Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7
TÍTULO: Aulas de Química: o que há por trás dessa ação?
AUTORES: Façanha, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)
RESUMO: Este estudo revela as condutas docentes em aulas de Química do ensino médio, em
uma escola da rede estadual do Ceará e as influências nessa ação pedagógica.
Investiga o conhecimento dos professores sobre o ensino ativo e desvela os
saberes envolvidos nas práticas pedagógicas. Consiste em um estudo de caso cujo
arcabouço teórico revisitou a prática docente partir da perspectiva dos saberes
docentes, fundamentado nos estudos de Tardif e Pimenta, além das premissas do
ensino ativo de Piaget e Vygotsky, a partir dos conceitos de Equilibração
piagetiana e do Sócio-interacionismo vigotskiano. Os resultados demonstraram a
influência dos saberes de experiência como uma marca importante no ensino de
química e a existência de lacunas na formação dos professores quanto aos
aspectos do ensino ativo.
PALAVRAS CHAVES: Ensino ativo; Ação docente; Formação de professores
INTRODUÇÃO: Há praticamente, um consenso de que as concepções dos professores de Ciências,
suas crenças, suas epistemologias, têm uma influência marcante sobre as suas
práticas pedagógicas e sobre as concepções dos alunos (LÔBO e MORADILLO, 2003).
Além das concepções epistemológicas existentes nos professores, oriundas de
influências sócio-culturais, outro fator relevante na ação do professor em sala
de aula é seu processo de formação. Nos últimos anos a pesquisa sobre o processo
de formação de professores e suas implicações para a ação pedagógica, cresceu
vertiginosamente, sobretudo porque além dos saberes envolvidos na prática
docente, a profissão de professor é alvo de transformações ao longo dos anos
(NUÑEZ E RAMALHO, 2007).
No entanto, essas transformações, presentes em diretrizes e orientações
curriculares, que preveem um ensino contextualizado, interdisciplinar,
relacionado ao cotidiano convergente com o ensino ativo, muitas vezes não são
acompanhadas pelos cursos de licenciatura.
Muitas formações permanecem arraigadas a modelos tradicionais de educação com
ênfase tecnicista e com a visão deformada e caricaturada do professor das
ciências da natureza, propagando um pensamento racionalista e cartesiano.
Tais visões residem no fato dos modelos de formação dos professores estarem
ligados a visões simplistas de ciência e sua função social. Reverberam um
conceito de formação onde o que basta para se concretizar enquanto professor de
ciências é o domínio do conhecimento científico, sendo o conhecimento pedagógico
uma alegoria ao ato de ensinar (GIL-PÉREZ E CARVALHO, 2006).
Desta forma, investigar a ação docente nas aulas de Química permite uma
atualização sobre o contexto do ensino e suas repercussões sociais, através do
desvelamento das concepções e das ações.
MATERIAL E MÉTODOS: Na busca de contemplar os pormenores qualitativos optou-se pelo estudo de caso
através da observação participante, pois permite ao investigador uma imersão no
campo de estudo, sem interferências que possam comprometer o cotidiano dos
eventos pesquisados (YIN, 2005). O estudo se deu na EEFM Integrada 2 de Maio, no
Município de Fortaleza. A escolha da escola se deu mediante a facilidade de
acesso e ao fato da mesma contar com estrutura de laboratório para aulas
práticas além de sala de multimídia, fatores importantes para a aplicação de
metodologias ativas de ensino.
Foram observadas aulas teóricas e práticas e realizadas entrevistas direcionadas
com os dois professores responsáveis pela disciplina de Química no turno da
noite. Os mesmos foram indagados sobre suas formações, condução das aulas,
metodologia empregada, conhecimento dos dispositivos legais que regem o ensino
de química e dos pressupostos do ensino ativo.
As entrevistas caracterizaram-se como do tipo reflexivas, aprofundando os
pormenores da temática com as transcrições seguindo o rigor da manutenção nas
falas (SZYMANSKI, 2008).
Os professores designados por A e B foram acompanhados durante três meses em
aulas teóricas e práticas perfazendo um total de 12 horas de observação de cada
professor, no início do ano letivo de 2012.
