TÍTULO: O CONCEITO DE AROMATICIDADE NOS LIVROS DIDÁTICOS À LUZ DA EPISTEMOLOGIA DE GASTON BACHELARD
AUTORES: SANTOS, J. E (UFCG) ; SALES, L. L. M (UFCG) ; PINHEIRO, C. D. (UFCG)
RESUMO: Muitos trabalhos têm se dedicado à análise de livros didáticos, porém poucos têm dado atenção aos aspectos metodológicos e conceituais. Neste trabalho investigamos o conceito de aromaticidade em seis livros didáticos de química recomendados pelo PNLEM/2008 e como eles são tratados à luz da epistemologia histórica de Bachelard. Os resultados apontaram para a presença de dois obstáculos epistemológicos: substancialismo e obstáculo verbal.
PALAVRAS CHAVES: obstáculos epistemológicos, bachelard, ensino de química
INTRODUÇÃO: O livro didático é um instrumento imprescindível no processo de ensino-aprendizagem e apesar de ser objeto de inúmeras pesquisas na área da educação, pouco são aquelas que exploram os aspectos metodológicos e/ou erros conceituais (LOPES, 1992, 1993; LOGUERCIO, R. Q.; SAMRSLA, V. E. E.; DEL PINO, J. C., 2001).
Desse modo, três motivos foram determinantes para ser o livro didático de química o objeto de nossa análise: por ser um dos principais recursos didáticos da maioria dos professores, quando não o único, a sua gratuitamente nas escolas públicas e ainda pela pequena e incipiente abordagem que se dá ao conceito aromaticidade.
O conceito de aromaticidade tem-se tornado ao longo do tempo muito discutido, necessitando, pois de um embasamento teórico e uma análise histórica para que o professor possa trabalhar em sala de aula. Apesar de o conceito ter sofrido ao longo da história diversas interpretações (CARAMORI, G. F.; OLIVEIRA, K, T. 2009), ainda não existe um método sistemático e criterioso que possa diferenciar os compostos em aromáticos e não aromáticos, por isso, muitos autores de livros didáticos preferem associar a esta classe aos compostos que possuem o anel benzênico.
Podemos conhecer a gênese desse conceito, as várias concepções que se sucederam nos seus diferentes contextos e as modificações ocorridas ao longo do tempo através de um estudo pragmático usando o referencial histórico-epistemológico de Bachelard (1996). Grande parte das dificuldades dos alunos em compreender, está relacionada a bloqueios as mudanças para conceitos novos, daí a noção de obstáculo epistemológico. Como os professores de ciências em geral desconhecem a noção de obstáculo epistemológico, Bachelard mostra sua presença na educação científica. O objetivo deste trabalho foi analisar o conceito de aromaticidade com base na epistemologia de Gaston Bachelard, fazendo uso, especialmente, da categoria de obstáculo epistemológico.
MATERIAL E MÉTODOS: MATERIAL E MÉTODOS: A análise do conteúdo de Química transmitido pelos seis livros recomendados pelo PNLEM/2008 foi feita de modo qualitativo e sempre recorrendo à epistemologia de Bachelard como referencial. A forma de abordagem foi baseada no uso da categoria obstáculo epistemológico, que é entendida como uma barreira ao próprio conhecimento cientifico. Foi realizada uma análise dos livros didáticos de Química do PNLEM/2008, a partir do conceito de aromático em diversas unidades do livro didático.
A análise foi feita inicialmente buscando uso de modelos, metáforas, imagens a analogias nas unidades que se utilizam deste conceito. Em seguida, buscou-se verificar a existência de possíveis obstáculos epistemológicos.
Na descrição dos resultados da nossa análise estaremos nos referindo a estas obras pelos códigos LD1, LD2, LD3, LD4, LD5 e LD6. Entre estas obras três são apresentadas no formato de volume único, e outras três constituem-se obras em três volumes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em todos os livros didáticos analisados, o conceito de aromaticidade está muito vinculado a presença do anel benzênico. A partir da análise dos livros didáticos PNLEM/2008, constatou-se alguns obstáculos epistemológicos que apresentam empecilhos no processo de aprendizagem. O obstáculo substancialista se refere à forma como é definido um fenômeno, restringindo a uma só característica. Esse tipo de obstáculo é visto quando se considera que um conjunto de propriedades pertence somente a uma dada substância, sem levar em conta a sua relação com as demais substâncias. Na obra LD2, o autor salienta que a parte substância a que o autor se refere está reservada a um grupo de substâncias que deve apresentar o anel benzênico. Os obstáculos verbais são caracterizados pelo uso da linguagem do senso comum a fim de explicar um determinado fenômeno. Isso faz com que o aluno não apenas venha a não compreender corretamente os conceitos científicos como também pode fazer com que ele crie conceitos errados impedindo que dê continuidade ao seu desenvolvimento com a abstração, necessária para se chegar ao verdadeiro problema. Na obra LD5 vê uma clara tentativa de atribuir à molécula de benzeno uma característica própria de seres animados. Recorre-se a analogia para explicar o conceito de ressonância. Os outros livros analisados não trazem obstáculos animistas. O que está colocado na maioria dos livros didáticos é a idéia de que o odor das substâncias é o primeiro critério utilizado para classificar as substâncias aromáticas. Este exemplo se refere à desatenção para as rupturas entre o conhecimento comum e o conhecimento científico. O livro LD3 explora de modo sistemático o conceito de aromaticidade partindo do conhecimento do senso comum até chegar ao conhecimento científico sem apresentar analogias. O que percebemos nesta obra é que a linguagem tem sido apresentada de forma científica, vinculada à racionalidade da ciência do século XX.
CONCLUSÕES: Dentre os diversos livros analisados, não há discussão do termo aromaticidade nos limites da ciência, restringindo-se à colocação de sua dependência com a presença ou não do benzeno. A construção histórico-epistemológica desse conceito é desprezada na maioria dos livros-texto analisados e, em alguns, o conceito apresenta claramente obstáculos substancialista e verbal. Os resultados obtidos neste trabalho revelaram que os livros não apresentam uma linguagem científica e a falta desta impede a compreensão do conceito científico, configurando-se como resistência para compreensão do conceito de aromaticidade por parte dos alunos.
AGRADECIMENTOS: GPA - Grupo de Pesquisa Ambiental - UFCG
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Trad. Estela dos Santos Abreu. 1. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996, 316p.
LOGUERCIO, R. Q.; SAMRSLA, V. E. E.; DEL PINO, J. C. A dinâmica de analisar livros didáticos com os professores de química. Quim. Nova, 24(4), 2001./ VI SIMPEQ. Campinas: Unicamp, 2006.
LOPES, A. R. C. Livros didáticos: obstáculos ao aprendizado da ciência química: obstáculos animistas e realistas. Quím. Nova, 15, 254, 1992.
____________ .Livros didáticos: obstáculos verbais e substancialistas ao aprendizado da Ciência Química: Bras. Est. Pedag. Brasília: 74, 177, 1993.
CARAMORI, G. F.; OLIVEIRA, K, T. Aromaticidade – evolução histórica do conceito e critérios quantitativos. Quim. Nova, Vol. 32, No. 7, 1871-1884, 2009.