Autores

Borges, E.E. (ENCIMA/UFC (PG)) ; Almeida, M.M.B. (ENCIMA/UFC (PQ)) ; Magalhães, A.C. (ENCIMA/UFC (PQ)) ; Lima, I.B. (ENCIMA/UECE (PQ))

Resumo

O Ensino da Química Orgânica ainda é praticado de forma tradicional e defasado, desestimulando assim muitos estudantes. Cabe ao docente buscar alternativas didáticas para reverter esse quadro, como exemplo, a aplicação de jogos didáticos. Este trabalho teve como objetivo elaborar e aplicar o jogo “Trilha das Funções Orgânicas” como uma ferramenta pedagógica para auxiliar na aprendizagem das funções orgânicas de forma significativa e interativa. Esta pesquisa foi realizada em uma escola do Estado do Ceará, em uma turma de 3° ano do ensino médio. Os resultados obtidos, a partir das avaliações aplicadas antes e após a utilização do jogo, indicaram que o mesmo atuou de forma eficaz na compreensão do conteúdo abordado, promovendo assim uma aprendizagem significativa, dinâmica e motivadora.

Palavras chaves

Jogos; Química Orgânica; Aprendizagem.

Introdução

O Ensino de Química Orgânica, atualmente, ainda é apresentado em sala de aula de forma tradicional e descontextualizado, motivo pelo qual a maioria dos estudantes o considera difícil, desinteressante e monótono. O estudo dessa área exige do aluno muita abstração e raciocínio espacial em virtude de apresentar uma grande diversidade de compostos, com diferenças nas suas propriedades devido às ligações entre os átomos, criando assim, diversos grupos funcionais (tais como hidroxilas, carbonilas, carboxilas e nitrilas) (SIMÕES NETO, 2010). Percebe-se, portanto, uma grande dificuldade de aprendizagem dos alunos e insatisfação por parte dos professores, pois estes não conseguem alcançar seus objetivos educacionais propostos. Diante do que foi exposto, faz-se necessário que o docente utilize metodologias diferenciadas com a finalidade de tornar as aulas mais dinâmicas, prazerosas e significativas para o alunado. É nesse contexto que os jogos didáticos ganham espaço, como instrumento lúdico e motivador para a aprendizagem de conceitos químicos presentes no currículo escolar à medida que se propõe estímulo ao interesse do docente. De acordo com Melo (2005), esse tipo de atividade incentiva o trabalho em equipe, a interação aluno-professor; auxilia no desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e habilidades, estimulando assim, a aprendizagem significativa. Aprender de maneira significativa, segundo a concepção ausubeliana, é converter um conjunto de conhecimentos em algo proveitoso para a vida, ou seja, ocorre uma relação entre o novo conhecimento e as informações preexistentes na estrutura cognitiva do aluno (MOREIRA, MASINI, 2006). A expressão estrutura cognitiva significa o agrupamento total de ideias que o sujeito tem sobre uma determinada área do conhecimento na qual ocorrem os processos de organização e formação de novos conhecimentos (MOREIRA, MASINI, 2006). Assim, a aprendizagem é significativa à medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio (PELIZZARI et al, 2002). Isso evidencia que o professor deve ficar atento ao conhecimento anterior de seus alunos, pois assim, à proporção que outras informações lhe forem expostas, os discentes conseguirão assimilar e reorganizar seu conhecimento (PELIZZARI et al, 2002). A aprendizagem significativa, de acordo com Campos e colaboradores (2003), quando é apresentada ao aluno em forma de atividade lúdica, torna-se mais fácil, já que os educandos se sentem mais motivados e susceptíveis a aprender à proporção que recebem o conhecimento de forma mais descontraída e interativa. Desse modo, os jogos podem ser considerados como uma alternativa de metodologia viável, que pode preencher muitas lacunas deixadas pelo processo de transferência de informação, promovendo assim a construção do conhecimento pelos próprios alunos. Portanto, o jogo didático tem a capacidade de estimular a curiosidade, a iniciativa de participação e a autoconfiança do aluno além de ser considerado como um dos recursos mais importantes no trabalho docente, no sentido de proporcionar a aprendizagem significativa e a formação cidadã. Assim, diante da necessidade de inovar e aplicar novas metodologias de ensino para tornar as aulas de Química mais atrativas e motivadoras, esse trabalho objetivou elaborar e aplicar o jogo didático “Trilha das Funções Orgânicas” em uma turma de 3° ano do ensino médio de uma escola pública cearense, facilitando a construção do conhecimento à luz da aprendizagem significativa. Além de melhorar o entendimento de determinado conteúdo, este trabalho também teve a finalidade de aumentar o entrosamento entre aluno-aluno e entre aluno- professor.

