11º Simpósio Brasileiro de Educação Química
Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7

TÍTULO: ENSINO SOBRE GASES NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO JOGO “CARTAS GASOSAS”

AUTORES: Lima de Menezes, F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA-CE)) ; Matos Lopes, J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA-CE)) ; Rodrigues da Silva, J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA-CE)) ; Sales da Silva, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA-CE))

RESUMO: Os jogos didáticos surgiram como alternativa à palmatória e ao verbalismo de até então e são focos de muitas pesquisas com resultados satisfatórios. Esse trabalho visa investigar os efeitos do baralho “Cartas Gasosas” na assimilação do tema “gases” em uma turma do 3º ano do ensino médio de Sobral-CE. O baralho, desenvolvido no “Word” e impresso em folhas A4, exige que o aluno combine as grandezas pressão, volume, quantidade de matéria e temperatura com uma constante e uma pergunta com sua resposta. Ele pode ser jogado por até quatro jogadores. Através de questionários, 97,8% do público-alvo afirmaram gostar do ludo e 80,4% dele confirmaram existir equilíbrio entre diversão e aprendizagem. Conforme os resultados, o jogo teve elevado potencial didático-pedagógico nas aulas ministradas.

PALAVRAS CHAVES: Lúdica; Gases; Jogo de Cartas

INTRODUÇÃO: As primeiras propostas de aplicação de jogos didáticos na educação datam da época do renascimento e trouxeram, ao ensino, uma alternativa à palmatória e ao verbalismo vigentes no processo educacional. Segundo Kishimoto (1996), a partir desse período, vê-se a brincadeira como conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. A partir de então, o jogo deixa de ser apenas uma diversão fútil e passa a ser discutido como instrumento de ensino, atraindo a atenção de estudiosos como Piaget (1978) e Vygotsky (1998). Um jogo didático se diferencia dos demais por apresentar mais do que desafios que desenvolvam habilidades sensório-motoras, cognitivas e afetivo-sociais. O jogo didático, além de apresentar características do jogo educativo, mobiliza as competências prévias dos jogadores. Quando o jogo se torna uma representação palpável dos conceitos, ele poderá ajudá-los na assimilação e acomodação daqueles conhecimentos que exigem altos níveis de abstração. De acordo com Ronca (1989), o movimento lúdico, simultaneamente, torna-se fonte prazerosa de conhecimento, pois nele a criança constrói classificações, elabora sequências lógicas, desenvolve o psicomotor e a afetividade e amplia conceitos das várias áreas da ciência. Vários outros trabalhos também revelaram melhoras na aprendizagem dos alunos e no relacionamento entre discentes e docentes. Esses avanços podem ser atribuídos à eficiência dos jogos em despertar o interesse dos alunos, o que reflete em um aumento da disciplina (ROMERO et al., 2007; ZANON et al., 2008). Diante do exposto, esse trabalho visa investigar a aprendizagem de alunos através de um jogo de cartas, pretendendo-se desenvolver neles um excelente raciocínio lógico e uma visão apurada no que se refere às propriedades dos gases.

MATERIAL E MÉTODOS: Inicialmente, revisou-se a literatura sobre o assunto, procurando-se metodologias alternativas para o fácil entendimento do conteúdo pelos alunos. O próximo passo foi aplicá-las na elaboração de em um jogo didático. Foram utilizadas analogias, associações e comparações, na elaboração do objeto educacional. O jogo foi criado na forma de um baralho, composto por 30 cartas, sendo 05 cartas de perguntas, 05 cartas com as respectivas respostas e 04 grupos de cartas com as grandezas pressão (P), volume (V), quantidade de matéria (n) e temperatura (T) além de uma carta com a constante (R). As grandezas P, V, n e T, assim como a constante R, foram expressas no jogo em diferentes unidades para ensinar aos alunos noções de análise dimensional. Depois de desenvolvidas no programa “Word” e editado no “Paint”, as cartas foram impressas em folhas A4, recortadas e plastificadas para maior durabilidade do objeto educacional. O jogo pode ser jogado por até quatro jogadores, que recebem no início da partida sete cartas aleatórias. Para ganhar uma partida, o jogador deve reunir o conjunto coerente de P, V, n, R e T e o conjunto de uma resposta com a sua respectiva pergunta ou vice-versa. O jogo “Cartas Gasosas” contou com a participação de 46 alunos do 3º ano do ensino médio da E. E. F. M. Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral-CE. Em uma mesma turma de alunos, realizou-se um torneio nos dias 10 e 17 de Abril de 2013. Através de um questionário com sete perguntas objetivas e três perguntas subjetivas, coletou-se as opiniões dos alunos a respeito da aula. Todos os 46 alunos presentes opinaram sobre o jogo. Tabulou-se os dados obtidos no questionário no programa “Excel” e realizou-se uma análise da eficiência da atividade lúdica na aula ministrada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Pela análise das respostas expressas no gráfico abaixo, percebe-se que 97,8% dos alunos gostaram da aula lúdica e que 91,3% classificaram-na como melhor que aulas expositivas. Esses dados estão próximos aos obtidos por Nardin (2008), que levantou tais questões a alunos do mesmo nível de ensino. Silva et al. (2011), obteve 74,1% de resultados positivos no segundo critério avaliado nesse trabalho, quando analisou-o em um jogo sobre a tabela periódica. Essa discrepância pode ser causada pela variação na quantidade e no perfil das amostras. Para Santos (2000), os jogos tornam a aula bem mais atraente, o que se confirmou por 95,7 % das respostas dos alunos, resultados inferiores aos obtidos por Malaquias (2012) e por Nardin (2008), que revelaram unanimidade de resultados positivos. Para Cunha (2012), um jogo pode ser considerado educativo quando mantém um equilíbrio entre duas funções: a lúdica e a educativa. Segundo 80,4% respostas dos alunos, esse equilíbrio foi alcançado na atividade proposta. Para Campos et al. (2002), os jogos auxiliam na aprendizagem de conceitos abstratos e complexos, favorecendo a motivação interna, o raciocínio, a argumentação, a interação entre alunos e entre professores e alunos. Nesse trabalho, 93,5% dos alunos alegaram que o jogo contribuiu no desenvolvimento do raciocínio e 97,8% relataram melhoras no relacionamento entre os demais alunos e entre o professor. Ainda 87,0% dos alunos afirmaram que o jogo motiva-os a estudarem sobre gases e 85,0% disseram que ele promove o prazer em aprender química. Nas respostas das questões abertas, percebeu-se a ocorrência de respostas iguais. Os alunos entraram em consenso de que aprenderam de forma mais “legal”, “divertida” e “cativante”, já que o jogo facilitou “a aprendizagem de matérias complicadas”.

CONCLUSÕES: Os resultados obtidos pelo trabalho desenvolvido atenderam aos objetivos esperados, desenvolvendo nos alunos inclusos nas atividades vinculadas a ele uma visão ampla e crítica a respeito do assunto, além de ter colaborado com os discentes na busca por um raciocínio mais preparado para as abstrações. Melhoras significativas foram identificadas nos relacionamentos entre os alunos e entre estes e o professor, ampliando a colaboração dos alunos com a participação efetiva e a disciplina nas aulas.

AGRADECIMENTOS: O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CAMPOS, L. M. L.; BORTOLOTO, T. M; FELICIO, A. K. C. A Produção de Jogos Didáticos para o Ensino de Ciências e Biologia: Uma Proposta para Favorecer a Aprendizagem. Disponível em: <http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2002/aproducaodejogos.pdf>. Acesso em: 14 de Abril de 2013.

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Acesso em 14 de Abril de 2013

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