TÍTULO: EXPERIMENTAÇÃO BASEADA EM PRÁTICAS DE PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS PARA CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO DE QUÍMICA EM ESCOLA DE CAMPO
AUTORES: COSTALLAT, G. (UNIPAMPA) ; CRUZ, V.S. (UNIPAMPA) ; MELLO, L.D. (UNIPAMPA)
RESUMO: A proposta deste trabalho foi utilizar práticas de processamento de alimentos de origem animal, como ferramenta para contextualizar conhecimentos de química, para uma turma de terceira série do ensino médio de uma escola rural do município de Bagé (RS). Com isto, conseguiu-se abordar com facilidade conceitos como funções e propriedades de compostos orgânicos. Cabe ressaltar que a proposta de trabalho também enfoca o aspecto interdisciplinar, considerando que conceitos de outras disciplinas podem ser trabalhados, como temas de biologia, bioquímica e meio ambiente. Através deste tipo de metodologia é possível estimular o aprendizado da química por meio da aproximação destes conteúdos com o cotidiano do aluno do campo.
PALAVRAS CHAVES: ensino de química, escola de campo, alimentos
INTRODUÇÃO: Entre as orientações contidas nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas de Campo (BRASIL, 2002) refere-se à contextualização do ensino com a realidade dos alunos e a adequação dos conteúdos às peculiaridades locais. Neste sentido opções de aprendizagem em escolas de campo devem incluir estratégias que privilegiam o meio de vida dos alunos. Os estudantes destas escolas em sua maioria são moradores de pequenas propriedades rurais cujo cotidiano baseia-se geralmente entre outros assuntos, sobre técnicas agropecuárias de manejo de produtos oriundos da produção primária. Estes conhecimentos prévios poderiam ser utilizados para correlacioná-los com as aulas de química, proporcionando uma aprendizagem contextualizada, uma vez que muitos de seus assuntos podem ser relacionados com o ambiente agrícola do estudante. Dentro deste contexto, o método da experimentação no ensino de ciências e, particularmente no caso da disciplina de química, constitui em uma estratégia que apresenta um grande potencial para despertar o interesse dos alunos e desta forma melhorar a compreensão de conceitos e conteúdos (BELTRAN e CISCATO, 1998; DELIZOICOV e ANGOTTI, 1992; GALIAZZI e GONÇALVES, 2004). Tem como características principais a ênfase em temas do cotidiano, trazidos para a sala de aula e o uso de materiais simples e alternativos, facilmente adaptáveis em aulas práticas de química. A proposta deste trabalho foi de aproveitar o conhecimento prévio de estudantes sobre técnicas de agricultura familiar e correlacioná-los com as aulas de química através de práticas de processamento de alimentos realizadas pelos próprios alunos dentro da escola. Com isto procurou-se estimular o aprendizado da química por meio da aproximação destes conteúdos com a vivência do aluno do campo.
MATERIAL E MÉTODOS: O trabalho foi desenvolvido na única turma da terceira série do ensino médio da Escola Estadual Risoleta de Quadros, localizada na zona rural do município de Bagé (RS). A infra-estrutura da escola é bastante simples não possuindo refeitório, quadra de esporte, biblioteca ou um espaço didático que poderia funcionar como laboratório. A turma é constituída de estudantes, cuja atividade profissional dos pais ou responsáveis, vincula-se a agropecuária, na sua maioria, na produção de alimentos tradicionais derivados de leite e vegetais. As atividades desenvolvidas basearam-se em técnicas de processamento de alimentos realizadas pelos próprios alunos utilizando a cozinha da escola. As práticas realizadas foram sugeridas pelos alunos, como processamento de leite e derivados. O assunto possibilitou a exploração de uma gama de conceitos químicos e os conteúdos abordados se concentraram em assuntos de química orgânica como funções, propriedades, reações de compostos orgânicos e química de biomoléculas. As práticas foram conduzidas de modo a serem pontos de partidas para a introdução da teoria. O desenvolvimento do trabalho foi estruturado em três momentos: 1) Atividade extra-classe que consistiu em uma pesquisa bibliográfica sobre os tópicos mais importantes dos assuntos que seriam abordados nas aulas práticas, onde fizeram anotações e tiraram dúvidas; 2) Aula expositiva dialogada seguida do procedimento de experimentação; 3) A sistematização final do trabalho abrangeu uma avaliação geral da proposta que consistiu na elaboração cartazes sobre o assunto dos experimentos, aplicação de questionários avaliativos e questionários de opinião. Os dados foram analisados verificando as informações que eram relevantes de acordo com os objetivos dos procedimentos propostos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Pela análise das respostas do questionário de sondagem constatou-se que a memorização de definições encontradas nos livros didáticos predominava sobre o entendimento conceitual. Também observou que muito do conhecimento acerca dos assuntos abordados durante o desenvolvimento da metodologia é um conhecimento empírico, advindo de experiências adquiridas da realidade rural dos alunos. Através da aula expositiva dialogada com apresentação dos trabalhos observou-se que apesar do interesse, organização de idéias e criatividade na elaboração dos cartazes, durante a explicação, poucos foram os alunos que apresentaram capacidade de expressão oral, com iniciativa a questionamentos e discussões. Apesar disto, durante os experimentos, a efetiva participação dos alunos serviu de motivação e interesse ao estudo do tema. O enfoque bioquímico dados às atividades permitiu a interação dos conceitos apresentados isoladamente nas aulas de biologia e química, mostrando a interdisciplinaridade do tema. Também houve a correção de alguns conceitos e assimilação de outros de maneira proveitosa. Isto ficou refletivo no resultado do pós-teste aplicado após as atividades, onde houve uma melhora no desempenho acadêmico. Da análise dos questionários de opinião, realizados após o término do trabalho, obteve-se um alto grau de satisfação com a proposta de trabalho. Percebeu-se a maioria dos estudantes demonstraram interesse e uma motivação extra em buscar aprender mais sobre a disciplina de química. A maioria classificou a metodologia adotada como proveitosa, pois teve como característica principal a participação efetiva dos alunos na elaboração das aulas, através dos subsídios obtidos com a pesquisa prévia. Também exigiu dos estudantes responsabilidade e autonomia na escolha dos experimentos.
CONCLUSÕES: A articulação de situações vivenciadas na escola, através da aprendizagem participativa e interada com a vida do aluno do campo e de sua comunidade têm resultado em uma melhora no entendimento e assimilação de conteúdos de química e de disciplinas correlatas, permitindo desta forma que o aluno compreenda o contexto em que está inserido. No escola citada, a proposta de trabalho priorizou a ação dos alunos como sujeitos principais. As práticas possibilitaram a adaptação do currículo a realidade local dos alunos, sem ter desconsiderado aspectos importantes da disciplina de química.
AGRADECIMENTOS: A coordenação da pós-graduação Latu Sensu em Educação em Ciências e Tecnologia, Unipampa, Campus Bagé (RS).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BELTRAN, Nelson Orlando; CISCATO, Carlos Alberto. Química, 2ed., São Paulo: Cortez, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas de Campo. Resolução CNE/CEB n.1, Brasília, 2002.
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André. Metodologia no ensino de ciências, 2ed., São Paulo: Cortez, 1992.
GALIAZZI, Maria do Carmo; GONÇALVES, Fabio Peres. A natureza pedagógica da experimentação: Uma pesquisa na Licenciatura em Química, Química Nova, v.27, n.2, pg 326-331, 2004.