Material e métodos

Este trabalho foi realizado através de uma pesquisa de natureza descritiva, quanti-qualitativa, de campo, estudo de caso, desenvolvido com 21 alunos do 3° ano do ensino médio na E.E.F.M Professor Paulo Freire, localizada em Fortaleza-Ceará. Esta atividade auxiliou no estudo das principais funções orgânicas e suas aplicações no cotidiano, promovendo uma aprendizagem significativa e desenvolvendo nos educandos as habilidades em todos os aspectos: cognitivos, emocionais e relacionais. A “Trilha das Funções Orgânicas” (figura 1) é um jogo didático de perguntas e respostas. Foram estruturadas algumas questões mais acessíveis denominadas “perguntas” e questões com um grau maior de dificuldade, denominadas “problemas”. O jogo foi composto por 20 fichas com perguntas sobre as principais funções orgânicas e suas aplicações no cotidiano, distribuídas em 5 cores diferentes e 10 fichas com problemas. O instrumento didático foi confeccionado utilizando-se e.v.a de várias cores seguindo uma trilha através de um tabuleiro composto por 30 casas coloridas. As questões foram escritas em fichas coloridas, sendo a pergunta feita de acordo com a cor na qual o jogador parou no tabuleiro. Utilizou-se um dado para o sorteio do número de casas que o jogador avançou e pinos que representaram os jogadores. Os estudantes foram organizados em quatro equipes de sete pessoas (cada equipe escolheu um representante para responder as perguntas). Inicialmente, foram apresentadas as regras e estratégias do jogo e o conhecimento sobre as funções orgânicas e suas aplicações no cotidiano foi primordial para que o jogador pudesse responder as perguntas e os problemas. A primeira equipe foi escolhida com o uso do lançamento de um dado, a qual começou a jogar aquela que tirou o maior número, seguindo o jogo no sentido horário. No tabuleiro, 10 casas continham a palavra “problema”, caso o jogador parasse nessa casa, ele teria que responder a um cartão-problema com questões de nível mais elevado. Acertando, avançaria 5 casas; errando, retrocederia 5 casas. As demais casas coloridas, caso o jogador da vez parasse em uma delas, teria que responder a um cartão-pergunta. Se a resposta fosse considerada correta, ele avançaria duas casas; caso contrário, retrocederia duas e aguardaria nova vez de jogar. O grupo que chegou primeiro à última casa, ganhou o jogo. Os demais jogadores continuaram jogando determinando quem ocupou o 2°, 3° e 4° lugares. Fez-se uso de uma pré-avaliação com 10 questões objetivas e subjetivas, após a explanação teórica do assunto, com a finalidade de diagnosticar o nível de conhecimentos adquiridos pelos alunos somente com as aulas tradicionais antes da aplicação do jogo. Posteriormente, uma pós-avaliação com o mesmo número de questões, porém, com um grau de dificuldade mais elevado, foi realizada após a aplicação do jogo didático com o objetivo de comparar os resultados com os do questionário anterior, verificando se houve melhora na aprendizagem.

