11º Simpósio Brasileiro de Educação Química
Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7

TÍTULO: O instrumento CoRe para a análise do PCK de uma professora de Química sobre Lei de Hess

AUTORES: Castro, P.M.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Leal, S.H.B.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC) ; Matos, J.M.E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Santos, M.R.M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo investigar o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo de uma professora de Química quando esta desenvolveu o conteúdo “Lei de Hess” em uma turma de 2º ano do Ensino Médio de uma escola da rede pública. Os dados foram baseados no preenchimento da ferramenta CoRe - Representação de Conteúdo. Posteriormente, efetuou-se a análise de conteúdo, agrupando-se as ideias centrais em categorias a partir do modelo de PCK proposto por Rollnick et al. (2008). Os resultados indicam que, apesar de apresentar pontos positivos, a professora, possui um PCK deficiente, oriundo de fragilidades no domínio “Conhecimento do Conteúdo Específico”.

PALAVRAS CHAVES: Ensino de química; PCK; Lei de Hess

INTRODUÇÃO: Ensinar é uma tarefa complexa que não se resume à simples transmissão de conceitos, entretanto, o trabalho docente é desvalorizado porque grande parte da sociedade desconhece a complexidade de tal processo (TALANQUER, 2004). A prática pedagógica é muitas vezes caracterizada por um ensino tradicional e tecnicista, uma vez que pensa no ato profissional como a solução de problemas por simples aplicação da teoria ou do conhecimento, considerando que apenas o conhecimento específico basta para o profissional exercer sua função (RODRIGUES et al, 2011). Vários autores discutem os diferentes conhecimentos necessários à construção da prática docente, sendo que Shulman (1987) propôs sete conhecimentos necessários ao professor, dos quais confere destaque ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (PCK, da sigla em inglês). Tal conhecimento representa a ligação entre o conteúdo específico a ser ensinado e a pedagogia. Esse mesmo autor defende que este conhecimento é o que diferencia um especialista de um professor de determinada área. Rollnick et al. (2008), consideram o PCK como um amálgama de quatro domínios (conhecimento do conteúdo específico, dos estudantes, pedagógico geral e do contexto) que, quando combinados, geram manifestações observáveis em sala de aula, a saber: Representação do Conteúdo Específico, Saliência Curricular, Avaliação e Estratégias Instrucionais de Tópicos Específicos. O presente trabalho teve como objetivo investigar o PCK de uma professora de Química do nível médio de ensino da rede pública através do instrumento CoRe (LOUGHRAN et al., 2006), durante o desenvolvimento do conteúdo “Lei de Hess”, identificando seus conhecimentos com base nas manifestações propostas por Rollnick et al. (2008).