Os dados foram agrupados em categorias de acordo com os objetivos da pesquisa,
demonstrando resultados em função dos perfis dos professores quanto suas
formações, dados de suas ações docentes em consonância com as prerrogativas do
ensino ativo, conhecimento das orientações curriculares e influências na ação em
sala de aula.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Professor A: Era oriundo do bacharelado em Química industrial. Aulas com
influência do racionalismo técnico, ações voltadas para a formalidade dos
conceitos e do modelo científico. Demasia do tratamento analítico, com excesso
de cálculos e fórmulas ao invés da compreensão e interpretação dos fenômenos.
Utilizava de recursos de memorização defendendo-os muitas vezes como o melhor
aprendizado, não realizava ações que visassem a interação e a socialização. Os
estudantes assumiam postura passiva. Percebe-se influência do ensino tradicional
onde o conhecimento é passado pela transmissão. Questionado sobre seus métodos,
o professor acreditava que para ensinar química era necessário muito
conhecimento teórico e muita prática em laboratório, entretanto, ao observar
suas aulas práticas percebe-se que na execução das práticas não são criadas
possibilidades de questionamento, apenas há uma reprodução de procedimentos.
Negando conhecimento das orientações curriculares e do ensino ativo
Professor B: Oriundo da licenciatura, aulas com atitudes conteudistas e
memorísticas, no entanto, há indícios de debates, indagações sobre a realização
dos fenômenos e sobre o cotidiano da química com a explanação de reações do
cotidiano. Apesar de incipientes existem projeções de um ensino mais dinâmico e
contextualizado. Segundo o professor, essas influências advêm de uma reflexão
pessoal e da constante autocrítica de suas ações, sobretudo devido um
descontentamento com muitas aulas que teve em sua formação que segundo o mesmo,
eram desvinculadas com a realidade. O aluno era levado a pensar alguns fenômenos
participando e interagindo em grupo. Desconhecia a epistemologia do ensino ativo
e forte influência dos saberes de experiência em suas ações.
CONCLUSÕES: Observaram-se na ação docente que as influências na sala de aula não passam
incólumes ao processo formador, entretanto, podem ser transformadas, apesar das
lacunas epistemológicas, pela reflexão na ação, como propõe Tardif e Schön, e
pelos saberes de experiência, como constata Pimenta. Dessa forma, é necessário
avançar no processo de formação de professores, mas, sobretudo é preciso perceber
o ofício docente como uma ação social e transformadora tanto dos alunos quanto dos
professores, os quais necessitam dia a dia, refletir em suas ações e sobre suas
ações.
AGRADECIMENTOS: Aos professores que contribuíram para a realização desta pesquisa e aos gestores
que possibilitaram acesso a escola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL (2006) Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006.135 p. (Orientações curriculares para o ensino médio ; volume 2)
FLICK, U. Desenho da pesquisa qualitativa. 1º Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. -(Coleção Pesquisa Qualitativa)
GIL-PÉREZ, D. e CARVALHO. P. M. A. Formação de professores de ciências – tendências e inovações. 8º Ed. São Paulo: Cortez, 2006.
LOBO, F.S e MORADILLO, F.E. Epistemologia e a formação docente em química. Química Nova na Escola. nº 17, Maio. 2003.
NUÑEZ, B. I. e RAMALHO, L. B. Estudo da determinação das necessidades de professores: o caso do novo ensino médio no Brasil – elemento norteador do processo formativo (inicial/continuado). OEI-Revista Iberoamericana de Educación. 2007.
PIMENTA., S.G. Formação de professores: identidade e saberes da docência. In: Saberes pedagógicos e atividade docente. PIMENTA, S.G. (Org). 5º Ed. São Paulo: Cortez, 2007.
SZYMANSKI, H. A entrevista na educação: a prática reflexiva. Heloisa Szymanski
(org.), Laurinda Ramalho de Almeida Rego Prandini. 2. Ed. Brasília: Liber Livro Editora, 2008.
TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários: elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas conseqüências em relação à formação para o magistério. Revista Brasileira de Educação, nº13, Jan-Abr, 2000.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3º Ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.