Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7
TÍTULO: O debate sobre agrotóxico na perspectiva de uma produção narrativa audiovisual realizada por alunos de uma escola pública
AUTORES: Dias de Souza, D.D. (UFPB) ; Arroio, A. (USP) ; Weber, K.C. (UFPB)
RESUMO: As tecnologias midiáticas tem se tornado um fenômeno crescente socialmente e
academicamente. Nesta perspectiva este trabalho discute a abordagem realizada
por um grupo de alunos de Ensino Médio, na produção e realização de uma
narrativa audiovisual associando aspectos conceituais de Química Orgânica ao
tema social agrotóxico. Como orientação os alunos receberam uma ficha contendo
dados sobre dois agrotóxicos e algumas perguntas norteadoras. A produção final
estruturou-se por capítulos no interior de um continuum entre as formas de
pensamento explanativa e narrativa, integrando conceitos da química do carbono a
aspectos sociais relacionados ao tema agrotóxico. Concepções sobre aulas
teóricas e aspectos sobre o trabalho grupal colaborativo são enfaticamente
marcadas na produção realizada.
PALAVRAS CHAVES: agrotóxico; audiovisual; narrativa
INTRODUÇÃO: Os avanços atuais nas TIC e das novas mídias, possibilitam ao cidadão comum
amplo acesso a artefatos culturais que veiculam conteúdo multimodal digital e
permitem a comunicação de duas vias (UNESCO, 2011).
A literatura recente disponível, principalmente em periódicos nacionais da área
de ensino de Química, revela importantes estudos sobre os temas agrotóxicos,
narrativas e audiovisuais. Entretanto, não são estudos que integram estes três
componentes sistemicamente.
O assunto agrotóxico tem sido explorado como um argumento direto para
estabelecer uma temática para o ensino de Química (CAVALCANTI et al., 2009;
MORAES et al., 2010), incluindo uma revisão de literatura sobre publicações com
esta temática e estabelecendo uma conexão com a Química Verde (BRAIBANTE e
ZAPPE, 2012), o que mostra a relevância do tema para a educação científica na
escola básica.
As narrativas têm recebido uma atenção especial por parte de autores nacionais
(RIBEIRO e MARTINS, 2007; ARROIO, 2011) e estrangeiros (NORRIS et al., 2005;
HYVÄRINEN, 2006), indicando tendências em sua exploração como recurso didático
em salas de aula de Química, pois permitem a introdução e o debate de conteúdos
científicos.
De maneira análoga, o audiovisual tem sido um importante aliado do professor de
Química, (MARCELINO-JR et al., 2004; ARROIO e GIORDAN, 2006; ARROIO, 2011, DIAS
DE SOUZA e ARROIO, 2011; SANTOS e AQUINO, 2011), pois os conteúdos nesta
disciplina muitas vezes transitam entre o mundo macroscópico, o mundo
microscópico e o mundo dos modelos.
Face ao exposto, argumentamos a favor da seguinte questão de pesquisa: como
alunos de Ensino Médio abordam o tema agrotóxico e o articulam a conceitos
introdutórios da química do carbono a partir da realização de uma produção
narrativa audiovisual?
MATERIAL E MÉTODOS: Os sujeitos de nossa investigação são alunos de 3º ano do Ensino Médio de uma
escola pública estadual localizada na cidade de São Paulo, que foram convidados
a preparar em aulas de química orgânica uma narrativa audiovisual vinculando
conceitos da química do carbono com o tema social agrotóxico.
A execução da tarefa proposta foi orientada por uma ficha de dados na qual se
apresentou os agrotóxicos conhecidos pelos nomes Metamidofós e Endosulfan, suas
estruturas planas e algumas de suas características. Além disso, cada ficha
continha algumas perguntas básicas com a finalidade de orientar os possíveis
encaminhamentos, as quais são mostradas abaixo.
Quais os principais conceitos que podemos discutir a partir da análise das
estruturas dos agrotóxicos acima?
Qual a razão do Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e não ser
o maior produtor agrícola?
Há alguma relação entre o cidadão e o conhecimento envolvendo agrotóxicos?
Qual a razão de lavarmos frutas, verduras e legumes?
Lavar frutas, verduras e legumes são o suficiente para eliminarmos os
agrotóxicos dos alimentos?
Como são obtidos os agrotóxicos Metamidofós e Endosulfan?
Como a sociedade pode interferir nos processos de uso de agrotóxicos?
Orgânicos x Agrotóxicos- O que é melhor? Se há algum melhor, qual a razão de
utilizarmos o outro?
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A produção final de título “Aprendendo Química Orgânica com o 3A”, e subtítulos
(1) “Aprendendo sobre agrotóxicos e compostos” e (2) “O vídeo”, expressou o
continuum entre o pensamento explanativo e narrativo, pois o enredo construído
começa com a simulação de uma aula expositiva sobre conceitos de química
orgânica e evolui para o tema social ambientado externamente em um jardim.
Um dos alunos no papel do professor informa “...hoje nós vamos falar sobre
petróleo e sobre os agrotóxicos” e explicita um conjunto de conceitos químicos.
Na “aula” seguinte explica “...hoje nós não vamos mais falar sobre Química
Orgânica parte teórica tanto que a gente não está mais em sala de aula”,
marcando a concepção dos alunos sobre o ensino e a aprendizagem de conceitos
teóricos e sua vinculação com o espaço social “sala de aula” e o modelo
pedagógico expositivo.
No subtítulo “O vídeo”, descreve-se a correta forma de manuseio do agrotóxico
explicitado na fala “...como vocês podem perceber a pessoa que vai fazer ela tem
que estar muito bem protegida, porque ele causa muitos danos a saúde...”,
finalizando com o subtítulo “A lavagem” em uma alusão à necessidade de
higienizar o alimento com água antes de seu consumo.
Narrativas contam histórias (GARCIA, 1980, p. 363) entendidas como um ato verbal
consistindo de alguém dizer a alguém que alguma coisa aconteceu (SMITH, 1981;
NORRIS et al., 2005), admitindo um continuum entre o pensamento narrativo e o
pensamento explanativo (BRUNER, 1990; NORRIS et al., 2005).
A produção audiovisual permite o engajamento dos alunos em uma autêntica tarefa
colaborativa (ZAHN et al., 2005), encaminhando-os para a inserção da
multimodalidade em suas atividades na área de ciências (DIAS DE SOUZA, 2013).
CONCLUSÕES: No presente trabalho, os alunos da Escola Básica integraram recursos audiovisuais
expressos por imagens estáticas, movimento, sonoridade, cores, encenações em
vários ambientes, demonstrando elevado grau de articulação no trabalho grupal
colaborativo.
Aspectos essenciais da Ciência, tais como a definição de Química Orgânica,
caracterização do átomo de carbono, noção de cadeias carbônicas, saturação,
insaturação, e a construção de modelos físicos dentre outros ganharam significado
e se articularam com as questões sociais decorrentes do uso de agrotóxico.
AGRADECIMENTOS:
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