TÍTULO: Um estudo da concepção conceitual dos estudantes de Licenciatura em Química, do IFPI- Campus Picos, sobre a descontinuidade da matéria.

AUTORES: Sousa, M.M. (IFPI)

RESUMO: O presente artigo discute a concepção conceitual dos estudantes do curso de Licenciatura em Química, do IFPI Campus – Picos, sobre a descontinuidade da matéria. O estudo foi realizado com base nas informações obtidas através da aplicação de um questionário, visando analisar a concepção destes estudantes sobre este conceito. A análise destaca que apenas 25% dos estudantes pesquisados demonstraram uma concepção descontínua da matéria, o que revela a dificuldade dos alunos em conceber e expressar a matéria como descontínua.

PALAVRAS CHAVES: Concepção conceitual; descontinuidade da matéri; concepção fenomenológica

INTRODUÇÃO: Pesquisas mostram que os estudantes têm dificuldades em realizar raciocínios e aceitar a ideia da descontinuidade da matéria e que, estas características do pensamento dos alunos evoluem com a idade e grau de instrução (MORTIMER, 1995). A visão macroscópica da matéria está tão enraizada que a concepção contínua da matéria é uma das mais resistentes à mudança conceitual na química. Esta concepção é muito influenciada pela aparência material das substâncias. Com isso, a ideia de espaço vazio só é frequentemente utilizada para representar matéria no estado gasoso, o que demonstra uma dificuldade dos estudantes em transitar entre as observações fenomenológicas e explicações atomístico- molecular dos fenômenos (MORTIMER, 1995 e POZO, 2009). A concepção de matéria pode ser classificada segundo os critérios propostos por JUSTI (1997) em três grupos: concepção descontínua, concepção contínua e concepção ambígua. Segundo BENARROCH (2000), a instrução sobre o conhecimento científico a cerca da matéria favorece a uma troca progressiva das características macroscópicas e fenomenológicas da matéria por um aumento significativo da concepção acadêmica, contemplando em suas explicações aspectos microscópicos.

MATERIAL E MÉTODOS: A pesquisa foi realizada com os estudantes dos módulos I, III, V e VII do curso de Licenciatura em Química do IFPI Campus Picos, envolvendo um total de 76 estudantes. Os dados foram coletados em horário de aula, através da aplicação de um único questionário aos estudantes de cada módulo. O mesmo solicitava que os alunos explicitassem suas ideias, por escrito e por meio de um desenho, para duas situações distintas. A primeira seria representar uma amostra de água nos estados sólido, líquido e gasoso, por meio de um desenho. A segunda, descrever, verbalmente e por meio de um desenho, uma mistura entre duas substâncias. A análise e classificação dos dados foram baseadas em critérios propostos por JUSTI (1997), que classifica as concepções em três grupos: concepção descontínua, concepção contínua, concepção ambígua.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os desenhos da amostra de água nos estados sólido, líquido e gasoso revelam diferentes concepções dos estudantes pesquisados sobre a matéria, pois 43,5% demonstraram concepção contínua; 25,0% concepção descontínua; 30,5% uma concepção ambígua e 1,0% não responderam. Observou- se uma evolução conceitual, à medida que aumenta o grau de instrução dos mesmos, pois apenas 15% estudantes do módulo I demonstraram uma concepção descontínua enquanto os do módulo VII atingiram 50%. Considerou-se como concepção descontínua da matéria os desenhos com referência explícita à existência de partículas ou moléculas separadas umas das outras com espaço vazio entre eles. A figura 01 é um exemplo de concepção contínua da matéria. Figura 01: Caracterizado por um espaço em branco, totalmente pintado ou com ondas. Desenhos com coexistência de elementos das duas concepções anteriores ou apenas um dos estados como descontínua foram considerados como concepção ambígua. Assim como em BENARROCH (2000), ao comparar o valor percentual da concepção descontínua obtida entre os blocos de estudantes pesquisados, observou-se uma evolução conceitual e troca da concepção macroscópica por uma científica, à medida que aumenta seu grau de instrução. A análise dos estudantes quanto à mistura entre duas substâncias, feitas através de descrição verbal ou por meio de um desenho, observou-se uma maior dificuldade de expressão, haja vista os 21% de respostas em branco para descrição verbal e 28% por meio de desenho. No entanto, foi detectada concepção contínua figura 02 e concepção descontínua como a transcrita logo a baixo. Figura 02. Desenho que expressa a concepção contínua da matéria. “A experiência demonstra que a matéria apresenta “espaços vazios”. O fenômeno seria uma difusão entre as moléculas".

Figura 01

Desenho de uma amostra de água nos estado sólido,líquido e gasoso

FIGURA 02

Desenho de uma mistura de duas substâncias: água e suco de laranja.

CONCLUSÕES: O trabalho evidenciou que os estudantes possuem dificuldades em utilizar o modelo corpuscular para descrever a matéria, comprovando, assim, a difícil tarefa de substituir a visão macroscópica por uma concepção acadêmica. Pode-se ainda detectar uma evolução conceitual à medida que aumenta o grau de instrução dos mesmos, haja vista que, na análise dos desenhos usados para representar uma amostra de água nos estados sólido, líquido e gasoso, apenas 15% estudantes do módulo I demonstraram uma concepção descontínua, em quanto os do módulo VII atingiram 50%.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BENARROCH, B. A. (2000). El Desarrollo Cognoscitivo de los estudiantes en el área de la natureza corpuscular de la matéria. Enseñanza de las Ciencias, 18, 2, 235 - 246. JUST. R. S.; RUAS, R. M. (1997). A aprendizagem de Química: reprodução de pedaços isolados de conhecimentos? QUÍMICA NOVA NA ESCOLA: Pesquisa no Ensino de Química. N° 5, MAIO. 24 - 27. MORTIMER, E. F.; MIRANDA, L. C. (1995). Transformações: concepções de estudantes sobre reações químicas. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA: O Aluno em Foco. N° 2, NOVEMBRO. 23 - 26. POZO, J. I. ; CRESPO, M. Á. G. (2009). A Aprendizagem e o Ensino de Ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. 5ed. Porto Alegre: Artmed. (tradução: Naila Freitas).