TÍTULO: ANÁLISE DE UMA ATIVIDADE EXPERIMENTAL COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM PARA ABORDAGEM DOS CONTEÚDOS DE SOLUÇÕES E COLÓIDES NO ENSINO MÉDIO.

AUTORES: SOUZA, J. S. A. (UFPE) ; SILVA, E. S. (UFPE) ; SÁ, R. A (UFPE) ; BATINGA, V. T. S. (UFPE)

RESUMO: Este trabalho analisou o desenvolvimento de uma atividade experimental que abordou aspectos fenomenológicos dos conteúdos de soluções e colóides. A atividade foi elaborada por um grupo de pesquisa da UFPE/CAA e aplicada a 21 alunos da 2ª série do ensino médio de uma escola pública da cidade de Bezerros em Pernambuco. A análise desta atividade contribuiu para que os alunos observasem aspectos fenomenológicos presentes na abordagem dos conteúdos de soluções e colóides. E também possibilitou os alunos a confrontarem suas concepções atuais; a desenvolver habilidades de observação e práticas como procedimentos de manipulação; a formular hipóteses e selecionar variáveis relevantes para resolver questões relativas ao experimento.

PALAVRAS CHAVES: experimentação, soluções, coloídes

INTRODUÇÃO: Nos primórdios da humanidade já se utilizavam soluções como perfumes e colóides na alimentação, fabricação de cerâmica e na decoração de paredes das cavernas (JAFELICCI JUNIOR e VARANDA, 1999). Solução é um material homogêneo em quaisquer proporções, constituída pela interação entre soluto e solvente e o tamanho das partículas do soluto é menor do que 1 nm (SANTOS e MÓL, 2005). Percebe-se o trajeto da luz em um meio quando existem partículas que dispersam os raios luminosos. Este fenômeno é chamado de Efeito Tyndall (Santos e Mól, 2005) e não ocorre nas soluções, pois as partículas do soluto são menores que 1 nm. Os colóides apresentam características intermediárias entre materiais homogêneos e heterogêneos, são materiais homogêneos a olho nu, porém com o uso do microscópio observam-se partículas dispersas. As partículas coloidais possuem tamanhos entre 1 a 1000 nm; provocam o efeito Tyndall e são formadas pelas fases dispersa e dispersante (JAFELICCI JUNIOR e VARANDA, 1999). A experimentação torna-se relevante por facilitar a compreensão do aluno sobre conceitos científicos; ajudar a confrontar suas concepções atuais; desenvolver habilidades práticas como procedimentos de manipulação; propiciar a formulação e comprovação de hipóteses e selecionar variáveis relevantes para resolver questões (DE JONG, 1998). Mortimer, Machado e Romanelli (2000) consideram desejável que os professores, ao abordar conteúdos químicos, ressaltem que existem os aspectos fenomenológicos - dizem respeito aos fenômenos concretos e visíveis ou os que temos acesso por meio indireto, os aspectos teóricos - relacionados com modelos consensuais de natureza atômica molecular, abstratos e que têm um caráter explicativo dos aspectos fenomenológicos, e os representacionais - relativos à natureza simbólica e a linguagem da Química. Este trabalho analisou o desenvolvimento de uma atividade experimental que abordou aspectos fenomenológicos dos conteúdos de soluções e colóides.

