Autores

Oliveira, B.M. (IFRJ) ; Gaudencio, A.R. (IFRJ) ; Novo, B.L. (UFRJ) ; Mathias, L.S. (UFRJ) ; Werneck, N. (UFRJ) ; Silva, R.B. (IFRJ) ; Araujo Neto, W.N. (UFRJ)

Resumo

As temáticas do cordel e da cultura popular têm sido utilizadas por professores no processo ensino-aprendizagem em salas de aula como motivador para o Ensino de Ciências, tanto quanto um importante veículo de popularização da ciência. Esse trabalho busca problematizar dados sobre o uso da literatura de cordel em pesquisas no ensino de ciências em dois cenários específicos de informação: as atas do ENPEC (de 1997 a 2013) e o ambiente do Google Acadêmico (últimos cinco anos). Pretende-se a partir dessa problematização oferecer para o debate algumas propostas de uso da literatura de cordel em consonância aos recursos e suportes de novas tecnologias de informação, focalizando as plataformas móveis. Para este último objetivo especificamente os argumentos serão derivados da semiótica cultural

Palavras chaves

literatura de cordel; educação; ensino de ciencias

Introdução

A literatura de cordel pode ser assinalada como tendo sua origem em Portugal, aonde antigos menestréis penduravam suas poesias populares em cordas ou cordões ao redor dos seus corpos para terem suas mãos livres para declamá-los ao gesticular as sextilhas (estrofes de seis versos) para o público, em apresentações andarilhas e itinerantes. Os cordéis ganharam popularidade nas feiras e praças, como poemas narrativos de fácil apreensão, impressos em papel modesto. No Brasil, têm seu lugar de origem na região nordeste, mas atualmente toma-se como um movimento cultural que se difundiu e penetrou em todas as regiões do país (PINHEIRO; LUCIO, 2001). Ela é uma manifestação cultural legítima que percorre a própria história do país, consolidando-se como registro e divulgação de momentos históricos, opiniões, padrões ideológicos e espaço de divulgação, com uma penetração ampla, mas pouco tangível sob o cenário da pesquisa aplicada. No presente trabalho pretendemos re-colocar a literatura de cordel como um fenômeno popular capaz de funcionar como ferramenta e suporte para a confluência de projetos e processos ligados à educação, em contextos do Programa Nacional de Educação Integral. A educação integral supõe o ser humano como um sujeito integral, total, enquanto sujeito de conhecimento de cultura, de valores, de ética, de identidade, de memória e de imaginação. A educação integral conta com todas essas dimensões na formação do ser humano. Nosso objetivo específico no presente trabalho é problematizar o espaço da literatura de cordel, a partir da verificação de seus usos em projetos e propostas voltadas para a educação em dois cenários específicos de busca de informação, a saber: as atas do ENPEC (no período de 1997 a 2013) e o ambiente do Google Acadêmico (nos últimos cinco anos).

Material e métodos

A metodologia prevista no presente estudo usa o recurso de palavras-chave para buscar a partir do contexto “cordel” a existência de ocorrências em dois cenários: as atas do Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências – ENPEC, entre os anos de 1997 e 2013; e o ambiente aberto do Google Acadêmico, com restrição temporal aos últimos cinco anos. Essa escolha metodológica nos permite confrontar a oferta de pesquisas e referências em um espaço específico e um ambiente aberto, percebendo-se uma forte assimetria entre esses dois cenários escolhidos. Os resultados obtidos nessa pesquisa inicial foi filtrado em categorias que têm como referencia sua classificação nas chamadas “modalidades de pesquisa”, a saber: (i) trabalhos de fim de curso (TCC) ; (ii) trabalhos de mestrado e doutorado (M + D); (iii) trabalhos resultantes de atividades e projetos de Programas de Iniciação Científica e Programas Institucionais de Iniciação à Docência (PI- BIC-BID); e (iv) outros, como uma categoria para registrar desvios em relação a essas três categorias originais. O trabalho de filtragem foi realizado manualmente, a partir da leitura dos resumos dos trabalhos selecionados originalmente.

Resultado e discussão

A temática da literatura de cordel vem sendo apropriada em diferentes modalidades, seja em projetos graduação ou pós-graduação. Em ambos os casos essas fronteiras estão sendo exploradas na tentativa de inserir atividades de leitura da literatura de cordel no contexto do espaço escolar, o que demonstra em boa medida o entendimento dessa literatura como uma ferramenta para a aprendizagem de conceitos em diferentes campos do conhecimento (e.g. física, filosofia, geografia). Os resultados obtidos indicaram dois (2) trabalhos para as atas do ENPEC no período de dezessete anos (os dois no mesmo ano de 2011), e 23 trabalhos para as busca em cinco anos no Google Acadêmico. Desses trabalhos, no caso do ENPEC, os dois referem-se a projetos de mestrado (M+D). No caso dos trabalhos do Google Acadêmico temos: quatro (4) trabalhos de TCC; oito (8) trabalhos de mestrado ou doutorado (M+D); dez (10) trabalhos de PIBID ou PIBIC; e um na categoria outros, na qualidade de livro. A maioria desses trabalhos (88%) independente da categoria apresenta estratégias de uso do cordel em atividades escolares, incluindo-se aí oficinas como atividade curricular ou extra-curricular. Um dado importante de ser destacado é que nenhuma das referências alcançadas na pesquisa trata de formas de uso da literatura de cordel no ensino de química, especificamente, o que revela uma carência de investimentos acadêmicos nessa direção.

Conclusões

Com essa investigação percebe-se a dissimetria entre os resultados específicos do ENPEC e os obtidos com recursos abertos, como o Google Acadêmico. Para além das questões específicas de atingimento entre essas duas fontes, é importante problematizar a possível existência de “Campos Ideológicos” (BAKHTIN, 2011) nos encontros acadêmicos, o que permitiria a inclinação das áreas de referência para determinados “vórtices” (ibidem) de pesquisa. A pesquisa em referência pretende implementar “cordéis animados” sobre química, utilizando processos multimodais (KRESS, 2010) que integrem texto e imagem.

Agradecimentos

IFRJ – CAMPUS RJ, MEC-PROEXT; PROEX-IFRJ, FAPERJ, PR-5 UFRJ; Leseq-UFRJ; CAPES-LIFE

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

PINHEIRO, Hélder. & LÚCIO, Ana Cristina Marinho. Cordel na sala de aula. São Paulo: Duas Cidades, 2001.

KRESS, G. Multimodality: a social semiotic approach to contemporary communication. New York: Routledge, 2010.