Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7
TÍTULO: Objetivação do termo "quente" por alunos do nono ano do ensino fundamental
AUTORES: Castro, P.M.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Sales, L.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Matos, J.M.E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Silva, R.L.G.N.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)
RESUMO: Dentro do contexto social em que vivem, os alunos possuem diferentes relações com
os conceitos científicos, o que resulta em diferentes concepções dos mesmos. Neste
trabalho foi analisado como alunos do nono ano do ensino fundamental de uma escola
da rede pública objetivam o termo “quente”. Como instrumento de coleta foi
utilizado a entrevista semiestruturada. As respostas foram analisadas através de
uma análise categorial (BARDIN, 1977). A partir da análise emergiram três
categorias, as quais representam como os alunos objetivam o termo “quente”:
representação por objetos vermelhos, por fumaça e por fogo. Os resultados obtidos
sugerem que a principal imagem para a objetivação é a cor vermelha, seguindo pela
fumaça, enquanto que o fogo é mais utilizado para objetivar as fontes de calor.
PALAVRAS CHAVES: Ensino de química; Representações Sociais; Termoquímica
INTRODUÇÃO: O estudo das Representações Sociais faz-se importante uma vez que a ação humana
é, em grande parte, guiada a partir de razões simbólicas, o senso comum, e não
por motivos racionais, e isto se aplica na Educação. As representações podem ser
construídas a partir dos conhecimentos científicos, quando tentamos absorver os
conhecimentos do mundo científico para o nosso, o consensual. O papel das
Representações Sociais seria, assim, transformar o não familiar em familiar
(MOSCOVICI, 1978). E essa passagem, do objeto do mundo cientifico para o
consensual, se dá através de dois processos: a ancoragem e a objetivação, sendo
que, no presente trabalho, nos focaremos no processo de objetivação.
A objetivação consiste em transformar o abstrato em concreto, ou seja, conferir
a um objeto uma imagem. Desse modo, a imagem passa a representar o objeto e a
ser aceito em situações comuns. De acordo com Sá (1995) sua postulação teórica
se justifica à medida que “propusermos que as palavras não falam sobre ‘nada’,
somos compelidos a ligá-las a alguma coisa, a encontrar equivalentes não
verbais”, ou seja, imagens dotadas de significados.
Quando pensamos que os indivíduos estabelecem contatos com conceitos científicos
de acordo com o meio em que circulam, suas crenças, valores e história, tomamos
tais conceitos como objetos psicossociais. Assim, do ponto de vista ‘popular’,
estamos diante de um conceito relativo, o qual envolve subjetividades e,
portanto, é passível de múltiplas interpretações. Tendo em vista que o objetivo
deste trabalho é compreender como os alunos absorvem o conceito de calor do meio
social e posteriormente os reproduzem, ele se ajusta perfeitamente à essência
que constitui o aporte teórico da Teoria das Representações Sociais, em especial
o processo de objetivação.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram entrevistados vinte e cinco alunos do nono ano do ensino fundamental da
rede pública de Teresina, PI. O número de sujeitos é justificado por um critério
conhecido como saturação: “quando os temas e/ou argumentos começam a se repetir
isto significaria que entrevistar uma maior quantidade de outros sujeitos pouco
acrescentaria de significativo ao conteúdo da representação”. (SÁ, 1998).
As Representações Sociais se expressam na comunicação e, preferencialmente, na
linguagem falada, A entrevista é uma técnica que permite uma comunicação
bilateral e mantém uma estreita relação entre as pessoas (LIMA, 2006), sendo,
portanto, um dos instrumentos mais utilizados no trabalho de campo. Para Minayo
(2007), a entrevista pode alcançar as “ideias, crenças, maneira de pensar,
opiniões, sentimentos, maneira de sentir, maneiras de atuar, condutas, projeções
para o futuro, razões conscientes ou inconscientes de determinadas atitudes e
comportamentos”.