MATERIAL E MÉTODOS: A atividade experimental foi aplicada a 21 alunos da 2ª série do ensino médio, doravante denominados de A1 a A21, de uma escola pública da cidade de Bezerros, no Estado de Pernambuco. Esta atividade foi elaborada e discutida por um grupo de pesquisa formado por alunos e professores do curso de Licenciatura em Química da UFPE/CAA. A atividade experimental objetivou: identificar as propriedades/características macroscópicas de soluções e colóides quanto ao seu estado de agregação; observar o que ocorre com a luz quando está é incidida em recipientes contendo solução e colóide; comparar macroscopicamente se há diferença no trajeto da luz quando está é incidida sobre solução e colóide. A atividade experimental foi realizada em grupos, em sala de aula, e constou de três etapas: 1) realização do experimento (Tabela 1); 2) resolução das questões sobre o experimento; 3) socialização das respostas dos alunos na forma de debate. As respostas dos alunos as questões foram analisadas a partir de uma abordagem qualitativa envolvendo a análise de conteúdo (BARDIN, 1979).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em linhas gerais, na Q1 os alunos identificaram corretamente características macroscópicas do material A, que constitui uma solução, evidenciada na fala de A11: “O estado de agregação da mistura A é totalmente líquida”. A resposta de A7 a Q2 expressa uma característica inerente ao conceito de colóide, como por exemplo, estado de agregação intermediário entre materiais homogêneos e heterogêneos. A7: “Está em intermédio entre líquido e sólido, nem é totalmente sólido, nem totalmente líquido. Está Gelatinoso”. Na Q3, o aluno A3 observou-se que a solução salina não apresenta a propriedade de dispersar a luz. A3: “O que vai acontecer é que a luz não vai se dispersar, ou seja, a luz vai atravessar o recipiente normalmente”. Quanto a Q4 evidencia-se na resposta de A7 que o material B, que é um colóide, provoca o efeito Tyndall. A7: “A luz se dispersará, pois as moléculas estão um pouco mais juntas formando um tipo de “parede” que faz refletir a luz, que bate nessas “paredes” e se dispersa”. Analisando a Q5, apesar dos alunos em suas respostas não fazerem referencia aos conceitos de colóide e soluções, percebemos que eles entendem que o tipo de soluto e as interações entre soluto e solvente interferem no percurso da luz quando incidida nestes materiais. A7: “A diferenciação se deve a interação dos solutos com o solvente, usados na experiência”. A13: “Por conta dos diferentes tipos de soluto, no soluto A continuou líquida e no soluto B se tornou gelatinosa”. Observamos também que para responder a Q5 os alunos buscaram analisar e selecionar variáveis relevantes envolvidas no experimento como tipo do solvente, massa do soluto e temperatura. A21: “Deve-se aos solutos, pois os solventes, as temperaturas e as quantidades são iguais para cada recipiente”.

CONCLUSÕES: A atividade experimental apresentou-se como uma estratégia de ensino e aprendizagem que contribuiu para enfatizar aspectos fenomenológicos na abordagem dos conteúdos de soluções e colóides. Possibilitou os alunos a confrontar suas concepções atuais; desenvolver habilidades de observação e práticas de procedimentos de manipulação; formular hipóteses e selecionar variáveis relevantes para resolver questões relativas ao experimento. E contribuiu para identificar aspectos relevantes na proposição de atividades experimentais em aulas de química, por exemplo, o planejamento de atividades de ensino apropriadas para o engajamento dos alunos em ações e discussões em sala de aula.

AGRADECIMENTOS: Ao grupo de pesquisa em Ensino de Química da UFPE/CAA e a PROPESQ/UFPE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Trad. de Luís Antero Neto. Lisboa: Edições 70, 1979.
DE JONG, O. Los experimentos que plantean problemas em las aulas de química: dilemas y soluciones. Enseñanza de las Ciências, v. 16, n. 2, p. 305-314, 1998.
JAFELICCI JUNIOR, M. e VARANDA. L. C. O mundo dos colóides. Química Nova na Escola, n. 9, p. 9-13, 1999.
MORTIMER, E. F, MACHADO, A. H. E ROMANELLI, L. I. A proposta curricular de química do estado de Minas Gerais: fundamentos e pressupostos. Química Nova, v. 23, n. 2, p. 273 - 283, março/abril, 2000.
SANTOS, W. L. P.; MÓL, G. S. Química e sociedade. São Paulo: Nova Geração, 2005.