Autores

Pinheiro, A.I. (IFCE) ; Lavor, M.B. (IFCE) ; Bezerra, F.H.A. (IFCE) ; Ferreira, F.E.F.R. (IFCE) ; Santos, R.P. (IFCE) ; Milhome, M.A.L. (IFCE)

Resumo

A preocupação com a contaminação ambiental por agrotóxicos nos últimos anos tem sido crescente. Devido o grande consumo associado ao elevado nível de toxicidade de alguns agrotóxicos torna-se relevante a introdução de conceitos sobre os riscos ambientais. Diante desta perspectiva, o trabalho teve como principal objetivo orientar alunos do curso técnico integrado em agropecuária e agroindústria sobre os riscos do uso de agrotóxicos, através do estudo de suas características químicas (funções orgânicas, estrutura, propriedades). A contextualização proporcionou maior motivação dos alunos, os quais puderam compreender que apesar dos benefícios para a agricultura, o uso indevido dos agrotóxicos pode acarretar sérios danos à saúde humana e ao meio ambiente.

Palavras chaves

Agrotóxicos; Ensino de química; Risco de contaminação

Introdução

A busca por maior produtividade de alimentos tem intensificado o uso de fertilizantes e produtos químicos na agricultura. Desde 2008, o Brasil tem se classificado como o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Por apresentarem toxicidade e persistência no ambiente após a aplicação e atuação na cultura, os níveis de resíduos são controlados por órgãos governamentais (ANVISA, 2015). Diante dos problemas ambientais do mundo, segundo Cuba (2010) é importante a abordagem sobre a educação ambiental nas escolas, pois este consiste de um ambiente propício para estabelecer informações e estímulos aos alunos a terem concepções e posturas cidadãs, cientes de suas responsabilidades, além de perceberem-se como integrantes do meio ambiente. Desta forma, faz-se necessário informar aos alunos sobre as possíveis interações que os compostos químicos (como no caso dos agrotóxicos) podem sofrer no meio ambiente e os riscos à saúde humana. Através das características químicas dos compostos, tais como solubilidade, estrutura, grupos químicos é possível prever os riscos de contaminação ambiental. É importante os alunos de cursos técnicos em agropecuária e agroindústria terem o conhecimento sobre o comportamento desses resíduos no meio ambiente, para que ao se tornarem profissionais, tenham noções dos danos e consequências do uso inadequado desses produtos.

Material e métodos

A pesquisa foi dividida em quatro etapas. Na primeira etapa, foi realizado levantamento sobre os principais tipos de agrotóxicos utilizados na agricultura irrigada do município de Iguatu- CE. Essas informações foram obtidas através de visitas técnicas dos alunos à EMATERCE e a um produtor de plantas frutíferas da região de Iguatu-CE. Na segunda etapa obteve-se informações sobre toxicidade, principais princípios ativos, grupos químicos e respectivas fórmulas moleculares dos agrotóxicos, usando o banco de dados da ANVISA (2015). Durante a terceira etapa foram propostas discussões com os alunos a respeito da toxicidade e de propriedades químicas dos agrotóxicos utilizados. Foram abordados em sala de aula, de modo contextualizado, os tópicos relacionados à nomenclatura, representação molecular e estrutural de compostos orgânicos, funções orgânicas e sua relação com a toxicidade e as interações com o meio ambiente. Posteriormente, na quarta etapa, os alunos participaram de visita técnica aos laboratórios de Química da UFC (Laboratório de Analise de Traços-LAT) e da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará-NUTEC para conhecer os métodos de análises de resíduos de contaminantes para monitoramento ambiental.

Resultado e discussão

Com base no levantamento dos agrotóxicos, os alunos obtiveram os seguintes princípios ativos: Abamectina, Alfa-cipermetrina, Atrazina, Beta-ciflutrina, Cletodim, Clopirifós, 2,4 – D, Deltametrina, Etoxisulfurum, Fenoxaprop-- etil, Imidacloprido, Lambada-cialotrina, Mancozeb, Metomil, Monocrotofós, Paraquate, Picloram, Pirimetanil, Tribuconazol e Trifloxistrobina. A partir do principio ativo, buscaram informações relativas à toxicidade, grupos químicos e fórmulas moleculares. A partir dessas informações, os alunos puderam identificar as funções orgânicas presentes nas estruturas dos compostos, e através de suas propriedades, relacionar com sua reatividade, solubilidade e possíveis interações no meio ambiente. Os alunos verificaram que 26% dos produtos aplicados na região de Iguatu-CE são da classe I, extremamente tóxico, 32% são de classe II, altamente tóxico, 37% são de classe III, medianamente tóxico, e 5%, são de classe IV, pouco tóxicos. Alguns exemplos de agrotóxicos foram analisados de modo mais minucioso, em sala de aula. A análise teve como enfoque a verificação de funções orgânicas presentes nessas substâncias, nomenclatura, propriedades. Em discussões com os alunos foram identificados observaram que alguns grupos apareciam com maior frequência, tais como cetonas, ácidos carboxílicos, aminas e amidas. Na quarta etapa, os alunos verificaram, a partir de visita aos laboratórios da UFC e NUTEC, as consequências da utilização de agrotóxicos, com base na análise de resíduos de contaminantes e informações obtidas pelo resultado de monitoramento de matrizes ambientais e alimentícias realizados pelas Instituições. Concluíram que o uso desses produtos acarreta uma série de complicações em relação à segurança alimentar e à preservação de mananciais.

Conclusões

A utilização dos recursos de contextualização e interdisciplinaridade proporcionou aos alunos uma aprendizagem mais significativa. A contextualização do tópico de funções orgânicas ao estudo dos agrotóxicos permitiu a ampliação do conteúdo, envolvendo temas transversais de cunho ambiental e social pertinentes à realidade da região. A análise da contaminação de mananciais e alimentos permitiu que os alunos pudessem ter uma maior noção dos riscos produzidos pelo emprego de agrotóxicos.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal do Ceará (IFCE – Campus Iguatu), à Universidade Federal do Ceará (LAT- UFC), ao NUTEC e a EMATERCE de Iguatu.

Referências

CUBA, M. A. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS. ECCOM, v. 1, n. 2, p. 23-31, 2010
ANVISA-Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2015). Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/