysio Campos, à Associação dos Surdos de Goiânia (ASG) e a CAPES pelo fomento concedido ao desenvo

Referências

ROLDÃO, M.C. Diferenciação curricular e inclusão. Em David Rodrigues (org.). Perspectivas sobre a inclusão. Da educação à sociedade. Porto: Porto Editora, 2003.
SOUSA, S. F.; SILVEIRA, H. E. Terminologias químicas em libras. Química Nova na Escola. vol. 33, n° 1, p. 38, 2011.
TEIXEIRA, L. V. Análise sensorial na indústria de alimentos. Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, Jan/Fev, nº 366, 64: 12-21, 2009.