TÍTULO: IDENTIFICANDO PADRÕES DE INTERAÇÃO E TEORIAS PSICOLÓGICAS QUE FUNDAMENTAM A PRÁTICA DOCENTE NAS AULAS DE QUÍMICA DO ENSINO MÉDIO
AUTORES: SILVA, J. T (UFPE) ; OLIVEIRA, S. F (UFPE) ; BATINGA, V. T. S. (UFPE) ; SÁ, R. A. (UFPE)
RESUMO: Este trabalho objetivou identificar padrões de interação entre professores e alunos; e que teoria(s) psicológica(s) pode(m) estar subjacente à prática docente nas aulas de Química do ensino médio. Foram observadas e registradas 31 aulas distribuídas entre 03 professores do ensino médio da rede pública de Altinho-PE. O estudo teve caráter qualitativo envolvendo estudo de caso múltiplo. Os resultados apontaram um padrão não interativo de autoridade, uma vez que as aulas foram ministradas por meio da exposição oral por parte do professor. Os alunos se apresentaram como meros ouvintes, a cópia predominou como recurso didático, atividades estas que convergem com a perspectiva condutivista e se contrapõem aos preceitos da teoria construtivista em relação ao ato de ensinar e a forma como é propiciado a aprendizagem refletida na prática destes professores nas aulas de Química.
PALAVRAS CHAVES: ensino de química, padrão de interação, teorias psicológicas.
INTRODUÇÃO: Consideramos a prática docente não aleatória, mas que há uma teoria psicológica que fundamenta a forma de ensinar e aprender em sala de aula, mesmo que isto não esteja explícito para o professor. Para a teoria psicológica condutivista o conhecimento seria alcançado por meio da associação de idéias seguindo princípios de semelhança, continuidade e relação de causa e efeito dos conteúdos (objeto de aprendizagem). Assim, o sujeito aprende quando busca semelhanças entre conceitos e consegue estabelecer relações de causa e efeito entre estes de forma linear (POZO, 2002). Na teoria construtivista o conhecimento é construído ativamente pelos indivíduos; aquilo que o sujeito já sabe influencia na sua aprendizagem. Portanto, o indivíduo em seus aspectos cognitivos, sociais e afetivos, interage de forma ativa com o ambiente em que vive. Sendo assim, o conhecimento não é uma cópia da realidade, mas uma construção humana (LIMA; FILHO; NUÑEZ, 2004). Na literatura atual, relativa ao ensino de ciências/química, são apresentados vários sentidos para o termo construtivismo. Destacamos o psicológico e o educativo, em particular o construtivismo piagetiano (POZO, 2002). A teoria de Piaget (1977) centra-se no desenvolvimento cognitivo que ocorre através da relação do individuo com o mundo físico e social num constante processo de construção e reconstrução de suas hipóteses sobre a realidade que o cerca. Neste processo ocorre a estruturação de um novo conhecimento no indivíduo. Para Piaget a aprendizagem acontece cada vez que o indivíduo passa de um patamar de menor conhecimento para um de maior conhecimento. Todavia, no ensino da química tem-se privilegiado a memorização de símbolos, equações e fórmulas, em detrimento da valorização do processo de construção do pensamento químico. Este trabalho objetivou identificar padrões de interação entre professores e alunos; e que teoria(s) psicológica(s) pode(m) estar subjacente à prática docente nas aulas de Química do ensino médio.
MATERIAL E MÉTODOS: Este trabalho aborda uma pesquisa qualitativa envolvendo um estudo de caso múltiplo (YIN, 2005), em que se buscou identificar os padrões de interação entre professores e alunos e que teoria(s) psicológica(s) fundamenta(m) à prática docente, nas aulas de Química, de 03 professores do ensino médio da rede pública de Altinho-PE, denominados de P1, P2 e P3. A observação e registro foram realizados por 02 licenciandos em Química que fazem parte de um grupo de pesquisa em Ensino de Química da UFPE/CAA. As seqüências de aulas analisadas constituíram-se de 31 observações distribuídas entre os 03 docentes. A análise do registro das observações realizadas tomou como referencial teórico os padrões de interação entre professores e alunos de acordo com a abordagem comunicativa de Mortimer e Scott (2002), para o qual sugerem que a interatividade poderá ser interativa dialógica, não interativa dialógica, não interativa de autoridade e interativa de autoridade. E algumas teorias psicológicas que fundamental a prática docente em sala de aula, como a condutivista e a construtivista (POZO, 2002).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: As interações ocorridas em sala de aula configuraram-se como predominantemente não interativas de autoridade (Mortimer e Scott, 2002), o que converge com os preceitos da teoria condutivista (POZO, 2002). No desenvolvimento de suas atividades em aula, cada professor tinha uma característica peculiar, entretanto, as atividades convergiram para aulas de formato expositivo. Em momentos raros, os alunos foram questionados pelos professores. Observou-se um predomínio da atividade de copiar do quadro. De acordo com os estudos realizados por Massabni (2007), ao transcrever textos apenas por transcrever, os alunos praticamente não realizam ações mentais necessárias à compreensão e sim a memorização. Apenas P1 tinha o hábito de considerar os conhecimentos prévios dos alunos (Zabala, 2003) durante as aulas, característico da teoria construtivista. P2 e P3 centravam suas aulas apenas na mera exposição de conteúdos. A observação das aulas de Química apontou que P1, P2 e P3 demonstram em sua prática docente que compreendem a teoria construtivista de forma ambígua e distanciando-se dos atuais significados atribuídos a esta teoria (POZO, 2002). A prática docente de P1, P2 e P3 sugere que eles tem dificuldade em desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem diferentes da habitual devido a fatores como espaço físico, motivação de alunos e incentivos salariais.
CONCLUSÕES: Diversas são as teorias psicológicas que podem fundamentar a prática docente do professor, entretanto, parece que os professores desconhecem a influencia destas teorias na sua prática docente. Nessa perspectiva, a análise da observação e registro das aulas dos 03 professores investigados apontou um padrão não interativo de autoridade, uma vez que as aulas foram ministradas por meio da exposição oral por parte do professor. Os alunos se apresentaram como meros ouvintes, a cópia predominou como recurso didático, atividades estas que convergem com a perspectiva condutivista e se contrapõem aos preceitos da teoria construtivista em relação ao ato de ensinar e a forma como é propiciado a aprendizagem refletida na prática destes professores nas aulas de Química.
AGRADECIMENTOS: Ao grupo de pesquisa em Ensino de Química da UFPE/CAA e a PROPESQ/UFPE.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: LIMA, A. A.; FILHO, J. P.; NUÑEZ, I. B. O construtivismo no ensino das ciências da natureza e da matemática. In: NUÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. (orgs.). Fundamentos do ensino-aprendizagem das ciências naturais e da matemática: o novo ensino médio. Porto Alegre: Sulina Editora, 2004. parte I, p. 84-101.
MASSABNI, V. G. O. construtivismo na prática de professores de ciências: realidade ou utopia? Ciências & Cognição v. 10: 104-114 2007.
MORTIMER, E. F.; SCOTT, P. A. Atividades discursivas nas salas de aula de ciências: uma ferramenta sociocultural para analisar e planejar o ensino: Investigações em Ensino de Ciências. v.3, 2002.
PIAGET, J. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas. Lisboa: Dom Quixote, 1977.
POZO, J. I. Teorias cognitivas da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
ZABALA, A. Os enfoques didáticos. Em: Coll, C. (Org). O Construtivismo na sala de aula (6a ed). São Paulo: Editora Ática, 2003.
YIN, R.K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.