Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7
TÍTULO: A História de Tristão e Isolda contada através da química – uma atividade interdisciplinar para o Ensino Fundamental
AUTORES: Terra, J. (IQ-UNICAMP) ; Santos, S. (IEL-UNICAMP)
RESUMO: Descrevemos uma proposta para se trabalhar conceitos de química a partir de
contação de história - romance Tristão e Isolda. Em uma integração disciplinar,
uma professora de literatura e outra de química, contaram a história simulando
uma espécie de teatro. Enquanto a professora de literatura contava a história
focando nos fatos (visão literária), trazendo, inclusive, aspectos associados ao
período histórico do romance, localização geográfica, questões de higiene e
religiosas, a de química recontava a fábula segundo a visão da química, através
de reagentes e materiais de laboratório, explicando os conceitos químicos
envolvidos. A escuta de histórias, além de estar associada a uma atividade de
entretenimento, tende a favorecer o desenvolvimento de diversas habilidades
metacognitivas.
PALAVRAS CHAVES: ensino de química; contação de história; Tristão e Isolda
INTRODUÇÃO: Com ênfase exclusiva no último ano do ensino fundamental (EF), a Química é
explorada tendo como apoio de recursos didáticos os livros e a lousa; o que a
torna uma disciplina de pouco interesse por parte dos alunos, que se perpetua
nos anos seguintes da educação (MALDANER e PIEDADE, 2008; CHASSOT, 1992).
As autoras propõe neste trabalho o uso da contação de história, já que ela
favorece a interação com a leitura e a literatura. A escuta de histórias
estimula o desenvolvimento de habilidades metacognitivas, consciência
metalinguística, associação de palavras e conceitos, desenvoltura com a
oralidade (SOUZA e BERNARDINO, 2011).
Buscando romper o senso comum de que a Química é uma matéria difícil,
chata e que se baseia exclusivamente na resolução de exercícios e memorização de
fórmulas, uma professora de literatura e outra de química realizaram a contação
da lenda de Tristão e Isolda, usando além da oralidade, materiais e reagentes
presentes associados a laboratórios de ciências.
Sendo um romance da idade média, temas abordados em história e geografia
no EF podem ser explorados a partir da narrativa; além de aspectos associados
gênero romance, definições de lenda e mito, análise de documentação histórica
(BRASIL, 1997a e 1997b; THOMPSON, 1981).
Propostas que aproximem os assuntos do contexto dos estudantes é uma
recomendação tanto de documentos públicos, como de especialistas da educação. Se
o aluno se envolve com a proposta, seu interesse em aprender aumenta e ele torna
agente do seu processo de aprendizagem (FREIRE, 1987).
O Romance de Tristão e Isolda envolve sentimentos e paixões, histórias
de amor focadas nos conflitos internos das personagens, temas apreciados por
alunos a partir dos 12 anos, quando grande parte começa a se relacionar
amorosamente(OLIVEIRA, 2011)
MATERIAL E MÉTODOS: No palco de um anfiteatro, a professora de literatura contava a história focando
nos fatos (“visão literária”), a de química recontava a narrativa segundo a
“visão da química”, através de reagentes e materiais de laboratório, explicando
os conceitos químicos envolvidos nesta visão.
Para a “visão literária” só foi usado o romance (BÉDIER, 2000):
apaixonada por Tristão desde que tomaram o vinho do amor sem saber, Isolda
mantém um relacionamento com este mesmo após seu casamento com o rei Marco.
Quando este romance é descoberto, Tristão é expulso do reino. O tempo passa e
Isolda vai ao encontro de seu amor ao saber que este foi ferido em uma batalha,
mas ao encontrá-lo morto morre de tristeza. Enterrados próximos, no dia seguinte
do sepultamento os amantes são unidos por um espinheiro que surge e que, mesmo
quando arrancado, renasce.
A “visão da química” foi dividida em 2 partes, seguindo o romance. Todos
os corantes usados eram para fins alimentícios.
Em uma proveta foi criado um sistema trifásico a partir de 200 mL de água com
corante roxo (representando Isolda), 500mL de óleo de soja (representando o rei)
e 200mL de álcool comercial (representando Tristão). Uma pedra de gelo seco foi
“arremessada” no sistema.
Na parte II havia 3 béqueres contendo 200mL de soluções que representavam as
personagens, mantendo as cores da parte I. Tristão consistia de HCl 0,01mol/L, o
rei de NaOH 0,01mol/L com corante amarelo e Isolda de uma solução de NaOH
0,01mol/L com gotas de corante verde e de solução de fenolftaleína preparada
segunda literatura (Baccan et al., 2001).