Resultado e discussão

A utilização do jogo “Trilha das Funções Orgânicas” como recurso didático alternativo e auxiliar no processo de ensino e aprendizagem das funções orgânicas foi de grande relevância para os alunos, visto que a aplicação da atividade favoreceu uma melhor compreensão do conteúdo abordado. Inicialmente, os estudantes eram desmotivados e demonstravam pouco interesse, sentiam a aprendizagem bloqueada frente a um conteúdo que, segundo eles, era de difícil compreensão, decorativo e monótono. Essa realidade foi sendo modificada à medida que a metodologia foi sendo utilizada. Durante a aplicação do jogo, pôde-se observar a curiosidade dos alunos pelo conteúdo trabalhado, a socialização entre as equipes, a interação da turma, a diversão e ao mesmo tempo uma aula mais descontraída e dinâmica, tornando a aprendizagem mais significativa. De acordo com Campos e colaboradores (2003), a aprendizagem significativa é facilitada quando o conteúdo é apresentado em forma de uma atividade lúdica, no caso o jogo, já que os educandos se sentem mais motivados e susceptíveis a aprender à proporção que recebem o conhecimento de forma mais descontraída e interativa. Os resultados da pré-avaliação e pós-avaliação estão apresentados na figura 2. Comparando-se esses dados, conclui-se que houve uma sensível melhora nas notas dos discentes na pós-avaliação, visto que na pré-avaliação, nenhum aluno obteve nota no intervalo > 7 ≤ 10, assim como também houve um aumento no índice de acerto no intervalo > 4 ≤ 7. Dessa forma, o jogo didático foi considerado como um instrumento eficaz, um material com grande potencial significativo para a aprendizagem, já que os novos conhecimentos fornecidos através da utilização do jogo foram relacionados com os conhecimentos prévios dos estudantes e anexados à estrutura cognitiva (MOREIRA e MASINI, 2006).

Figura 1

Jogo Trilha das Funções Orgânicas.

Figura 2

Resultado de notas obtidas nas avaliações.

Conclusões

Com base nos resultados obtidos, pôde-se afirmar que o jogo “Trilha das Funções Orgânicas" propiciou a compreensão do conteúdo “Funções Orgânicas”, sendo considerado pelos discentes como uma ferramenta interativa e motivadora, além de contribuir para a evolução dos conhecimentos da maioria dos estudantes, que apresentavam dificuldade nos conteúdos abordados. O instrumento didático também incentivou os alunos a pensarem juntos, contribuindo com a socialização entre as equipes e a interação da turma com o professor, desenvolvendo a capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. Conclui-se assim, que a utilização do jogo didático pesquisado, mostrou ser um excelente instrumento pedagógico para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. Isso ocorreu, pois o uso do jogo proporcionou ao estudante o aprofundamento de conceitos aparentemente abstratos, contribuindo para uma aprendizagem significativa e, portanto, mais próxima da realidade do aluno, favorecendo a apropriação de conceitos e atendendo às características da adolescência.

Agradecimentos

A minha orientadora Dra. Maria Mozarina Beserra Almeida, aos professores Dr. Antônio Carlos Magalhães e Dr. Isaías Batista Lima.

Referências

CAMPOS, L.M.L. BORTOLOTO, T.M.; FELÍCIO, A.K.C. (2003). A Produção de Jogos Didáticos para o Ensino de Ciências e Biologia: Uma Proposta para Favorecer a Aprendizagem. Cadernos dos Núcleos de Ensino, São Paulo, Brasil. p. 35- 48. Disponível em: <http://www.unesp.br/prograd/PDFNE 2002/aproducaodejogos.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2015.
MELO,C. M.R. As atividades lúdicas são fundamentais para subsidiar ao processo de construção do conhecimento (continuação). Información Filosófica. V.2 nº1 2005 p.128-137.
MOREIRA, M.A.; MASINI, E.F.S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. 2. ed. São Paulo:Centauro, 2006 111 p.
PELIZZARI, A.; KRIEGL, M. L.; BARON, M. P.; FINCK, N. T. L. DOROCINSKI, S. I. Teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel. Revista do Programa de Educação Corporativa (PEC), Curitiba, v.2, n.1, p.37‐42, 2002.
SIMÕES NETO, J. E. Química Orgânica. 2 ed. Recife: Edição Própria, 2010.