TÍTULO: A QUÍMICA EM BANDA DESENHADA NA PROMOÇÃO DE AUTORIA EM AULAS DE QUÍMICA
AUTORES: Silva, R.N. (UFPI) ; Ferreira, L.N.A. (UFPI)
RESUMO: A utilização de textos com linguagem científica que despertem o gosto pela
leitura
tem sido sugerida em pesquisas na área de educação em ciências. Nesse contexto,
foi aplicada uma proposta de ensino pautada no uso de histórias em quadrinhos
extraídas do livro A química em banda desenhada, Gonick e Criddle (2006) em
aulas
de química do ensino médio pautada na produção textual. Os dados obtidos foram
analisados segundo análise do discurso de linha francesa, como tem sido
divulgada
por Eni Orlandi, especialmente a noção de autoria. Na análise dos resultados
verificou-se que parte considerável dos alunos fez uso da repetição histórica,
tipo de repetição que indica o posicionamento dos alunos como autores de seus
textos.
PALAVRAS CHAVES: histórias em quadrinhos; ensino de química; autoria
INTRODUÇÃO: Inúmeros são os problemas encontrados atualmente no ensino, especialmente das
ciências exatas, o qual carece de iniciativas que motivem a participação dos
alunos em sala de aula e promovam um ensino que ultrapasse a transmissão de
informações e atinja um aprendizado significativo do aluno. Dentre as diversas
estratégias disponíveis para o uso didático, as Histórias em Quadrinhos (HQ) –
produções de caráter artístico que utilizam o desenho, a escrita e a narrativa
para criar um meio de comunicação caracterizado como cultura de massa (MELO,
2010) – aparecem como uma alternativa em potencial para atender às necessidades
supramencionadas, visto que são capazes de explorar o domínio conceitual, ou
seja, a compreensão dos conteúdos científicos e sua posterior tomadas de
decisões. Diante das considerações apresentadas, o presente trabalho envolve a
aplicação de uma proposta de ensino de química baseada no uso de HQ –
especialmente um capítulo do livro A química em banda desenhada (GONICK;
CRIDDLE, 2006) –, partindo do pressuposto de que esse tipo de texto poderá
funcionar como instrumento mediador na interpretação dos assuntos a serem
trabalhados em sala de aula pelos estudantes, ou seja, para o estabelecimento da
autoria. Orlandi (2000) coloca a noção de autoria como sendo uma função que a
escola deve se preocupar em desenvolver. Para ela, a posição-autor se faz na
constituição da interpretação, pois o autor não pode dizer coisas que não tenham
sentido e, além disso, este deve ser dirigido a um interlocutor determinado.
MATERIAL E MÉTODOS: A metodologia de pesquisa adotada é do tipo qualitativa e assume um perfil de
estudo de caso. A proposta de ensino foi aplicada no segundo semestre de 2011,
nos meses de Agosto e Setembro, numa turma de 1º ano Ensino Médio de uma escola
estadual situada no município de Teresina. A proposta foi realizada em parceria
com o professor responsável pela disciplina e, para que fosse colocada em
funcionamento, buscamos relações entre o conteúdo ministrado pelo professor
responsável pela disciplina e os assuntos abordados no livro em pauta. Assim,
conforme mencionado no tópico discorrido sobre o livro, o capítulo trabalhado
foi o de número 3 – A união faz a força – que têm relação com o assunto Ligação
Química. Na primeira etapa, foi aplicado um questionário de conhecimentos
prévios com questões concernentes ao tema em pauta, logo em seguida foram
distribuídas cópias de texto selecionado que foi explorado com aulas expositivas
dialogadas sobre o assunto com o auxílio do texto. Este procedimento foi
repetido durante a segunda e terceira etapa desta metodologia. Na quarta etapa
foi distribuído um questionário, o qual apresentava questões descritivas e uma
na qual solicitamos a confecção de um HQ, todas referentes aos conteúdos
trabalhados em sala de aula. Nesta mesma etapa foi solicitada aos alunos a
redação de um texto de gênero livre alusivo aos assuntos trabalhados. Neste
trabalho são apresentados e discutidos os resultados referentes à análise dos
textos produzidos pelos estudantes a partir das atividades realizadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Conforme explicitado, foi pedido aos alunos a confecção de um texto de gênero
livre a partir das atividades realizadas. Na análise dos textos produzidos
procuramos reconhecer os processos de autoria de acordo com a distinção proposta
por Orlandi (1996) entre as repetições empírica (repetição sem compreensão),
formal (exercício gramatical) e histórica (interpretação). Foram analisados 20
textos, dos quais boa parte (9 textos) apresentava traços de repetição
histórica. Nos demais houve um predomínio de repetição empírica. Os indícios de
repetição empírica e formal foram identificados na comparação entre os textos
dos alunos e o capítulo estudado. Selecionamos para apresentação neste trabalho
um texto produzido com indícios de repetição histórica que, na perspectiva de
Orlandi (2000) configura interpretação por parte dos estudantes. O texto
analisado trata de um relato no qual o Aluno 1 descreve como se deram as aulas
com HQ sobre o tema Ligação Química. O Aluno descreve com entusiasmo as aulas
ocorridas, as quais, segundo ele, trouxeram diversão e aprendizagem. É digno de
nota o comentário a respeito das HQ facilitarem a visualização dos tipos de
ligação química: “...com quadrinhos nós podemos observar como estavam ocorrendo
as ligações iônicas, ligações covalentes e as ligações metálicas”. Com o intuito
de reforçar essa ideia, o Aluno 1 apresentou em seu texto uma ilustração
retirada do texto original. No entanto, além de reproduzir a ilustração, o Aluno
colocou uma representação do compartilhamento de elétrons. O seguinte trecho do
texto ilustra o comentário da aluna que precede a apresentação das ilustrações:
“Os desenhos trouxeram mais entendimento, pois ao observar dava para entender
melhor”. Acreditamos que esse fato retrata também um ato interpretativo.
CONCLUSÕES: A análise dos textos produzidos pelos alunos, a partir da noção de autoria nos
permitiu observar a presença de repetição empírica (predominante) e histórica. Nos
textos com repetição histórica verificamos a existência de ideias desvinculadas do
texto original, demonstrando a intenção dos estudantes em colocar suas próprias
ideias a respeito do texto, constituindo-se como autores. A predominância de
repetição empírica não é surpreendente, pois demonstram dificuldades dos alunos em
explicitar sua própria interpretação e a necessidade de reproduzir o que falam o
professor e o material didático.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: GONICK, L.; CRIDDLE, G. A Química em banda desenhada. Lisboa: Gradiva, 2006. 45-59 p.
MELO, R. M. B. A construção da história em quadrinhos:seu uso cultural na mídia impressa. Disponível em: http://dmd2.webfactional.com/media/anais/HISTORIA-E-QUADRINHO-E-MIDIA.pdf. Acesso em: 10 out. 2011.
ORLANDI, E. P. Interpretação: autoria, leituras e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Editora Vozes, 1996. 150 p.
ORLANDI, E. P.. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2000. 118 p.