A solução ácida foi transferida para o béquer contendo a solução que
caracterizava Isolda, até obtenção da cor verde. Então a “solução do rei” foi
adicionada até a cor ficar roxa. Mais ácido foi adicionado ao béquer
RESULTADOS E DISCUSSÃO: As professoras buscaram fazer com que a dinâmica fosse interativa, para
estimular a fala dos alunos, tornando-os ativos no processo de ensino e
aprendizagem que estava sendo proposto.
Vários aspectos químicos foram abordados. O conhecimento de materiais de
laboratório, unidades de medida para volume e características de misturas foram
enfatizados durante a história.
Na parte I, explorou-se densidade e polaridade, conceitos que
justificaram a separação e a sequência das fases. Estudos revelaram a
dificuldade de estudantes em compreender tais conceitos, uma possível
consequência da pouca contextualização dada a eles (ROSSI et al., 2008).
Estados físicos da matéria e suas mudanças foram abordados com o uso da pedra de
gelo seco. Auxiliada pela força gravitacional, a pedra chegou ao fundo da
proveta rapidamente, não mudando de estado ao entrar em contato com as fases
superiores. Ao estacionar, o gelo promoveu a movimentação das fases, em virtude
do gás carbônico liberado. Após um tempo, viam-se apenas duas fases: a aquosa,
representando a união dos amantes, e a oleosa, caracterizando o rei traído.
Na parte II, conceitos de ácido e base, pH, neutralização e equilíbrio
químico foram abordados. A base no béquer que representava Isolda garantia a cor
rosa à fenolftaleína, mas, o corante verde tornou possível visualizar o roxo.
Cabe ressaltar que se pretendia associar cada personagem a uma cor.
A adição do ácido (“Tristão”) na solução de “Isolda” mudou a cor da
fenolftaleína para incolor. Como o corante não muda de cor com a acidez, a cor
observada foi verde; representando o espinheiro. A solução do rei promoveu o
deslocamento do equilíbrio químico e a recuperação da cor rosa da fenolftaleína
que, misturada com os corantes verde e amarelo, recuperava a cor roxa de Isolda.
CONCLUSÕES: Realizada por professoras de Química e de literatura, a proposta pode ser
reformulada para agregar outros professores, enriquecendo os conteúdos a serem
explorados.
Paralelamente, outras obras podem ser “adaptadas”, pois a contação de
histórias mostrou ser uma ferramenta alternativa para se propiciar a aprendizagem
efetiva. Após a atividade, os temas abordados foram motivo de reflexão nas
diversas disciplinas e assunto nas rodas de estudante.
Várias competências e habilidades foram desenvolvidas pelos educandos como a
comunicação e a articulação de conhecimentos e racionalização de opiniões.
AGRADECIMENTOS: À Capes, à professora Maria Izabel Maretti S. Bueno, ao Meu Colégio - Anglo e aos
estudantes que participaram da proposta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BACCAN, N.; ANDRADE, J. C.; GODINHO, O. E. S.; BARONE, J. S. Química Analítica Quantitativa Elementar. 3ª ed., Edgard Blücher: São Paulo, 2001.
BÉDIER, Joseph. O Romance Tristão e Isolda. Tradução: Luís Cláudio de Castro Costa. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história, geografia / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997a.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997b.
CHASSOT, A. I. Para que(m) é útil o nosso ensino de química. Espaços da Escola 1992, 5, 43-51.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Terra e Paz, 1987.
MALDANER, O. A.; PIEDADE, M. C. T. Repensando a Química. QNEsc. 1995, 1, 15-19.
OLIVEIRA, D. C. Iniciação sexual na adolescência e sua repercussão na vida sexual e reprodutiva de jovens. Dissertação de Mestrado. Ciências e Saúde da Universidade Federal do Piauí, 2011.
ROSSI, A. V.; MASSAROTTO, A. M.; GARCIA, F. B. T.; ANSELMO, G. R. T.; DE MARCO, I. L. G.; CURRULERO, I.C.B.; TERRA, J.; ZANINI, S. M. C. Reflexões sobre o que se ensina e o que se aprende sobre densidade a partir da escolarização. QNEsc 2008, 30, 55-60.
SOUZA, L. O.; BERNARDINO, A. D. A contação de histórias como estratégia pedagógica na educação infantil e ensino fundamental. Educere Educ. 2011, 6(12), 235-249.
THOMPSON, E. P. Intervalo: a lógica histórica. IN: A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.