O roteiro de entrevista continha oito questões, porém nos focaremos somente na
questão: “Se eu lhe pedisse para fazer o desenho de uma colher de ferro ficando
quente, como seria este desenho?”, a qual é responsável pela detecção da
objetivação dos alunos a respeito do conceito de calor (fonte de calor e
processo de aquecimento).
As entrevistas gravadas foram transcritas pelo pesquisador. Os dados obtidos
foram submetidos a uma análise de conteúdo, por meio da técnica de análise
categorial, conforme Bardin (1977). Tal procedimento resultou na identificação
de categorias, em torno das quais as falas se convergem, em função do conteúdo
analisado, representando as unidades de sentido do pensamento dos entrevistados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A questão verificou como os alunos objetivariam o processo de aquecimento, ou
seja, qual a imagem que eles conferiam ao objeto em questão. Da fala dos
sujeitos emergiram três categorias: Mudança de cor, Fumaça e Fogo, que são
mostradas percentualmente no Gráfico 1. A soma ultrapassa 100% pois a resposta
de um aluno pode contar mais de uma das opções.
As respostas que emergiram da primeira categoria constituem um binômio sensação-
coloração, ou seja, quando se representa um objeto quente (sensação) com uma
mudança de cor (coloração). As cores que emergiram das respostas dos sujeitos
entrevistados foram vermelho e preto. A cor vermelha é, muitas vezes, associada
à sensação de quente por dois motivos: primeiro, quando vemos metais
incandescentes, os mesmos apresentam a coloração avermelhada; muitas vezes vemos
as chamas do fogo numa coloração laranja-avermelhado. A cor preta pode ter
surgido em alusão à fuligem que é liberada em um processo de combustão.
Na segunda categoria, as respostas mostram um binômio sensação-consequência.
Para que uma substância forme vapor (consequência), é necessário que se aqueça
tal substância (sensação), logo, quando desenhar uma substância vaporizando-se
demonstra-se que o ambiente está quente. Fumaça aparece com dois sentidos: o
vapor que sai quando aquecemos a água e a radiação que é liberada por objetos
quentes, como as liberadas pelo asfalto em dias quentes.
Na terceira categoria surgiram falas de experiências diretas dos sujeitos,
fazendo-se um binômio sensação-objeto, ou seja, o fogo (objeto) aquece o que
está ao seu redor (sensação). Então se representa algo quente perto do fogo.
Mas o fogo é desenhado para representar a “fonte de calor” e para desenhar o
quente propriamente dito ainda usa-se outros recursos, como a cor vermelha.
Gráfico 1: Categorias relacionadas à pergunta. Teresina, 2012.
Fonte: Entrevista realizada com alunos da Escola
Santo Afonso Rodrigues. Teresina, 2012.
CONCLUSÕES: A questão analisada mostra que os alunos objetivam o termo “quente” através de
três binômios: sensação-objeto, sensação-coloração e sensação-consequência. O
primeiro teve pouca representatividade, o que evidencia que o fogo é objetivado
apenas como fonte de calor, ou seja, quando imaginam algo que esquenta, vem-lhes a
imagem do fogo. O segundo apresentou maior porcentagem, o que evidencia que é
através da cor, principalmente a vermelha, que os alunos objetivam o termo quente,
portanto, para eles um objeto quente é ele mesmo, mas vermelho.
AGRADECIMENTOS: Universidade Federal do Piauí e Escola Santo Afonso Rodriguez
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
LIMA, F. F. Professores de inglês da educação básica e suas representações sociais acerca do aluno de escola pública. 2006. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Piauí, Teresina.
MINAYO, M. C.S. (2007). Trabalho de campo: contexto de observação, interação e
descoberta. In: _____. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26. ed.
Petrópolis: Vozes.
MOSCOVICI, S. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1978.
SÁ, C. P. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: SPING, M. J. (Ed.). O conhecimento no cotidiano. São Paulo: Brasiliense, 1995.
SÁ, C. P. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.