MATERIAL E MÉTODOS: A pesquisa teve como sujeito uma professora de Química com sete anos de experiência no nível médio de ensino. Para a composição de nosso trabalho, consideramos a sua atuação em uma turma do segundo ano do Ensino Médio de uma escola da rede pública de ensino da cidade de Teresina, Brasil, ministrando aulas referentes ao conteúdo de “Lei de Hess". A coleta de dados se deu através do preenchimento do instrumento Representação de Conteúdo (CoRe), uma ferramenta comumente utilizada para o acesso ao PCK de professores (LOUGHRAN et al., 2006). Tal ferramenta é constituída por oito questões: O que você pretende que os estudantes aprendam sobre esta ideia? Por que é importante para os estudantes aprenderem esta ideia? O que mais você sabe sobre esta ideia? Quais são as dificuldades e limitações ligadas ao ensino desta ideia? Que conhecimento sobre o pensamento dos estudantes tem influência no seu ensino sobre esta ideia? Que outros fatores influenciam no ensino dessa ideia? Que procedimentos e/ou estratégias você emprega para que os alunos se comprometam com essa ideia? Que maneiras específicas você utiliza para avaliar a compreensão ou a confusão dos alunos sobre esta ideia? A resposta da professora ao CoRe foi submetida a uma análise de conteúdo, por meio de análise categorial (BARDIN, 1977), resultando em uma classificação dentro de categorias pré-estabelecidas em torno das quais as falas convergiam em função do conteúdo analisado. Como categorias pré-estabelecidas foram utilizadas as manifestações do PCK proposto por Rollnick et al. (2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao preencher o CoRe, a professora apontou apenas uma ideia central: aplicação da Lei de Hess. Segundo Loughran et al. (2006), tal fato sugere que a mesma possui várias ideias centrais condensadas em apenas uma. No entanto, ao analisarmos as respostas percebemos que a professora foca apenas no uso de algoritmos, o que sugere que ela possui uma deficiência no domínio “Conhecimento do Conteúdo Específico” e não várias ideias condensadas em apenas uma. Tal fato reflete diretamente na manifestação “Saliência Curricular”, uma vez que a professora trabalha pouco os aspectos teóricos da Lei de Hess, tais como “função de estado”, e cobra somente o aspecto quantitativo, fato que fica evidente nas quatro primeiras questões, quando responde que é importante que os alunos saibam calcular a variação de entalpia e que a falta de conhecimentos matemáticos é o principal obstáculo para a aprendizagem desse tema. Com relação à manifestação “Estratégias instrutivas de tópicos específicos”, ao responder a sétima questão, a professora afirma que usaria como estratégias de ensino a aula expositiva e dialogada e a contextualização com o cotidiano dos alunos. Vemos a preocupação da docente no quesito “cotidiano” também pela resposta à quinta pergunta, na qual afirma que o conhecimento cotidiano dos alunos pode ser aplicado em sala de aula. Quanto à manifestação “Avaliação”, a resposta à oitava questão indica que a professora foca na aplicação de exercícios. Pela resposta à questão cinco, é de se esperar que ela também realize avaliação diagnóstica, uma vez que utiliza os conhecimentos prévios dos alunos. Finalmente, não foi possível encontrar nenhum indício quanto à manifestação “Representação do Conteúdo” em suas respostas.

CONCLUSÕES: É possível constatar que a professora apresenta uma deficiência no domínio “Conhecimento do Conteúdo Específico”, o que reflete diretamente na manifestação “Saliência Curricular”, sendo que a professora enfoca apenas nos algoritmos, não trabalhando aspectos teóricos do conteúdo. Percebemos também em seu discurso grande preocupação em contextualizar o conteúdo a ser ensinado, tanto em suas estratégias de ensino, como em sua avaliação. Apesar de apresentar pontos positivos, a professora apresenta um PCK deficiente, oriundo de fragilidades no domínio “Conhecimento do Conteúdo Específico”.

AGRADECIMENTOS: Agradeço à Universidade Federal do Piauí, pela bolsa concedida. E à Escola Santo Afonso, onde foi realizado este trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

LOUGHRAN, J.; BERRY, A.; MULHALL, P. Understanding and developing science teachers’ pedagogical content knowledge. Netherlands: Sense Publishers, 2006.

RODRIGUES, S. B. D. V.; DA-SILVA, D. C.; QUADROS, A. L. O ensino superior de química: reflexões a partir de conceitos básicos para a química o rgânica. Química Nova, v. 34, n. 10, 2011.

ROLLNICK, M.; BENNETT, J.; RHEMTULAA, M.; DHARSEY, N.; NDLOVU, T. The place of subject matter knowledge in pedagogical content knowledge: a case study of South African teachers teaching the amount of substance and chemical equilibrium. International Journal of Science Education, v. 30, n. 10, 2008.

SHULMAN, L. Knowledge and teaching: Foundations of the new reform. Harvard Educational Review, v. 57, n. 1, 1987.

TALANQUER, V. Formación docente: Qué conocimento distingue a los Buenos maestros de química? Educación Química, v. 15, n. 1, 2004.